Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador caminhão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador caminhão. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Justiça brasileira é a mais cara do mundo e uma das piores – e vai continuar assim - Gazeta do Povo

Vozes - J.R. Guzzo

Monumento representando a Justiça em frente ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás: salários de desembargadores goianos chegam a 180 mil reais. - Foto: Divulgação/Centro de Comunicação Social do TJGO

Os hábitos, os costumes e o senso moral de uma boa parte dos juízes e desembargadores brasileiros foram se degenerando tanto ao longo dos anos que acabaram por se tornar um escândalo nacional permanente. É um choque depois do outro.  
O mais recente foi fornecido pelo Tribunal de Justiça de Goiás – um velho conhecido do noticiário sobre abusos e trapaças legalizadas que resultam em salários insanos para uma grande área da Justiça brasileira.

Whatsapp: entre no grupo e receba as colunas de J.R.Guzzo

Soube-se que os desembargadores goianos ganham salários mensais de 170 mil a 180 mil reais – uma alucinação que não tem paralelo em lugar nenhum do mundo, e que chegou ao extremo de incomodar até o Ministério Público Federal. 
São especialistas, ali, em usinar todas as modalidades de salários de marajá praticados na administração pública, mas, neste caso em particular, os próprios procuradores acharam que já era um exagero
 
O argumento do Tribunal de Justiça de Goiás é o mesmo de sempre, repetido ano após ano, e escândalo após escândalo, por magistrados que ficam milionários às custas do pagador de impostos
Tudo o que eles ganham é estritamente legal – vem da maçaroca de auxílios disso e daquilo, licenças prêmio, indenizações, verbas variadas, ajuda paletó, férias em dobro, gratificação por “trabalho difícil” e mais um caminhão de vantagens em dinheiro, que nenhum cidadão brasileiro tem, nem no serviço público.

    O salário médio de um juiz brasileiro está acima de 50 mil reais por mês. Que sociedade pode pagar isso tudo?

É óbvio que esses truques são legais. São aprovados pela Assembleia Legislativa e se transformam em “lei estadual” – por pressão dos próprios juízes e por deputados que querem comprar proteção preventiva e permanente da Justiça goiana. 
Além disso, são os próprios desembargadores que interpretam as leis da Assembleia – e que decidem as causas em torno dos seus salários. 
As sentenças, naturalmente, são sempre a favor deles mesmos. 
É o resultado direto e desastroso da sindicalização generalizada do Judiciário no Brasil, uma praga que começou a se espalhar com a Constituinte e não parou nunca mais de contaminar a remuneração e os privilégios da magistratura.
 
A Justiça brasileira é a mais cara do mundo. Consegue gastar mais de 100 bilhões de reais por ano – em termos proporcionais, considerando-se o PIB per capita, custa três vezes mais que a Justiça da Alemanha, a mais cara da Europa, e quase dez vezes mais que a dos Estados Unidos. (Isso mesmo: dez vezes mais.) 
É claro. 
Como poderia deixar de ser assim, com os salários do Tribunal de Justiça de Goiás e tantas aberrações idênticas que se reproduzem na remuneração do Sistema Judicial? É uma situação de metástase.

O salário médio de um juiz brasileiro, hoje, está acima de 50 mil reais por mês. Que sociedade pode pagar isso tudo? O custo da Justiça, há anos, é muito mais do que o Brasil tem condições materiais de desembolsar – não há “arcabouço fiscal”, ou “reforma tributária” ou imposto para “grandes fortunas” que consiga aguentar essa sangria desatada. É incompreensível que isso esteja acontecendo num país de população em sua maioria pobre, às vezes paupérrima, e no qual o governo diz o tempo todo que não tem dinheiro para nada.

A Justiça brasileira, com esse custo demente, deveria ser a melhor do mundo. É uma das piores, e vai continuar assim – vai, com certeza, ficar cada vez mais cara. 
O governo Lula, a esquerda em peso e o sistema que os apoia são, hoje, fanaticamente a favor do Judiciário” e da sua santidade geral – não se pode mexer em absolutamente nada que desagrade, mesmo de leve, os sindicatos de magistrados e os seus interesses. 
Querem um “orçamento para os pobres”, como vivem dizendo. 
Do que gostam, mesmo, é de juízes que ganham 170 mil reais por mês e os deixam em paz.
 
Clique aqui e saiba mais: O Estado de S. Paulo


J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 16 de junho de 2023

O sétimo continente - Revista Oeste

 Evaristo de Miranda

A cada minuto o equivalente a um caminhão de lixo plástico é lançado nos oceanos. A quantidade aumentou 50% nos últimos cinco anos

Grande mancha de lixo no Oceano Pacífico | Foto: Reprodução/Caroline Power
 
Revista Oeste - Cortesia

A palavra “continente” tem origem no polissêmico verbo “conter”, do latim con e tenere (“ter”). A continência, ao contrário da incontinência, expressa a capacidade fisiológica, psicológica, social e até política de limitar-se, de parar, de deter-se. “Continente” deriva de continens (“contínuo, ininterrupto”) e entis (particípio presente de continere: “conter, abranger”). E, na geografia, designa amplas extensões contínuas de terra, cercadas por oceanos.

