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domingo, 26 de maio de 2019

Passeata é inútil quando o problema é o despreparo

Recuo no caso das armas foi só mais um, desde a bobagem sobre a embaixada em Israel

Vai mal um presidente quando precisa de grupos na rua em manifestações de apoio. Collor precisou. Pode ir mal um país quando seu presidente recomenda aos apoiadores evitar ataques ao Congresso e ao Judiciário. Que apoiadores são esses? Estarão enganados quanto às convicções democráticas de seu líder? Podem ter-se enganado, talvez, quando esse líder repassou em rede um texto sobre a impossibilidade de governar com as instituições. O tom do texto era golpista, mas ele declarou, depois, havê-lo simplesmente repassado.

Por que repassou, se discordava, e sem adicionar uma palavra de rejeição? Isso nunca foi explicado, mas explicar nunca foi o forte desse presidente. Ele comprovou essa qualidade, mais uma vez, ao anunciar um projeto capaz de render mais que o trilhão de reais pretendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, com a reforma da Previdência. O projeto, soube-se depois, é uma fórmula para o governo ganhar dinheiro com a atualização de valor de imóveis incluídos na Declaração de Renda. Na prática, seria uma antecipação do imposto pago depois da venda. E se esse bem nunca for vendido? A ideia básica já foi rejeitada em países do mundo rico. Para o presidente e alguns de seus auxiliares, deve ser uma grande novidade. A propósito: o ganho para o Tesouro, se houver, ficará muito longe do trilhão, segundo fonte do próprio governo.

Enquanto o presidente se ocupava da manifestação, estranhamente descrita por alguns como um “protesto a favor do governo”, congressistas ocupavam espaço político, aprovavam na Câmara a medida provisória de recomposição dos ministérios e punham em tramitação um projeto próprio de reforma tributária. Para alguns, a movimentação na Câmara foi um recuo do Centrão, pressionado pelo governo e por seus apoiadores. A visão oposta parece mais adequada. Afinal, os deputados, além de mostrar serviço, negaram a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Justiça e se anteciparam ao projeto governamental de mudança dos impostos e contribuições. Pode-se discutir o alcance de cada um dos projetos, o da Câmara e o do Ministério da Economia, mas o Executivo foi inegavelmente atropelado – e sem invasão de atribuições, acusação dirigida ao presidente no caso do decreto sobre porte de armas. Mais importante ainda, parlamentares de peso, a começar pelos presidentes da Câmara e do Senado, já se declararam comprometidos com a reforma da Previdência, com ou sem atuação do Executivo.

Contestado no Parlamento e no Judiciário, o presidente acabou forçado a editar um novo decreto sobre o assunto, para restringir, por exemplo, o acesso a certo tipo de fuzil. Um dia antes, as ações da Taurus haviam disparado na bolsa paulista, depois de anunciada pela empresa uma fila de 2 mil pessoas interessadas na compra daquela arma. Entre outras mudanças, o segundo decreto reduziu as facilidades para crianças ingressarem nas escolas de tiro e iniciarem a vida no mundo do bangue-bangue, tão valorizado entre muitos bolsonaristas. [epa... valorizado e necessário; usar uma arma sem treinamento é válido, desde que necessário;
mas, o ideal é o  treinamento, intenso e frequente.] 

Mais um recuo foi incluído, portanto, na lista bolsonariana. O presidente já havia recuado, por exemplo, da tentativa de controlar o preço do diesel. Não parece ter abandonado totalmente a ideia, mas foi forçado a amaciar sua atitude depois de uma desastrada pressão sobre a diretoria da Petrobrás. Recuou também da decisão de impor seus critérios, formalmente, à publicidade das estatais. A bobagem estava claramente encaminhada, na área de Comunicação, quando o secretário de Governo, general Santos Cruz, chamou a atenção para a Lei das Estatais. Não pode o Executivo, segundo essa lei, meter-se em decisões administrativas como a publicidade estritamente mercadológica. [desse entendimento, discordamos; sendo o governo o maior acionista de uma estatal - no caso em questão o Banco do Brasil, sociedade de economia mista, sendo o governo o acionista majoritário - é justo que ele possa interferir quando recursos da empresa estão sendo desviados para finalidades que não compensam - no caso o objetivo alegado era aumentar a clientela do BB, só que o público alvo não é numeroso, não compensando gastar muito com publicidade para atrair seus integrantes.]

No começo do mandato o presidente já havia abandonado [adiado para as calendas gregas.], ou pelo menos adiado, o plano de mudar para Jerusalém a embaixada em Israel. Advertido para o custo de uma encrenca com países muçulmanos, grandes importadores de alimentos produzidos no Brasil, reviu sua ideia e substituiu a mudança da embaixada pela instalação de um escritório comercial. Mais que uma decisão econômica, esse remendo foi uma tentativa de mostrar-se fiel ao compromisso de seguir, algum dia, seu líder Donald Trump e ao mesmo tempo contentar os apoiadores evangélicos. Nenhum desses motivos tem relação com os interesses políticos e econômicos de uma diplomacia de respeito.

O Executivo brasileiro recuou também do anunciado abandono do Acordo de Paris sobre o clima. Deu mais um passo atrás ao confirmar, depois de havê-la negado, a realização, em Salvador, de uma conferência regional preparatória para uma grande reunião sobre a questão climática em Santiago do Chile. Alguém próximo do presidente deve ter-lhe apontado os enormes custos diplomáticos e comerciais de suas bravatas anticonservacionistas. Os custos internos do empobrecimento ambiental deveriam ser suficientes, mas a esses o presidente e vários de seus auxiliares parecem absolutamente insensíveis.

Enquanto o presidente passava mais uma semana tropeçando, perdendo tempo e sendo forçado a recuar mais de uma vez, o vice Hamilton Mourão participava de reuniões em Pequim, era recebido pelo presidente Xi Jinping e tentava anular os danos causados por seu chefe e pelo ministro das Relações Exteriores na relação com a China, maior cliente das exportações brasileiras. Além de ser grande compradora, a China tem um importante programa internacional de investimentos em infraestrutura. É preciso, sim, avaliar a conveniência de cada projeto, mas isso é função normal de um governo tecnicamente preparado, competente na ação diplomática e levado a sério pelas autoridades estrangeiras.

Sem essas qualidades, nenhuma passeata de apoio será suficiente para fortalecer um presidente e sua equipe. A ruindade será do governo. Não adianta culpar a democracia.

 
 

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Os expulsos do Banco do Brasil

Sexismo virou critério para a estética publicitária

[antigo ditado: quando o cara faz, pratica, muito sexo, ele pouco fala sobre o assunto;
quando não pratica, não faz, só pensa, recorda e imagina, vive falando sobre.
Será isso que está tornando o sexo tão importante na imprensa brasileira?
Qualquer coisa que envolva bicha, trans. sapatão e outras aberrações do tipo, vira notícia, manchete, tese de doutorado, etc.]
O presidente da República já deu mostras enfáticas, reiteradas e indisfarçáveis de que não hesita em atear fogo no interesse público para promover suas predileções moralistas, antiquadas e fascistizantes. [ presidente Jair Bolsonaro, procura sempre cumprir suas promessas de campanha e parte delas envolve fazer com que predileções moralistas passem a ser assunto atual.
Já passa da hora de parar de  valorizar o bizarro, o anormal.
Chega de dar valor ao maldito politicamente correto, à maldita esquerda e excrescências do tipo.]

Foi assim quando, para bajular o governo de extrema-direita de Israel, criou uma enorme confusão nas relações comerciais do Brasil com os países árabes. Foi assim quando abriu mão do princípio da reciprocidade e, unilateralmente, dispensou os americanos de terem visto para entrar no Brasil (embora os brasileiros sigam obrigados a trilhar as catacumbas da burocracia para ter um carimbo no passaporte que lhes permita pisar em solo estadunidense [Bolsonaro pisou feio na questão da reciprocidade, mas, não pode ser olvidado que nenhum cidadão brasileiro é obrigado a visitar os Estados Unidos da América - 
quem vai a um determinado país por gostar, por prazer, tem que estar disposto a enfrentar dificuldades, até humilhações.
Conheço alguns países, poucos, entre eles não se inclui, nem pretendo incluir, os EUA.]) --tudo para prestar vassalagem ao seu ídolo Donald Trump, eleito pelas falanges bolsonáricas como o farol do conservadorismo mundial. Foi assim, de novo, quando interveio atabalhoadamente numa decisão interna da Petrobras e travou o reajuste do preço do diesel e derrubou o valor da companhia em dezenas de bilhões de reais.

