Eixo Capital, por Ana Dubeux
Não é sobre abrir portas; é sobre empurrá-las. Assim a senadora Simone Tebet (MDB) reflete a respeito do seu pioneirismo na política. Primeira prefeita de sua cidade natal, Três Lagoas (MS), não parou mais de derrubar muros. Mas não se sente só na empreitada: “Não sinto que é uma presença solitária. Ainda somos poucas, mas a luta coletiva não nos faz sozinhas”.
Sabe, no entanto, que a luta é árdua. “Isso exige sacrifícios, o que compromete, não raras vezes, a vida pessoal. Ficamos suscetíveis às críticas, à difusão de fake news e a muitas outras formas de violência política. Sofremos, sim, assédio de todos os tipos, especialmente o psicológico”, conta, nesta entrevista ao Correio.
Essa realidade não é mais branda na CPI da Covid, na qual tem tido participações destacadas. “A CPI tem sido um celeiro de atitudes grosseiras para com a bancada feminina. A melhor forma de combater é fazer o que estamos fazendo. Mostrar que somos capazes, que nossa atuação faz diferença e é importante para o país. Tentaram, mas não conseguiram calar a nossa voz”, diz.
A senadora acredita que a “CPI já tem fortes indícios e muitos elementos probatórios da prática de crimes, incluindo a corrupção passiva e ativa”. “Temos documentos, troca de mensagens, quebras de sigilos. Na volta do recesso, a CPI terá de colocar nome, sobrenome e CPF dos responsáveis. Quem foram os corruptores, os cooptados, os atravessadores, os servidores, os agentes políticos”, avalia.
Sobre uma possível candidatura à presidência, Simone Tebet diz que
não é hora de pensar em 2022, mas que a possibilidade de uma terceira
via, fora dos extremos, é bem-vinda. [senadora! menos, bem menos ... ser prefeita de uma cidade tipo a sua é bem mais fácil do que ser presidente do Brasil! para presidir o Brasil são necessários milhões e milhões de votos e muita, muita competência, coragem, decisão.]
Entrevista / Simone Tebet
A primeira a presidir a Comissão de Constituição e Justiça do
Senado, a primeira vice-governadora do Mato Grosso do Sul, a primeira
líder de bancada do PMDB… Como encarou a presença solitária, como
mulher, nos diversos postos que assumiu quebrando tabus?
Na minha trajetória política, realmente fui pioneira por diversas vezes.
Comecei sendo a primeira prefeita da minha cidade natal, Três Lagoas
(MS). Depois, foi uma sequência de “abrir portas”, embora, muitas vezes,
tenha sido preciso “empurrá-las”.
Claro que isso me dá orgulho, mas também não nego uma ponta de tristeza.
Já estamos na década de 20 do século 21, e eu ainda tenho sido a
primeira a ocupar postos importantes na política. O que me conforta é
que isso significa saber que, depois de mim, virão muitas outras
mulheres. Não sinto que é uma presença solitária. Ainda somos poucas,
mas a luta coletiva não nos faz sozinhas.
As mudanças na legislação eleitoral aprovadas pelo Senado vão mesmo garantir espaço maior das mulheres na política?
Há anos temos lutado por isso. Fazendo uma retrospectiva, percebemos que
estamos num crescente nas conquistas. A “bancada do batom”, na
Assembleia Nacional Constituinte em 1987-1988, foi fundamental para
inserir na Carta Magna direitos essenciais para as mulheres brasileiras.
Depois, conseguimos estabelecer a cota de 30% de candidaturas, brigamos
na Justiça por mais recursos e tempo de rádio e TV nas eleições e,
agora, esta semana, aprovamos uma PEC e um PL importantíssimos, neste
mesmo sentido. É um passo a mais para termos mulheres nos Legislativos.
Queremos 30% de vagas — e não mais somente candidaturas — de mulheres
nos Legislativos federal, estadual e municipal. Será um grande avanço.