Os seis continentes levaram milhões de anos para se constituir. Agora, em menos de um século, um sétimo continente, de geometria variável, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, se constitui entre a Califórnia e o Havaí. Os outros são feitos de rochas e terra. O sétimo “continente” está a se formar com resíduos plásticos, no centro de um vórtice de correntes marítimas.

(...)

Partículas com mais de 5 milímetros são chamadas de macroplásticos; e as inferiores, de microplásticos. As com menos de 10 milésimos de milímetro são nanoplásticos. Um nanômetro é igual a 1 bilionésimo de 1 metro. São mais de 5 mil categorias de polímeros, com 10 mil substâncias químicas incorporadas aos plásticos, em coquetéis de dez a 30 diferentes aditivos, em função de seus usos. E persistirão no ambiente por centenas de anos. A concentração média de plásticos é da ordem de 0,5 quilo por quilômetro quadrado de oceano. Os maiores valores estão nos Atlânticos Sul e Norte (1,2 e 0,8 quilo por quilômetro quadrado) e no Mediterrâneo (0,7 quilo por quilômetro quadrado). O desafio é global.

Essas partículas com poluentes persistentes acabam no estômago de peixes, águas-vivas, tartarugas, mamíferos marinhos e aves. E terminam por envenenar seus órgãos externos e internos. Mais de 300 espécies são afetadas por esse vórtex ou “sopa” de lixo plástico. O giro fluidodinâmico deixa escapar um pouco do conteúdo por dois braços, em direção ao Japão e aos Estados Unidos.

O conteúdo estomacal de um filhote morto de albatroz, alimentado por seus pais, inclui detritos marinhos de plástico. A fotografia foi tirada no Midway Atoll National Wildlife Refuge, no Pacífico, em setembro de 2009 | Foto: Chris Jordan/Greenpeace
(...)
Muitos animais marinhos são atraídos para esta pilha de detritos, em busca de comida | Foto: Divulgação/Greenpeace
Uma garrafa de plástico transparente é encontrada à deriva no oceano. Vivendo nessa única garrafa estavam briozoários, nudibrânquios, caranguejos e cracas | Foto: Justin Hofman/Greenpeace

Enquanto o mundo urbano busca soluções, a agropecuária brasileira é exemplar na gestão dos resíduos plásticos. Além da busca do lixo zero no processo produtivo, o correto destino das embalagens plásticas de insumos agrícolas mobiliza a cadeia produtiva desde a década de 1980. Os debates evoluíram até a aprovação da Lei Federal nº 9.974/2000 e a criação do Instituto Nacional de Embalagens Vazias (inpEV), em 2001. O inpEV, entidade sem fins lucrativos, integra o Sistema Campo Limpo e é responsável pela operacionalização da logística reversa das embalagens em todo o país. Integram o inpEV mais de 100 empresas e entidades do setor.

Como publicado na Revista Oeste, o manejo e a destinação ambientalmente corretos das embalagens vazias de defensivos agrícolas têm como regra as responsabilidades compartilhadas entre os agentes da produção: agricultores, canais de distribuição e cooperativas, indústria e poder público. Os usuários de defensivos agrícolas lavam, inutilizam (furam e cortam) e devolvem as embalagens vazias aos comerciantes. Estes indicam o local da devolução das embalagens pós-consumo, as mantêm e comprovam o recebimento. Os fabricantes se responsabilizam pela logística e pela correta destinação.

ÍNTEGRA DA MATÉRIA

Área desmatada para produção de cereais em região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina
Produção de cereais em região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina | Foto: Xico Putini/Shutterstock

Leia também “Planeta carnívoro e antropofágico”

 

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 5 de junho de 2023

Sem terra, com carro e celular

Relato de um fazendeiro que teve sua propriedade invadida pelo MST

Os invasores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegam de carro, caminhonete e caminhão. Ninguém vai a pé invadir uma fazenda. Com as barracas pré-montadas, eles armam o acampamento rapidamente. De 20 carros, logo passam a 50 e consolidam a invasão. Geralmente agem de madrugada e em feriados prolongados, pois a Justiça, que costuma ser morosa, é ainda mais lenta nessas datas.

sem terra
Carros dos invasores | Foto: Divulgação

A água, usam da propriedade, bem como a energia elétrica. É que os invasores de terras não ficam sem celular.

A experiência que João Nicolau gostaria de esquecer aconteceu no Carnaval do ano passado. O produtor rural e vereador em Arealva teve a fazenda no município de Rosana — a 500 quilômetros de Arealva — invadida por um grupo de militantes do MST.

Mesmo com uma ordem judicial, Nicolau levou seis meses para retirar os invasores. “Descumpriram a ordem, não pagaram a multa de R$ 300 mil e nenhum inquérito ocorreu”, declara o produtor.

O fazendeiro perdeu 20 cabeças de gado. Na época da invasão, o tempo era seco, com a propensão a carrapatos ser maior. Ele foi proibido de entrar na própria terra e não pôde manusear o rebanho corretamente.

sem terra
Vinte gados morreram porque o proprietário foi proibido de entrar na terra invadida por militantes do MST | Foto: Divulgação

O produtor rural está na região há mais de 20 anos, então conhece bem os invasores. “A gente não identifica o movimento porque não tem CNPJ, mas, quando percebem que o invasor é identificado, o movimento troca o líder. Isso é muito comum.”