A mesma coisa aconteceu na semana passada, quando Bolsonaro ordenou que o Banco do Brasil tirasse do ar um anúncio de TV dirigido ao público jovem, cujos hábitos são menos caretas do que preconiza o discurso hoje em voga no Planalto.[a publicidade tem que ser dirigida a um público alvo que dê retorno e para isso é preciso um público numeroso e com algum poder aquisitivo.
A publicidade retirada estava mais preocupada com a pregação da tal 'diversidade' do que em dar lucro ao anunciante;
o Banco do Brasil, não é uma CEF - cem por cento propriedade do governo -  mas é uma 'sociedade de economia mista', sendo a União o acionista majoritário, assim,  qualquer mau uso dos seus recursos é desperdício de  dinheiro público,  do nosso dinheiro, tem que ser coibido e punido.]

De uma tacada, o presidente desrespeitou a Petrobras, enxovalhou (de novo) suas vãs promessas liberais, humilhou gays, trans, bissexuais e jovens em geral, feriu a dignidade de todos e todas que não cultivam intolerância sexual de nenhuma espécie e decretou a expulsão simbólica do Banco do Brasil de todos os homens que não se definam por usar apartamentos funcionais para "comer gente" e de todas as mulheres que não achem que as meninas devam se vestir de rosa e os meninos de azul. [com certeza essas pessoas de dignidade tão sensível, tão ferida e os que se sentirem expulsos do Banco do Brasil, não farão falta e os eleitores  do nosso presidente Bolsonaro se sentirão mais orgulhosos do Brasil.]

Para o presidente, qualquer pessoa que não partilhe de sua doutrina de gênero é "persona non grata" no Banco do Brasil. Com ele, o sexismo se tornou critério ordenador da estética publicitária e filtro de seleção de correntistas de uma casa bancária que se definia como pública. Ele quer um Banco do Brasil em que somente os heterossexuais possam abrir conta, e se isso implicar perda de clientes, de valor, de capital, não importa. Para ele, o patrimônio do povo brasileiro está hierarquicamente subordinado à moral sexual que ele professa (ou acha que professa). [o ele, destacado, substitui o POVO BRASILEIRO.] 
 
(...) 
Já tivemos por aqui presidentes que vendiam estatais para pagar salários correntes e outros assaltavam o erário para comprar gravata de butique e financiar divertimentos de pouco decoro. Mais raros são os que põem fogo na coisa pública. O imperador romano Nero fez isso em Roma, já sabemos, mas ele pelo menos achava bonito ver a cidade em chamas. O caso presente está mais para a feiura do que para a beleza. O presidente não se deleita ao ver as cifras em combustão, apenas acha feia, repulsiva, a imagem de quem não é como ele acha que é, acha feio o marcador sexual que não é igual ao que ele julga ser o seu.

O chefe de governo age como se precisasse, doentiamente, extirpar de seu horizonte visual qualquer signo de sexualidades não convencionalíssimas. Contemplá-las, para ele, parece ser insuportável. Freud certamente não o classificaria como um "artista" doido. Talvez tivesse outra pista para interpretar tamanha obsessão, mas isso não é da nossa conta. Voltando então ao estrito interesse público, é o caso de alertar: se deixarmos --e até aqui estamos "médio" deixando--, esse governante vai seguir usando o Estado como combustível de suas fogueiras inquisitoriais. Primeiro, vai lançar suas labaredas obscurantistas (que as há) para expulsar a homoafetividade do Banco do Brasil. Depois, vai passar aos expurgos mais definitivos. [o verbo deixar, usado neste parágrafo, deixa um certo sentido de ameaça?
apenas lembramos a sempre atual frase do grande Zagallo: 'Vocês vão ter que me engolir'; que tem tudo para se tornar um ótimo bordão para o presidente Bolsonaro.
Em tempo: não existe terceiro turno no Brasil.]
'Vocês vão ter que me engolir'... - Veja mais em https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2017/06/29/voces-vao-ter-que-me-engolir-os-bastidores-da-polemica-frase-de-zagallo.htm?cmpid=copiaecola
'Vocês vão ter que me engolir'... - Veja mais em https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2017/06/29/voces-vao-ter-que-me-engolir-os-bastidores-da-polemica-frase-de-zagallo.htm?cmpid=copiaecola

