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quarta-feira, 31 de maio de 2023

A juíza condenada e violentada por desafiar Hugo Chávez


María Lourdes Afiuni em sua prisão domiciliar: ao ousar desafiar Hugo Chávez, sua vida foi tomada pela ditadura venezuelana -  Foto: AFP

A vida de María Lourdes Afiuni mudou completamente no dia 10 de dezembro de 2009.  
Ao decidir pela liberação de um desafeto de Hugo Chávez, ela saiu do tribunal onde trabalhava em Caracas, capital da Venezuela, diretamente para um presídio, onde viveria um pesadelo em vida. 
Nem o promotor que a algemou sabia por que ela estava sendo presa. “Eu ainda não sei, vou ver”, disse ele. A ordem de prisão, no entanto, tinha vindo diretamente de Hugo Chávez.

Na prisão feminina INOF (Instituto de Orientação Feminina), Afiuni foi submetida a todo tipo de indignidade.

Foi espancada pelas outras detentas, o que gerou lesões na bexiga e no peito.

Foi estuprada por homens identificados com cartões do Ministério do Interior.

Sofreu um sangramento grave, resultado de um aborto espontâneo que Afiuni teve na prisão.

Sua pele ficou cheia de marcas por queimaduras de cigarro que seus agressores fizeram. “Meu útero teve que ser retirado. Minha bexiga, vagina e ânus foram destruídos,” disse Afiuni em um áudio filtrado durante uma audiência de seu julgamento em 2015.

O suplício da juíza Afiuni foi usado pela ditadura para amedrontar outros magistrados que ousassem ir contra a ditadura.

Anos mais tarde, a juíza que ordenou a detenção do líder opositor Leopoldo López em 2014, Ralenis Tovar, relatou que quando ela pediu tempo para analisar o caso, um funcionário da Inteligência Militar lhe perguntou se "ela queria ser a segunda juíza Afiuni.” “Me senti aterrorizada e decidi como queria o governo. Não queria passar pelo que a juíza Afiuni sofreu.”

A história completa da juíza Afiuni foi contada especialmente para a Gazeta do Povo pela escritora venezuelana Valentina Issa Castrillo, ela própria uma exilada que hoje vive nos Estados Unidos. 

LEIA MAIS: De juíza a presidiária: a história de María Lourdes Afiuni,condenada e violentada por desafiar Hugo Chávez


Gazeta do Povo - Ideias

 


domingo, 30 de abril de 2023

Duas décadas de corrupção- Revista Oeste

Joice Maffezzolli

Depois de inúmeros escândalos com o dinheiro público e da morosidade de governos, o Rodoanel de São Paulo parece enfim estar a caminho da conclusão

Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas | Foto: Alexandre Carvalho/A2img
Era um debate presidencial, em 10 de outubro de 2010, na Rede Bandeirantes de televisão, entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Dilma perguntou a Serra quem era Paulo Souza Vieira, conhecido pela cúpula tucana paulista como Paulo Preto, diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) durante sua gestão no governo de São Paulo. Serra se esquivou — embora não por muito tempo. No dia seguinte, obrigado a comentar o assunto, desconversou: “Não sei quem é Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado pela imprensa”.

A amnésia passou rápido, assim que Paulo Preto mandou o recado: “Serra me conhece muito bem”, avisou. “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam este erro.”

A ameaça reavivou a memória de Serra. “Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio Engenheiro do Ano.” A informação explodiu como uma bomba na campanha de Serra — e o Brasil descobriu a corrupção envolvendo a construção do Rodoanel.

O que era para ser a maior obra viária do Brasil, tornou-se exemplo do que não fazer com o dinheiro público

Apontado pela Polícia Federal como principal operador do PSDB em São Paulo, Paulo Preto é acusado de permitir que empreiteiras do Rodoanel Mário Covas realizassem alterações no projeto para elevar os custos. Além de ser o responsável pela formação de cartel para a construção do complexo.

Paulo Preto foi condenado, em março de 2019, a 145 anos de prisão, por organizar desapropriações irregulares durante as obras do anel viário e desviar dinheiro das indenizações. O ex-diretor da Dersa foi responsável, por exemplo, pela desapropriação de uma mesma área três vezes. E acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter embolsado R$ 7 milhões de verbas indenizatórias destinadas a famílias que viviam no traçado do Rodoanel.Paulo Preto, o homem dos negócios obscuros do PSDB | Foto: Reprodução

Em dezembro do mesmo ano, Reynaldo Soares da Fonseca, ministro do Superior Tribunal de Justiça, anulou a condenação do engenheiro. A anulação foi baseada em decisão do Supremo Tribunal Federal que determinou que delatados devem apresentar suas alegações finais depois dos delatores. Como a decisão de Fonseca faz o caso voltar à primeira instância, as acusações contra o ex-diretor podem caducar.

Em outra sentença, Paulo Preto foi condenado a 27 anos de prisão, sendo os sete primeiros anos em regime fechado. Ele foi acusado pelo MPF de ter fraudado licitações e participado da formação de cartel em obras do Trecho Sul do Rodoanel.

Paulo Preto foi preso duas vezes em 2018 e acabou solto por habeas corpus concedidos por Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal. Ele voltou a ser preso em 2019, em outra fase da Operação Lava Jato. A Ad Infinitum cumpriu 12 mandados de busca, entre eles, do ex-senador Aloysio Nunes Ferreira Filho. O foco da investigação era o complexo esquema de lavagem de dinheiro praticado pela Odebrecht, por Paulo Preto e por outros três operadores, que atuaram entre 2007 e 2017. Segundo o MPF, as transações investigadas superaram R$ 130 milhões, que correspondiam ao saldo de contas controladas por Preto na Suíça.

À época, Paulo Preto foi representado pelo advogado José Roberto Santoro. Oeste entrou em contato com o escritório de Santoro, que disse não estar mais com o caso. Na Justiça, não consta o nome de outro advogado. Atualmente, Paulo Preto está com tornozeleira eletrônica, cumprindo prisão domiciliar.Aloysio Nunes também foi alvo de busca e apreensão da Lava Jato | Foto: Reprodução/Redes sociais
 
O passado condena
Nome importante da elite tucana paulista, Aloysio Nunes foi vice-governador de São Paulo, senador, ministro da Justiça e das Relações Exteriores. Ele foi um dos indicados pelo PSDB para a transição do governo Lula 3
Mas é bom voltar a um passado ainda mais remoto para entender quem é Aloysio Nunes. Bem antes de assumir uma posição centro/conservadora, Nunes foi comunista e filiado à Ação Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira de Carlos Marighella. As ações da ALN incluíram o assalto ao trem pagador da antiga Estrada de Ferro Santos−Jundiaí, em 1968. Aloysio Nunes foi motorista e guarda-costas de Marighella.
 
(...)

No meio do caminho tinha uma pedra − Trecho Norte

A Operação Pedra no Caminho, um desdobramento da Operação Lava Jato, tornou réus em 2018 o ex-secretário de Transportes do governo de Alckmin, Laurence Casagrande, agentes públicos da Dersa, além de funcionários das construtoras OAS, Mendes Júnior e Isolux. Também apontou superfaturamento e sobrepreço nos contratos de remoção de pedras e terraplanagem. A estimativa é de desvios na ordem de R$ 625 milhões. As fraudes teriam ocorrido entre 2014 e 2017.  “O que levou à deflagração da Lava Jato foi a previsão, no contrato de perfuração, de segmento do Trecho Norte que compreendia o desbravamento de rochas, só que, ao encontrar rochas, fizeram aditivos que encareceram muito o valor, sendo que no projeto já havia previsão desse custo caso fossem encontradas rochas”, afirmou o deputado estadual Danilo Balas, que em 2019 coordenou a Frente Parlamentar contra Corrupção e participou da operação em São Paulo, como agente federal.Estrutura terá de ser reconstruída | Foto: Revista Oeste

(...)

Corrupção em outros trechos
O Trecho Sul também foi foco de corrupção. O tucano José Serra foi alvo de buscas depois de denúncia no Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro e suposto recebimento de propina da Odebrecht durante as obras do Rodoanel.

Os 57 quilômetros foram divididos em cinco lotes, assumidos por grandes construtoras. A área dois ficou com a Odebrecht, depois de uma licitação que, segundo delações, foi combinada entre as construtoras e a Dersa. A empreiteira teria pago R$ 4,5 milhões de propina a Serra, entre 2006 e 2007, e mais R$ 23 milhões, entre 2009 e 2010.

Ex-executivos da Odebrecht denunciaram o pagamento de propina a Serra, que na ocasião era candidato ao governo estadual. Depois que o tucano assumiu como governador, o representante da Dersa renegociou os contratos existentes para o recebimento de propina do Trecho Sul. “Um desvio de verba de superfaturamento de obras públicas tira o poder do Estado de atender a população mais pobre, deixa de investir em outras áreas”, ressalta Danilo Balas.É o pior crime que pode acontecer você tirar investimentos da segurança pública, por exemplo, e sem segurança aumenta o crime.”
 
Extinção da Dersa
Fundada em 1969 para executar obras viárias e administrar rodovias que cortam o Estado, a Dersa virou foco de inúmeras denúncias de corrupção contra políticos e integrantes de gestões do PSDB em São Paulo.

(...)


Outra questão apontada pelo procurador para uma investigação ser bem-sucedida é a sintonia entre a equipe. “É preciso uma parceria entre a Polícia Federal, o Ministério Público e o magistrado, um confiar no outro, e ter vontade de fazer acontecer. A Operação Lava Jato em Curitiba funcionou porque havia esse entrosamento.”Mato toma conta do túnel abandonado em trecho do Rodoanel | Foto: Revista Oeste
 
Retomada da obra
Há uma luz no fim do túnel abandonado e quase encoberto pelo mato. Desta vez, o Trecho Norte deve ser concluído até 2026. Em 14 de março, a proposta da Via Appia Fundo de Infraestrutura e Participações venceu o leilão de concorrência. O contrato prevê a concessão dos serviços públicos de operação, manutenção e exploração do sistema rodoviário por 31 anos. Para isso, a empresa deve investir R$ 3,4 bilhões, e o projeto prevê a geração de mais 15 mil empregos. 
 
(...)
 
Economia no entorno
Parte da economia do país passa pelo Rodoanel.
Diversas empresas se instalaram no entorno, por causa da acessibilidade. O Trecho Sul é uma das áreas mais procuradas por centros logísticos. Ele liga a região do ABCD às Rodovias Anchieta e Imigrantes, que levam ao Porto de Santos e a aeroportos, além de ser uma saída fácil para o centro de São Paulo.

A MBigucci, que atuava em condomínios residenciais, por conta do Rodoanel, também passou a investir em centros de logística, em 2011. Já tem dois empreendimentos em Diadema e um em São Bernardo do Campo. O quarto será entregue em Santo André, neste ano.O Centro Logístico MBigucci Business Park, em Santo André, está em fase final de obra | Foto: Divulgação

(...)
Uma novela que começou nos anos de 1990

O primeiro edital do Rodoanel foi lançado em 1998, pelo ex-governador Mário Covas. A obra deveria ser concluída em oito anos. A construção foi dividida em quatro trechos: Oeste, Sul, Leste e Norte. O Trecho Oeste foi o primeiro a ser entregue, em 2002. O Sul foi concluído em 2010. O Leste, em 2014. Agora falta o Norte.


Depois de tantas promessas que parecem histórias de pescador, a obra enfim parece estar a caminho do fim. O empreendimento vai acabar com o sossego do Ronaldo e dos quero-queros que repousam tranquilos sob a pedra no meio do lago. Mas vai aliviar um pouco os congestionamentos, que atormentam a vida daqueles que trafegam por São Paulo.
Obras faraônicas que demoraram menos tempo para sair do papel

1) Em contraponto ao Rodoanel, a Transamazônica, também conhecida como BR-230, foi construída em cinco anos, durante o governo de Emílio Médici, no período do regime militar. A execução da obra ocorreu entre 1969 e 1974, sendo inaugurada antes mesmo da conclusão, em 1972. Considerada a terceira rodovia mais longa do Brasil, tem 4.260 quilômetros de extensão.Transamazônica | Foto: Shutterstock

2) Ainda no governo Médici, a Ponte Rio−Niterói foi concluída em menos de seis anos. Com pouco mais de 13 quilômetros de extensão, ela atravessa a Baía de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro, conectando os municípios do Rio de Janeiro e Niterói. É considerada a maior ponte em concreto protendido do Hemisfério Sul.Ponte Rio−Niterói | Foto: Shutterstock

3) Até mesmo a rodovia mais longa do país, a BR-116, ficou pronta em menos tempo. Foram 11 anos para a construção dos quase 4,5 mil quilômetros, totalmente pavimentados, que cortam dez Estados, entre as cidades de Fortaleza, no Ceará, e Jaguarão, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai.BR-116 | Foto: Wikimedia Commons

4) Localizada na China, a maior ponte do mundo, com 55 quilômetros de extensão, foi concluída em nove anos. Isso porque houve atraso na entrega, devido a imprevistos com materiais e à falta de mão de obra.Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau | Foto: Shutterstock

5) Também na China, o Ark Hotel, um prédio de 15 andares, foi erguido em apenas 48 horas. A estrutura inclui três níveis de purificação do ar, que garantem um interior até 20 vezes mais limpo do que a poluição externa. A construção, resistente a terremotos, foi feita com uso de pré-fabricados, o que diminui consideravelmente os gastos de tempo e dinheiro.

6) Maior edifício do mundo, o Burj Khalifa, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes, demorou cerca de seis anos para ser construído. Com 828 metros de altura, 160 andares e 58 elevadores, ele custou US$ 1,5 bilhão. Burj Khalifa | Foto: Shutterstock

Leia também “Em busca do retrocesso perpétuo”
 
 Joice Maffezzolli, colunista - Revista Oeste - Clique aqui, MATÉRIA COMPLETA

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Nicarágua, bispo condenado a 26 anos de prisão - Andrea De Angelis,

Vatican News

 

10/02/2023. Um tribunal nicaraguense condenou o bispo de Matagalpa e administrador apostólico da Diocese de Estelí, dom Rolando José Álvarez Lagos, a 26 anos de prisão, no dia seguinte à sua recusa em embarcar num avião junto com 222 outras pessoas, padres, seminaristas, opositores políticos ou simples críticos do regime.  
Uma sentença lida por um juiz da Corte de apelação definiu dom Álvarez, 56 anos, "um traidor da pátria", condenando-o a permanecer na prisão até 2049.

A sentença antes do julgamento
O bispo de Matagalpa é acusado de "conspiração para minar a integridade nacional e propagação de falsas notícias através das tecnologias da informação e da comunicação em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense". 
O julgamento estava previsto para começar em 15 de fevereiro, mas o veredicto veio primeiro. Além do bispo, dois outros sacerdotes, Manuel García e José Urbina, do clero da Diocese de Granada, ainda estão detidos em prisões nicaraguenses.

Sacerdotes expulsos como "traidores à pátria"
Outros cinco padres, um diácono e dois seminaristas acusados de "conspiração" e condenados a dez anos de prisão já chegaram aos EUA, onde devem receber uma autorização de residência por um período inicial de dois anos. As oito pessoas estão entre aquelas para as quais o Tribunal de Apelação de Manágua ordenou "a expulsão imediata e efetiva por cometer atos que minam a independência, soberania e autodeterminação do povo, por incitar a violência, o terrorismo e a desestabilização econômica". Os expulsos foram declarados "traidores da pátria", tiveram seus "direitos de cidadania suspensos por toda a vida" e foram privados de sua cidadania nicaraguense.

As acusações de Ortega
O presidente Daniel Ortega falou sobre a condenação de dom Álvarez na televisão nacional, chamando a posição do bispo de "absurda" e afirmando que ele está preso por "terrorismo". A polícia havia prendido Álvarez em agosto passado e os tribunais o acusaram sucessivamente de "conspiração" e de divulgar "falsas notícias".

Da prisão domiciliar ao cárcere

Dom Álvarez é o primeiro bispo a ser preso e condenado desde que o presidente Daniel Ortega voltou ao poder na Nicarágua, em 2007. Ele havia sido levado do palácio episcopal em Matagalpa na madrugada de 19 de agosto por policiais, juntamente com padres, seminaristas e leigos, após ter sido detido à força durante 15 dias na Cúria sob a acusação de tentar "organizar grupos violentos" com o "objetivo de desestabilizar o Estado nicaraguense e atacar as autoridades constitucionais". O bispo foi depois transferido para sua residência particular em Manágua sob prisão domiciliar, mas agora foi transferido para uma prisão de segurança máxima.

VATICAN NEWS - Publicado originalmente 

 


sábado, 2 de abril de 2022

Como foi que deixamos o lockdown acontecer?

Espaço publicitário em Newport, no País de Gales, usado para avisar ao público para ficar em casa durante a pandemia (28/04/2020) | Foto: Gareth Willey/Shutterstock
Espaço publicitário em Newport, no País de Gales, usado para avisar ao público para ficar em casa durante a pandemia (28/04/2020) | Foto: Gareth Willey/Shutterstock

O lockdown pode estar ficando para trás, graças, em parte, a outras crises internacionais mais urgentes. Mas, conforme aprendemos a “seguir em frente” em relação à covid-19, nunca mais podemos deixar que uma política tão extremada, excepcional e cruel seja vista como normal ou necessária.

