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domingo, 18 de dezembro de 2022

Lições da Copa para a vida - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

O que Tite, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, fez depois da eliminação do Brasil para a Croácia é o degrau mais baixo que um técnico ou dirigente pode cruzar

Técnico do Japão e Tite, após eliminação da Copa do Mundo do Catar | Foto: Reprodução redes sociais/Dave Shopland/Shutterstock
Técnico do Japão e Tite, após eliminação da Copa do Mundo do Catar - Foto: Reprodução redes sociais/Dave Shopland/Shutterstock
 
Iniciei minha vida no voleibol aos 12 anos de idade. Aos 16, competi em meu primeiro campeonato mundial. Depois de quatro Olimpíadas e mais de duas décadas dedicadas ao vôlei brasileiro, posso tranquilamente afirmar que o esporte é o campo mais inclusivo, mais tolerante e com a maior diversidade que alguém pode imaginar. Crenças, religiões, opções sexuais, a posição de cada um no espectro político-ideológico ou a cor da sua pele — nada disso importa. O que está em jogo é única e exclusivamente sua capacidade atlética. De quatro em quatro anos podemos testemunhar essa celebração e a verdadeira mensagem de tolerância nos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo de Futebol.

Pela imensa força e capacidade do esporte de propagar mensagens, geralmente de união e tolerância, competições e atletas não ficam imunes de serem usados como veículos para pautas políticas e ideológicas. Infelizmente, nos últimos anos, atletas consagrados também se tornaram alvos de ódio e intolerância exatamente por expressarem suas escolhas políticas. É claro que é preciso fazer uma distinção óbvia entre o direito de qualquer esportista de se manifestar politicamente, o que todos têm direito de fazer (e sou a primeira a apoiar), e a invasão de agendas político-partidárias em competições esportivas, dividindo um espaço reservado para a união de atletas, torcedores, culturas, povos e nações.

Mesmo em um clima de alta competição, o esporte — especialmente nos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo — sempre semeou um campo onde as diferenças, além das esportivas, não brotavam. Qualquer desavença política sempre foi tratada como apenas um figurante que mal aparece em um filme bom. Roteiro que, de quatro em quatro anos, sempre deixa histórias de superação e enredos dramáticos de derrotas e vitórias espetaculares. Inimigos geopolíticos dão ao mundo esperanças de paz durante as semanas de competição — como uma trégua. O espírito e o orgulho que podem levar a tantas guerras também podem semear a paz. Mas o que mudou nos últimos anos? Infelizmente, algo vem atingindo a alma do esporte, dentro e fora das arenas esportivas. E isso vem sendo demonstrado da maneira mais estúpida possível, por uma sociedade repleta de personalidades imaturas, afetadas e hedonistas.

Depois de alguns ciclos políticos que trouxeram não apenas a banalização da história — com o politicamente correto tomando conta de cada palavra, cada uniforme, cada gesto —, a ressaca desse movimento em que há a politização de tudo é a mediocrização da espinha dorsal do esporte. Nada mais importa: competição, histórias de superação, união entre as nações e também dentro dos países entre correntes de diferentes pensamentos — tudo jogado no lixo para dar espaço à sinalização de virtude, ao politicamente correto e agora ao ataque a atletas por suas escolhas políticas. Repórteres esportivos — correspondentes nessas competições acham necessário dar opiniões sobre política também. O esporte já dava sinais que não ia escapar à “idiotização” política, com frases repetidas como papagaios e atletas de importantes campeonatos, como a NBA e NFL, se ajoelhando para a palhaçada do politicamente correto e para os sequestradores de almas que precisam entrar em algum balaio coletivista por afirmação.

Mas a imbecilidade e a imaturidade dos idolatrados e dos endinheirados que jogam todas as baboseiras politicamente corretas no terreno sadio do esporte não ficaram restritas apenas a esses milionários atletas. A imprensa e os torcedores esportivos resolveram atuar no campo da política até quando opiniões são dadas fora das arenas. A Copa do Mundo deste ano foi um exemplo disso.

Na vitória da Seleção Brasileira contra a da Sérvia, por 2 a 0, a atuação de Richarlison, autor dos dois gols brasileiros, foi celebrada por petistas, já que o atacante faz coro com algumas políticas defendidas pelo PT e seus partidos satélites e é chamado de “progressista”. Durante a partida, Neymar sofreu uma lesão no tornozelo e deixou o jogo chorando. Por declarar apoio ao presidente Jair Bolsonaro, petistas e apoiadores do ex-presidiário Lula ironizaram e comemoraram a saída do jogador do PSG, fazendo o que de melhor faz a turma do “mais amor”: odiar.

Do campeão de fake news na campanha presidencial, André Janones, à presidente do PT, Gleisi Hoffman, todos fizeram piada com a lesão de Neymar, que o tirou do jogo. Em seu perfil no Twitter, o deputado escreveu: “Machucou, agorinha! Tava andando e colocou a mão na perna! Agora, agorinha!”. No intervalo do jogo, a presidente da facção de Lula foi questionada sobre Neymar e disse: “Nem vi ele (sic) no jogo”. Ao término da partida, ao ser perguntada novamente por jornalistas sobre a saída do jogador, disse em tom de deboche: “Foi tarde”. 

Casemiro, um dos líderes da equipe, ressaltou sua decepção com o fato de que, nas redes sociais, diversas pessoas chegaram a celebrar a lesão do camisa 10. “Infelizmente, a vida tem dessas coisas. Isso é muito grave e ficamos tristes. O Neymar não merece isso.” Em apoio a Neymar, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno divulgou uma carta condenando a covardia e a maldade daqueles que debocharam da lesão do atacante. Em sua publicação no Instagram, Ronaldo pediu para Neymar não exaltar “os covardes e os invejosos”. “A que ponto chegamos?”, escreveu Ronaldo. “Que mundo é esse? Que mensagem estamos passando para os nossos jovens? Vai sempre existir gente torcendo contra, mas é triste ver a sociedade num caminho de banalização da intolerância, de normalização dos discursos de ódio”:

Estou certo de que a maioria dos brasileiros, como eu, te admira e te ama. Seu talento, aliás, te levou tão longe, tão alto, que tem amor e admiração por você em cada canto do mundo. E é também por isso, por ter chegado aonde chegou, pelo sucesso que alcançou, que tem que lidar com tanta inveja e maldade. Num nível de comemorarem a lesão de uma estrela como você, com uma história como a sua. A que ponto chegamos? Que mundo é esse? Que mensagem estamos passando para os nossos jovens? Vai sempre existir gente torcendo contra, mas é triste ver a sociedade num caminho de banalização da intolerância, de normalização dos discursos de ódio.
Moriyasu foi até a torcida, agradeceu com o tradicional gesto japonês, voltou ao meio do campo, falou com o grupo de jogadores que estava unido em um círculo, e depois cumprimentou cada um dos jogadores com lágrimas e gratidão nos olhos
É na contramão dessa violência verbal com poder destrutivo que te escrevo hoje: volte mais forte! Mais esperto! Com mais fome de gol! O bem que você faz dentro e fora de campo é muito maior que a inveja na sua direção. Não se esqueça nem um segundo do caminho percorrido que fez de você um ídolo do futebol mundial. O Brasil te ama! A torcida de verdade — a que torce a favor — precisa dos seus gols, dribles, ousadia e alegria!

Não exalte os covardes e os invejosos. Celebre o amor que vem da maior parte do seu país. Você vai dar a volta por cima, Neymar! E que todo o ódio vire combustível”.
Logo após as covardes reações de esquerdistas que celebraram a contusão de um atleta que estava defendendo o Brasil e a certeira carta de Ronaldo, muitos me abordaram para que eu opinasse sobre toda a situação, já que estive por ali, com a nossa bandeira no peito e na alma por mais de duas décadas. Minha resposta, de coração, foi a de que eu jamais — jamais! — torceria contra o Brasil por Tite, técnico da Seleção, ser esquerdista, admirador de Fidel Castro e apoiador de Lula. [tite, além de incompetente é um comunista nojento, que não canta o Hino Nacional, esquecendo que o  nosso Hino é muitas e muitas vezes superior a ele - um nada.] 
Uma bandeira em um uniforme significa a defesa de sua soberania. 
Seja em guerras militares, seja em guerras esportivas. 
Contra meu inimigo externo, meu adversário interno é meu aliado — simples assim. A primeira medalha olímpica do vôlei feminino, em 1996, na Olimpíada de Atlanta, veio assim. 
Não éramos amigas, não éramos confidentes, havia alguns grupos bem diferentes dentro daquela seleção, MAS, quando estávamos em quadra, não havia uma única diferença, pequena ou grande, que pudesse ser capaz de bloquear nosso único objetivo: a histórica medalha olímpica. 
A clássica semifinal, com Cuba, perdida no tie-break, trouxe lágrimas, muitas lágrimas. O sonho do ouro havia terminado, mas aquela derrota nos mostrou não apenas uma união especial para dar a volta por cima e conquistar o bronze, mas o elo que criamos para uma vida.

