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terça-feira, 5 de setembro de 2023

Atuação da PGR e do STF prova que Justiça brasileira está entre a demência e o desvario - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - VOZES
 
OAB e PGR querem oferecer acordo para quem foi preso no acampamento diante do quartel e não participou de invasão na Praça dos Três Poderes.| Foto: Renan Ramalho/Gazeta do Povo
 
 
Foi enfim solta pelo ministro Alexandre de Moraes, após oito meses de prisão fechada, a última presa por participação nas depredações do dia 8 de janeiro em Brasília.  
Sua prisão durante este tempo todo vai ficar como ponto de referência de um dos momentos mais infames na história do Judiciário brasileiroa negação de justiça, pura e simples, para os que foram presos neste episódio infeliz.

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Em nenhum momento o STF, que assumiu o comando do caso como se fosse uma delegacia de polícia, aplicou a eles as regras elementares da lei penal brasileira. 
Foram tratados, desde o primeiro minuto, como presos políticos – sem direito à defesa plena por seus advogados, sem direito às garantias legais devidas a acusados primários, sem direito às prerrogativas mínimas que a lei oferece para qualquer criminoso.

Como é o caso de tantas vítimas da repressão aos atos de baderna contra os edifícios dos Três Poderes, a mulher solta depois de oito meses no cárcere é uma acusada primária, sem nenhum tipo de antecedente criminal, tem ocupação conhecida e residência fixa – ou seja, pelo que determina a lei, teria de ter sido solta após umas poucas horas de detenção. Jamais poderia ficar presa esse tempo todo.

É um momento de demência, do qual não se conhece precedentes, no Brasil ou em qualquer democracia minimamente séria do mundo.

O ministro Moraes, que age ao mesmo tempo como vítima, policial, promotor e juiz desse e centenas de outros casos, acusa essa senhora, junto com a PGR, de associação criminosa armada e “golpe de Estado”. Pior: ela queria usar “substância inflamável” para “implantar um governo militar” e depor o “governo legitimamente constituído”. 
Como seria materialmente possível, para um bando de pessoas que não tinham sequer um estilingue, e invadiram o Palácio do Planalto com cadeirinhas de praia, carrinhos de bebê e gente que vendia algodão doce, derrubar o governo do Brasil? 
Não eram eles que tinham os tanques de guerra e os caças a jato; a força armada estava exatamente do lado contrário.
 
Também não se sabe por que essa senhora foi solta, se cometeu todos aqueles crimes de lesa-pátria – nem se há alguma prova contra ela, e nem porque teve de esperar oito meses para a polícia, o Ministério Público e o ministro Moraes chegarem à conclusão de que deveria sair da cadeia
 Por que, enfim, terá de usar tornozeleira eletrônica ou ficar em casa à noite – e por que não pode se comunicar pela internet? 
Se ela é esse perigo todo, não deveria continuar presa? 
Nada, em nada disso, faz qualquer nexo legal, ou meramente lógico. Ao contrário: as decisões dos ministros e da PGR, transformada em prestadora de serviços do STF, estão transformando a Justiça superior brasileira num desvario cada vez mais descontrolado.
Nada, talvez, comprove com tanta clareza essa marcha rumo à insensatez quanto a decisão de Alexandre de Moares, originada na PGR, de permitir que 1.156 denunciados pelo 8 de janeiro não respondam a julgamento. Todos eles foram soltos porque a PGR, segundo ela própria diz em documento escrito, não encontrou provas de que tivessem cometido qualquer crime.  
Fim do caso, então? Não no Brasil do STF – nem um pouco, aliás.
 
Para não responderem a processo, os 1.156 denunciados terão de confessar, num prazo de 120 dias, que cometeram os crimes pelos quais estão sendo acusados. Como assim – que crimes? 
Como o sujeito vai confessar um crime que o próprio acusador está dizendo, oficialmente, que ele não cometeu?  
É um momento de demência, do qual não se conhece precedentes, no Brasil ou em qualquer democracia minimamente séria do mundo. 
Você não fez nada – mas tem de confessar que fez, para não ser processado. É isso, hoje, a Justiça brasileira.
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

domingo, 7 de maio de 2023

Insensatez e demência - Valdemar Munaro

Insensatez é o repúdio da razão e a demência, sua deterioração. Viajando no bagageiro da alma humana produzem infelicidades. Ausentes, não são notadas, presentes, causam sofrimentos.

Michel Foucault (1926 – 1984), fértil autor consumido em academias e universidades, herdou fenomenologia existencialista a molde Jean Paul Sartre e argamassou inteligência com demência dando a esta última chamegos e afagos que nos confundem e nos arrepiam.

Escritos e preleções desse autor fazem da loucura uma usina de lucidez e da lucidez uma usina de loucura nublando os contornos da culpa e inocência, esperteza e enfermidade, mentira e verdade, malandragem e decência. Teias patológicas contaminam a todos, por isso, segundo ele, as insanidades não devem ser confinadas nem punidas.

Quaisquer relacionamentos, mesmo belos e benfazejos, para Foucault, estão contaminados pelas estruturas de 'poder' e doidice. A deterioração mental, portanto, adquire 'legitimidade' e nos deve obrigar, enfim, ao hábito da 'doideira geral', solta e difusa.

Notável, paradoxalmente, é gente 'doida' e 'insana' subindo palcos e pedestais, recebendo aplausos, ganhando holofotes, dirigindo nações, inspirando e orientando comunidades. Com maluquices garimpadas em obscuros engenhos culturais amedrontam e entontecem pessoas.

Da insensatez e da demência colhemos tragédias. Elas habitam parasitariamente altos cargos e nichos políticos, nutrem governantes e autoridades para fazer estragos. Astutamente, escanteiam 'estranhos no ninho' até removê-los do bom senso e reinar incólumes mesmo em recônditos lugares (creches, escolas, igrejas e lares).

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sábado, 14 de janeiro de 2023

Lula não tem “agenda positiva” e só mostrou até agora o que vai destruir - J.R. Guzzo

Vozes - Gazeta do Povo

O Brasil não pode passar o resto da vida vivendo em função das invasões e da depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF; o novo governo não pode ficar restrito a administrar um crime, por pior que ele tenha sido. 
O país não acabou no dia 8 de janeiro. Há todo um imenso trabalho a fazer na administração das questões nacionais, a começar pela prioridade das prioridades – a economia. Jamais houve tanta desconfiança no público, em relação à gestão econômica, quanto há agora; as pessoas não acreditam na capacidade do governo de manter o processo de recuperação iniciado no ano passado. 
Não acreditam porque não confiam na competência, e sobretudo nas intenções, da equipe que comanda o Ministério da Fazenda – a pior, possivelmente, que o Brasil já teve em qualquer época, com exceção do período inicial de demência do governo Collor. É urgente, para um governo que mal começa, comprovar com fatos que essas expectativas não procedem. Não adianta ficar se enchendo de fúria contra a baderna – rende cartaz no Jornal Nacional, mas não resolve nada. Para resolver, é preciso decisões. Onde estão elas?
 
Os crimes cometidos contra os prédios dos Três Poderes estão sendo processados, os criminosos estão sendo individualizados e o problema todo, no fundo, está superado - não vai acontecer de novo, porque foi causado por uma minoria extremista que jamais conseguirá fazer uma verdadeira política de oposição e não representa, muito simplesmente, o povo brasileiro.  
Mas nada disso vai influir na inflação do mês de janeiro, nem no nível de emprego, nem no acesso ao crédito. Não vai fazer aparecer investimento. Não influi nas exportações. Não afeta as cadeias produtivas. 
Para essas coisas tem de haver decisões acertadas do governo – e o governo, depois de dois meses de preparação, com a sua equipe de transição” de 900 “especialistas” e tudo o mais, só foi capaz, até agora, de dizer o que não vai fazer. Sabe-se o que o Sistema Lula anunciou que vai destruir – a privatização do Porto de Santos, o departamento de apoio ao agronegócio no Itamaraty, o programa de alfabetização e por aí afora. Não há o mais remoto sinal sobre o que vai construir.

