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sexta-feira, 16 de junho de 2023

O sétimo continente - Revista Oeste

 Evaristo de Miranda

A cada minuto o equivalente a um caminhão de lixo plástico é lançado nos oceanos. A quantidade aumentou 50% nos últimos cinco anos

Grande mancha de lixo no Oceano Pacífico | Foto: Reprodução/Caroline Power
 
Revista Oeste - Cortesia

A palavra “continente” tem origem no polissêmico verbo “conter”, do latim con e tenere (“ter”). A continência, ao contrário da incontinência, expressa a capacidade fisiológica, psicológica, social e até política de limitar-se, de parar, de deter-se. “Continente” deriva de continens (“contínuo, ininterrupto”) e entis (particípio presente de continere: “conter, abranger”). E, na geografia, designa amplas extensões contínuas de terra, cercadas por oceanos.

Os seis continentes levaram milhões de anos para se constituir. Agora, em menos de um século, um sétimo continente, de geometria variável, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, se constitui entre a Califórnia e o Havaí. Os outros são feitos de rochas e terra. O sétimo “continente” está a se formar com resíduos plásticos, no centro de um vórtice de correntes marítimas.

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Partículas com mais de 5 milímetros são chamadas de macroplásticos; e as inferiores, de microplásticos. As com menos de 10 milésimos de milímetro são nanoplásticos. Um nanômetro é igual a 1 bilionésimo de 1 metro. São mais de 5 mil categorias de polímeros, com 10 mil substâncias químicas incorporadas aos plásticos, em coquetéis de dez a 30 diferentes aditivos, em função de seus usos. E persistirão no ambiente por centenas de anos. A concentração média de plásticos é da ordem de 0,5 quilo por quilômetro quadrado de oceano. Os maiores valores estão nos Atlânticos Sul e Norte (1,2 e 0,8 quilo por quilômetro quadrado) e no Mediterrâneo (0,7 quilo por quilômetro quadrado). O desafio é global.

Essas partículas com poluentes persistentes acabam no estômago de peixes, águas-vivas, tartarugas, mamíferos marinhos e aves. E terminam por envenenar seus órgãos externos e internos. Mais de 300 espécies são afetadas por esse vórtex ou “sopa” de lixo plástico. O giro fluidodinâmico deixa escapar um pouco do conteúdo por dois braços, em direção ao Japão e aos Estados Unidos.

O conteúdo estomacal de um filhote morto de albatroz, alimentado por seus pais, inclui detritos marinhos de plástico. A fotografia foi tirada no Midway Atoll National Wildlife Refuge, no Pacífico, em setembro de 2009 | Foto: Chris Jordan/Greenpeace
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Muitos animais marinhos são atraídos para esta pilha de detritos, em busca de comida | Foto: Divulgação/Greenpeace
Uma garrafa de plástico transparente é encontrada à deriva no oceano. Vivendo nessa única garrafa estavam briozoários, nudibrânquios, caranguejos e cracas | Foto: Justin Hofman/Greenpeace

Enquanto o mundo urbano busca soluções, a agropecuária brasileira é exemplar na gestão dos resíduos plásticos. Além da busca do lixo zero no processo produtivo, o correto destino das embalagens plásticas de insumos agrícolas mobiliza a cadeia produtiva desde a década de 1980. Os debates evoluíram até a aprovação da Lei Federal nº 9.974/2000 e a criação do Instituto Nacional de Embalagens Vazias (inpEV), em 2001. O inpEV, entidade sem fins lucrativos, integra o Sistema Campo Limpo e é responsável pela operacionalização da logística reversa das embalagens em todo o país. Integram o inpEV mais de 100 empresas e entidades do setor.

Como publicado na Revista Oeste, o manejo e a destinação ambientalmente corretos das embalagens vazias de defensivos agrícolas têm como regra as responsabilidades compartilhadas entre os agentes da produção: agricultores, canais de distribuição e cooperativas, indústria e poder público. Os usuários de defensivos agrícolas lavam, inutilizam (furam e cortam) e devolvem as embalagens vazias aos comerciantes. Estes indicam o local da devolução das embalagens pós-consumo, as mantêm e comprovam o recebimento. Os fabricantes se responsabilizam pela logística e pela correta destinação.

ÍNTEGRA DA MATÉRIA

Área desmatada para produção de cereais em região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina
Produção de cereais em região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina | Foto: Xico Putini/Shutterstock

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Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste