Gazeta do Povo
Os três ministros militares do Palácio do Planalto foram ouvidos no inquérito para investigar se o ex-ministro Sergio Moro tem ou não razão em relação ao presidente intervir na Polícia Federal. A ameaça de Celso de Mello de que se eles não fossem depor seriam conduzidos coercitivamente foi só para demonstrar força [também ofender e provocar.] porque, como ministros, os três têm foro privilegiado.
Aliás, os delegados nem deveriam colher o depoimento deles. O depoimento deveria ser colhido, pelo regimento interno do STF, por algum ministro ou algum ministro de tribunal superior que Celso de Mello nomeasse para isso. Mas os ministros generais são humildes e não protestaram o próprio direito. E o depoimento já foi colhido. Parece que a montanha vai parir um ratinho. Como diz o título de Shakespeare: é muito barulho por nada.
O máximo que saiu desse depoimento foi que Bolsonaro queria alguém com quem ele tivesse afinidade para se tornar o diretor-geral da Polícia Federal. Qual o problema de Bolsonaro querer um ministro da Justiça que é próximo dele? Claro que, da mesma forma, o presidente da República quer que todos os ministros sejam muitos próximos a ele. Tanto o ministro da Economia, quanto o ministro da Saúde. Isso é óbvio.
Os que viram a fita da reunião ministerial disseram que Bolsonaro disse palavrão. Mas eu pergunto para vocês: em alguma reunião de diretoria de empresa não tem palavrão? Em todas as reuniões ministeriais que eu tive a oportunidade de ver foram ditos palavrões. As conversas são informais. Não é solenidade pública, estão tratando de questões internas. Há perigo em divulgar essa fita, porque é como se tivessem uma fita de uma grande empresa querendo derrubar a concorrência. Isso é segredo.
Na terça-feira (12), o presidente pôs na lista de atividades essenciais os barbeiros e os cabeleireiros. Eu acho que esses profissionais, contando os informais, somam mais de um milhão de pessoas. São 730 mil registrados, mas tem muito mais. Em São Paulo, tem mais de 200 mil profissionais de salão de beleza com certeza, talvez tenha 400 mil. No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, deve ter mais de 100 mil. Eu fiquei feliz pensando que enfim poderia cortar o cabelo, mas o governador de Brasília parece que não vai autorizar a abertura, e os governadores têm esse poder. São 13 os chefes de estado que não vão autorizar a abertura dos salões.
Seriam milhões de pessoas que voltariam à sua atividade econômica. Nesse momento, o órgão da ONU que trata da fome o Banco Mundial está dizendo que até o fim do ano o Brasil volta para o mapa da fome. Estamos com 12 mil mortos, mas é preciso saber quantos vão ser abatidos pela fome e pelo desespero.
Eu fui fazer uma radiografia e o técnico em raio-X em disse que a maior parte dos casos que estão aparecendo lá é de dedo mínimo, ou seja, fratura no dedo mindinho do pé. Isso porque as pessoas estão em casa e estão batendo o dedo em algum móvel.
Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo