Polícia vai investigar
ligação do PCC com ocupações em SP
Equipes que atuam no combate ao crime organizado
afirmam ter indícios de que facção usa prédios como esconderijo de traficantes,
drogas e armas [o apelido de 'social' usado na denominação de tais movimentos, deixa amplo espaço para utilização dos mesmos pelo crime organizado, como cobertura ou prática de outros crimes.
A quadrilha MLSM já foi convocada pela Polícia, ou Ministério Público, para explicar o destino dado ao produto da extorsão pratica sob o nome de 'aluguel'?]
A polícia
de São Paulo vai investigar movimentos de moradia que cobram aluguel de
sem-teto em ocupações. Equipes que atuam no combate ao crime organizado dizem
ter indícios de que o Primeiro Comando da Capital (PCC) usa algumas dessas ocupações
como fachada para esconder drogas, armas e traficantes. Moradores do prédio que
desabou no Largo do Paissandu na última terça-feira relataram que pagavam até
R$ 400 por mês para o Movimento da Luta Social por Moradia (MLSM), responsável
pela ocupação que pegou fogo e ruiu.
Nesta
quinta-feira, os investigadores concluíram que o incêndio começou por causa de um curto-circuito em
uma tomada usada por uma família que vivia no quinto andar.
Embora
digam que o MLSM ainda não foi alvo de inquérito, policiais que apuram ações do
crime organizado veem semelhanças entre a atuação deste grupo e o antigo
Movimento Sem Teto de São Paulo (MSTS), que liderou a ocupação do Cine
Marrocos. Em 2016, o Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico
(Denarc) encontrou fuzis, carabinas e drogas escondidos num poço de elevador do
edifício invadido.
Segundo a
investigação, o MSTS servia como fachada para o PCC. A facção usava o prédio
como uma espécie de quartel-general e se aproveitava dos sem-teto para manter a
polícia distante. Policiais demoraram cerca de cinco meses para entrar no
edifício, com receio de que o confronto acabasse envolvendo moradores que não
tinham ligação com o tráfico. O MSTS
faturava mais de R$ 60 mil por mês com aluguel cobrado dos ocupantes de três
invasões que tinha no Centro, segundo estimativa da polícia, e ainda ganhava
com cobrança de taxas de adesão, luz e água. Até o caminhão que fazia a mudança
das famílias pertencia aos traficantes.
A
operação levou à condenação de 28 pessoas, acusadas de envolvimento no esquema,
entre elas o líder do movimento, Wladimir Ribeiro Brito, apontado como chefe da
facção no Centro de São Paulo. A suspeita da polícia é que, como o MSTS foi
desmontado e o déficit habitacional continua alto, outras ocupações possam
estar sendo comandadas pela facção paulista.
SUSPEITA
DE MAIS DESAPARECIDOS
Em outra
investigação, que apura a causa do incêndio que derrubou o edifício Wilton Paes
de Almeida, a polícia concluiu que um curto-circuito provocou a tragédia e
negou que as chamas tenham começado após uma briga de casal. Os policiais
fizeram essa afirmação após ouvir depoimentos de Walquíria Camargo do Nascimento,
moradora do andar onde o fogo começou.
O marido
dela, Pedro Lucas Ribeiro, e uma das filhas do casal, Maria Cecilia, estão
internados. A mulher contou que acordou com o barulho do curto-circuito em uma
tomada onde estavam ligados um micro-ondas, uma TV e uma geladeira. No
terceiro dia de buscas por vítimas da tragédia, os bombeiros começaram nesta
quinta-feira a usar equipamentos pesados para limpar os destroços.
Oficialmente,
para os bombeiros, há quatro desaparecidos que podem estar sob os escombros:
Ricardo Amorim, o Tatuagem, que era resgatado no momento em que a construção
veio abaixo, Selma Almeida da Silva e os dois filhos gêmeos dela. Ao longo
do dia, mais três famílias comunicaram que não conseguem falar, desde
terça-feira, com parentes que viviam na ocupação. Zenaide Melo Souza, de 38
anos, por exemplo, procura informações do ex-marido, o confeiteiro Francisco
Lemos Dantas, de 56 anos, o Nilson. Segundo ela, Nilson não atende o celular
desde o dia do desabamento.
O Globo