Hoje, somos 15% no Congresso e cerca de 10% nas Assembleias Legislativas
e Câmaras Municipais. Como a realidade atual é de prevalência dos
homens no Congresso, precisamos ir, aos poucos, conquistando nosso
espaço. Por isso, o texto propõe a ampliação das vagas de forma gradual,
começando com 18% já nas próximas eleições, subindo para 20%, 22% e
30%, até 2040. [bem mais importante do que espaço para as mulheres na política,são os VOTOS; que adianta a senhora dizer; "Queremos 30% de vagas" se o eleitor não concordar e não votar nas mulheres. Que adiantar ocupar 30% de vagas com um desempenho eleitoral pífio, algo tipo 5% dos votos? ]
Qual a materialidade de corrupção no caso da Covaxin?
Está convencida de que houve prevaricação do presidente
Bolsonaro? Que provas a CPI já elencou para comprovar o crime do
presidente?
Houve omissão do Governo Federal na condução errática da pandemia. Da
primeira fase da CPI, temos elementos que dão conta do estímulo ao uso
de medicamentos sem comprovação científica, da ação para fazer a
população acreditar na imunidade de rebanho, do atraso na compra de
vacinas, [atraso na compra das vacinas? que só começaram a existir de fato = vacina sendo injetada no braço do paciente - no inicio de DEZEMBRO/2020 e no Reino Unido.] da falta de planejamento nacional na condução das ações
voltadas à pandemia, da inexistência de comunicação com a população no
sentido de uma melhor proteção contra o coronavírus. Agora, já existe
materialidade de crimes relacionados à negociação para a compra da
Covaxin. O presidente diz que, ao ser informado pelos irmãos Miranda,
passou a bola adiante para o ministro da Saúde, general Pazuello. Esse,
por sua vez, disse ter encaminhado a incumbência da investigação para o
então secretário-executivo, coronel Élcio Franco, o mesmo que, em um
único dia, se deu por satisfeito para encerrar qualquer averiguação de
irregularidade. Onde está a comprovação do pedido de investigação? [onde está o comprovante de que o pedido foi efetuado? ou que algum pagamento foi efetuado? ou que algum imunizante foi entregue? Simplificando, tudo na base do junto e misturado, qual a prova do crime, qual crime? Também é preciso provar que houve prevaricação? ] Ainda
não chegou à CPI documento que comprove não ter havido prevaricação por
parte do governo federal.[Senadora,
o Governo federal não precisa provar que não cometeu crime; a CPI é que
tem que provar que houve o crime e, na sequência, indicar e provar quem
foi o autor do ato criminoso.]
Como vê a perda de tantos brasileiros na pandemia? Os
governos deveriam ter sido mais céleres nas decisões? Que exemplo no
mundo poderia ser usado no Brasil?
É muito triste. Sinto a dor dessas famílias enlutadas que, em muitos
casos, perderam seus entes queridos prematuramente. O mais revoltante é
que muitas vidas poderiam ser poupadas, se as pessoas tivessem sido
vacinadas a tempo, e se a ciência tivesse também tivesse se poupado do
negacionismo que imperou entre nós, neste momento tão difícil. Nesse
quesito, o mundo está repleto de bons exemplos. A recíproca não é
verdadeira. Aqui, o que mais se viu foram os maus exemplos.
A importância da união em torno de um projeto suprapartidário para mitigar os efeitos da pandemia nos próximos anos é possível?
Eu sou uma pessoa que valoriza o diálogo. Temos de nos sentar à mesa
para absorver as melhores ideias de cada um e construir programas
consistentes e políticas públicas eficazes. Entendo que o caminho seja
mesmo esse. De forma republicana, uma união suprapartidária seria
importante para encontrar as melhores saídas para o pós-pandemia. Não é
hora de extremismos. Não é hora de muros que nos dividam, muito menos de
cercas que nos segreguem.
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