Pois é…
Como diria aquele Conselheiro, “as consequências vêm depois”. Há o risco
de você que me lê estar entre aqueles 81% que, segundo o Datafolha,
aplaudiram a greve dos caminhoneiros — levou lanchinho pra eles também?
—, mas se nega a pagar a conta da mamata de R$ 13,5 bilhões, que até
pode beneficiar alguns profissionais autônomos, mas vai mesmo é fazer a
alegria de algumas gigantes do setor de transportes. Deve ter sido o
evento mais bem-sucedido da história dos locautes mundo afora.
Convenham: 87% formam o que a gente chama “maioria esmagadora”… Como já
lembrei aqui — e a questão foi reiterada por um auxiliar do presidente
Temer —, governo não produz dinheiro; ele apenas o arrecada. Pode até
gastar mal, mas esses são outros quinhentos. Se a turma da mamata do
diesel vai “privatizar” R$ 13,5 bilhões, de algum lugar o dinheiro há de
sair.
O país tem
uma folga orçamentária de R$ 6,1 bilhões. Só pra lembrar: a folga não e
uma sobra depois de retiradas as despesas da receita; a folga NÃO
é um dinheiro que está no azul. Ele continua no vermelho. Quer dizer
apenas que o déficit seria menor. A dita-cuja foi engolida pela conta do
diesel. A segunda
maior massa de recursos vem do “Reintegra”: R$ 2,27 bilhões. O programa
devolvia 2% ao setor do que se arrecadava com PIS-Cofins. Passará a
devolver 0,1%. Representantes do setor dizem que haverá perda de
competitividade.
Havia uma
reserva de R$ 2,1 bilhões para capitalização das estatais. Também vai
virar fumaça. É a terceira maior rubrica a tapar o rombo orçamentário do
diesel. Na
sequência, vem a grana do corte de despesas: R$ 1,2 bilhão. Cortar de
onde? Ministérios dos Transportes (R$ 368,9 milhões); fortalecimento do
SUS (R$ 135 milhões); concessão de bolsas de estudo (R$ 55,1 milhões);
programa de prevenção e repressão ao tráfico de drogas (R$ 4,1 milhões) e
até algumas migalhas (R$ 1,5 milhão) do policiamento ostensivo de
rodovias e estradas federais. Dado o conjunto dos números, a área social
padeceu pouco. Mas não ficou livre da garfada. A
reoneração da folha de pagamentos, de 17 setores inicialmente, renderá
até o fim do ano outros R$ 830 milhões. Vêm de uma mudança tributária na
área de concentrados de refrigerante outros R$ 740 milhões. No fim da
fila, R$ 170 milhões sairão de mudanças no regime tributário da
indústria química.
Então
ficamos assim: computadas as perdas de todos os setores com a greve,
chega-se fácil perto de R$ 100 bilhões. O PIB, em razão dos desastres em
série e suas consequências, pode sofrer um impacto da ordem um ponto
percentual (R$ 66 bilhões em valores de 2017). E, por ora ao menos, não
se têm calculados os efeitos do fim de benefícios para a indústria. O ministro
da Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, lembrou que a
paralisação “teve o apoio de 90%” da população' — 87%, segundo o
Datafolha. E emendou o que já lembrei aqui: “O governo não produz
dinheiro; ele arrecada dinheiro”.
Na mosca! Os brasileiros escolheram um caminho quando aplaudiram a patuscada, certo?
Que aprendam ao menos a lição básica: as consequências vêm depois.
Blog do Reinaldo Azevedo
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