MISTURADOS - Rio de Janeiro: no primeiro dia da “reabertura”, não só o mar como as areias (ainda proibidas) encheram Daniel Resende/Futura Press
A liberação das praias na Europa, por mais que agrade à população local, tem o objetivo mais amplo de religar o motor da indústria do turismo, que responde por cerca de 10% do PIB da União Europeia (UE) e que foi posta na UTI, em estado gravíssimo, pelo novo coronavírus. As expectativas, no momento, estão concentradas na movimentação interna, embora a reabertura das fronteiras entre integrantes da UE esteja marcada para 15 de junho. Detentor de um dos melhores registros de controle da Covid-19 no continente, Portugal começou a retomada da vida normal cedo, em 4 de maio, e está na fase 4 do processo, com restaurantes, cafés, museus, palácios e monumentos funcionando. Fases e cores, aliás, estão no cronograma de todas as trilhas do desconfinamento. A Espanha se encontra na fase 2, com estabelecimentos fechados e locomoção entre cidades severamente limitada pelo menos até o fim de junho.ns, dona do hotel Casa Bonay, em Barcelona — cidade que recebeu 12 milhões de visitantes em 2019, dos quais 83% estrangeiros. Ah, bons tempos. Para onde quer que se viaje na pós-pandemia, a Comissão Europeia requer das empresas menor número de passageiros e check-in e retirada de bagagens sem aglomerações, além de medição de temperatura em massa — uma medida positiva que o Aeroporto de Brasília, outra cidade brasileira apressada em acabar com o isolamento, já implantou. Os termômetros também são item de primeira necessidade nas escolas que já reabriram — na Coreia do Sul, divisórias de acrílico separam as carteiras.
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Transportados para o Brasil, que tem quase 600 000 contaminados e passou dos 30 000 mortos, o relaxamento da quarentena e a retomada das atividades deixam os especialistas preocupados. “Corremos o risco de uma explosão de casos, daí a necessidade de as pessoas manterem o freio”, explica Rafael Galliez, professor de doenças infectocontagiosas da Faculdade de Medicina da UFRJ. O retorno à normalidade requer estatísticas monitoradas e prazos revistos ao menor sinal de risco. “Considero os planos de abertura do Rio e de São Paulo coerentes e consistentes”, afirma o epidemiologista Medronho — desde que as regulamentações saiam do papel. No Rio, hotéis, concessionárias e lojas de móveis e de decoração já funcionam (com resultados financeiros ainda pífios, claro). Em São Paulo, shoppings e escritórios devem voltar à vida até 15 de junho. Em um primeiro momento, vão funcionar quatro horas por dia e ocupar um quinto de seu espaço. Uma das primeiras cidades a adotar medidas restritivas de circulação, Brasília também saiu na frente na retomada do comércio. Aprove-se ou não, as portas no Brasil estão se abrindo. Por mais forte e legítimo que seja o suspiro de alivio, contudo, ninguém pode baixar a guarda.
Colaboraram Amanda Péchy, Mariana Zylberkan, Sofia Cerqueira e Hérica Marmo
Publicado em VEJA, edição nº 2690 de 10 de junho de 2020