Na época, o termo “sem precedentes” foi muito usado. Mas o que Johnson anunciou não era apenas sem precedentes. Semanas antes, teria sido impensável — pelo menos em uma democracia liberal do Ocidente. Não era algo que as autoridades, como um consultor científico definiu, acreditaram que “conseguiriam fazer”. Talvez um regime autoritário como a China pudesse colocar sua população em prisão domiciliar mas com certeza isso não aconteceria na Inglaterra.

O lockdown pareceu anular muitas de nossas suposições mais básicas sobre a vida em uma democracia liberal. Durante aquele período, deixamos de ser um povo livre. Fomos proibidos de sair de casa e banidos de todas as interações sociais fora do nosso ambiente doméstico. Havia apenas uma gama estreita e limitada de exceções obrigatórias. O período entre março e maio de 2020 foi, nas palavras de um juiz da Alta Corte britânica à Comissão Mista de Direitos Humanos, “possivelmente o regime mais restritivo sobre a vida pública das pessoas e das empresas que já existiu”.

Muitas pessoas sem dúvida vão argumentar que o lockdown foi uma precaução sensata, necessária para reduzir o contato humano e a disseminação de uma doença mortal. Mas esse relato não faz jus ao clima de histeria, de apocalipse e de autoritarismo que tomou conta da nação nessa época. O Reino Unido se tornou uma distopia. E essa espiral de loucura não só foi tolerada, ela foi ativamente incentivada em todos os níveis da vida pública.

A polícia se deliciou com sua nova autoridade ao impor a ordem de que todos ficassem em casa. Tanto que muitas vezes foi muito além do que de fato era exigido pela lei — que já era a mais rígida da história britânica, não nos esqueçamos. Drones da polícia vasculharam o interior, com medo de que a população fosse fazer exercícios “não essenciais”. Oficiais inspecionaram carrinhos de compra em busca de itens “não essenciais”, como ovos de Páscoa. Alguns chegaram até a colocar tinta preta nos lagos para impedir reuniões perto dessas belas paisagens.

Nada disso tinha nenhuma justificativa legal — não estava nas regulamentações introduzidas usando o Ato de Saúde Pública (que deu efeito legal ao lockdown) nem no Ato do Coronavírus de 2020 (que concedeu poderes de deter pessoas “potencialmente contagiosas”). Na verdade, ainda que poucos tenham notado na época, o lockdown não teve início legalmente até 26 de março, três dias depois do anúncio de Boris Johnson. Mas, no Estado policial da covid-19, a palavra dos ministros do governo foi tratada pelas autoridades como indistinguível da lei.

Mesmo que você tenha ficado obedientemente em casa, os policiais do coronavírus ainda podiam ir atrás de você. Surgiram filmagens de policiais derrubando a porta de um homem só para encontrá-lo sozinho em casa assistindo à televisão. A polícia teve de se desculpar por dizer a um homem que ele estava proibido de ficar em seu próprio jardim. Estar em situação de rua também não era uma desculpa para não ficar em casa. Um morador de rua foi levado ao tribunal pelo crime de “sair de seu lugar de moradia” — “a saber, sem endereço fixo”.

Mais tarde ficou claro que a maior parte das pessoas que morreram durante a primeira onda de covid-19 pegou o vírus durante o lockdown

Você poderia ter esperado que nosso confiável sistema legal entrasse em ação a essa altura, que as Cortes fizessem pressão contra esses abusos óbvios da autoridade policial.  
Mas, em abril de 2020, uma mulher foi presa, mantida sob custódia da polícia por 48 horas e depois condenada por um crime que não existe. 
Em fevereiro de 2021, todo processo movido sob o Ato do Coronavírus, ao ser revisado, foi considerado ilegal.

De fato, o lockdown trouxe o pior das pessoas à tona. Muitos descobriram seu xerife interno da covid-19. Ligações para o serviço de emergência médica e policial dispararam, com vizinhos entregando vizinhos por não obedecerem às regras sobre os exercícios, ou seja, sair para mais de uma corrida por dia. Algumas forças policiais encorajaram isso ao criar portais on-line e serviços de atendimento telefônico para denúncias ligadas ao confinamento. Ao fim de abril de 2020, a polícia do Reino Unido tinha recebido 194 mil ligações sobre desobediências de lockdown.

Esse ódio descontrolado por quem não seguiu as regras significa que não houve espaço para discernimento nem compaixão. As regras de distanciamento social foram aplicadas rigorosamente em todas as circunstâncias. As pessoas foram impedidas de visitar familiares que estavam morrendo — e foram impedidas de confortar umas às outras nos funerais.

A mídia teve um grande papel nisso tudo. Além do alarmismo apocalíptico sobre o vírus, os jornalistas prepararam alegremente seus dois minutos de ódio diário contra o novo inimigo público número 1 — os chamados “covidiotas”, aqueles que foram vistos fazendo contato com outras pessoas em parques e praias, causando dano a exatamente ninguém.

De modo involuntário, o fenômeno dos covidiotas enfatizou a irracionalidade do lockdown. Tanta energia, tantos recursos, tanto ódio foram direcionados às pessoas que se reuniram em pequenos grupos ao ar livre, onde o vírus tinha dificuldade de se espalhar. E muitos desses supostos vetores de doença eram jovens, portanto, não corriam riscos graves relacionados à covid-19. Mais tarde, ficou claro que a maior parte das pessoas que morreram durante a primeira onda de covid-19 pegou o vírus durante o lockdown, e não antes ou depois. Prestamos relativamente pouca atenção aos mais vulneráveis à covid — os idosos e os doentes, em especial os que vivem em casas de repouso.

Da mesma forma que o lockdown estava trazendo o caos para a vida cotidiana, os danos de longo prazo também começaram a ficar mais evidentes.