Jamais houve tanta desconfiança no público, em relação à gestão econômica, quanto há agora

O presidente Lula, aparentemente, percebeu isso – acaba de pedir uma “agenda positiva” dos ministros, para sair da obsessão repressiva do momento e tentar mostrar que o seu governo não se limita a prender gente, dar multas, fazer censura e reduzir ao mínimo a liberdade de expressão e a livre manifestação do povo nas ruas.  
O que resulta, em dividendos políticos concretos, encher com 1200 presos um ginásio de esportes de Brasília – ou acabar com o programa de alfabetização? 
Alguém vai achar que Lula e o seu governo ficam melhores com esse tipo de coisa? 
Quantos votos vão ganhar por transformarem o Brasil numa delegacia de polícia, na qual se pune quem vai para a frente do quartel e se dá cada vez mais liberdade para os piores criminosos e os piores corruptos? O governo Lula tem de mudar de assunto.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 12 de novembro de 2022

UTILIDADE PÚBLICA - 12 fatores de risco para o Alzheimer, e o que você pode fazer hoje para prevenir

Angélica Banhara 

Treino HIIT pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver Alzheimer

O Alzheimer é a forma mais comum de demência e não tem cura. A cada 3 segundos um novo caso é diagnosticado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 55 milhões de pessoas no planeta vivam com algum tipo de demência. Dessas, perto de 50 milhões têm Alzheimer. No Brasil são aproximadamente 1,5 milhão de pessoas com a doença.

A OMS alerta para a tendência de aumento progressivo, com o envelhecimento da população. Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, no Reino Unido, os números globais podem chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050.“O Alzheimer é uma doença neuro-degenerativa progressiva, com aumento do número de casos após os 65 anos. Ele causa uma perda também progressiva das células neuronais a partir do acúmulo das proteínas tau e beta-amiloide no cérebro, que levam à atrofia”, explica Alessandra Rascovski, endocrinologista e idealizadora do Cérebro em Ação, projeto socioeducativo para a prevenção do Alzheimer.

Segundo Alessandra, “o Alzheimer é considerado uma doença de estilo de vida. Apesar de não ter cura, já se sabe que ele tem uma fase pré-clínica enorme. Começamos a ‘construir’ esse cérebro doente cerca de 30 antes do diagnóstico.”

A médica afirma que, em um primeiro momento, a proteína beta-amiloide começa a acumular no cérebro. Depois surgem disfunções nas sinapses dos neurônios e lesões pelo acúmulo da proteína tau: há diminuição do volume do cérebro com alteração estrutural. Em torno de 7 a 10 anos antes do diagnóstico de demência começam os sintomas de Alzheimer, como alteração de memória e de comportamento.

O estudo finlandês Finnish Geriatric Intervention Study to Prevent Cognitive Impairment and Disability, realizado em 2015 e chamado de Estudo FINGER, foi a primeira referência para prevenção da demência. “Ele avaliou pacientes de 60 a 77 anos com diagnóstico de declínio cognitivo. Foram observadas todas as doenças crônicas (como diabetes, hipertensão, colesterol alto, obesidade), depressão, consumo de álcool, sedentarismo etc. Esses pacientes foram submetidos a uma diretriz com atividade física regular, dieta do tipo Mediterrânea e 10 minutos por dia de meditação. No final de dois anos, houve uma melhora ou não evolução para demência em uma boa parte dos casos. Ou seja: existe como realmente construir um cérebro mais saudável.

O estudo analisou todos os fatores envolvidos no desenvolvimento do Alzheimer e apontou sete principais fatores de risco para a doença, todos passíveis de prevenção: sedentarismo, tabagismo, diabetes, obesidade, hipertensão, depressão e baixa escolaridade.

A hipótese de que cerca de 40% dos casos de demência podem ser evitados ou retardados foi corroborada por descobertas da The Lancet Commission on Dementia Prevention, Intervention and Care, também divulgadas na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC).

De acordo com as recomendações do relatório da US National Institute on Aging (NIA) e da comissão de especialistas da The Lancet, a intervenção no estilo de vida do FINGER será adaptada e testada em vários outros países.

A partir de estudos desenvolvidos pelos pesquisadores da comissão The Lancet, em 2017 foram acrescentados o isolamento social e a perda de audição na meia-idade à lista de fatores relevantes para a demência. Em 2020 a comissão acrescentou mais três pontos: o consumo excessivo de álcool, a poluição e os traumatismos cranianos à lista dos riscos.

