Com a proximidade das condenações do ex-presidente Lula, seus advogados
resolveram partir para a tática da intimidação e ataques fora do tom aos
juízes que avaliam o caso. Afrontas e confrontos parecem ser as
palavras de ordem nessa nova etapa. Após três ações penais em que o
petista virou réu, a caminho do quarto enquadramento na mesma situação –
um recorde em se tratando de figura pública do seu quilate –, restam
poucas dúvidas entre os investigadores sobre o envolvimento e benefícios
recebidos por Lula.
E a bancada jurídica contratada a peso de ouro
considera o vale-tudo da insolência a única saída eficaz para o momento.
Desacreditar as autoridades e não os processos. Falar em perseguição,
maquinações políticas e bombardear especialmente Sergio Moro como
artífice de uma diabólica trama para desestabilizar a candidatura do
pretenso líder das massas virou fórmula ideal nesses tempos. Ao menos no
entender dos agentes do lulopetismo. O clima de desacato chegou ao
máximo na semana passada, durante o depoimento de Mariuza Aparecida,
funcionária da OAS encarregada da supervisão de obras no triplex do
Guarujá.
Durante a sessão com a testemunha, o advogado Juarez Cirino dos
Santos, sem pedir licença, atacou Moro reclamando por ele agir, a seu
ver, como “acusador principal” e não como juiz. Falou isso aos berros.
Não parou de esbravejar nem mesmo quando o magistrado, irritado com as
interrupções, pediu respeito e boa conduta dos defensores de Lula que
estavam ali apenas para assistir ao depoimento. Santos não se conteve.
Não deixou sequer a testemunha responder as perguntas. Elevou ainda mais
a voz para dizer que Moro não merece respeito. O desacato estava
tipificado. Virou bate-boca.
E o mais grave: sem punições. Poucas vezes
se viu representantes da corte serem afrontados daquela maneira. O
advogado perdeu as estribeiras, numa clara demonstração de pouco caso
com a liturgia da sessão e a autoridade presente. A cena espantou não
apenas quem estava no recinto como também a maioria dos brasileiros,
depois que o vídeo com a oitiva foi ao ar na TV. Isso ocorreu na
segunda, 12. Menos de 48 horas depois, na tarde da quarta, 14, a tropa
de advogados de Lula partiu para novo embate. Protocolou uma petição em
que acusa Moro de tratar a defesa do petista com falta de “urbanidade”.
Entenda-se por isso uma carência de cortesia e civilidade, algo que
certamente ficou mais evidente na linguagem e tom dessa turma do que nas
palavras do magistrado. No dia seguinte, com a nova acusação da
Lava-Jato contra o ex-presidente, sua defesa exibiu abertamente um
festival de ofensas e agressões verbais contra os procuradores. Disse
que a denúncia da força-tarefa é fruto de “maluquices”. Alegou, sem
qualquer base concreta, que “os procuradores não se conformam com o fato
de Lula ter sido presidente da República” e asseverou: “Para a
Lava-Jato, esse é o crime de Lula: ter sido presidente da República duas
vezes. Temem que em 2018 Lula reincida nessa ousadia” .
Com tamanha
empáfia e empenho em desacreditar os trabalhos da Justiça, é de se
perguntar por que ainda não ocorreram punições e repreensões exemplares
contra esses abusos. Desmoralizar o Judiciário e ridicularizar
emissários da lei virou prática corrente na armada petista. O próprio
Lula já há muito tempo vem recorrendo à estratégia.
Confronta Moro de
todas as maneiras. Não apenas abarrotou os tribunais com apelações para
fugir das mãos do juiz como também, publicamente, não perde a
oportunidade de criticá-lo sem limites. Movido talvez por uma sensação
de impunidade inadmissível e com o objetivo de constranger os trabalhos
da Lava-Jato. É um comportamento condenável especialmente vindo de quem
já esteve no comando do País. A temerária escalada de desacatos como
esses deve ser contida o quanto antes para que não pairem dúvidas de que
ninguém está acima da lei. Nem mesmo aqueles que se arvoram o papel de
salvadores da pátria.
Fonte: José Carlos Marques - Editorial - Isto É
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sábado, 17 de dezembro de 2016
Lula quer ganhar no grito
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