No Carnaval deste ano, Nicolau só evitou que a fazenda fosse novamente invadida porque ficou a noite toda vigiando a área, junto com outros fazendeiros. “Cerca de 20 veículos se dividiram em dois grupos: quando o primeiro parou na minha fazenda e percebeu que havia vigilância seguiu viagem com os demais”, conta o produtor.

Já os vizinhos não tiveram sucesso, e outras quatro fazendas foram invadidas pelo MST. Eles são audaciosos. “Mesmo conversando, eles não querem sair, dizem ‘a terra é nossa, quem manda somos nós e vamos colher o que tiver por aqui'”, relata Nicolau.

Na tentativa de invasão, um dos líderes abandonou um carro zero, ainda sem placa, na propriedade de Nicolau. No veículo, ele encontrou um celular e notas promissórias, mensalidades pagas para os militantes para se manterem no movimento.

Quem está por trás do movimento sem terra
Lideranças, comerciantes, políticos, funcionários públicos, do Judiciário, estão ligados a invasões. São eles que mantêm o movimento. “Eu identifiquei escrevente, motorista de ambulância, oficial de Justiça, inclusive que dificultou o cumprimento de uma mandado judicial”, diz Nicolau.

O movimento é bem organizado e com influência política, relata o produtor rural. “Deputados, vereadores e prefeitos da esquerda incentivam os movimentos, com a finalidade de voto. Cada família tem, pelo menos, dez votos.”

Segundo Nicolau, muitos assentamentos consolidados não passam de uma mentira contada por políticos. “Conheço um assentado há mais de 40 anos. Ele não tem o título da terra, não produz, não trabalha na terra e nem uma casa construiu nesse tempo. Agora, o filho quer vender o lote.”

Os líderes não ficam nos barracos. Moram na cidade e só administram o dinheiro oriundo da invasão, pela colheita da produção e mensalidades pagas pelos militantes. “Além dos financiamentos. Políticos que injetam dinheiro para os líderes continuarem, porque, no final, o que importa é o voto.” Uma das lideranças da região do Pontal de Paranapanema, no interior paulista, formou dois filhos médicos com o dinheiro do movimento.

 

Redação - Revista Oeste


domingo, 6 de março de 2022

Devagar, malfeito e complicado - Revista Oeste

Vladimir Putin discursa na TV sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 22 de fevereiro de 2022 | Foto: Rokas Tenys/Shutterstock
Vladimir Putin discursa na TV sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 22 de fevereiro de 2022 -  Foto: Rokas Tenys/Shutterstock

Como não houve avanço militar decisivo por parte da Rússia, a ação passou a visar mais e mais os alvos civis, e de forma mais e mais pesada — com os custos políticos que isso sempre tem. É uma situação em que o país invadido não pode ganhar militarmente do invasor, nem fazer com que ele volte para o seu próprio território. Ao mesmo tempo, os invasores não conseguiram em nenhum momento assumir o controle real do território invadido. O resultado é uma guerra que arruína os dois lados. Mais de 50 anos atrás, Israel, um país do tamanho de Sergipe, precisou de apenas seis dias de guerra para derrotar todos os seus vizinhos árabes juntos. Os russos, na Ucrânia, ficaram muito longe disso.

A Ucrânia mostrou uma resistência muito maior do que a Rússia esperava

Além dos problemas na invasão em si, a Rússia sofreu, desde que disparou seu primeiro míssil contra a Ucrânia, a maior barragem de represálias econômicas jamais lançada contra um país em qualquer época. Do ponto de vista diplomático, está sendo punida, junto com o seu líder, Vladimir Putin, com uma condenação mundial inédita em sua extensão e em sua quase unanimidade; fora a China, que decidiu falar pouco no momento da invasão, e menos ainda quando ficou claro que a Ucrânia não se rendeu de imediato, quase todos os países se colocaram contra Moscou — ficaram a favor da invasão aqueles cujo apoio só atrapalha, como a Venezuela do ditador Nicolás Maduro. 

A paisagem do equilíbrio mundial, enfim, mudou da noite para o dia. A Rússia, depois de um longo período de progressiva normalidade em suas relações junto à comunidade internacional, com a dissolução da URSS comunista iniciada há pouco mais de 30 anos e o fim da “Guerra Fria”, voltou a ser o inimigo da Europa, dos Estados Unidos e dos países próximos a eles. A “segurança da Europa”, coisa considerada do passado, voltou a ser coisa do presente. O mundo, com a invasão da Ucrânia, está de novo rachado — e parece ter pela frente uma caminhada longa, incerta e complexa para retornar ao sossego que acreditava ter conseguido.