 
 
 
 

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Perdendo a confiança

Sequência de problemas reduz a crença na capacidade do governo (e de Guedes) de entregar política econômica tão apoiada 


Coluna publicada em O Globo - Economia 18 de abril de 2019
Não está errado dizer que a Petrobras perdeu R$ 32,4 bilhões quando o presidente Bolsonaro suspendeu o reajuste de 5,7% que a estatal anunciara para o preço do diesel.  Mais correto, porém, é dizer que os acionistas da Petrobras perderam todo aquele dinheiro. E não foi apenas por causa dos 5,7%.

[será que após a transformação do Brasil em republiqueta, ainda tem salvação - veja POST.] 

Ações caem quando há mais investidores vendendo do que comprando os papéis. E quem vende é porque perdeu confiança. Em geral, só os grandes investidores fazem esses movimentos rápidos. Os outros, entre os quais se incluem quase todos os brasileiros que têm alguma poupança, só podem reclamar ou lamentar. Todos, portanto, perdem dinheiro e confiança.  E quem são os acionistas?
O próprio governo federal, por exemplo.
O BNDES tem em sua carteira algo como R$ 40 bilhões em papéis da Petrobras. A Caixa, uns R$ 10 bi. Só aí, portanto, o governo perdeu R$ 4,5 bilhões naquele dia (desvalorização dos papéis de uns 9%).

É dinheiro. Ainda nesta semana, o governo disse que o BNDES vai emprestar R$ 500 milhões para os caminhoneiros comprarem pneus. E que vai procurar no orçamento uns R$ 2 bilhões para arrumar rodovias. [arrume as rodovias, mas priorize a construção de ferrovias.] Acharia ali na carteira de ações.  Claro que as ações podem recuperar valor – se a Petrobras conseguir reaplicar o aumento do diesel ou se descobrir um baita campo de petróleo ou se o preço internacional do óleo subir – mas a desconfiança permanece.

[presidente Bolsonaro: mais um palpite = que tal começar a governar, esquecer o palanque, parar de pensar em uma possível candidatura em uma hipotética reeleição a ocorrer daqui a quatro anos?
que tal parar com o hábito de antes de pensar no que precisa ser feito, em tudo que precisa fazer, ou pensa em fazer, pensar primeiro nas implicações eleitorais?
Por favor, senhor presidente, esqueça os projetos eleitorais, os planos políticos, os eleitores e comece a governar, a resolver (ou tentar) os problemas ATUAIS do Brasil, sem se preocupar se gostam ou não.

Adotando as medidas necessárias - claro as que deixarem - as coisas vão começar a melhorar, a confiança se eleva, e o círculo que a cada dia está mais vicioso começará a se transformar em virtuoso.

Esqueça os caminhoneiros - manutenção de caminhão, compra de pneus isso não é problema de governo é problema do dono do caminhão.
Hoje o senhor empresta dinheiro para eles não entrarem em greve; amanhã eles querem o perdão da dívida do empréstimo de agora e mais grana para outras coisas, diesel mais barato, frete mais caro.

Por favor, cuide de governar, faça o que for preciso e deixarem - doa a quem doer.
Basta o  Brasil parar de afundar, o desemprego cair uns 20% e logo vão esquecer as dores de agora.

Reforma da Previdência, eu e qualquer flamenguista - não sei dos palmeirenses, eles são sem noção - sabemos que total o senhor não faz, vai ter que fatiar.
Começar pela fixação de uma idade mínima e tempo mínimo de contribuição - tem que começar por algum lugar e entrar em vigor o mais rápido possível e começar por esses dois pontos, dificeis, será um bom começo.

Presidente, com todo respeito, de um eleitor seu e que deseja votar no senhor para PRESIDENTE em 2022 - com as bênçãos de DEUS - COMECE A GOVERNAR ou desista.

Da forma que estamos indo, tem um perdedor: o BRASIL e um maldito vencedor = o perda total = pt = a turma do quando pior melhor.]


A versão oficial diz que o presidente Bolsonaro não mandou cancelar o reajuste do diesel. Apenas pediu para suspendê-lo porque estava confuso e queria entender melhor o sistema de preços da Petrobras.  Com todos esses anos de jornalismo, a gente sabe desconfiar de uma versão oficial. E também sabe apurar nos bastidores.
Assim, com boa vontade, podemos fazer duas hipóteses. Primeira, o presidente de fato não entendia o sistema de preços da Petrobras e ficou confuso com o aumento. Segunda, entendia perfeitamente e mandou suspender o aumento porque ficou sabendo da bronca dos caminhoneiros.

Em qualquer caso, é complicado, digamos. Esse assunto dos reajustes da Petrobras não é de hoje. Vem de mais de ano, foi discutido na greve dos caminhoneiros (aliás, apoiada por Bolsonaro) e debatido na campanha eleitoral. Como o presidente poderia não saber?  E se sabia, mandou cancelar o reajuste para, ouvindo as ruas, como disse Paulo Guedes, atender a reivindicação dos caminhoneiros. O que significa que a política econômica liberal tem limites. Até onde?
Tem uma terceira questão: será que o presidente nem desconfiava das consequências de seu ato, a enorme perda de valor da Petrobras? Acrescente-se ao cenário a confusão na tramitação da reforma da previdência. Claro que não é um problema grave que a votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara tenha sido adiada para a próxima terça-feira. Mas, caramba, como os líderes governistas não conseguem administrar uma votação que não é das mais difíceis?

E assim se vai minando a confiança. A trapalhada na Petrobras ainda não está resolvida, pois não se sabe como a estatal vai sair dessa. É uma sinuca. Se aplicar imediatamente aqueles 5,7%, estará colocando diesel no chope do presidente. Se desistir do reajuste, estará confirmando que isso de autonomia das estatais (e do BC?) não funciona na prática.  Tudo considerado, as expectativas estão piorando. Estavam bastante elevadas logo após a eleição de Bolsonaro e subiram ainda mais quando se formou a equipe de Paulo Guedes. Mais ainda com as juras de reformas macro e micro e privatizações em massa, além de autonomia das estatais e agências.
Aí surgem os “pequenos” problemas. Algumas péssimas escolhas ministeriais, brigalhada dentro do governo, lideranças ineficientes no Congresso, caneladas nos políticos, os da velha e da nova, ataques a Rodrigo Maia, o grande defensor das reformas econômicas, o caso Petrobras, as derrotas na Câmara.

Tudo coisa que pode ser consertada, mas a sequência certamente reduz a crença na capacidade do governo (e de Guedes) de entregar a política econômica tão apoiada.  Não é por acaso que as expectativas de crescimento para este ano são cada vez menores.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


terça-feira, 16 de abril de 2019

Ministro da Infraestrutura nega que governo esteja refém dos caminhoneiros

Segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a categoria pede pouco e o governo dará o que tem de dar: manutenção e estradas seguras 

Os caminhoneiros estão pedindo pouco e o governo não está refém da categoria, afirmou, nesta terça-feira (16/4), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, apesar da reação do presidente Jair Bolsonaro, de interferir na política de preço do diesel da Petrobras para conter uma ameaça de nova greve dos caminhoneiros.

“Não se trata de ficar refém. Absolutamente. O que eles estão pedindo? Tão pouco. Querem condição de estrada boa. Temos que prover isso. Querem poder descansar em um lugar onde tenham segurança. Podemos prover isso com facilidade. O custa atender esse pleito. É vontade? A gente tem essa vontade”, destacou Freitas. 

[senhor ministro da Infraestrutura, o senhor está sendo considerado a ILHA DE EXCELÊNCIA entre todos os ministros do atual governo, por favor não destrua esse conceito. 

O problema das autoridades serem coniventes a que o governo aceite as exigências dos caminhoneiros é que nas primeiras eles chegam arrodeando, cabeça baixa, choramingando, pedindo quase nada e são atendidos;

na próxima já pedem mais, são mais enfáticos e levam;

na terceira já chegam liderando, falando grosso e conseguem.