Paralisar a sociedade mergulhou a economia na recessão mais profunda da história do capitalismo britânico. Esse transtorno não se fez sentir da mesma forma. Enquanto os mais vulneráveis da sociedade foram ainda mais mergulhados na pobreza, os mais privilegiados na verdade fizeram economias, aumentando sua riqueza e seu conforto, enquanto se adaptavam a um estilo de vida de trabalho remoto. Agora que a economia foi retomada, os efeitos do confinamento estão sendo sentidos com aumentos impressionantes no custo de vida (ainda que os governos ocidentais tenham tentado culpar a invasão da Ucrânia pela Rússia).

As mídias impressa e eletrônica se tornaram animadoras de torcida do lockdown, criticando o governo apenas por não ter agido mais rápido ou com maior rigidez

A educação foi devastada. As crianças em idade escolar perderam 1 bilhão de dias letivos combinados. E milhares de estudantes abandonaram o sistema de ensino por completo. A lacuna de aprendizado entre as escola públicas e privadas se tornou imensa.

Até mesmo a saúde foi monumentalmente prejudicada pelo primeiro lockdown e pela ordem de “ficar em casa” para “proteger o sistema público de saúde”. Pacientes não foram atendidos, e doenças não foram diagnosticadas. Sim, a covid-19 ocupou milhares de leitos de hospital, mas o número de pessoas em busca de tratamento também despencou. Não é uma surpresa que a lista de espera do NHS, o Serviço Nacional de Saúde britânico, esteja batendo recordes.

As privações de curto prazo e os danos de longo prazo estavam claros para qualquer pessoa que se desse ao trabalho de considerá-los. Mas, nos primeiros meses de confinamento, houve uma intolerância extremamente poderosa à divergência. Falar sobre os males causados pelos excessos do lockdown significava ser acusado de estar do lado da doença e da morte.

 Praça vazia na frente da Catedral Duomo, em Milão, na Itália, durante o lockdown | Foto: Shutterstock

A oposição à abordagem do governo foi extremamente limitada. As mídias impressa e eletrônica se tornaram animadoras de torcida do lockdown, criticando o governo apenas por não ter agido mais rápido ou com maior rigidez. Plataformas da big tech censuraram vozes dissidentes, rotulando opiniões que contradiziam as orientações de saúde pública da Organização Mundial da Saúde como “desinformação”. O Labour Party — supostamente a “oposição oficial” do Reino Unido — apoiou todas as restrições do governo com veemência.

Por que tão poucos fizeram objeções a medidas tão extremadas? Isso não pode ser explicado pela gravidade da pandemia. Ainda que o lockdown possa ter parecido uma ruptura violenta com o “antigo normal”, ele também se aproveitou e aprofundou uma série de tendências destrutivas preexistentes. A cultura da “segurança”, a ampla difamação da liberdade e da liberdade de expressão, o aumento do Estado-babá e do autoritarismo na saúde pública, bem como a atomização da vida social já estavam claros antes da pandemia. E, mesmo enquanto as regras que nos confinaram eram canceladas, essas tendências problemáticas continuam existindo e assumindo novas formas em reação aos novos desafios.

Ainda que leve anos para entender por completo o que aconteceu nesse período excepcional e desolador das nossas vidas, dois anos depois podemos dizer com absoluta certeza: precisamos não deixar nunca mais que nos confinem. 

Fraser Myers é editor assistente da Spiked e apresentador do podcast da Spiked Siga-o no Twitter: @FraserMyers

Fraser Myers, colunista - Revista Oeste

 

Leia também “Enfim, a liberdade”

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Invenção jurídica = flagrante perpétuo - J. R. Guzzo

O Estado de S. Paulo

Por decisão do STF, Roberto Jefferson está preso com base em algo inexistente em qualquer país democrático do mundo: o ‘flagrante perpétuo’

O ex-deputado e atual presidente do PTB, Roberto Jefferson, preso em regime fechado desde o dia 13 de agosto sob a acusação de praticar “atos contra a democracia”, pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que a sua prisão preventiva fosse transformada em prisão domiciliar. Nada feito; o pedido foi negado. De acordo com seus advogados, Jefferson está precisando receber cuidados médicos que não são disponíveis no presídio de Bangu, no Rio de Janeiro. O ministro decidiu que não há provas de que Jefferson esteja com problemas de saúde e manteve a prisão – segundo ele, o ex-deputado vai “interferir na investigação” se for para casa.

O problema real, nessa história toda, não é se Jefferson está doente ou bem de saúde, e nem se vai ou não vai atrapalhar as investigações ao sair da cadeia. 
O problema é que, pela lei brasileira, ele não poderia ter sido preso, nem sofrer prisão preventiva e nem cumprir prisão domiciliar – deveria estar solto, simplesmente, respondendo a processo penal por aquilo de que é acusado. Como qualquer cidadão brasileiro, Jefferson só poderia ter sido preso em flagrante delito.
 
J. R. Guzzo, colunista - Estadão
 
 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Desembargadora tenta deixar prisão por covid, mas é desmascarada pela PGR

Presa pela Operação Faroeste, Lígia Maria Lima teve pedido de prisão domiciliar negado pelo STF

Presa desde novembro do ano passado, a desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia Lígia Maria Ramos Cunha Lima tentou ir para a prisão domiciliar sob o argumento de ser do grupo de risco para a covid-19 — mas omitiu no pedido de habeas corpus feito ao STF já ter tido a doença.

A informação sobre o diagnóstico positivo da desembargadora, alvo da Operação Faroeste, foi apresentado ao STF pela Procuradoria-Geral da República, responsável pelas investigações. Com o auxílio do material apreendido pela Polícia Federal nas buscas e apreensões, a PGR encontrou mensagens e laudos que dão conta do contágio pela desembargadora antes de sua prisão.