Passada a explosão inicial, e com a partida inteira pela frente, os fatos que ocorreram com certeza, até o momento, são os seguintes:

1 – A Ucrânia mostrou uma resistência muito maior do que a Rússia esperava. Os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo também foram surpreendidos; manifestaram apoio aos ucranianos desde o começo, mas não acreditavam na sua capacidade de continuar de pé após os primeiros bombardeios. Para a Rússia cumprir o objetivo imediato que tinha ao lançar a invasão — liquidar as Forças Armadas ucranianas, derrubar o governo do presidente Volodymyr Zelensky e colocar em seu lugar um regime que obedeça à sua orientação e aos seus interesses —, a operação teria de dar certo em 24 horas. Não aconteceu isso — e agora é duvidoso que um governo-fantoche, imposto sem eleições livres e sem que a Rússia tenha o efetivo controle do país, consiga funcionar de verdade. A cada momento, em consequência, foi se criando a necessidade do tipo de ação militar que menos interessa à Rússia — a escalada nos ataques, que deixa o comando sem opção a não ser aumentar cada vez mais a ofensiva, sem a perspectiva de uma data para terminar as operações. Colocar em “alerta” as forças nucleares russas não impressionou ninguém — nem a convocação de Putin para os ucranianos derrubarem o seu governo, com a promessa de se entender com eles logo em seguida. Cada dia sem solução é um dia a mais de baixas militares, de sanções econômicas, de entrada de armas europeias na Ucrânia e de custos cada vez mais pesados. Virou uma guerra de desgaste na qual, tipicamente, encontrar uma saída, e encontrar logo, passou a ser mais importante do que vencer.

2 – O presidente Zelensky mostrou ser um homem de coragem, coisa pouco comum, hoje em dia, na cena internacional. Ao contrário do que fariam nove em dez presidentes latino-americanos, a começar pelos do “campo progressista”, Zelensky não fugiu. (E o primeiro-ministro do Canadá, então? Esse ficou assustado com um movimento de motoristas de caminhão.) O presidente da Ucrânia não correu para Miami ou Havana ao ouvir o barulho da primeira vidraça quebrada, nem se refugiou na Embaixada dos Estados Unidos; não aceitou, nem mesmo, renunciar a seu cargo em favor de algum “governo de união nacional”. Quando os americanos lhe ofereceram transporte para deixar a Ucrânia, disse que não estava precisando de carona, e sim de armas. Até agora, continua onde estava antes da invasão começar.

3 – Oficialmente, como dizem os comunicados de Moscou, a invasão se destina a “desmilitarizar” a Ucrânia, ou seja, a zerar a sua capacidade de atacar ou se defender militarmente. A Ucrânia, obviamente, não ameaça a segurança da Rússia, ou de qualquer outro país — não se trata, portanto, de uma ação de defesa prévia, mas simplesmente uma tentativa de incluir o território ucraniano no perímetro de “segurança” que Putin considera adequado. Esse objetivo já tinha de estar cumprido. Até o momento, entretanto, a invasão tem sido uma série de operações que não decidiram nada de essencial do ponto de vista militar. A Ucrânia, com oito dias de guerra, mantinha controle parcial de seu espaço aéreo. O tráfego na maioria das rodovias foi interrompido por bombardeios, mas uma parte do sistema ferroviário continua a operar. A central de energia elétrica da capital, uma das primeiras coisas a ir para o espaço em qualquer invasão bem-sucedida, permanece em funcionamento há mais de uma semana. Nenhuma grande cidade foi ocupada de fato. O palácio presidencial ainda não foi destruído.

Os russos esperavam que a Europa iria protestar muito e fazer pouco

A performance militar dos russos no campo de batalha, nos dias iniciais da invasão, está sendo muito inferior ao que se esperava. As tropas parecem mal treinadas, mal comandadas, mal motivadas, com logística ruim, planejamento confuso e profissionalismo deficiente. Há perdas pesadas de material e baixas acima do previsto. Segundo o governo da Ucrânia, “9.000 soldados russos” já morreram — o que pode ser propaganda, mas com certeza revela problemas sérios no campo de batalha. A expectativa era de que a Rússia, depois do desmanche de suas Forças Armadas no começo dos anos 1990, teria passado por um processo de modernização em regra, tornando seus efetivos mais tecnológicos, eficazes e enxutos. Não se viu isso até o momento.

A Rússia enfrenta os conhecidos ônus de fazer uma guerra dentro de limites — não está claro o que os oficiais e soldados podem fazer, o que devem fazer e o que estão proibidos de fazer. O certo é que o invasor tem, todos os dias, de se segurar — destrói tudo aqui, não destrói nada ali, espera ordens contraditórias e assim por diante. Os ucranianos, militares e civis, mostraram capacidade de resistir a ataques e atacar de volta, o que não estava previsto. O resultado das incertezas e da resistência é uma multiplicação diária de dificuldades — e o ataque, cada vez mais, a alvos civis. Deveria, em suma, ter sido rápido, eficaz e simples. Está sendo devagar, malfeito e complicado.