Ministro,  o governo não pode ser refém de nenhuma categoria.

Um exemplo: tem uns 20  anos que os rodoviários do DF não perdem um pleito de reajuste, de aumento de beneficios.

E começaram humildes, pedindo menos do que o governo achava que mereciam; hoje já não pedem, determinam. Fazem duas ou três paralisações relâmpagos, para demonstrar força e dizem o que querem.

O governo, - por enquanto o do DF e o da maioria dos estados  se acovardam,   cedem - esperamos que o federal não passe a fazer parte desse grupo.; Nos estados os negociadores do governo já entram procurando um local mais mais macio para se ajoelhar;

A Justiça trabalhista manda voltar, declara a greve ilegal, manda rodar um percentual da frota, e estabelece uma multa diária caso não seja obedecida NÃO É OBEDECIDA e NUNCA ESTA MULTA É PAGA.

Com os caminhoneiros vai ser bem pior.
As multas que o Temer diz ter mandado aplicar, não foram aplicadas e caso tenham sido,  não foram pagas, não estão sendo cobradas nem irão para a dividida ativa.

Jogue duroapreenda carros em condições irregulares e só libere se e quando as multas forem pagar (inclusive diárias de depósitos)
Multas mais severas para empresas que dêem apoio aos caminhoneiros o que caracteriza lockoutcrime, com prisão para os proprietários das empresas.

Caminhoneiros tem dívidas com bancos, prestações altas, e se não rodarem não pagam as dívidas e os bancos tomam os veículos.

Além do aperto geral nos caminhoneiros e maus empresários procure se esforçar, ainda que com financiamento a longo prazo e invista no crescimento da malha ferroviária.

Basta pensar quantas dezenas de caminhõesm simples comboio ferroviário substitui - oferecendo rodovias mais livres, menos acidentes, menos poluição, menos rodoviários fazendo chantagem, menor número de empresas transportadoras.


Os grandes países priorizam o transporte ferroviário, só aqui no Brasil é que cada governo que assume, tem o compromisso secreto de desativar alguns milhares de quilômetros de vias férreas - se é que ainda existe quilômetros.

Presidente Bolsonaro, não passe a história como o primeiro presidente brasileiro a ficar de quatro e colocar o Brasil de quatro diante dos chantagistas chamados caminhoneiros.  

Jogue duro, os interesses do Brasil estão acima de todos os outros. ]

Segundo ele, as coisas estão sendo feitas com diálogo e método. “Sem chantagem, nada disso. Acho que ficamos absolutamente tranquilos para dar os primeiros passos. Outros serão dados e não vamos descansar enquanto não melhorarmos muito a vida do transportador autônomo. Esses caras movimentam a riqueza do país. É justo que trabalhemos por eles também”, ressaltou.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni disse que o governo está enfrentando problemas que foram construídos ao longo das últimas cinco décadas. “Tarcísio criou o fórum e levou tempo para que o diálogo se aprofundasse e a confiança mútua se estabelecesse. Foi possível estabelecer uma ordem ao longo desse diálogo. Nesta sequência de pedidos da categoria, estamos atendendo praticamente 80% a 90% dos gargalos da atividade deles”,destacou.
 
 


domingo, 5 de agosto de 2018

Esboço dos programas



As propostas econômicas dos candidatos ainda estão muito embrionárias, mas tanto Marina Silva quanto Geraldo Alckmin e Ciro Gomes defendem a taxação de dividendos, com redução dos tributos sobre as empresas. Na semana de entrevistas com cinco dos candidatos na Globonews, foi possível ver convergências e muita imprecisão ainda sobre o que está sendo proposto na economia. O candidato Jair Bolsonaro falou em privatizar a Petrobras, mas por um motivo conjuntural: o preço do diesel.

A privatização da empresa ícone do Estado brasileiro não pode ser decidida assim por esse motivo. Segundo o candidato, já que o preço dos combustíveis está alto, é melhor privatizar a companhia. Disse e repetiu. Bom, ela ser vendida como está só transformará um monopólio estatal em privado. E quebrar o monopólio no refino, com venda de algumas das refinarias, pode ser o caminho mais seguro para quem quer competição nos preços. Isso foi defendido por Geraldo Alckmin.

O mais importante que fica da série de entrevistas em que, pela ordem, Álvaro Dias, do Podemos, Marina Silva, da Rede, Ciro Gomes, do PDT, Geraldo Alckmin, do PSDB, e Jair Bolsonaro, do PSL, falaram à Globonews é que ficou claro que alguns têm propostas econômicas mais definidas, mas há quem tenha apenas ideias desconexas. O candidato Jair Bolsonaro teve que parar de se esconder atrás do economista Paulo Guedes e não soube muito bem explicar por onde vai nesse tema. Ninguém tem que ser economista, mas pessoas que se dispõem a governar o Brasil tem que saber o que estão oferecendo aos eleitores como projeto para tirar o país da bomba fiscal em que está. Eles é que tomarão as decisões.

Ciro Gomes tem propostas que no tempo da entrevista, duas horas, não conseguiu explicar muito bem, mas que embute riscos. Para o discurso político ele acusa “meia duzia de plutocratas banqueiros” de receberem os juros da dívida. Se fosse simples assim, bastava então não pagar. Mas a dívida é, como ele sabe, carregada por milhões de brasileiros e 25% dela está na mão de fundos de pensão. Acusar os banqueiros é fácil e soa bem na retórica eleitoral, porque há um consenso de que os spreads brasileiros são altos demais, e os lucros, exagerados. Mas decidir não pagá-la ou estabelecer teto para o pagamento é o caminho mais curto para o desastre.

Marina Silva repete o que já disse em outras campanhas, mas agora de forma muito mais segura, que o ajuste fiscal terá que ser feito e através do controle estrito das contas públicas, mas precisará detalhar mais, como todos os outros, o caminho do equilíbrio. Geraldo Alckmin e Ciro Gomes prometem zerar o enorme déficit público brasileiro em dois anos. Hoje, o déficit primário está em R$ 150 bilhões e o ano que vem, primeiro do próximo governo, será o sexto ano no vermelho no qual a presidente Dilma levou o país e do qual ainda não se sabe como sair. O rombo tem que ser enfrentado. Mas como? Ainda não ficou claro. A maioria fala em cortar incentivos e subsídios. Esse é de fato um dos caminhos, o de reduzir as transferências para o capital, mas ninguém diz que interesse vai contrariar. Ciro Gomes afirmou ao fim da entrevista que será um corte linear de 15% em todos os programas, mas ao mesmo tempo defendeu durante a entrevista a permanência e até o crescimento dos subsídios à indústria, o que é uma contradição.

O país está diante da mais difícil das suas eleições. A economia é um dos dilemas. Não é o único. É preciso saber como garantir a governabilidade, após as eleições. Geraldo Alckmin montou uma grande coalizão eleitoral, mas com partidos envolvidos no que houve de pior nos últimos anos. Marina Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Álvaro Dias estão em partidos pequenos. O PDT de Ciro é um pouco maior, claro. Mas nenhum deles tem dimensão para começar a organizar uma coalizão de governo.  Ciro chegou à entrevista no dia em que o PT armara o plano de tirar dele o apoio do PSB, assunto que ainda provoca tremores no PT. Em Pernambuco, Marília Arraes mantém a candidatura ao governo pelo partido, e em Minas Gerais Márcio Lacerda se insurgiu contra a decisão do PSB. [por isso defendemos algo que não sabemos como fazer - atualmente só pode ser imposto e para isto tem que ser um regime forte - seria um governo que tivesse para a área que vamos chamar de moralização = ORDEM - as ideias de Bolsonaro e para a área de recuperação da economia = passo inicial para o PROGRESSO - as ideias de  Alckmin.
E óbvio sem um Janot para atrapalhar, trabalhando contra o Brasil.]

Muito perto da eleição, sabemos pouco dos caminhos. Mas se Ciro ataca seres sem rosto como “o baronato” e os “plutocratas”, Jair Bolsonaro faz ofensas e ameaças diretas a parcelas do eleitorado: negros, mulheres, indígenas. Esta é a eleição que enfrentaremos.