No parecer apresentado ao Supremo, o subprocurador Juliano Baiocchi Villa-Verde de Carvalho registra:ainda que a Literatura Médica já tenha registrado casos de reinfecção pelo vírus mundo afora, não há, conforme demonstrado no anterior parecer neste HC, como se proceder ao afastamento da preventiva da paciente ao fundamento da pandemia viral”.

A ministra Rosa Weber, vice-presidente da Corte e responsável pelo plantão, concordou com a PGR e manteve a desembargadora na Penitenciária da Papuda, em Brasília. A decisão foi tomada nesta terça-feira. Um detalhe: na troca de mensagens apresentada pela PF à PGR, é possível ver que a desembargadora, em posse do seu resultado positivo, prefere omitir a informação dos colegas de sessão com quem havia tido contato. “Não quero que divulgue,  pois estive na sessão de ontem”, escreveu para a sua secretária.

Blog Radar - Robson Bonin - VEJA

 

 

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Defesa de Queiroz pede a Gilmar urgência em julgamento de habeas corpus

Advogado do ex-assessor apresentou petição alegando que o quadro se agravou após a decisão do STJ de suspender prisão domiciliar.

A defesa do ex-assessor Fabrício Queiroz pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira, 14, urgência na análise do pedido de habeas corpus movido à Corte, sob responsabilidade do ministro Gilmar Mendes. Na petição, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende Queiroz e a mulher dele, Márcia Oliveira de Aguiar, alega a Gilmar que, com a decisão de ontem do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de revogar a prisão domiciliar do casal, o quadro se agravou e uma decisão rápida é necessária.
[o pedido de revogação da prisão domiciliar  de Fabrício Queiroz e esposa, é fundamento na base das possibilidades, hipóteses.
Abundam termos como suspeito, atípicas, poderia, teria, seria, e outros.
Nada que comprove, ainda que remotamente, a culpa de Queiroz.


Como mostrou VEJA nesta quinta-feira, antes de decidir sobre o pedido de liberdade de Queiroz e Márcia, Gilmar Mendes pediu informações sobre o caso ao STJ e ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Para a defesa, no entanto, uma decisão contra a ordem de Fischer deve ser dada antes.
“Solicitem-se informações ao Superior Tribunal de Justiça, à Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e ao Juízo da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, acerca do alegado na inicial”, decidiu Gilmar em um despacho assinado na quarta.

As investigações sobre Queiroz correm no âmbito do TJRJ, mais especificamente no Órgão Especial da Corte, colegiado composto por 25 desembargadores, e a 27ª Vara Criminal da Justiça fluminense, onde despacha o juiz Flávio Itabaiana, foi a responsável pelo decreto da prisão dele.

Segundo o advogado de Fabrício Queiroz, a decisão de Felix Fischer sobre a prisão ainda não foi cumprida. Como mostra VEJA nesta sexta, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), deixou o apartamento onde cumpre prisão domiciliar, no bairro da Taquara, Zona Oeste carioca, para fazer exames cardíacos em um laboratório na Barra da Tijuca. As avaliações médicas   foram autorizadas pelo desembargador Milton Fernandes de Souza, relator das apurações no TJRJ. Queiroz tem outro exame, uma radiografia, marcado para o dia 20 em um laboratório em Botafogo, Zona Sul do Rio.

VEJA  - Política


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Ministros do STJ não veem sinais de que Fabrício Queiroz voltará à prisão

Bela Megale

Caso Queiroz

Ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não acreditam na revogação da prisão domiciliar de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Como informou "O GLOBO", com o fim do recesso do Judiciário, a Procuradoria-Geral da República pediu ao tribunal para mandar Queiroz de volta para a cadeia.


Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro

A avaliação de integrantes da corte é que não houve nenhuma movimentação do Ministério Público do Rio que justificasse a revogação da domiciliar, como apresentar denúncia ou desmembrar o processo. [denúncias para prosperar precisam ser escudadas em provas - atipicidade não significa, nem nunca significou, e nunca significará, por mais criativa que seja a interpretação,  ilegalidade.]

O relator do caso, Felix Fischer, sinalizou a colegas que, quando retomasse os trabalhos, deveria rever a decisão de Noronha e colocar Queiroz atrás das grades novamente. No entanto, ele está afastado porque se submeteu a uma cirurgia na semana passada. Como a coluna informou, quem deve assumir o caso é Jorge Mussi, por ser o ministro mais antigo da Quinta Turma. Pessoas próximas a Mussi acreditam que ele deixará essa decisão para quando Fischer voltar.

Bela Megale, jornalista - Blog em O Globo



terça-feira, 12 de maio de 2020

Vídeo de reunião com Moro e Bolsonaro vai restabelecer a verdade - Alexandre Garcia

Vocês lembram o ex-presidente do Banco do Brasil que foi nomeado por Dilma a presidir a Petrobras? Ele foi “recondenado” a seis anos e oito meses de prisão. O ex-presidente do BB já tinha ficado 22 meses preso.

Aldemir Bendine recebeu R$ 3 milhões da Odebrecht. A condenação foi dada pelo juiz que substituiu Sergio Moro na Operação lava Jato. Foi ele que teve a sentença cancelada pelo STF por não ter sido o último a ser ouvido no processo.

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Os depoimentos do inquérito de Moro
Hoje os três ministros do Palácio e generais quatro estrelas Augusto Heleno, Braga Netto e Ramos vão depor para falar sobre a reunião ministerial em que Bolsonaro pode ter chamado a atenção de Moro para cumprir medidas urgentes.

O ex-ministro Sergio Moro alega que o presidente quis interferir na Polícia Federal. No mesmo caso, foram ouvidos três delegados na segunda-feira (11). Entre eles, Alexandre Ramagem e Ricardo Saadi.
Maurício Valeixo confirmou que o presidente ligou para ele na noite que tirou ele da PF. Segundo Valeixo, o presidente disse que queria um delegado com quem tivesse mais afinidade e falou que ia escrever na demissão que foi o delegado que pediu exoneração.

Alexandre Ramagem chegou a ser nomeado, mas sua indicação foi impedida pelo ministro Alexandre de Moraes. O delegado continua chefiando a ABIN. Saadi é o ex-superintendente da PF no Rio de Janeiro. O ex-juiz Sergio Moro, hoje, vai acompanhar a gravação em vídeo da reunião ministerial. O que será que é comentado em uma reunião ministerial? Pelo menos haverá uma satisfação para o público que é fã de Moro e a verdade vai ficar clara.

Não assalte quem tem uma arma em casa
No Lago Sul, em Brasília, no domingo de dia das mães, uma dupla de assaltantes deixou o carro na esquina, foi a pé até a casa, entrou na residência, renderam duas mulheres que conversavam na sala. Depois disso, um dos sujeitos ouviu duas vozes masculinas na cozinha e foi até o cômodo. Quando chegou lá enfiou um revólver calibre 38 na cara do filho e pegou o celular de todos na casa para que ninguém chamasse a polícia.

Entretanto, os dois que estavam na casa eram policiais. O pai é um delegado experiente e aposentado e o filho é o delegado da 4° Delegacia de Polícia em Brasília. O filho reagiu ao assalto e matou esse assaltante.

O outro sujeito conseguiu fugir. Ele passou por todas as câmeras de seguranças e por isso foi identificado. Quando esse sujeito chegou no carro, ele percebeu que a chave do carro estava com o que morreu.
Vocês acham que esses assaltantes são primários? Não, eles já têm até outras condenações. O mais jovem estava em liberdade provisória e o mais velho estava em prisão domiciliar.

Imagina, as nossas leis permitem que as pessoas fiquem em prisão domiciliar e provisória continuem a assaltar e portando armas. Agora eles estão se aproveitando da máscara da Covid-19 para se esconder.
Mas pelo menos é possível tirar uma lição dessa situação para assaltantes: é muito perigoso assaltar uma casa onde alguém tem uma arma.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


terça-feira, 12 de novembro de 2019

A Vitória da Impunidade - Maria Lucia Victor Barbosa

A decisão do STF, em 8 do 11, transcorreu com pose, pompa e longos discursos como é habitual.  O resultado foi o de seis ministros contra a prisão em segunda instância e cinco a favor.  Uma vitória frágil por apenas um voto. Durante um bom tempo o STF aceitou a prisão em segunda instância defendida, inclusive, pelos ministros Gilmar Mendes, Rosa Weber e Dias Toffoli, os quais voltaram atrás. Tal reviravolta aumentou a sensação de insegurança jurídica, pois não se sabe o que vale e o que não vale nas decisões do STF, que em um momento pende para um lado e em outro modifica o que foi acordado.

O resultado beneficiou de imediato o presidiário, que se encontrava recolhido por seus crimes na cobertura da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.  Ele foi o primeiro a ser rapidamente solto, como antecipadamente havia anunciado a cúpula de seus correligionários. Segundo o tão citado art. 283 do Código de Processo Penal (CPP), “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Em que situações se estabelece a prisão preventiva? “Como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal” (art. 312 da CPP). Isso significa que a prisão transitada em julgado pode ser aplicada ou não, dependendo de quantos advogados famosos e caros o criminoso possui.  Nesse caso ele pode matar, estripar, estuprar, roubar, enfim, cometer os crimes que lhe aprouver e não será preso, porque a Justiça brasileira tarda e falta, e até o processo chegar ao Supremo ou o bandido estará morto ou seu crime ou crimes prescritos.  Para as “pessoas comuns”, sem recursos financeiros, vale a prisão preventiva

De todo modo, vai ser difícil ser preso no Brasil graças a Lei de Abuso de Autoridade, com a qual o Congresso presenteou os facínoras e puniu os honestos, os corretos, os que cumprem com seus deveres. Segundo essa anomalia, uma simples condução coercitiva sem intimação prévia do investigado ou de uma testemunha, pode enquadrar um juiz  e as penas vão de 3 meses a 4 anos de prisão. Na verdade, criminosos terão carta branca e a autoridade que ousar prendê-los ou mesmo algemá-los é que será presa.  A lei já fez efeito e autoridades já deixaram de prender por medo de serem punidas.

O presidente do STF, ao chegar ao término da votação sobre a prisão em segunda instância, jogou a batata quente para o Congresso, em que pese a Suprema Corte ultimamente ter também legislado. Mas, se a Constituição é abstrata, qual é a definição exata de trânsito em julgado?  
Se mudar a Constituição é complicado ou não pode ser feito no caso das Leis Pétreas, não poderiam os legisladores fazer uma lei complementar alterando o Código Penal, definindo o que é trânsito em julgado para que a partir de uma sentença penal condenatória possa a prisão ser efetuada na primeira ou na segunda instância?

A dificuldade dessa possível solução reside no fato de que muitos integrantes do Congresso, notadamente do PT e do chamado Centrão, têm problemas com a Justiça, incluindo a Lava Jato e não vão votar contra si mesmos. No momento eles têm foro privilegiado, mas posteriormente podem não ser reeleitos e até presos.

Lula já devia estar em prisão domiciliar, mas avisou que não aceita isso e nem usaria tornozeleira. Agora solto pela decisão do STF, saiu dizendo que vai ser mais de esquerda e reiterou seus ataques raivosos, pesados, cheios de ódio aos que considera seus inimigos: a Polícia Federal, o Ministério público, a Receita Federal, o arqui-inimigo Sérgio Moro e o mega adversário, presidente Jair Bolsonaro.

