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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Dói saber que, enquanto Estados atrasam o salário dos funcionários, há juízes que dão um jeito de receber mais de R$ 100 mil, fora carro e motoristas

“Vamos trocar de sobrenome” e outras notas de Carlos Brickmann


Um grande artista, Vicente Leporace (de Franca, como este colunista), assinava seu programa na Rádio Bandeirantes como “Vicente Leporace Furtado”. Achava com razão que todo brasileiro deveria usar o sobrenome.  Uma queixa comum contra as tímidas tentativas de reformas é que, se gastássemos menos com os políticos, haveria dinheiro para aposentadorias, saúde, educação, segurança.  

Não é bem assim: o rombo é mais em cima. Mas dói saber que, enquanto Estados atrasam o salário dos funcionários, enquanto não há dinheiro para manter os hospitais em boas condições de uso, enquanto faltam verbas para equipar direito a Polícia, há juízes que têm vencimentos próximos de R$ 30 mil mensais que dão um jeito de receber até mais de R$ 100 mil, fora carro e motoristas; que todos os parlamentares federais multiplicam seus salários com penduricalhos vários, incluindo assessores que lhes prestam serviços privados; que o presidente da República tem um palácio para trabalhar, o Planalto, dois para morar, o Alvorada e a Granja do Torto, e habita um terceiro, o Jaburu. Cortar essas despesas inúteis não resolve os problemas nacionais. Mas dá o exemplo: que sente um cidadão ao ver que um juiz, já bem pago, com vencimentos superiores ao teto constitucional, briga para ganhar auxílio-moradia em dobro, considerando que sua mulher já o recebe? Com que moral vai ficar?

Assinado, Carlos Brickmann Furtado
Gastando em anúncios
O Governo não dá o exemplo, Congresso não dá o exemplo, o Judiciário não dá o exemplo, e tentam ganhar apoio a reformas gastando mais em propaganda. Como esta, baseada na publicidade dos postos Ipiranga:
Mulher: “Amigo, sabe onde eu encontro gente se aposentando com salário de 30 mil reais?
Homem: Uai, é lá no Posto da Previdência.
Mulher: E onde eu encontro aposentado com 50 anos?
Homem: Posto da Previdência.
Mulher: E onde eu encontro muita gente trabalhando muito para pagar esses privilégios de poucos?
Homem: Posto da Previdência.
Mulher: E onde eu encontro uma Previdência justa, com todos trabalhando igual e recebendo igual?
Homem: Ah, aí é só com a reforma da Previdência, uai!”

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