4 – A Rússia cometeu um erro de cálculo sério ao subestimar a reação dos países da Europa. Confiantes na sua vantagem como fornecedores de 40% do gás europeu, sobretudo nestes momentos de inverno, os russos esperavam que a Europa iria protestar muito e fazer pouco. Foi o contrário. Alemanha, França e Inglaterra, mais o restante da União Europeia como um todo, responderam à invasão com união inédita, extrema rapidez e intensidade sem precedentes. Mais que os Estados Unidos, que tiveram a reação vacilante, desordenada e fraca que tem marcado as ações do governo do presidente Joseph Biden, a Europa cresceu na frente da Rússia. Junto com os norte-americanos, que vieram vindo no seu embalo, cortou parte dos bancos russos do Swift, o sistema internacional de pagamentos bancários indispensável para mover dinheiro através do mundo. Limitou a movimentação que a Rússia pode fazer dos seus US$ 650 bilhões em reservas de moeda forte. Fez o rublo desabar 40% e os juros na Rússia voarem para 20% ao ano. O alvo não foi só a economia. Fechou-se o espaço aéreo da Europa e dos Estados Unidos para qualquer avião russo — inclusive os jatinhos dos milionários amigos do presidente Vladimir Putin, e uma das suas mais fiéis fontes de apoio. A UE tem mandado armas, munição e equipamento militar para a Ucrânia todos os dias. A Alemanha, principalmente, que a Rússia imaginava numa posição de quase neutralidade por sua dependência energética, tornou-se a militante mais ativa da Europa em favor dos ucranianos. Nenhum líder político europeu mostrou simpatia, compreensão ou espírito de conciliação com a Rússia; a opinião pública, da qual todos dependem para sobreviver politicamente, também é na grande maioria pró-Ucrânia. As represálias europeias e norte-americanas, na verdade, vão muito além da hostilidade econômica em si — a cada dia, elas cortam mais e mais os laços da Rússia em suas conexões com o mundo. Da suspensão de grandes projetos industriais de empresas privadas até a colaboração em programas espaciais, tudo está passando pela tesoura.

5 – A Ucrânia, claramente, não foi demolida no primeiro tiro, mas é igualmente claro que não tem condições de aguentar pelo resto da vida o castigo que está recebendo. O pior aspecto da invasão é o custo para a população civil — ameaçada nas suas vidas, na sua propriedade e nos seus direitos mínimos. Há milhares de mortos e feridos — menos que a guerra-padrão de Terceiro Mundo, mas um choque para a Europa. Faltam alimentos. Famílias estão separadas. Estima-se até agora um total de 800.000 refugiados, que só tende a aumentar a cada dia. Até o momento, curiosamente, os dois países que mais receberam refugiados ucranianos foram a Polônia e a Hungria, justo os dois regimes mais à direita da Europa; os “globalistas” como Alemanha, França e países da Comunidade Europeia em geral adotaram represálias pesadas, mas até agora não começaram a distribuir vistos de entrada. O que existe é uma proposta da Comissão da União Europeia, a ser aprovada por cada um dos membros da comunidade, para conceder aos ucranianos moradia, plano médico, escola, permissão para trabalhar e assistência social durante um período de um ano — com a possibilidade de uma extensão para dois anos, ou três.

A Ucrânia não pode vencer a Rússia no campo de batalha, mas não ficou claro até agora como a Rússia pode ganhar

6 – A opinião majoritária sobre quais as razões centrais que a Rússia teve para invadir a Ucrânia é a decisão, por parte do presidente Putin, de devolver o seu país à situação de superpotência militar e política que exibia em público até os anos 1980. Este é, segundo a maioria das análises, o objetivo estratégico de Putin, que governa com um status de presidente vitalício: uma nova Rússia, equivalente à antiga União Soviética das “15 repúblicas” — na verdade, intendências governadas por Moscou e das quais a Ucrânia fazia parte até o regime começar a se desmanchar com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Putin quer a Rússia que alegava ter o mesmo poder dos Estados Unidos, era capaz de impor sua política aos vizinhos da Europa e exercia uma voz de influência no resto do mundo, incluindo a China.

As realidades, até o momento, indicam que esses planos estão muito mais no terreno da imaginação do que de um programa político viável do ponto de vista prático. Voltar à URSS das “15 repúblicas” é mais ou menos como pretender que a Argélia volte a ser da França, ou que a Inglaterra volte a governar a Índia — não dá mais, simplesmente, em 2022. As complicações da invasão da Ucrânia, por outro lado, mostraram os limites dessas teorias geopolíticas grandiosas. A Ucrânia não pode vencer a Rússia no campo de batalha, mas não ficou claro até agora como a Rússia pode ganhar. Mesmo que Putin realize os seus objetivos declarados, a Ucrânia não vai ser anexada de volta ao território russo. Pode perder partes do seu território, mas não voltará a ser o que era — nem o próprio Putin, em qualquer uma de suas manifestações, disse algo assim. URSS, outra vez? No momento não está dando para ter de novo nem a Ucrânia; imagine-se, então, remontar o mapa inteiro. Também não se explicou o que adianta ser uma superpotência se não dá para ganhar no ato nem uma guerra com a Ucrânia — um país pouco maior que o Estado de Minas Gerais, e com um PIB dez vezes menor que o do Brasil. Se a Rússia tem trabalho com a Ucrânia, como seria com a Alemanha, por exemplo?