Em Atlanta, podemos dizer que, apesar da amarga derrota, saímos com uma vitória. No entanto, os incontáveis momentos de fracassos e lágrimas ao longo de todos os anos dedicados ao esporte são muito mais constantes do que os troféus e as medalhas. E é ali, em tantos caminhos trilhados por frustrações e tristeza que encontramos lições que carregamos para absolutamente todas as outras áreas da vida pessoal e profissional, seja qual for o novo campo de atuação depois da carreira de atleta. Há imensas lições no esporte. E há imensas lições através das pessoas que estão no esporte com você. Há lembranças e lições de vitórias espetaculares, cenas que, de tempos em tempos, cruzam a mente, principalmente quando ouvimos nosso Hino Nacional. No entanto, as melhores ferramentas às quais somos expostos ao longo de toda uma jornada de horas, dias e anos são colhidas nos tropeços, na humilhação, na incredulidade de acontecimentos que você jamais imaginou que chegariam até você. E é aqui, exatamente aqui, que você aprende; vendo com os seus próprios olhos e sentindo na própria pele quem é técnico e quem é líder.

As memórias que tenho de algumas derrotas são perturbadoras até hoje. Mas elas mantêm meus pés no chão e a cabeça lúcida quando a neblina insiste em embaçar a visão. A dor diante de absolutos fracassos ressurge em frutos ao longo dos anos na forma de pragmatismo, avaliação, autocontrole, mais dedicação e lealdade — uma lealdade digna de filmes de guerra. Atletas têm mania de ver lições em quase tudo, nada é descartado e, mesmo diante de uma Copa do Mundo atípica, devido ao importante momento político no Brasil com o grave cenário de ruptura constitucional promovida pelo STF, a desclassificação do Brasil nos deixa lições. Lições para nosso esporte, para a nossa vida pessoal e profissional, para nossa capenga política e seus peões, para magistrados, para qualquer um que queira fazer diferença em nossa sociedade.

Como já bastante elucidado nesta nossa resenha, não há nada mais comum no esporte do que as derrotas e as dores, lágrimas e lições que elas trazem. Derrotas fazem parte do próprio contexto do êxtase que existe nas glórias. 
O que não é aceitável é a suprema covardia de quem abandona seus comandados, de quem, em um rompante narcisista e egoísta, abandona seus soldados em campo depois de uma batalha perdida. O que Tite, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, fez depois da eliminação do Brasil para a Croácia é o degrau mais baixo que um técnico ou dirigente pode cruzar: o abandono de campo com o seu batalhão ainda preso na trincheira pelo abate, pelas lágrimas, pela frustração e pela tristeza diante da derrota. 
Assim que o jogo terminou, Tite saiu do campo sem acolher os jogadores, que choravam no gramado.

O abandono de campo — e de seus jogadores ainda em campo — foi de uma covardia difícil de engolir, mais até que a derrota em si. Não vou entrar no mérito técnico da partida ou dos pênaltis, não sou expert em futebol e não tenho problemas em assumir isso, mas o Brasil, apesar de brilhantes jogadores, perdeu para um técnico arrogante e covarde. O esporte não premia covardes — vencer não é o mesmo que ser premiado. Comandar não é o mesmo que liderar. A covardia é repugnante, abjeta e inesquecível. E é exatamente nas derrotas que os covardes mais aparecem.

