“A ‘convivência pacífica’ entre polícia e bandido nos presídio
estava possibilitando, frequentes ameaças a promotores e juízes por
homicidas confessos, em audiências e julgamentos”
O ministro da Justiça, Sergio Moro, e o governador de São Paulo, João
Doria,
pagaram para ver a reação do Primeiro Comando da Capital (PCC), a
maior facção criminosa do país, ao transferir
Marcos Willians Herbas
Camacho, o Marcola, e mais 21 chefões do tráfico de drogas das
penitenciárias estaduais de Presidente Venceslau e de Presidente
Bernardes, no interior do estado, para os presídios federais de Mossoró
(RN), Porto Velho (RO) e Brasília (DF), recém-inaugurado na Papuda. Não
existe superlotação nem registro de fugas nesses presídios.
Efetivamente, essa é a primeira ação disruptiva de Moro nos
presídios, em comum acordo com o governador João Doria, que alfinetou os
antecessores ao dizer que esse tipo de medida já poderia ter sido
tomada. Segundo o governo paulista,
Marcola e seus comparsas estavam
planejando uma fuga do presídio, em razão das propostas de endurecimento
de penas e do regime carcerário. A decisão é muito emblemática por causa da crise ocorrida no Ceará,
após a transferência dos chefões do crime organizado dos presídios
daquele estado para presídios federais — há mais dois:
um em Campo
Grande (MS) e outro em Catanduvas (PR) —, que são
reservados para presos
de alta periculosidade e líderes de facções criminosas.
A transferência da alçada estadual para a federal muda o status quo
do tráfico de drogas em São Paulo, porque haverá uma desconexão entre os
líderes históricos da PCC e toda a poderosa rede de tráfico de drogas,
inclusive para o exterior, existente no estado. Além disso, põe fim à
“convivência pacífica” entre polícia e bandido nos presídios, que estava
possibilitando, inclusive, frequentes ameaças a promotores e juízes
criminais de primeira instância por homicidas confessos, em audiências e
julgamentos.
Plano de fuga
Segundo relatório dos serviços de inteligência da Secretaria de
Segurança de São Paulo,
os chefões do tráfico estavam preparando uma
fuga espetacular, com utilização de aeronaves, veículos blindados,
armamento pesado e homens treinados na Bolívia, inclusive estrangeiros, o
que foi determinante para a transferência de Marcola e mais 15 chefões.
Outros sete foram transferidos porque comandavam as conexões do PCC em
18 estados e outros países, conforme operação realizada no ano passado.
Como houve retaliações do tráfico de drogas às medidas anteriormente
tomadas pelo governo paulista para isolar os chefões nos presídios de
segurança máxima estaduais,
a segurança dos presídios federais para os
quais estão sendo transferidos também foi reforçada.
A avaliação das autoridades paulistas é de que o PCC não tentará
repetir em São Paulo o que houve no Ceará, porque foram pegos de
surpresa, estão sem comunicação com os demais integrantes da organização
e também enfrentam disputas com outras facções no Rio de Janeiro, no
Norte e no Nordeste, não podendo, por isso, se enfraquecer em São Paulo,
num confronto direto com as forças de segurança. Ou seja,
Moro e Doria
apostaram no enfrentamento da maior e mais poderosa facção do tráfico
organizado como passo inicial da política de combate à violência e à
criminalidade, sem se deixar intimidar por ameaças.
Ordem unida
De volta a Brasília,
a primeira tarefa de Jair Bolsonaro no Congresso
será restabelecer a ordem na sua tropa de choque. Além do
“barata voa”
na bancada de deputados federais, que não se entende, o filho caçula do
presidente da República, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, resolveu
desmentir publicamente o secretário-geral da Presidência, Gustavo
Bebianno, que disse, em entrevista, ter conversado três vezes com seu
pai sobre o caso da candidata laranja do PSL em Pernambuco, Maria de
Lourdes Paixão, que recebeu R$ 400 mil da legenda sem fazer campanha.
Aparentemente, Bolsonaro deu aval ao filho, mas a turma do
deixa-disso tenta pôr panos quentes e trata o assunto como coisa banal
na política.
Não é: trata-se do filho do presidente da República
desautorizando publicamente um ministro com assento no Palácio do
Planalto.
Bolsonaro endossou o filho nas redes sociais e mandou
investigar Bebianno.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB