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sexta-feira, 1 de junho de 2018

Veja como você, que apoiou a greve dos ricos, vai pagar a conta da mamata; o chato é que as pessoas com miolos também serão prejudicadas

Pois é…
Como diria aquele Conselheiro, “as consequências vêm depois”. Há o risco de você que me lê estar entre aqueles 81% que, segundo o Datafolha, aplaudiram a greve dos caminhoneiros — levou lanchinho pra eles também? —, mas se nega a pagar a conta da mamata de R$ 13,5 bilhões, que até pode beneficiar alguns profissionais autônomos, mas vai mesmo é fazer a alegria de algumas gigantes do setor de transportes. Deve ter sido o evento mais bem-sucedido da história dos locautes mundo afora. Convenham: 87% formam o que a gente chama “maioria esmagadora”…  Como já lembrei aqui — e a questão foi reiterada por um auxiliar do presidente Temer —, governo não produz dinheiro; ele apenas o arrecada. Pode até gastar mal, mas esses são outros quinhentos. Se a turma da mamata do diesel vai “privatizarR$ 13,5 bilhões, de algum lugar o dinheiro há de sair.
Se for preciso, de novo, caracterizar o explorador com cartola, barriga e coxa de frango na mão, a gente caracteriza, ué… É um clichê? É. Mas ainda é um clichê menor do que aqueles que nos é oferecido pela  própria realidade.

O país tem uma folga orçamentária de R$ 6,1 bilhões. Só pra lembrar: a folga não e uma sobra depois de retiradas as despesas da receita; a folga NÃO é um dinheiro que está no azul. Ele continua no vermelho. Quer dizer apenas que o déficit seria menor. A dita-cuja foi engolida pela conta do diesel.   A segunda maior massa de recursos vem do “Reintegra”: R$ 2,27 bilhões. O programa devolvia 2% ao setor do que se arrecadava com PIS-Cofins. Passará a devolver 0,1%. Representantes do setor dizem que haverá perda de competitividade.

Havia uma reserva de R$ 2,1 bilhões para capitalização das estatais. Também vai virar fumaça. É a terceira maior rubrica a tapar o rombo orçamentário do diesel.  Na sequência, vem a grana do corte de despesas: R$ 1,2 bilhão. Cortar de onde? Ministérios dos Transportes (R$ 368,9 milhões); fortalecimento do SUS (R$ 135 milhões); concessão de bolsas de estudo (R$ 55,1 milhões); programa de prevenção e repressão ao tráfico de drogas (R$ 4,1 milhões) e até algumas migalhas (R$ 1,5 milhão) do policiamento ostensivo de rodovias e estradas federais. Dado o conjunto dos números, a área social padeceu pouco. Mas não ficou livre da garfada.  A reoneração da folha de pagamentos, de 17 setores inicialmente, renderá até o fim do ano outros R$ 830 milhões. Vêm de uma mudança tributária na área de concentrados de refrigerante outros R$ 740 milhões. No fim da fila, R$ 170 milhões sairão de mudanças no regime tributário da indústria química.

Então ficamos assim: computadas as perdas de todos os setores com a greve, chega-se fácil perto de R$ 100 bilhões. O PIB, em razão dos desastres em série e suas consequências, pode sofrer um impacto da ordem um ponto percentual (R$ 66 bilhões em valores de 2017). E, por ora ao menos, não se têm calculados os efeitos do fim de benefícios para a indústria. O ministro da Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, lembrou que a paralisação “teve o apoio de 90%” da população' — 87%, segundo o Datafolha. E emendou o que já lembrei aqui: “O governo não produz dinheiro; ele arrecada dinheiro”.
Na mosca! Os brasileiros escolheram um caminho quando aplaudiram a patuscada, certo?
Que aprendam ao menos a lição básica: as consequências vêm depois.

Blog do Reinaldo Azevedo