Mas a Copa do Mundo, assim como os grandes eventos esportivos, e por isso é preciso evitar a politização deles, deixa lições excepcionais, para o mundo, para os brasileiros e para Tite. Tite deveria aprender com o técnico da seleção japonesa, Hajime Moriyasu, também eliminada pela Croácia nos pênaltis.  
Após a frustrante e dolorosa eliminação, Moriyasu foi até a torcida, agradeceu com o tradicional gesto japonês, voltou ao meio do campo, falou com o grupo de jogadores que estava unido em um círculo, e depois cumprimentou cada um dos jogadores com lágrimas e gratidão nos olhos.
As imagens correram o mundo e encheram novamente meu coração de que ainda há homens dignos no mundo, capazes de serem grandes até nas adversidades. 
No esporte, há uma GIGANTESCA diferença entre ser um técnico ou um comandante e ser um LÍDER. 
Líderes deixam lições e memórias que você carregará por toda a vida. Lições de companheirismo, princípios, ética e lealdade digna de campos de batalhas.
 
Quando me perguntam sobre as minhas inesquecíveis derrotas no esporte, posso enumerar uma penca delas. Creio que quando essa pergunta é dirigida aos brasileiros, a resposta vem num piscar de olhos: o fatídico 7 x 1 diante da Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, no Mineirão.  
A Seleção Brasileira era uma das favoritas para conquistar o hexa. Comandada por Luiz Felipe Scolari, o Felipão, técnico do título do penta, o Brasil havia sido campeão da Copa das Confederações em 2013. Jogando em casa, o time tinha todo o apoio da torcida que lotava os estádios. Mas aquele 8 de julho jamais será apagado da nossa memória, mas também pelo emocionante comportamento do técnico, que, diante de histórica humilhação, não abandonou o campo, abraçando e consolando cada um dos jogadores. 
Diante do profundo estado de choque de quem assistia àquele atropelo pela TV, ver Felipão de mãos dadas com seus jogadores e chamando para si toda a responsabilidade da derrota na coletiva de imprensa é o que ficou na minha memória daquele dia. Talvez por conhecer de perto as marcas do abandono e da liderança diante da humilhação, marcas mais inesquecíveis que a própria glória e o transe das vitórias.

Aos meninos do Brasil: valeu, meninos! Valeu, Neymar. Vocês lutaram como puderam, mesmo sem um comando digno da entrega de vocês. Ao Brasil e seus agentes políticos, uma das muitas frases dos inspiradores discursos de Ronald Reagan, 40º presidente norte-americano: “O maior líder não é necessariamente aquele que faz as maiores coisas. Ele é quem leva as pessoas a fazerem as maiores coisas”.

 
Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste  
 
 

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Nunca vi reunião ministerial sem palavrão - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo

Os três ministros militares do Palácio do Planalto foram ouvidos no inquérito para investigar se o ex-ministro Sergio Moro tem ou não razão em relação ao presidente intervir na Polícia Federal. A ameaça de Celso de Mello de que se eles não fossem depor seriam conduzidos coercitivamente foi só para demonstrar força [também ofender e provocar.] porque, como ministros, os três têm foro privilegiado.

Aliás, os delegados nem deveriam colher o depoimento deles. O depoimento deveria ser colhido, pelo regimento interno do STF, por algum ministro ou algum ministro de tribunal superior que Celso de Mello nomeasse para isso. Mas os ministros generais são humildes e não protestaram o próprio direito. E o depoimento já foi colhido. Parece que a montanha vai parir um ratinho. Como diz o título de Shakespeare: é muito barulho por nada.

O máximo que saiu desse depoimento foi que Bolsonaro queria alguém com quem ele tivesse afinidade para se tornar o diretor-geral da Polícia Federal. Qual o problema de Bolsonaro querer um ministro da Justiça que é próximo dele?  Claro que, da mesma forma, o presidente da República quer que todos os ministros sejam muitos próximos a ele. Tanto o ministro da Economia, quanto o ministro da Saúde. Isso é óbvio.

