O grupo que inventou uma estatal e deu o golpe na
Praça dos Três Poderes
A Polícia
Federal investiga uma turma de golpistas, entre eles um político
petista, que inventou uma autarquia, deu prejuízo a investidores e
enganou até o ex-presidente da Câmara dos EUA
A
página 161 do Diário
Oficial da União de 15 de
maio de 2012 anunciava um projeto ambicioso: a fabricação de lâmpadas LED para instalação em 5.566 cidades do país. Ao custo de R$ 3,7
bilhões, o tal projeto fazia parte do pomposo Programa Governamental
Brasileiro de Modernização e Racionalização da Iluminação Pública. O Diário Oficial informava que a contratação ficaria a cargo da
Agência Pública Nacional de Infraestrutura e Tecnologia, ou Proinfra. Na terra da burocracia, um troço chamado Proinfra não poderia
ser empulhação. Com sede próxima à Esplanada dos Ministérios, a Proinfra tinha
nome de estatal, site de estatal, brasão de estatal, jeito de
estatal – mas não era
estatal. Era uma invenção de espertalhões para dar
golpes na Praça dos Três Poderes.
ROTEIRISTA
O petista Carlos Rigonato (acima) com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Abaixo, publicação sobre a falsa autarquia no Diário Oficial.
O petista Carlos Rigonato (acima) com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Abaixo, publicação sobre a falsa autarquia no Diário Oficial.
‘EXTRATO DE CONTRATO’
Quem tramou o embuste? O obscuro empresário pernambucano
Roberto Oliveira, que escalou como “diretor-geral”
o petista Carlos
Rigonato, um ex-candidato a deputado federal no Paraná. Em 2011, no início do governo Dilma Rousseff, eles
conseguiram registrar o site da Proinfra com terminação “.gov.br”, passaram a publicar
contratos grandiosos no Diário Oficial da União e a exibir uma certidão
de bons negócios emitida pela Caixa Econômica Federal. As paredes do
escritório da Proinfra ostentavam os pequenos toques que anulavam qualquer
dúvida: uma foto oficial da presidente Dilma
Rousseff e a bandeira do Brasil. A Proinfra tinha até
CNPJ, mas não existia. Nunca existiu – ao menos como parte da burocracia do
governo. Após anos enganando empresários que acreditavam fazer negócios com o
governo brasileiro, a turma da Proinfra finalmente virou caso de polícia.
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o esquema.
A burocracia em Brasília é tão
vasta que até existe uma Proinfra. Aliás, duas Proinfras. Uma fica na Caixa e outra no Ministério da
Ciência e Tecnologia. Ambas financiam
projetos de infraestrutura. A Proinfra de mentirinha fechou em 20 de
março deste ano, quando a Receita Federal cancelou o CNPJ dela. Após ÉPOCA
investigar o caso, o site da estatal fajuta saiu do ar. Na maquiagem
governamental da Proinfra, a agência se apresentava como “Associação Pública de Direito Público e Natureza Jurídica Autárquica”.
Carlos Rigonato,
o petista do Paraná,
encarregava-se de apresentar as credenciais políticas da estatal. Ele tinha fotos com o mais eminente casal
petista do Brasil: o ministro Paulo Bernardo e a senadora Gleisi
Hoffmann, ambos do Paraná. Uma delas foi tirada no Senado, no dia em que
Gleisi foi anunciada ministra da Casa Civil, em 2011. Não há, porém, evidências
de que Gleisi ou Paulo Bernardo participavam ou mesmo soubessem do esquema. A
senadora afirma conhecer Rigonato só por ele ter sido vice-prefeito no Paraná e
não saber da existência da Proinfra. Roberto Oliveira, o parceiro de Rigonato,
apresentava-se como diretor de Relações Institucionais da Proinfra. Cabia a ele
convencer empresários a investir na fabulação.