Dirceu não
é mais o mesmo, mas sua prisão pode manchar era Lula. Tudo isso pode
insuflar os protestos contra Dilma Rousseff, marcados para o dia 16 de agosto.
Petista ainda cumpre pena pela condenação no mensalão e
pode perder benefício do regime domiciliar
José Dirceu não é a sombra do que foi, mas sua nova
prisão, ainda
que fosse a bola mais cantada no mundo político atual, tem consequências
significativas, no curto e médio prazos. A principal delas é política. Os
investigadores disseram estar convencidos de que o esquema de corrupção na
Petrobras nasceu no primeiro governo Lula e era a repetição do mensalão. Em
ambos os casos, segundo os procuradores da Lava-Jato, Dirceu foi o principal
estrategista, preenchendo postos-chaves para a engrenagem dos esquemas.
Como se
sabe, no
mensalão os recursos desviados foram usados na compra do apoio da base aliada no Congresso. Na Lava-Jato, os recursos foram drenados para campanhas
eleitorais e, aqui e ali, para
os bolsos de alguns — Dirceu entre eles, aponta a investigação. Ainda que existam
diferenças, a comparação tem o poder de deixar uma
mancha na era Lula e enfraquece a tese,
já em desuso, de
que o ex-presidente desconhecia as negociações não republicanas de sua
administração. E mais: em
tom enigmático,
os procuradores sugeriram que Lula, ele
próprio, integra
a lista de investigados da Lava-Jato.
Tudo isso pode insuflar os protestos contra Dilma Rousseff, marcados
para o dia 16 de agosto. Esse é o
maior temor dos dirigentes petistas. As
manifestações anteriores já haviam se notabilizado pelo caráter antipetista, extrapolando
a insatisfação contra a presidente. A depender da adesão, os atos podem deixar
ainda mais vulnerável o governo, que vai encarar, fragilizado, o retorno de um
Congresso frenético.
A prisão de Dirceu também tem
consequências jurídicas para ele próprio. Sua situação é bem mais complicada do que a de
outros alvos da Lava-Jato. O petista ainda cumpre pena pela condenação no
mensalão e ganhou da Justiça o chamado benefício de progressão do regime,
deixando a cadeia para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar. Agora, é possível que, provocada pelo
Ministério Público, a Justiça reveja
esse benefício.
Pesa
contra Dirceu o fato de que parte dos pagamentos
recebidos do lobista Milton Pascowitch foi
feita no período em que ele estava preso. Segundo o próprio
Pascowitch, trata-se de propina.
Portanto, em tese, Dirceu não tinha exatamente o "bom comportamento" que o
levou para casa. Também é certo que o passado do mensalão terá impacto numa
eventual futura condenação do petista na Lava-Jato, quando o seu histórico
será levado em conta.
É bom
lembrar que a prisão ocorre ao mesmo tempo em que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, justamente o operador alçado ao cargo por
Dirceu, em 2004, também negocia um acordo de
delação premiada. Não sem razão, a notícia desta negociação reforçou o
sentimento de pânico em Brasília.
Fonte: Alan Gripp - O
Globo – Site: A Verdade Sufocada