Os que viram a fita da reunião ministerial disseram que Bolsonaro disse palavrão. Mas eu pergunto para vocês: em alguma reunião de diretoria de empresa não tem palavrão? Em todas as reuniões ministeriais que eu tive a oportunidade de ver foram ditos palavrões. As conversas são informais. Não é solenidade pública, estão tratando de questões internas. Há perigo em divulgar essa fita, porque é como se tivessem uma fita de uma grande empresa querendo derrubar a concorrência. Isso é segredo.

Os serviços essenciais
Na terça-feira (12), o presidente pôs na lista de atividades essenciais os barbeiros e os cabeleireiros. Eu acho que esses profissionais, contando os informais, somam mais de um milhão de pessoas. São 730 mil registrados, mas tem muito mais. Em São Paulo, tem mais de 200 mil profissionais de salão de beleza com certeza, talvez tenha 400 mil.  No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, deve ter mais de 100 mil. Eu fiquei feliz pensando que enfim poderia cortar o cabelo, mas o governador de Brasília parece que não vai autorizar a abertura, e os governadores têm esse poder. São 13 os chefes de estado que não vão autorizar a abertura dos salões.

Seriam milhões de pessoas que voltariam à sua atividade econômica. Nesse momento, o órgão da ONU que trata da fome o Banco Mundial está dizendo que até o fim do ano o Brasil volta para o mapa da fome. Estamos com 12 mil mortos, mas é preciso saber quantos vão ser abatidos pela fome e pelo desespero.

Ai, meu dedinho!
Eu fui fazer uma radiografia e o técnico em raio-X em disse que a maior parte dos casos que estão aparecendo lá é de dedo mínimo, ou seja, fratura no dedo mindinho do pé. Isso porque as pessoas estão em casa e  estão batendo o dedo em algum móvel.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


segunda-feira, 24 de junho de 2019

Caso Lula volta ao STF em ambiente político de Lava Jato em xeque

Após divulgação de conversas de Moro, pedido da defesa para anular condenação deve ser julgado ainda neste ano

A defesa do ex-presidente Lula chega a um julgamento decisivo no STF (Supremo Tribunal Federal) em momento político favorável por causa da revelação de conversas de autoridades da Lava Jato feita pelo site The Intercept Brasil. A Segunda Turma da corte deve julgar ainda neste ano se as ações penais contra o ex-presidente devem ser anuladas a partir da interpretação de que o ex-juiz Sergio Moro, que condenou o petista, não teve a imparcialidade necessária para comandar os casos.[destaque importante: a própria defesa do presidiário Lula insiste em destacar que o recurso a ser julgado no próximo dia 25 - o clima político deve provocar o adiamento  para agosto - foi impetrado BEM ANTES da divulgação das supostas conversas entre Moro e Dallagnol
ou seja, nem a defesa do condenado Lula - que,  na tentativa de libertar seu cliente,  já apelou até para um comitê de boteco da ONU - acredita no valor das conversas, produto de furto e sem autenticidade comprovada, divulgadas pelo IntercePT.]

Se essa tese da defesa for bem-sucedida, o ex-presidente será solto e, a depender do teor da decisão dos ministros, os processos da Lava Jato contra Lula podem retroceder até mesmo para a fase de investigação. A ação está na pauta do STF desta terça-feira, mas, conforme informou a coluna de Mônica Bergamo, na Folha, o julgamento será adiado para o segundo semestre deste ano. Na última sexta-feira (21), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, encaminhou ao STF parecer que questiona o uso das mensagens entre Moro e Deltan como elemento para anular o caso de Lula.

Segundo ela, o material publicado "ainda não foi apresentado às autoridades públicas para que sua integridade seja aferida". Já Moro, em audiência no Senado, afirmou ainda ser alvo de um ataque hacker que mira as instituições e que tem como objetivo anular condenações por corrupção. O ex-juiz diz ainda não ter como garantir a veracidade das mensagens (mas também não as nega), refuta a possibilidade de ter feito conluio com o Ministério Público, chama a divulgação das mensagens de sensacionalista e desqualifica os que apontaram irregularidades na sua atuação quando juiz da Lava Jato.