Esse movimento resultou na formação da rede World Wide FINGERS em 2017, uma iniciativa de pesquisa para prevenir ou retardar o início do declínio cognitivo. A proposta é gerar evidências sólidas sobre a eficácia das intervenções combinadas em diferentes contextos e populações.

“Sabemos que temos que promover neuroplasticidade, ou seja, criar novos circuitos de neurônios a partir do que a gente faz. Então, partir daquilo que desencadeia ou acelera o processo de neurodegeneração e demência chegamos às atitudes protetoras do cérebro, que podem ser adotadas no dia a dia”, diz Alessadra.

A seguir, ela fala sobre os 12 fatores de risco para Alzheimer e demência — e o que podemos fazer para prevenir ou atrasar a demência em 40%.

1 - Sedentarismo

As diretrizes recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana. Dá pouco mais de 20 minutos por dia, ou 30 minutos de caminhada esperta cinco dias por semana.

Para reforçar a importância de incluir a atividade física na rotina, um estudo publicado na revista científica Jama (Journal of the American Medical Association), uma das mais conceituadas do planeta, mostrou que participantes que deram pelo menos 7000 passos/dia, comparados com aqueles que andaram menos, tiveram um risco de mortalidade entre 50% e 70% menor.

“O exercício físico que parece ser o mais benéfico para a saúde do cérebro é o aeróbico e intervalado de alta intensidade (HIIT, High Intensity Interval Training), que provoca a oscilação da frequência cardíaca. É importante, no entanto, que as pessoas desenvolvam outras habilidades, como flexibilidade, equilíbrio e força muscular. Uma vida cotidiana ativa já é muito interessante”, diz Alessandra.

Ela afirma que, com as últimas descobertas da ciência, em 2020 o músculo foi “promovido” a órgão endócrino, ou seja, foi descoberto que o músculo é um órgão que produz hormônios e substâncias que agem tanto no próprio órgão como à distância.

“Uma contração muscular produz, além de todos os benefícios ligados ao exercício em si, uma substância chamada irisina, que faz a conexão provável entre a atividade física e a função cerebral. O exercício também aumenta o fator neurotrófico cerebral (produz neuroplasticidade), o que também acontece quando aprendemos coisas novas ou quando mudamos processos, como escovar os dentes com a mão esquerda.”

O aumento do fluxo cerebral promovido pelo exercício diminui o acúmulo de beta-amiloide no cérebro, reduzindo o risco e a progressão do Alzheimer. A atividade física também ajuda a modular o cortisol, o hormônio produzido durante o estresse crônico. O cortisol diminui a resistência insulínica e aumenta o risco de diabetes, obesidade e de inflamação crônica do organismo.

“A atividade física aeróbica é eficaz até para a mudança do volume do cérebro. Estudos mostraram que exercícios aeróbicos provocam reversão da diminuição do hipocampo, área do cérebro relacionada com a memória”, diz.

2 - Tabagismo

“Existe uma associação do fumo com a progressão do Alzheimer e piora de demência, talvez até por causas vasculares. E não é só o cigarro convencional, mas tabaco, naguile e cigarro eletrônico também.”

Por outro lado, depois de 10 anos sem fumar a pessoa é considerada não fumante para doenças pulmonares. “Como ainda não existem estudos sobre a ação no cérebro de parar de fumar, usamos essa referência.”

3 - Diabetes

Metade das pessoas que têm a doença não sabem. Para elucidar o efeito do açúcar no cérebro a médica cita um estudo relevante, publicado com o título "The Starving Brain" (o cérebro faminto), que usa o termo diabetes tipo 3 para se referir ao Alzheimer. Ele foi feito com pacientes com diabetes e que consumiam muito açúcar.

“Dentro do neurônio normal deveria ter açúcar, que é o combustível da célula. O que se viu em imagens de ressonância é que o cérebro do paciente com Alzheimer tem muito pouco açúcar porque a resistência insulínica impede que ele entre no neurônio. O resultado é perda neural. O consumo excessivo de açúcar está associado ao estresse oxidativo cerebral.”

4 - Obesidade

“Existe uma conexão alimentação-cérebro. A dieta tem impacto sobre memória, humor, envelhecimento e doença”. Várias metanálises de dieta e nutrição sugerem a Dieta Mediterrânea como a mais saudável para o cérebro. Ela prioriza o consumo de alimentos frescos: legumes, verduras, frutas, gorduras boas (como azeite e oleaginosas) e peixes, com restrição ao consumo de carnes e alimentos de origem animal, ricos em gorduras saturadas.

“Os nutrientes que merecem destaque para o cérebro são vitamina D, antioxidantes, ácido fólico, colina, ômega 3 e magnésio. No estudo FINGER foi demonstrado que dois a quatro cafezinhos por dia melhoram o desenvolvimento e o desempenho da cognição.”

Também devemos considerar a importância da microbiota intestinal (o conjunto de bactérias) saudável, e o que comemos impacta na microbiota.

“Um agravante para o envelhecimento é a microbiota da boca: dificuldade de escovação, cáries, perda dentária e doenças da gengiva mudam muito as bactérias da boca. E elas têm um grande impacto no desenvolvimento do Alzheimer.”

5 - Hipertensão arterial

Como no caso do diabetes, muita gente tem hipertensão e não sabe. Fatores de risco nem sempre provocam sintomas e às vezes a doença vai se instalando devagar.

“O consumo diário de sal recomendado é de até 5 gramas por dia. No Brasil o último levantamento mostra o consumo de 12 gramas por dia. E muitas vezes achamos que não estamos consumindo sal e a açúcar, mas eles estão presentes em excesso nos produtos industrializados. Então, o primeiro passo é diminuir o consumo de sal e de açúcar.”

6 - Depressão

“Ela é considerada um fator isolado de predisposição para o Alzheimer, com papel importante mesmo que o paciente não tenha nenhum dos outros fatores”, diz a médica. Ela reforça que depressão é doença: ficar triste a maior parte do tempo, não ter vontade de fazer as coisas que fazia antes, perder o interesse por hobbies e não querer socializar não é normal. É preciso pedir ajuda profissional.

“A depressão não tratada por si só causa inflamação e neurodegeneração. Estudos mostraram que a cada 10 anos de depressão sem tratamento, 20% do cérebro degenera. Outro estudo interessante avaliou pessoas que não quiseram tomar medicação.Trataram de outro jeito ou não fizeram nada. Entre esses, houve 30% de inflamação no córtex pré-frontal esquerdo, a área do cérebro responsável pela emoção positiva e pelo raciocínio lógico.”

Alessandra chama atenção para o fato que, nesse século 21, as mulheres vão viver cerca de 30% da vida na menopausa. E sem reposição hormonal pode haver um impacto grande na memória. “A reposição deve ser feita com acompanhamento médico, considerando prós e contras. A neuroproteção do estrógeno acontece principalmente quando se inicia a reposição, em torno de três a cinco anos que a menopausa se instalou.”

O estudo FINGER destacou a importância da meditação para o cérebro. Existem vários estudos científicos que comprovam que a meditação aumenta a capacidade de atenção, ativa regiões corticais profundas que promovem relaxamento, melhoram o declínio cognitivo e o humor.

“Um estudo bem importante associou um tipo específico de meditação, chamada Kirtan kriya, ao controle do estresse e prevenção de Alzheimer. Com 12 minutos por dia, a meditação mudou morfologicamente a estrutura do cérebro no lobo frontal e regulou genes inflamatórios. Meditar ainda aumenta a longevidade.”

Segundo a médica, a enzima telomerase, que funciona como protetora dos telômeros (extremidades do cromossomo do DNA, que vão encurtando com o passar dos anos e são considerados biomarcadores de envelhecimento) aumentou em 43% com essa meditação.

7 - Isolamento social

“O isolamento tem um papel absurdo para a progressão do Alzheimer. A interação social e o convívio com os outros não só são recomendáveis, mas fundamentais. Existe um estímulo de diferentes regiões corticais quando a gente aprende com os pares. E é importante que esse convívio tenha periodicidade para manter esse estímulo, criando agenda mensal ou semanal de encontros com amigos e familiares.”