Fica em aberto, junto com essas dúvidas, uma outra questão objetiva: o que a Rússia vai efetivamente ganhar com essa guerra, mesmo com vitória oficial a curto ou médio prazos. Daqui um ano, por exemplo: a Rússia estará mais forte, mais segura ou mais rica do que hoje? 
Terá mais aliados? 
Tirar um pedaço do território da Ucrânia resolve alguma coisa? 
Para a população russa, especificamente: melhora o quê, na vida real? 
Os magnatas que controlam a economia russa e fornecem uma clara base de apoio para Putin, junto com as Forças Armadas e o seu partido político, vão ficar mais milionários do que já são? 
No momento não estão mais conseguindo nem ter um time de futebol na Premier League.

7 – Invasões armadas são coisas difíceis de fazer hoje em dia. Já foi o tempo em que a Rússia invadia a Hungria ou a Checoslováquia e tudo se resolvia com a passagem do primeiro tanque. Não mais. Antes de se desfazer como URSS, por sinal, a Rússia invadiu o Afeganistão, no começo dos anos 1980; ficou lá durante anos a fio e perdeu a guerra. Ainda agora, em 2014, invadiu a mesma Ucrânia. Não resolveu nada, já que oito anos depois está tendo de invadir de novo. Guerras que se podem fazer à vontade, em nosso tempo, são apenas nos fins do mundo que não incomodam ninguém. Em países da Europa não existe mais solução imediata.

Leia também “A Ucrânia resiste”

Revista Oeste - Edição 102 

 


domingo, 15 de agosto de 2021

ATIVISMO JUDICIAL EM GRAU SUPREMO - Percival Puggina

Ao fechar, por se haver revelado inútil, o inquérito dos atos antidemocráticos, o ministro relator abriu imediatamente outro com o mesmo perfil. Não se requer muita experiência e sensibilidade para entender que o ministro e seus colegas se agradaram do escudo protetor de que agora dispõem para coibir manifestações contra atos do poder.

Para justificar a abertura desse novo inquérito, Alexandre de Moraes escreveu que as investigações “apontaram fortes indícios da existência de uma organização criminosa voltada a promover diversas condutas para desestabilizar e, por que não, destruir os Poderes Legislativo e Judiciário a partir de uma insana lógica de prevalência absoluta de um único poder nas decisões do Estado”. Não acreditei até ler o mesmo texto, entre aspas, em vários veículos.

Acumulando funções de modo até hoje indisponível a qualquer outro membro do Poder Judiciário nacional, o ministro relator identifica “indícios” de “organização criminosa” orientada por “lógica insana” que pretende a “prevalência de um único poder”. Não sei se isso existe, mas parece pouco sólida a motivação. Ademais, ao inserir em seu texto uma estranha interrogação acusatória – “desestabilizar e, por que não, destruir os Poderes Legislativo e Judiciário” o ministro viaja na instável canoa da mera suspeita e da subjetividade.

Tirados os adjetivos e a imagem de “organização criminosa”, sem a qual não haveria motivo real para qualquer inquérito, o intuito descrito corresponde, em grande parte, ao que parcela expressiva da sociedade vê como sendo o caminho para onde o ativismo judicial tantas vezes arrasta a nação.

Nesta mesma pista da história por onde trafegamos, atrás de nós, vem um caminhão carregado de decisões em que ministros constitucionalizam seu querer e inconstitucionalizam seu não querer, alardeiam seu caráter “contramajoritário” e suas aspirações a se tornar Poder Moderador da República, função de Estado inexistente no nosso gabarito constitucional.

No mesmo caminhão entram, agora:

-        o absurdo comportamento de um hacker, tão curioso quanto consciencioso, que nenhum efeito ou dano causou nas entranhas dos computadores do TSE,

-        os passos desse audacioso, apagados, por descuido, durante um serviço terceirizado;

-        o caráter pouco comum do sigilo imposto pelo TSE, maior interessado em que o burlesco acontecimento de três anos atrás não chegasse ao público.

Até que haja sólida motivação para uma reforma institucional promovida com virtuosas intenções, assim anda e assim andará o Brasil, de crise em crise, de bolha em bolha, em conflito consigo mesmo, cativo de um sistema político feito para dar errado.  

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Como anda a luta pelo poder - Alon Feuerwerker

 Análise Política

Os dois principais acontecimentos políticos ao longo da semana ajudaram a sedimentar a configuração de poder em Brasília a esta altura do agitado mandato presidencial. O desenho passa, naturalmente, pelo presidente da República
pela relação cada vez mais estreita dele com os oficiais-generais da reserva que as crises vão aspirando para a máquina; 
e pelo domínio que hoje se pode chamar de absoluto dos partidos do dito centrão sobre o Congresso Nacional, especialmente sobre a Câmara.

O episódio do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) vem sendo exemplar. O parlamentar entrou numa briga que não era dele, com o objetivo de catapultar musculatura política. Deu tudo errado. Acabou oferecendo ao antes acossado Supremo Tribunal Federal a oportunidade de um contra-ataque no ponto mais vulnerável do front adversário, o Legislativo. Mas isso abriu para o presidente da Câmara uma via rápida de cristalização da autoridade sobre os pares. E atraiu para ele a simpatia de um setor da opinião pública que o via com um pé atrás. Ou, pelo menos, tirou-o momentaneamente da linha de tiro.