A solicitação dos advogados foi feita no ano passado, após o anúncio da ida de Moro para o ministério no governo de Jair Bolsonaro (PSL),opositor político do petista. Ficou suspensa por seis meses devido a pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, mas ganhou força a partir do último dia 9, quando o The Intercept Brasil começou a divulgar os diálogos de Moro e do procurador Deltan Dallagnol. Na troca de mensagens, o à época juiz dá orientações aos procuradores, sugere a inversão de ordem de fases da Lava Jato e até indica uma testemunha de acusação ao Ministério Público Federal.

O caso abalou a credibilidade da operação e reabriu a discussão sobre a anulação de decisões tomadas em Curitiba. A defesa de Lula protocolou no pedido de suspeição um anexo com esses diálogos como forma de reforçar seus argumentos. O julgamento foi iniciado ainda no ano passado e o placar parcial é de 2 a 0 contra o pedido —votos dos ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia. Gilmar, um dos que ainda não apresentaram voto, já declarou publicamente que "não necessariamente" as conversas vazadas não podem ser usadas na Justiça como prova por terem origem possivelmente ilícita. Nessa linha de raciocínio, o fato de o material ter sido provavelmente obtido por meio de um crime faz com que ele não tenha como ser utilizado para acusar um suspeito, mas possa servir para absolver um acusado.

O ministro, assim como outro magistrado com direito a voto no caso, Ricardo Lewandowski, possui trajetória de votos favoráveis a pleitos das defesas na Lava Jato. O último a votar, Celso de Mello, tem histórico de votos alinhados a teses de acusação na operação, mas seu posicionamento costuma variar. Em relação a prisões de condenados em segunda instância, por exemplo, bandeira de investigadores e magistrados da Lava Jato, ele é irredutivelmente contrário. "Tudo isso depende de um subjetivismo probatório muito complicado. Para reconhecer uma suspeição, os fatos vão ter que ser nítidos, como uma prova concreta dos efeitos daquela situação ligada a outra no processo", diz o professor de direito processual penal da PUC-SP Claudio Langroiva.

Das três ações penais abertas por Moro contra Lula no Paraná, uma já teve sentença confirmada por dois tribunais o caso tríplex—, outra já foi sentenciada em primeira instância pela juíza Gabriela Hardt, o processo sobre um sítio em Atibaia (SP), e uma terceira está pendente de sentença. Se a tese da defesa for bem-sucedida, esses três casos podem ter que ser totalmente reavaliados por um outro juiz, já que Moro participou do trâmite dessas ações em algum grau, chegando, por exemplo, a interrogar Lula como réu. O Supremo determinaria que um outro magistrado avaliasse novamente se as acusações apresentadas pelo Ministério Público devem ou não se transformar em ação penal.

Em uma outra hipótese menos provável, o STF poderia até determinar a anulação de provas produzidas sob autorização de Moro, como as obtidas por meio de busca e apreensão em endereços de Lula em 2016, na 24ª fase da Lava Jato. "Se ficar demonstrado que houve ilegalidade desde a fase inicial da persecução penal, que houve a figura do juiz-acusador desde aquele primeiro momento, aí temos que aplicar a teoria do 'fruto da árvore envenenada'. Ou seja, se a árvore [investigação] está envenenada, tudo que vem dela está contaminado", afirma o advogado criminalista e professor Leonardo Pantaleão.

O pedido de suspeição abrange apenas os casos de Lula, e não a Lava Jato como um todo. Independentemente da extensão da decisão, sem a condenação do tríplex Lula teria de volta seus plenos direitos políticos e estaria novamente habilitado, por exemplo, para disputas eleitorais. Suas chances de voltar à cadeia no médio prazo também seriam muito reduzidas. Ele é réu em outras seis ações no Distrito Federal e em São Paulo, mas até agora não prestou depoimento em nenhuma delas e não deve haver sentença em breve nesses casos.

Não é a primeira vez que a defesa de Lula tenta romper o vínculo de seus processos com Sergio Moro. Antes de o atual ministro da Justiça deixar a magistratura, pleitos parecidos foram rejeitados em cortes como o Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O ex-juiz sempre negou que tenha agido parcialmente à frente de ações penais da Lava Jato. O professor de direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Antonio Santoro diz que uma possibilidade é o STF declarar Moro suspeito de julgar Lula devido ao "conjunto da obra".

Ao longo dos processos do petista, vários episódios geraram debate sobre a atuação do magistrado, como a divulgação de conversas entre o ex-presidente e Dilma Rousseff, em 2016, uma intervenção para barrar uma ordem de habeas corpus, em 2018, e a liberação de um anexo da delação do ex-ministro Antonio Palocci durante a campanha eleitoral, também no ano passado. "O Supremo vai ter muita dificuldade de enfrentar essa questão sem um juízo político além do técnico. O Supremo vem julgando de forma dividida há muito tempo. E acho que também será o caso desse tema", diz Santoro. [a intervenção do ex-juiz  para impedir a soltura de Lula ocorreu bem após Moro condenar o ladrão petista e a sentença condenatória ter sido confirmada pelo TRF -4.
 
Se espera que o STF agindo de forma política adie o julgamento para após o recesso de julho.
Com o adiamento haverá tempo hábil para o condenado petista pleitear progressão de pena - devido cumprimento de 1/6 da pena - o que levará ao arquivamento do HC, por perda de objeto;
 
também há possibilidade de que a segunda condenação de Lula - sítio de Atibaia - seja confirmada pelo TRF - 4, o que adiará por mais tempo uma possível libertação do presidiário petista.]
 
 
 
 
 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sem técnico, o jogo anda



Bolsonaro ficou de fora 


Depois de muitas cabeçadas, trombadas, idas e vindas, vindas e idas, na primeira semana de fevereiro o novo governo começou a mostrar a que veio. Colocou na mesa projetos arrojados de combate à corrupção e à criminalidade, reivindicados pelos brasileiros que foram às urnas no ano passado, e da reforma da Previdência, o mais necessário e polêmico de todos. Tudo certo, menos em um detalhe: faltou o titular.


Internado desde o dia 28 de janeiro para a reversão da colostomia a que foi forçado a se submeter depois de ser golpeado por uma facada, há cinco meses, durante ato de campanha, o presidente Jair Bolsonaro ficou de fora. Seu time não lhe reservou nem o chute inicial do que pode ser o jogo definidor do sucesso ou fracasso de seu governo.  A paternidade dos projetos contra a corrupção e o crime organizado é do ex-juiz da Lava-Jato, ministro Sérgio Moro, que em apenas três dias apresentou a proposta aos governadores, aos presidentes da Câmara e do Senado e aos líderes políticos. Embora fiel ao patrão, Moro lançou um pacote com assinatura pessoal e intransferível.


Até por cordialidade – e isso em nada diminuiria o seu protagonismo -, Moro talvez pudesse ter esperado o presidente sair do hospital. Ainda que sujeito a críticas de imobilismo por parte da imprensa, o atraso de uma ou duas semanas em nada mudaria o impacto ou a tramitação das medidas anunciadas enquanto a febre do chefe aumentava. E daria a Bolsonaro a chancela da proposta com a qual se comprometeu nas ruas e nas redes sociais.


Na reforma da Previdência o processo se deu de forma mais dissimulada. As ideias – algumas bastante inovadoras, como a do uso do FGTS para engordar a capitalização individual – foram “oficialmente” vazadas para que bodes pudessem entrar e sair da sala. No dia seguinte de o desenho da nova Previdência vir à tona, o ministro Paulo Guedes fez o mundo saber que o projeto era assim, mas não bem assim, ou que poderia ser algo parecido. E que tudo dependia do presidente Bolsonaro.


Uma pendência anunciada, mas não obedecida. Bolsonaro já havia demonstrado sua resistência à idade limite idêntica para homens e mulheres. Chegou a pregar uma reforma lenta e gradual. Mas para ele fazer valer o não gostar de uma ou outra coisa terá de cassar a carta branca dada a seu Posto Ipiranga. Um danado de um risco.

Ainda assim, Guedes poderia ter feito um gesto em nome do pronto restabelecimento do presidente e retardado por uns poucos dias o vazamento de itens de uma reforma que se arrasta há anos. Escolheu não fazê-lo.


Dirão alguns que os dois ministros queriam testar forças e poupar Bolsonaro do desgaste que propostas dessa natureza suscitam. É fato. Mas o outro lado da moeda é diabólico. Ainda que o intuito possa ter sido resguardar o presidente – o que é pouco crível em se tratando do ego das personas envolvidas -, a repentina pressa para debater projetos cruciais para o país exatamente na semana de convalescença do presidente incentiva intrigas e deixa brechas para elucubrações. Não por outro motivo proliferam ensandecidas teorias de conspiração como as que, com aval da prole do presidente, passaram a assombrar o vice Hamilton Mourão.


Dão margem ainda a pensamentos confessáveis ou não de gente chegada ao governo que viu na internação do presidente uma oportunidade para colocar em debate as propostas sérias. Nesse grupo estão os que consideram mais prudente deixar economia e segurança nas mãos das estrelas maiores, reservando a “banda b” do governo ao presidente, que continuaria a travar – preferencialmente via Twitter – os embates ideológicos em prol do extremismo conservador. E, assim, manter uma galera fidelizada.


Uma hospitalização mais longa do que a prevista desenhou uma situação inusitada. O governo Bolsonaro começou, ele não.

Mary Zaidan é jornalista. E-mail: zaidanmary@gmail.com Twitter: @maryzaidan 

domingo, 12 de fevereiro de 2017

A má formação do professor na crise educacional

É grande a proporção do corpo docente não formada em disciplinas que ensinam nas salas de aula, e este problema requer soluções realistas

A já histórica crise da educação básica brasileira pode ser vista por diversos ângulos. Por ser assunto complexo, multifacetado, analisa-se o problema por incontáveis aspectos: investimentos do Estado mal alocados; feitos e acompanhados de forma deficiente; falhas de currículo; má gestão em geral e assim por diante. O papel do professor é estratégico, não se discute. Isso não significa culpá-lo por todas as mazelas educacionais, expressas em testes como o internacional Pisa, em que os estudantes brasileiros adolescentes costumam aparecer nos últimos lugares no ranking de proficiência.

Uma primeira barreira a ultrapassar, quando se debate o papel do professor, é a contaminação sindical do tema. Se depender dela, tudo será resolvido por meio de generosos aumentos salariais para uma categoria que é mesmo, em muitos casos, sub-remunerada. Mas, por diversas razões, a agenda sindical está longe de abranger a questão educacional. Não há uma fórmula mágica que só países desenvolvidos escandinavos e orientais dominam, para formar de maneira competente alunos do elementar ao nível superior. No Brasil, há muitos casos de sucesso em regiões improváveis, urbanas e no campo — comunidades carentes, cidades do agreste. Nesses bons exemplos, há sempre uma direção e professores dedicados, e proximidade da família do aluno. Mas o país não consegue replicar esses casos de excelência, em que são atingidas médias de países industrializados.

Seja em que medida for, é certo que há um problema de formação dos professores capaz de influenciar a qualidade do ensino. O Todos pela Educação, com base em informações do Censo Escolar de 2015, constatou que dos 766.860 professores dos últimos anos do ensino fundamental, 54,1% não têm formação na totalidade das disciplinas que ensinam.

No ensino médio, onde não se verificam os mesmos avanços do fundamental, 46,2% dos 494.824 docentes estão na mesma situação, segundo reportagem do GLOBO. Existe, ainda, o professor sem formação em qualquer disciplina que leciona: são 41% do corpo docente no fim do ensino fundamental, e 32% no médio, onde há um atraso especialmente sério na educação básica brasileira.


Existem gargalos específicos, como em Física. Relatam-se casos de graduados em Matemática ensinando a disciplina. Os mais conscienciosos procuram algum curso para compensar a falta de formação. Mas não deve ser a regra. Especialistas alertam que o novo ensino médio, dividido em quatro áreas de interesse (Ciência da Natureza, Ciências Humanas, Matemática e Técnico), exigirá professores mais bem preparados em disciplinas específicas.

A agenda sindicalista proporá aumentos salariais generalizados para atrair especialistas de outras profissões. Não é tão simples, até devido a razões fiscais. Trata-se de haver uma política definida e factível, com avanços paulatinos e monitorados, sem se esquecer o prêmio por mérito.

Fonte: O Globo - Editorial