8 - Comprometimento auditivo

“Não escutar direito acaba gerando o isolamento do idoso. Por outro lado, o uso de aparelho auditivo pode até reverter o declínio cognitivo”. O cuidado deve começar agora: evite usar fones de ouvido o tempo inteiro e fique atento ao volume. É importante de tempos em tempos fazer uma audiometria.

9 - Baixa escolaridade na infância

“As primeiras vivências da infância moldam a estrutura cerebral. A finalidade da escola é também promover reserva cognitiva, uma conexão neuronal mais firme e duradoura. É o aprendizado sucessivo, que se repete várias vezes, que estrutura o cérebro.”

E mais: quanto maior o número de anos estudados, maior reserva cognitiva. Ou seja, estudar (em qualquer idade) é um fator protetor para o declínio cognitivo.

10 - Consumo excessivo de álcool

“Existe muita controvérsia sobre se existe de fato um limite seguro para o consumo de álcool. Costumamos sugerir como limite máximo até sete doses por semana para mulheres e até 14 doses para homens.”

11 - Poluição

Acrescentado recentemente, esse item chama atenção para a poluição gerada pelos carros, pela indústria e pela fumaça que atinge o fumante passivo. Evite correr ou fazer esportes em locais de muito trânsito e busque, sempre que possível, momentos de contato com a natureza.

12 - Traumatismos cranianos

Não se trata apenas do trauma causado por um acidente grave que acaba no pronto-socorro. Pancadas na cabeça podem causar dano: em esportes (como futebol e boxe) e no trânsito (use capacete ao andar de bike).

“O Alzheimer não tem cura e, por enquanto, não tem tratamento. Mas podemos prevenir a doença a partir dos nossos hábitos e das nossas escolhas no dia a dia. Essa responsabilidade é de cada um: pessoal e intransferível”, conclui Alessandra.

Se você mora em São Paulo, participe do evento Cérebro Em Ação, neste domingo, 13 de novembro, no Parque do Ibirapuera (Serralheria).

O Cérebro em Ação (@projetocerebroemacao #chegadealzheimer) é um projeto social e educativo para espalhar conhecimento e motivar as pessoas a fazer boas escolhas no dia a dia, adotando hábitos mais saudáveis para proteger o cérebro.

Espiritualidade e Bem-estar - O Globo - MATÉRIA PUBLICADA = UTILIDADE PÚBLICA

 

quinta-feira, 21 de julho de 2022

5 benefícios da aveia amanhecida que faz bem ao coração (e emagrece)

Mistura do cereal e um líquido, a Overnight Oats é rica em fibras e tem receitas que bombam

Sucesso em receitas a aveia amanhecida, ou overnight oats, caiu no gosto popular. Mas o que explica tanto sucesso? Simples: além de ser uma excelente opção para incluir nas refeições – feita basicamente com a mistura do cereal e um líquido, geralmente leite, mas pode ser enriquecida com iogurtes, frutas e proteínas em pó – é rica em fibras e faz bem ao coração, intestino e pele.

“A mistura vai à geladeira por no mínimo 6 horas, mas leva esse nome porque pode ser feita de noite para ser consumida no dia seguinte. Se considerarmos somente a aveia, temos uma excelente fonte de fibras em um alimento que tem altas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes”, diz a nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “Preparada sem açúcar, a receita pode ser sofisticada e é muito flexível, de forma que o preparo pode incluir frutas, que são ótimas opções para a saúde metabólica, o iogurte, que conta com probióticos, e outros cereais, grãos ou sementes, enriquecendo o valor nutrológico dessa refeição. Além disso, como o preparo leva um líquido absorvido pela aveia (que incha) após as horas de geladeira, isso melhora a digestibilidade desse alimento”, explica a médica.

Abaixo, cinco benefícios da overnight oats na alimentação diária:

Melhora o trânsito intestinal: A grosso modo, a aveia alimenta as bactérias do bem que vivem no intestino, por isso são chamadas de alimentos prebióticos. “E muitos dos benefícios à saúde do organismo acontecem como consequência disso, já que a melhora da microbiota intestinal reduz o perfil inflamatório e aumenta a imunidade, o que traz benefícios ao coração, rins, pele, cabelos, e outros órgãos, além do cérebro”, diz a médica. 
A aveia e um bom consumo de água, faz bem ao trânsito intestinal, uma vez que, juntas, proporcionam um efeito esponja, ou seja, sugam o líquido e agem como um “gel” que, por consequência, facilita o amolecimento das fezes.

Diminui o risco de demência: Um estudo com mais de 3.500 adultos japoneses, publicado na revista Nutritional Neuroscience, mostrou que mesmo que o risco de desenvolver demência, incluindo a doença de Alzheimer, seja influenciado pela genética, a alimentação pode ser uma estratégia para modular a expressão dos genes. E uma peça vital na alimentação é a fibra solúvel. Quando pensamos em seguir uma dieta saudável, geralmente nos fixamos no que não deveríamos comer ou diminuir as porções. Outra estratégia é focar no que devemos comer – especialmente alimentos naturalmente ricos em fibras. A pesquisa mostrou que adultos que consumiam mais fibras, particularmente fibras solúveis, eram menos propensos a desenvolver demência”, afirma Marcella Garcez. “A aveia também é fonte de triptofano, aminoácido precursor da serotonina e da melatonina, que desempenham importantes papéis no sistema nervoso, como a liberação de alguns hormônios, a regulação do sono, a temperatura corporal, o apetite, o humor, a atividade motora e as funções cognitivas”, completa.

Faz bem ao coração, rins e fígado: As dietas ricas em fibras podem reduzir o risco de doenças cardíacas e derrames em até 30%, de acordo com um artigo de revisão publicado em 2019 pela The Lancet. “A aveia é um alimento rico em betaglucana, o que ajuda a diminuir os níveis de colesterol, a controlar o açúcar no sangue e reduzir o risco de doenças coronárias. Além disso, é antioxidante e, por isso, ajuda o corpo contra o dano oxidativo”, explica a nefrologista e intensivista Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Além disso, a receita que leva leite ou iogurte, alimentos ricos em cálcio, ajudam a evitar cálculos renais. Quanto ao fígado, Marcella cita um estudo da Universidade da Finlândia Oriental que descobriu que o farelo de aveia reduz o ganho de peso e a inflamação do fígado, por apoiar a microbiota intestinal benéfica e reduzir o metabolismo do colesterol. “O trabalho mostrou que a aveia modificou a função do receptor relacionado ao ácido biliar, produzido pelo fígado, o que levou a um melhor metabolismo do colesterol”, diz.

É aliada da saúde metabólica: Adicionar refeições diárias com aveia é uma forma de ajudar a saúde metabólica, reduzindo o risco de diabetes. “Além de manter os níveis de açúcar sob controle, a aveia ajuda a aumentar a saciedade, por aumentar a viscosidade do bolo alimentar, fazendo com que o alimento fique mais tempo no estômago”, explica Marcella. “Os benefícios da fibra para a saúde também incluem reduções no colesterol, pressão arterial e peso corporal”.

Evita e diminui inflamações de pele: Existe uma relação muito forte entre intestino e pele. “Nossa saúde intestinal afeta a saúde da nossa pele e melhorar seu microbioma intestinal é um caminho para uma pele melhor e mais saudável”, explica o dermatologista Daniel Cassiano, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Segundo o médico, o funcionamento do microbioma intestinal está intrinsecamente ligado à saúde da pele e é um dos principais reguladores. “O intestino desempenha um papel fundamental na regulação da renovação das células epiteliais, no reparo da exposição à luz UV, na hidratação da pele, no controle da velocidade de cicatrização de feridas e na influência do microbioma da pele”, explica o médico, acrescentando que a má saúde intestinal influencia a produção de citocinas pró-inflamatórias e células que suprimem o sistema imunológico. “Dessa forma, é seguro dizer que há muitos benefícios para a pele ao incluir a aveia na dieta. Iogurtes e frutas que podem contemplar a receita trazem benefício adicional”, completa Marcella.