O segundo fato, a mudança no comando da Petrobras, ainda em curso, traz ao presidente da República a brecha para, finalmente, colocar uma cunha na, lá atrás, toda poderosa equipe econômica. Erros têm consequências, e a insensibilidade da petroleira diante da possibilidade de sua política de preços provocar uma greve nacional de caminhoneiros acabou custando a cabeça do presidente da estatal. Trocado convenientemente por um general, ex-ministro da Defesa e atual presidente de Itaipu.

Uma greve de caminhoneiros em meio às seriíssimas dificuldades provocadas pela pandemia teria forte potencial de desestabilização. É natural que os adversários desejem e estimulem. E é esperado que o Planalto procure evitar. [evitar até onde for possível; não conseguindo impedir a greve, partir para o desmonte da estrutura.

Presidente Bolsonaro, sabemos que na greve passada várias empresas foram multadas, só que as multas não foram pagas. Cobre as multas, seja duro com os empresários e será mais um ponto contra a greve. 
E encontre uma forma de responsabilizar qualquer inimigo do Brasil,que a pretexto de fazer oposição ao seu governo - legítima desde que limpa, sem jogo sujo - tente atrapalhar seu governo.
E adote o mais rápido possível, providências para começar o processo (longo, por isso um segundo mandato para o presidente que adote as medidas iniciais,se torna necessário) de priorização para ao transporte ferroviário. Transporte  rodoviário só o de distribuição nas cidades.]
 
Vida que segue. Se tudo se passar como habitual no Brasil, haverá ainda alguma turbulência nos dois casos, mas rapidamente o mundo político-jornalístico retornará para o infindável debate sobre as vacinas da Covid-19 e sobre o novo auxílio emergencial, com que nome for. E o Congresso, agora mais arrumado politicamente, não deixará fechar a janela das reformas. 
Que precisarão ser negociadas, claro, mas cuja esperança de aprovação é o respirador a manter acesas duas luzes: a tranquilidade do Legislativo e o protagonismo do ministro da Economia.

Tudo pode desandar, dar errado para o Planalto? Sempre pode, mas a impressão de momento é as melancias continuarem se ajeitando na carroceria do caminhão conforme os solavancos da estrada. Um problema é o encolhimento da popularidade presidencial, causado pela atitude diante da pandemia e pela parada nas medidas de apoio emergencial. Mas em alguns meses estão previstas vacinas abundantes, da Fiocruz e do Butantan. E o Congresso vai acabar dando um jeito no socorro econômico. 

E quedas de popularidade, algo sempre arriscado no Brasil, podem ser mais confortavelmente administradas quando há aliados comandando as casas congressuais. Para o projeto de Bolsonaro, o prestígio dele só precisa estar tinindo daqui a um ano e meio. O risco da popularidade baixa no meio do mandato é atiçar os apetites pelo impeachment. Isso está, no momento, muito distante depois das eleições no Legislativo.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


domingo, 23 de junho de 2019

A importância do caminhão

O trabalho do caminhoneiro, tido como aventureiro e romântico, continua sendo precário nos dias de hoje

[o Brasil só tem uma saída para se livrar da dependência  transporte rodoviário  - ineficiente e que agora também se tornou chantagista, passou à extorsão, ameaçando com greves (que estão mais para lock-out) e colocando em risco a economia do país.

A saída é: PRIORIZAR o TRANSPORTE FERROVIÁRIO e o HIDROVIÁRIO.]

“Governar é abrir estradas”, dizia o presidente Washington Luis. Não mais, mas o papel do caminhão na economia brasileira continua crucial, a ponto de a sua falta ter o peso de parar o país, como em 2018. Os caminhoneiros movimentam 60% de toda a carga brasileira, através de 1,7 milhão de quilômetros de estradas, quase sempre mal conservadas.  Historicamente, o sistema viário brasileiro sempre foi dependente das estradas, ao contrário de outros países, como os Estados Unidos ou a França, que têm nas ferrovias o seu principal meio de transporte, de gente e de mercadoria.

Por isso, a greve dos caminhoneiros em 2018 parou o país por dias, afetando o abastecimento das cidades. Pouco depois do Dia do Caminhoneiro, que se comemora em 20 de maio, fez um ano a nova tabela de frete, fruto de negociações entre o governo Temer e as lideranças da greve de caminhoneiros. Que já está superada. A carga tributária sobre o preço do diesel foi a detonadora da greve, e até hoje a questão não está resolvida, volta e meia o fantasma de uma nova paralisação assombra o governo Bolsonaro, que, por sinal, apoiou a greve em 2018. Os donos de carga alegam que a tabela foi editada para acabar com a paralisação, e não reflete os verdadeiros custos operacionais de transporte. E pleiteam no Supremo Tribunal Federal o fim do tabelamento de fretes. Uma nova tabela está em consulta pública, e deve entrar em vigor no próximo mês. As transportadoras, receosas dos efeitos da greve que mobilizou sobretudo os caminhoneiros autônomos, aumentaram suas frotas, reduzindo o mercado de subcontratações.

