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quinta-feira, 18 de abril de 2019

Perdendo a confiança

Sequência de problemas reduz a crença na capacidade do governo (e de Guedes) de entregar política econômica tão apoiada 


Coluna publicada em O Globo - Economia 18 de abril de 2019
Não está errado dizer que a Petrobras perdeu R$ 32,4 bilhões quando o presidente Bolsonaro suspendeu o reajuste de 5,7% que a estatal anunciara para o preço do diesel.  Mais correto, porém, é dizer que os acionistas da Petrobras perderam todo aquele dinheiro. E não foi apenas por causa dos 5,7%.

[será que após a transformação do Brasil em republiqueta, ainda tem salvação - veja POST.] 

Ações caem quando há mais investidores vendendo do que comprando os papéis. E quem vende é porque perdeu confiança. Em geral, só os grandes investidores fazem esses movimentos rápidos. Os outros, entre os quais se incluem quase todos os brasileiros que têm alguma poupança, só podem reclamar ou lamentar. Todos, portanto, perdem dinheiro e confiança.  E quem são os acionistas?
O próprio governo federal, por exemplo.
O BNDES tem em sua carteira algo como R$ 40 bilhões em papéis da Petrobras. A Caixa, uns R$ 10 bi. Só aí, portanto, o governo perdeu R$ 4,5 bilhões naquele dia (desvalorização dos papéis de uns 9%).

É dinheiro. Ainda nesta semana, o governo disse que o BNDES vai emprestar R$ 500 milhões para os caminhoneiros comprarem pneus. E que vai procurar no orçamento uns R$ 2 bilhões para arrumar rodovias. [arrume as rodovias, mas priorize a construção de ferrovias.] Acharia ali na carteira de ações.  Claro que as ações podem recuperar valor – se a Petrobras conseguir reaplicar o aumento do diesel ou se descobrir um baita campo de petróleo ou se o preço internacional do óleo subir – mas a desconfiança permanece.

[presidente Bolsonaro: mais um palpite = que tal começar a governar, esquecer o palanque, parar de pensar em uma possível candidatura em uma hipotética reeleição a ocorrer daqui a quatro anos?
que tal parar com o hábito de antes de pensar no que precisa ser feito, em tudo que precisa fazer, ou pensa em fazer, pensar primeiro nas implicações eleitorais?
Por favor, senhor presidente, esqueça os projetos eleitorais, os planos políticos, os eleitores e comece a governar, a resolver (ou tentar) os problemas ATUAIS do Brasil, sem se preocupar se gostam ou não.

Adotando as medidas necessárias - claro as que deixarem - as coisas vão começar a melhorar, a confiança se eleva, e o círculo que a cada dia está mais vicioso começará a se transformar em virtuoso.

Esqueça os caminhoneiros - manutenção de caminhão, compra de pneus isso não é problema de governo é problema do dono do caminhão.
Hoje o senhor empresta dinheiro para eles não entrarem em greve; amanhã eles querem o perdão da dívida do empréstimo de agora e mais grana para outras coisas, diesel mais barato, frete mais caro.

Por favor, cuide de governar, faça o que for preciso e deixarem - doa a quem doer.
Basta o  Brasil parar de afundar, o desemprego cair uns 20% e logo vão esquecer as dores de agora.

Reforma da Previdência, eu e qualquer flamenguista - não sei dos palmeirenses, eles são sem noção - sabemos que total o senhor não faz, vai ter que fatiar.
Começar pela fixação de uma idade mínima e tempo mínimo de contribuição - tem que começar por algum lugar e entrar em vigor o mais rápido possível e começar por esses dois pontos, dificeis, será um bom começo.

Presidente, com todo respeito, de um eleitor seu e que deseja votar no senhor para PRESIDENTE em 2022 - com as bênçãos de DEUS - COMECE A GOVERNAR ou desista.

Da forma que estamos indo, tem um perdedor: o BRASIL e um maldito vencedor = o perda total = pt = a turma do quando pior melhor.]


A versão oficial diz que o presidente Bolsonaro não mandou cancelar o reajuste do diesel. Apenas pediu para suspendê-lo porque estava confuso e queria entender melhor o sistema de preços da Petrobras.  Com todos esses anos de jornalismo, a gente sabe desconfiar de uma versão oficial. E também sabe apurar nos bastidores.
Assim, com boa vontade, podemos fazer duas hipóteses. Primeira, o presidente de fato não entendia o sistema de preços da Petrobras e ficou confuso com o aumento. Segunda, entendia perfeitamente e mandou suspender o aumento porque ficou sabendo da bronca dos caminhoneiros.

Em qualquer caso, é complicado, digamos. Esse assunto dos reajustes da Petrobras não é de hoje. Vem de mais de ano, foi discutido na greve dos caminhoneiros (aliás, apoiada por Bolsonaro) e debatido na campanha eleitoral. Como o presidente poderia não saber?  E se sabia, mandou cancelar o reajuste para, ouvindo as ruas, como disse Paulo Guedes, atender a reivindicação dos caminhoneiros. O que significa que a política econômica liberal tem limites. Até onde?
Tem uma terceira questão: será que o presidente nem desconfiava das consequências de seu ato, a enorme perda de valor da Petrobras? Acrescente-se ao cenário a confusão na tramitação da reforma da previdência. Claro que não é um problema grave que a votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara tenha sido adiada para a próxima terça-feira. Mas, caramba, como os líderes governistas não conseguem administrar uma votação que não é das mais difíceis?

E assim se vai minando a confiança. A trapalhada na Petrobras ainda não está resolvida, pois não se sabe como a estatal vai sair dessa. É uma sinuca. Se aplicar imediatamente aqueles 5,7%, estará colocando diesel no chope do presidente. Se desistir do reajuste, estará confirmando que isso de autonomia das estatais (e do BC?) não funciona na prática.  Tudo considerado, as expectativas estão piorando. Estavam bastante elevadas logo após a eleição de Bolsonaro e subiram ainda mais quando se formou a equipe de Paulo Guedes. Mais ainda com as juras de reformas macro e micro e privatizações em massa, além de autonomia das estatais e agências.
Aí surgem os “pequenos” problemas. Algumas péssimas escolhas ministeriais, brigalhada dentro do governo, lideranças ineficientes no Congresso, caneladas nos políticos, os da velha e da nova, ataques a Rodrigo Maia, o grande defensor das reformas econômicas, o caso Petrobras, as derrotas na Câmara.

Tudo coisa que pode ser consertada, mas a sequência certamente reduz a crença na capacidade do governo (e de Guedes) de entregar a política econômica tão apoiada.  Não é por acaso que as expectativas de crescimento para este ano são cada vez menores.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista