Dilma vai a Lula… Logo, a sede do governo sai do Palácio do Planalto e vai para a Papuda
Eis o país de Lula. No 36º ano de fundação do partido, no 14º ano do poder petista, parte considerável do futuro do Brasil fica submetida à vontade de um coronel, que atrela políticas públicas às necessidades da máquina que lhe confere poder e às vicissitudes de sua, digamos, folha corrida no setor imobiliário.
Digam-me: é isso o que se espera de uma República?
Querem um
emblema que explica o fato de estarmos nesta pindaíba? A presidente
Dilma Rousseff está em São Paulo. Eu nem tinha me dado conta da agenda,
mas notei algo estranho e denso no ar tão logo acordei. Achei que o
ar-condicionado estivesse desligado, mas não… Aí entendi.
O que ela
veio fazer neste estado? Encontrar-se com Luiz Inácio Lula da Silva, seu
antecessor. Hummm… É bem verdade que você nunca viu Barack Obama pedir a
opinião de Bill Clinton — não que ele não devesse, rsss… Quem sabe
fizesse menos besteiras… —, mas, em si, um encontro entre pessoas do
mesmo partido pode até ser considerado normal.
O que é anormal é a agenda. Ela, sim, nos remete às coisas que infelicitam o Brasil. Um dos temas
do encontro, segundo informa apuração da Folha, é o sítio de Atibaia.
Ora, por que um imóvel que pertenceria aos sócios do filho de Lula é do
interesse da presidente da República? Resposta: porque ele se tornou um
símbolo, por incrível que pareça, do jeito petista de governar.
A esta
altura, não há uma só pessoa que acredite que os tais Fernando Bittar e
Jorge Suassuna sejam realmente os donos daquele troço. Todos os indícios
apontam que não. Sim, não será a crença desse ou daquele que vai
definir a verdade. O que interessa aí é a cadeia de relações que esse
sítio revela. E essa cadeia demonstra um país governado nas sombras.
A Polícia
Federal decidiu abrir um inquérito para apurar, afinal de contas, de
quem é aquele “puxadinho de ricos”, a relação das empreiteiras com ele e
se, de algum modo, as benfeitorias realizadas se relacionam com a
República Paralela do Petrolão.
Administrativamente,
a Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça, cujo titular,
José Eduardo Cardozo, é escolha pessoal de Dilma. A presidente vai
debater com Lula exatamente o quê?
A Previdência
A Previdência está quebrada. Uma reforma
que tornasse o sistema viável não resolveria os problemas do Brasil, mas
seria uma sinalização importante. Todas as tentativas honestas e
corretas nesse sentido foram duramente combatidas pelo PT desde que o
partido existe. A legenda já
deu sinais de que não pretende se engajar na mudança. Quem manda é
Lula. Nisso como em tudo o mais. Eis por que sempre se cobrem de
ridículo as versões de que ele nunca sabe de nada.
O PT não é o
PT, mas uma legião, como os demônios. Há os sindicatos, os ditos
movimentos sociais, as organizações que considero de caráter
paraterrorista, como MST e MTST… Hoje, são minoria no país, mas podem
provocar turbulências, como se sabe. Dilma vai
tratar da reforma da Previdência com Lula — o homem do sítio e do
tríplex — como quem vai falar com o chefe de uma milícia, com um senhor
da guerra. Alguém que não consegue explicar a sua relação com dois
imóveis, que é obrigado a se esconder na retórica do vitimismo
passivo-agressivo, tem uma espécie de palavra final sobre uma mudança
que é vital para os brasileiros.
Eis o país
de Lula. No 36º ano de fundação do partido, no 14º ano do poder petista,
parte considerável do futuro do Brasil fica submetida à vontade de um
coronel, que atrela políticas públicas às necessidades da máquina que
lhe confere poder e às vicissitudes de sua, digamos, folha corrida no
setor imobiliário. Digam-me: é isso o que se espera de uma República?
De resto,
Dilma Rousseff demonstra, ao marcar essa conversa, que não é mesmo dona
de seu mandato. Está entregue às articulações de feiticeiros como Jaques
Wagner e Ricardo Berzoini, braços de Lula no Palácio do Planalto. Trato
desse assunto na minha coluna de hoje da Folha. Eles já perceberam que
está em curso, em algumas áreas do debate político, uma espécie de
troca: corte-se a cabeça do demiurgo e se salve a de Dilma. Eles forçam a
governanta a atrelar o seu destino ao do antecessor. E ela não tem
saída, porque é fraca e não sabe fazer política, a não ser se render a
esse jogo.
Imaginem a
cena: a presidente do Brasil se desloca para discutir a reforma da
Previdência e a propriedade de um sítio com quem deve explicações à
polícia.
A isso fomos reduzidos.
Dilma tem de
ser apeada do poder antes que o Brasil seja apeado do mundo que
interessa. E antes que a sede do governo seja transferida do Palácio do
Planalto para a Papuda.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo