Gazeta do Povo - Vozes
Preso há mais de 200 dias por ordem de Alexandre de Moraes, coronel Naime é a única autoridade que segue detida em decorrência das investigações do 8 de janeiro. - Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Mais da metade do Senado já assinou um ofício encabeçado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) para visitar o coronel Jorge Eduardo Naime, comandante de Operações da PM, que estava de folga no dia 8 de janeiro, ouviu as notícias, vestiu o uniforme e foi para a Praça dos Três Poderes evitar as invasões.
Foi atingido na perna, por um rojão, e no entanto está preso há seis meses, sem condenação, sem nada.
Eu fico me perguntando: só uma visita?
O Senado não está fazendo nada para saber se essa e as outras prisões estão dentro da legalidade? [Em Nossa Opinião visitar os presos é um ato válido - um ato de caridade cristã - mas o senador Izalci poderia aproveitar a disposição dos senadores de assinar ofícios para visitar prisioneiros do 8 de janeiro e, submeter a cada senador que fosse assinar o requerimento para visita, um oficio dirigido ao presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco, lembrando ao ilustre Senador, que mesmo sendo sua competência examinar e encaminhar, ou não, 'pedidos de impeachment' de autoridades maiores, no caso, ministros do STF, para que lesse tais pedidos com atenção e, se fundamentados, formasse uma comissão para examiná-los e se avalizados como válidos e legais fossem encaminhados conforme o rito estabelecido pela Constituição Federal.
Agindo dessa forma estaria cumprindo seu dever, já que os acusados não seriam vítimas de nenhuma injustiça, os pedidos só iriam para o rito formal se a comissão encontrasse fundamento.
Arquivar, ou segurar, todos os pedidos que recebe é uma forma de julgamento indireto, de absolvição prévia.]
Até hoje as pessoas não entendem exatamente por que tantos foram presos e ainda são considerados perigosos.
Aliás, ainda vejo a mídia tradicional chamá-los diretamente de “terroristas”. Quando alguém mata outra pessoa, chamam de “suposto assassino”. Mas esses não são sequer “supostos terroristas”, mesmo sendo ainda réus, sem nenhuma condenação.
Barroso será o próximo presidente do Supremo
Na quarta-feira o ministro Luís Roberto Barroso foi escolhido para ser o próximo presidente do Supremo, a despeito de ainda estar fresco na memória dos brasileiros (e certamente na dos outros ministros) o dia em que ele foi ao congresso da UNE e pronunciou a frase “nós derrotamos o bolsonarismo”.
Barroso toma posse em 28 de setembro, para um mandato de dois anos. O vice será o ministro Edson Fachin.
São coisas que já não nos surpreendem no Brasil, mas nem por isso podemos considerar que isso seja natural.
MPF reduz multa dos irmãos Batista
Assim como não nos surpreende, embora também não seja natural, essa história dos irmãos Batista, Joesley e Wesley, que contrataram o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski na J&F.
Fizeram um acordo de leniência e pagariam uma multa de R$ 10,3 bilhões, dinheiro que iria para a União, para a Caixa Econômica, para o FGTS, para a Petrobras, para a Funsep, para o BNDES, para projetos sociais. Isso foi decidido lá numa câmara do Ministério Público.
Agora o coordenador da câmara, o procurador Ronaldo Albo, por conta própria, aceitou recurso da J&F e reduziu a multa para R$ 3,5 bilhões – um desconto de quase R$ 7 bilhões –, que vão só para o Tesouro Nacional, só para a União.
Ficou muito estranho, e um dos seus colegas, Carlos Henrique Lima, contestou a redução e vai ao Conselho do Ministério Público, já que ainda não há uma homologação dessa repactuação na Justiça.
Lira e o Centrão acabaram com a CPI do MST
Os presidentes da Câmara e do Senado têm superpoderes.
Eles escolhem o que os demais deputados e senadores vão ou não vão votar.
Ou seja, os demais não são seus pares; eles são mais pares que seus pares.
Digo isso porque o presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiu anular o requerimento da CPI do MST que levaria para depor o ex-governador da Bahia Rui Costa, que é ministro da Casa Civil de Lula.
Lira atendeu um pedido do deputado Nilto Tatto (PT-SP), alegando que não houve “fato determinante”.
Mas este seria o grande depoimento, porque dias atrás ex-integrantes do MST do sul da Bahia mostraram a ação do PT nas invasões, inclusive ações violentas – e a polícia da Bahia estava sob o comando do então governador Rui Costa –, a ponto de o governo federal ter de mandar a Força Nacional para dar garantias de segurança aos proprietários na região.
Além disso, a CPI mostrou que o MST está forte. Partidos do Centrão que estão de olho em ministérios, como o Republicanos, o PP e o União Brasil, trocaram seus integrantes na comissão, colocando deputados simpáticos ao governo, que passou a ter maioria. Fisiologismo puro. E, como a CPI agora está com maioria governista, as investigações sobre a ação do MST ficarão prejudicadas. Esse é o novo Brasil.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES