Orientação
é aguardar tom que presidente afastado da Câmara adotará
A reação do Palácio do Planalto à aprovação do
parecer que pede a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelo Conselho de Ética pode ser resumida
em duas palavras: silêncio e apreensão.
Ministros e auxiliares diretos do presidente interino, Michel Temer, se
esquivam de opinar publicamente sobre a situação do peemedebista. A orientação
dada por Temer é para que todos evitem declarações até que saibam o tom que
será adotado por Cunha. — Sem comentários. Esse é um assunto da
Câmara — reagiu o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), logo após o anúncio do resultado de 11
votos a 9 no Conselho de Ética pela aprovação de parecer que pede cassação de
Cunha.
Ao sair
de uma reunião em direção ao encontro de Temer, Padilha seguiu a mesma linha e
ignorou as insistentes perguntas de jornalistas sobre o resultado do Conselho.
Ficou mudo e, ao se despedir, virou-se e fez troça: — Resultado? Que resultado? Apesar de expressarem despreocupação
nas declarações públicas, ministros peemedebistas e interlocutores próximos ao
presidente interino avaliam que a situação é "muito delicada" e que causa apreensão no governo pelos
desdobramentos que a eventual cassação venha a ter.
A avaliação no governo é
que a aprovação do parecer pela cassação no Conselho de
Ética torna a situação de Cunha muito difícil no plenário. Ninguém
acredita em uma reversão do quadro. — A
situação é muito delicada. Qual será a reação de Cunha, que tom ele adotará?
Há
apreensão com o desfecho de tudo isso — disse um interlocutor do Planalto.
Ao voltar
do Rio para Brasília, na tarde desta terça-feira, Temer avaliou com seus
principais auxiliares os cenários decorrentes do resultado do Conselho de
Ética. Com Cunha cassado, avaliou o presidente interino, o cuidado do Planalto
com gestos e ações precisaria ser redobrado para evitar uma "contaminação" na bancada suprapartidária comandada por Cunha. Temer
receia que qualquer movimentação abrupta ou declaração descuidada de
integrantes do governo prejudiquem as
votações e acabem com a ampla maioria numérica que o presidente interino
tem na Casa.
Cunha
e Temer são aliados históricos e pertencem ao mesmo grupo político dentro do
PMDB. O
partido é tradicionalmente segmentado entre os peemedebistas do Senado,
comandados pelo ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e pelo presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); e pelos peemedebistas da Câmara, liderados
por Cunha e por Temer. Na tarde de segunda-feira, pessoas próximas ao
presidente interino passaram a traçar um cenário de cassação pelos movimentos
dos deputados da tropa de choque de Cunha. As declarações do deputado Carlos
Marum (PMDB-MS), de que Cunha deveria renunciar à Presidência da Câmara para
manter o mandato, foram entendidas no Planalto como uma
sinalização de que o pior estava por vir.— Nada surpreende a gente mais — disse um auxiliar presidencial.
Habitualmente
cuidadoso com as palavras, Temer terá que se superar para evitar "melindrar" Cunha com gestos
ou opiniões. Segundo um interlocutor palaciano, os
sinais do Planalto serão importantes na relação mantida a partir da decisão do
Conselho de Ética. Assim como evitou polêmica na demissão de Romero Jucá
(PMDB-RR) do Ministério do Planejamento, Temer deverá manter o mesmo cuidado
para não provocar Cunha, que é seu aliado histórico e dos principais ministros
políticos do governo, Geddel e Eliseu Padilha (Casa Civil).
A ida de Temer ao Congresso para levar a Proposta de Emenda
Constitucional que fixa um teto nas despesas do Executivo foi suspensa. Ele iria nesta quarta-feira, mas, por indefinição
quanto ao período em que irar vigorar o teto e também porque não apresentou a
proposta para os líderes da base aliada, a entrega já havia ficado para quinta-feira,
antes do relatório que pede a cassação de Eduardo Cunha ser aprovado pelo
Conselho de Ética da Câmara. Agora, com a decisão tomada pelos deputados,
avaliação da equipe de Temer é que o ambiente político na Câmara está
conturbado para uma visita presidencial. A entrega da
PEC deverá ficar para a próxima semana.
Fonte: O Globo