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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A crueldade do lockdown - Revista Oeste

Números muitos mais altos de pessoas que morrem em casa também têm sido registrados — e esse número também não tem relação com a covid-19. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas Britânico, as mortes em casa têm ficado consistentemente acima da média pré-pandemia todos os meses entre janeiro de 2020 e junho de 2021. 
São pessoas que falecem de doenças cardíacas, demência ou câncer, talvez sozinhas e em sofrimento. Parece provável que uma parcela significativa dessas mortes poderia ter sido evitada.

E ainda há as mortes que estão por vir. A instituição Macmillan Cancer Support estima que os diagnósticos de câncer diminuíram em quase 50 mil desde o primeiro lockdown. Esses pacientes “perdidos” de câncer ainda precisam ser examinados. Se e quando eles se apresentarem para aos serviços de saúde, existe um medo cada vez maior de que o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) não consiga dar conta do aumento na demanda.

Há também muitas mortes por desespero em vias de acontecer. O lockdown tem sido culpado por aumento no alcoolismo, no consumo abusivo de drogas e no tabagismo.

53 minutos entre a vida e a morte
Mas, em vez de tentar identificar todos esses pacientes extras que precisam de tratamento, os médicos foram orientados a suspender exames de rotina para pessoas acima de 75 anos para concentrar esforços nas doses de reforço da vacina da covid-19. 
Muitas dessas doses irão para pessoas na casa dos 40 anos, saudáveis, que já tomaram duas doses.
 
O NHS pode realmente ter dificuldade com toda essa demanda não ligada à covid-19. Neste momento, quase 6 milhões de pessoas na Inglaterra estão na lista de espera para procedimentos de rotina, o número mais alto já registrado. 
O tempo de espera por ambulâncias também está batendo recorde. Pacientes de ataque cardíaco esperam em média 53 minutos até que o atendimento chegue — minutos vitais que podem significar a diferença entre a vida e a morte.

E as coisas não estão melhorando. Os hospitais cancelaram mais de 13 mil cirurgias só nos últimos dois meses. As consequências devastadoras de dizer para as pessoas “ficarem em casa” para “proteger o NHS”, e então transformar o Serviço Nacional de Saúde em um Serviço Nacional de Covid, devem nos acompanhar por anos no futuro.

Os danos do lockdown vão além da saúde. Supostamente, existem entre 90 mil e 135 mil “crianças fantasmas” que podem não ter voltado para a escola neste ano. Algumas sem dúvida estão sendo bem cuidadas e escolarizadas em casa. Mas muitas outras simplesmente desistiram de estudar. O triste fato é que ninguém parece saber. Descobrir o porquê não tem sido uma prioridade.

Sem diversão ou ritos de passagem
Até mesmo crianças que estão na escola sofreram uma enorme adversidade, não apenas pelos repetidos lockdowns, mas também por causa de uma política de reagrupar os estudantes em bolhas e mandar turmas inteiras para casa quando apenas uma ou duas crianças têm resultado positivo no exame para a covid-19.

Nas partes do Reino Unido mais afetadas pela pandemia, períodos sucessivos de quarentena levaram a déficits ainda maiores no aprendizado. As crianças no norte da Inglaterra, por exemplo, passaram mais tempo fora da escola do que em qualquer outra parte do país, reforçando as desigualdades existentes e intensificando ainda mais a cisão entre norte e sul.

No entanto, a interrupção na educação permanece. Continua havendo incerteza em relação ao formato dos exames do próximo verão — e dúvidas envolvendo a avaliação, formal ou não. Bailes escolares, festas de turmas, reuniões, espetáculos de fim de ano, reuniões de pais e mestres e atividades de boas-vindas para novos alunos deixaram de ocorrer como antes era o normal. A maior parte das crianças está fisicamente presente na escola, mas a experiência foi privada da diversão e dos ritos de passagem. Para alunos do ensino médio britânico, as máscaras foram reintroduzidas em todas as áreas comuns. A continuidade da incerteza sem dúvida contribuiu para o aumento no número de crianças enfrentando questões de saúde mental.

Política imoral
Para as crianças mais vulneráveis, o lockdown tem sido desastroso. O número de menores enviados para a assistência social por questões relacionadas à sua segurança teve uma queda considerável durante o primeiro ano das restrições ligadas à covid-19. Foi doloroso descobrir que os familiares de Arthur Labinjo-Hughes, que foi assassinado, foram ameaçados de prisão caso não respeitassem o lockdown para averiguar suas preocupações com seu bem-estar. Também foi relatado que a violência doméstica aumentou nos últimos 12 meses.

Os impactos prejudiciais do lockdown não eram apenas evitáveis, como também totalmente previsíveis

Nada disso era inevitável: nem o alto número de mortalidade não relacionada à covid-19, nem as muitas vidas arruinadas por doenças não tratadas. A educação de nenhuma criança precisava ser prejudicada. Essas consequências lamentáveis não se devem a um vírus: elas são o resultado avassalador da decisão de confinar a sociedade. São a decorrência não da covid-19, mas das restrições impostas por causa da covid-19 por ministros do governo e defendidas por membros da oposição, jornalistas e cientistas.

Os impactos prejudiciais do lockdown não eram apenas evitáveis, como também totalmente previsíveis. E era igualmente óbvio, desde o primeiro dia em que as restrições da covid-19 foram anunciadas, que as pessoas com empregos seguros e bem remunerados e casas confortáveis teriam uma situação muito mais fácil do que todas as demais. Aqueles que sabiam disso, mas, mesmo assim, continuaram exigindo o lockdown, precisam baixar a cabeça e se envergonhar.

O lockdown foi uma política profundamente imoral. No entanto, em vez de aprender as lições, novas restrições estão sendo implementadas. 
É apenas uma máscara, dizem eles. É só trabalhar de casa. É só ver seu filho brincar on-line, e não pessoalmente. É só adiar o checkup.
 Mas não há nada minimamente banal nas restrições da covid-19 — elas arruinaram muitas vidas.
 

Joanna Williams é colunista da Spiked e diretora da Cieo

Revista Oeste