O chefão petista não recuperou seus direitos políticos como disse Haddad. Continua condenado na primeira instância, no TRF-4, no STF, no caso, do Tríplex de Guarujá. [atualizando: condenação confirmada pelo TRF - 4, que por ser órgão colegiado já inclui o condenado na Lei da Ficha Limpa.] Foi condenado em primeira instância com relação ao sítio de Atibaia, o Instituto Lula e o apartamento de São Bernardo. Pesa ainda sobre ele os processos de tráfico de influência na compra dos Gripen da FAB, do “quadrilhão” do PT na Petrobrás, das propinas da Odebrecht. Por isso ele se diz o homem mais inocente do mundo, um injustiçado preso político.

Só falta agora se realizar o desejo de Lula da Silva através do STF: Moro ser considerado um juiz parcial no caso do tríplex, com base na ação criminosa de Hackers comandados pelo jornalista do site 'intercePTação'. [essa ação não vai prosperar;
o STF não vai ter a ousadia de revogar o inciso do  artigo 5º da CF que não aceita a inclusão no processo de provas obtidas por meios ilícitos. 
 
O próprio decano do STF, que acumula as funções de porta-voz anti presidente Bolsonaro, Bolsonaro, deixo bem claro em seu voto pró soltura do condenado petista, a vedação constitucional às provas ilícitas.]  Então, ele recupera seus direitos políticos. Contudo, se isso ocorrer, desmoralizando ainda mais o Supremo perante a sociedade, não está garantida a eleição do ex-presidiário. Portanto, não será prudente ele sair por aí em caravana.
 
A última foi um desastre político e pode ser pior agora porque a repulsa ao PT permanece e pode até ter aumentado.

Maria Lucia Victor Barbosa,    socióloga 
 
 
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Ninho de ratos no Peru: Congresso, presidentes e Supremo - Veja - Vilma Gryzinski

Blog Mundialista - Veja

Da cadeia, uma quase presidente, Keiko Fujimori, comanda o caos e o choque aberto entre poderes e instituições que não funcionam está instalado


Imaginem um país em que ordens políticas vitais emanam da cadeia, o povo está revoltado com o Congresso e o Supremo Tribunal, a corrupção patrocinada por uma grande construtora envenena as instituições e ninguém sabe quem é o presidente. [tranquilizem-se: este seria o cenário ideal para o presidiário petista mas, não é, não se trata do Brasil e sim do Peru.
No Brasil as ordens do presidiário só são cumpridas pelos petistas mais fanáticos, uns poucos, entre eles Gleisi Hoffmann.]
 
Isso que ainda nem chegamos no cerne dos problemas do Peru, onde o Congresso foi dissolvido, mas a ala política dominante não aceitou e tentou virar o jogo.  Martín Vizcarra, presidente ou ex-presidente, dependendo da ótica – sendo que nem tinha sido eleito para o cargo, assumindo-o na condição de vice – não precisou de um soldado e um cabo para dissolver o Congresso porque tinha muito mais: o apoio explícito, com foto e tudo, dos comandantes das Forças Armadas e da polícia.   Também não era um golpe de mão, apesar da gravidade da iniciativa. Haveria, ou haverá, sabe-se lá no momento, novas eleições.

O Congresso, onde fujimoristas e outros partidos de direita são majoritários, foi dissolvido porque estava tentando uma esperteza: nomear membros do Tribunal Constitucional, o equivalente ao Supremo Tribunal.  é o fim do ano, nomearia seis juízes. No Peru, o cargo não é vitalício.  Surpresa, surpresa. O Tribunal Constitucional tem importantes decisões a tomar sobre o caso Odebrecht, a construtora brasileira que, em combinação com o apenado e influencer de Curitiba, exportou para o Peru o modelo aparentemente perfeito de corrupção.
Sob o controle da Força Popular, os novos integrantes do tribunal seriam simpáticos a Keiko Fujimori.
Quase eleita presidente duas vezes, ela está presa preventivamente há um ano por lavagem de dinheiro e recebimento de contribuições não declaradas.  A construtora brasileira dava dinheiro a todos os candidatos, para não ficar a descoberto com nenhum deles.

Também foi beneficiado o candidato que derrotou Keiko por pequena diferença, Pedro Pablo Kuzscynski, em prisão domiciliar por idade e doença cardíaca.  PPK queimou o filme quando indultou Alberto Fujimori, envolvido em crimes mais graves de corrupção e repressão descontrolada, envolvendo inocentes, no combate ao brutal e assassino grupo maoísta Sendero Luminoso.
O problema de Kuzscynski, um economista de reputação internacional que voltou ao Peru para salvar o país e foi engolido por ele, era o mesmo que está provocando o caos atual: a oposição fujimorista impedia que governasse.
O indulto a Alberto Fujimori talvez desimpedisse o caminho, mas isso nunca será provado.  PPK acabou sendo obrigado a renunciar, em março do ano passado.

Assumiu o primeiro vice-presidente Martín Vizcarra, que tentou sua própria manobra, também sem sucesso. No lugar dele, prestou juramento perante o Congresso, sem que isso garanta sua legitimidade como presidente interina, a segunda vice-presidente, Mercedes Araóz.  Economista bem falante e bem alinhada, pelos padrões latino-americanos, ela evocou como motivo da resistência o fechamento do Congresso decretado por Alberto Fujimori, um engenheiro agrícola que virou ditador, em outra das guinadas surrealistas do Peru.

Ela lembrou, nesse caso com razão, que na época, Fujimori teve 90% de aprovação popular. Da mesma forma, hoje existem manifestações de apoio ao fechamento do “ninho de ratos”. Ironia das ironias: os congressistas que reagem ao fechamento e decretaram a desabilitação de Martín Vizcara são justamente os fujimoristas.
Ah, sim. Alberto Fujimori voltou para a cadeia.


 
Dessa forma, o Peru tem hoje pai e filha, importantes líderes políticos, igualmente presos; dois presidentes; um Congresso dissolvido e um Congresso que se declarou funcional e ninguém sabe que saída para essa encrenca toda.
Os ratos estão deitando e rolando.