Hoje, como sempre, o caminhão continua sendo o símbolo de um país que buscou a interiorização através das estradas. Por isso, é também representativo da cultura nacional, ajudando a espalhar pelo país a música sertaneja, gerando série de sucesso na televisão como Carga Pesada, com os caminhoneiros Pedro e Bino, interpretados por Antonio Fagundes e Stênio Garcia protagonistas de aventuras pelas estradas. Um dos livros seminais sobre a importância econômica e cultural do caminhoneiro é “Em torno da sociologia do caminhão”, de Marcos Vilaça, membro da Academia Brasileira de Letras, que identificou, nos anos 60, que as cidades brasileiras já não nasciam no litoral e à beira dos rios, mas em torno dos postos de gasolina.

O caminhão como o novo agregador social, responsável pela interiorização da economia brasileira, ganhou com o livro de Vilaça nova dimensão sociológica. O livro dedica capítulos especiais à importância na economia, às romarias, ao pau de arara, às frases dos parachoques dos caminhões, à relação do caminhão com as artes. Reeditado em 2001, incluiu análise do livro de Oswaldo França Junior “Jorge, um brasileiro”, que dava a dimensão “ do Brasil “dos motoristas, das estradas de rodagem, dos caminhões, das cidades que surgem, das realidades que avançam”.

Barbosa LIma Sobrinho diz, no prefácio à segunda edição, que o caminhão tem a função de integrar o Brasil, numa tarefa desbravadora. E os compara às entradas e bandeiras, “tamanho e crescente é o intercâmbio”. Para ele, “o caminhão nada fica a dever às formas antigas de comunicação, como elemento civilizador por excelência”. O livro de Vilaça continua atual nos dias de hoje, em que os caminhoneiros se mantém fundamentais para a economia do país. E tristemente atual, pois trata também dos assaltos nas estradas, desde sempre em condições precárias de conservação e segurança.

O trabalho do caminhoneiro, tido como aventureiro e romântico, continua sendo também precário nos dias de hoje, em que a necessidade de varar noites dirigindo leva a que muitos se envolvam com drogas, antes as anfetaminas, conhecidas como “rebite”. Agora, já a cocaína. Supostamente para beneficiar os caminhoneiros, e outros motoristas profissionais, o presidente Bolsonaro enviou um projeto de lei ao Congresso alterando o Código Nacional de Trânsito em pontos relevantes: ampliou o tempo de validade das carteiras, aumentou o número de pontos para sofrer penalidades e acabou com a obrigatoriedade de exames toxicológicos.

São medidas populistas, como o tabelamento do frete, que não resolvem a questão em si, a crise do transporte rodoviário e a crescente presença de empresas de transportes, reduzindo o campo de atuação dos caminhoneiros autônomos. Uma profissão em decadência, mas que ainda pode parar o país. 
 
 
 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Carga pesada

O custo logístico no Brasil voltou a subir durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. É o que mostra estudo inédito do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), antecipado pela coluna. Os gastos das empresas com transporte, armazenagem, estoques e despesas administrativas saltaram de 10,6% do PIB, em 2010, para 11,7%, em 2014. Esse é o percentual mais alto dos últimos 10 anos.

Muita estrada, poucos trilhos
O transporte de cargas no Brasil continuou sendo feito predominantemente pelas rodovias em 2014 (67% do total), enquanto o modal ferroviário permaneceu estagnado. Em 2004, 18,4% dos produtos eram transportadas por trens; em 2014, esse percentual foi de 18,3%. O PAC e os programas de logística não trouxeram os resultados prometidos.

EUA: aposta nos trens
Enquanto o Brasil gastou 11,7% do PIB com logística no ano passado, a estimativa do Ilos é que os Estados Unidos tenham gasto bem menos: 8,3%. Isso ajuda a tornar os produtos americanos mais baratos no resto do mundo. Cerca de 32% da carga transportada por lá segue pelo modal ferroviário.

Sem planejar, sobra o caminhão
O custo logístico com transporte rodoviário tem aumentado cerca de 12% ao ano desde 2004 no Brasil. No ano passado, foram gastos R$ 334 bilhões com esse modal. Segundo Maurício Lima, sócio-executivo do Ilos, isso indica falta de planejamento em infraestrutura. Esse tipo de transporte é considerado o mais simples de ser operado: basta comprar um veículo e pegar a estrada. Já as ferrovias e as embarcações precisam de mais investimentos e estabilidade regulatória.

Diesel pressiona os gastos
Mesmo com a queda da cotação do petróleo nos mercados internacionais, o preço do diesel está em alta no Brasil, encarecendo o transporte. Segundo o Ilos, o litro deve ter um custo médio de R$ 2,94 este ano contra R$ 2,51 de 2014. O governo aumentou a Cide para arrecadar mais, e, além disso, o país tem importado combustível com dólar mais caro porque a Petrobras não é autossuficiente na produção. Várias refinarias da empresa foram superfaturadas, como tem mostrado a Operação Lava-Jato.

EFEITOS DA CRISE. Na recessão, mais carga fica parada nos armazéns. O gasto com estocagem sobe, e o fluxo de caixa cai. Esse custo financeiro também é afetado pela alta dos juros.
AGENDA. O Ilos apresenta a pesquisa no dia 22, no XXI Fórum Internacional de Supply Chain, no Rio.


Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Por: Alvaro Gribel