Saúde -  Simone Blanes - VEJA


terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O que a revolta popular no Canadá ensina ao mundo que se diz democrático - VOZES

J. R. Guzzo

Pandemia

Canadá

     Protestos no Canadá foram convocados por caminhoneiros e ganharam adesão de críticos a medidas da gestão Justin Trudeau| Foto: Andre Pichette/EFE

As manifestações de massa contra o governo do Canadá, por seu surto de supressão dos direitos individuais em nome do “combate à covid”, são uma lição natural para o mundo – sociedades acostumadas à liberdade, como a canadense, raramente toleram por muito tempo que governantes e funcionários públicos passem a tratá-las como escravos de alguma república bananeira. O que chama a atenção, no caso, é a rapidez com que o governo do Canadá está descendo para a insanidade.

 Invasão de igreja é crime passível de detenção e multa

Um PIB inteiro de dívidas: e a conta recairá sobre nossos filhos e netos

O primeiro-ministro Justin Trudeau, como uma Maria Antonieta desesperada, entregou-se ao tipo de comportamento que normalmente se encontra nos pequenos tiranos: fugiu da população e mantém-se num chilique permanente, amaldiçoando qualquer ser vivo que não concorde com as suas medidas de repressão. Parou de pensar. O chefe de polícia da capital, Ottawa, disse que os protestos populares são uma “insurreição” provocada pela “loucura”. Em nenhum momento, até agora, passou pela cabeça de nenhum dos dois, nem dos demais barões do governo, que a opinião da população pode ter algum valor. Nós estamos certos. Eles estão errados. Fim de conversa.

O primeiro-ministro, como se espera em episódios desta natureza, poderia pensar só pensar um pouco – em negociar alguma coisa com a massa que não está lhe pedindo favor nenhum e sim as suas liberdades básicas. Ou então, como às vezes acontece com líderes que estão certos de suas razões, ele poderia estar agindo como um negociador duro. Mas não acontece nem uma coisa nem outra. Ele está apenas sendo histérico.

Ao chefe de polícia não ocorreu, simplesmente, que quem pode estar louco é ele. É o que acontece sempre que você confunde discordância com demência: se não concordam comigo, só podem ter enlouquecido. Era assim que pensava Stalin na Rússia comunista.

É chocante que os ataques mais venenosos à democracia, por conta da “covid”, da “vacina” e da necessidade de “salvar vidas”, não venham hoje da Rússia, da China ou de Cuba, ditaduras de onde não espera, nunca, o menor gesto em favor da liberdade. Estão vindo de democracias até há pouco exemplares, como Canadá, Austrália, Áustria (que acaba de tornar crime a atitude de não se vacinar) e outros tantos.

Seus governos foram reduzidos a um bando de burocratas em pânico, e afundam cada vez mais depressa na própria covardia – ou, mais exatamente, estão se aproveitando do vírus e de suas desgraças para mandar na sociedade e obrigar as pessoas a aceitarem regras que estão nas suas cabeças e nos seus desejos. Não tem nada a ver com saúde. Tem tudo a ver com ditadura.

J. R. Guzzo,  colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A crueldade do lockdown - Revista Oeste

Números muitos mais altos de pessoas que morrem em casa também têm sido registrados — e esse número também não tem relação com a covid-19. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas Britânico, as mortes em casa têm ficado consistentemente acima da média pré-pandemia todos os meses entre janeiro de 2020 e junho de 2021. 
São pessoas que falecem de doenças cardíacas, demência ou câncer, talvez sozinhas e em sofrimento. Parece provável que uma parcela significativa dessas mortes poderia ter sido evitada.

E ainda há as mortes que estão por vir. A instituição Macmillan Cancer Support estima que os diagnósticos de câncer diminuíram em quase 50 mil desde o primeiro lockdown. Esses pacientes “perdidos” de câncer ainda precisam ser examinados. Se e quando eles se apresentarem para aos serviços de saúde, existe um medo cada vez maior de que o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) não consiga dar conta do aumento na demanda.

Há também muitas mortes por desespero em vias de acontecer. O lockdown tem sido culpado por aumento no alcoolismo, no consumo abusivo de drogas e no tabagismo.

53 minutos entre a vida e a morte
Mas, em vez de tentar identificar todos esses pacientes extras que precisam de tratamento, os médicos foram orientados a suspender exames de rotina para pessoas acima de 75 anos para concentrar esforços nas doses de reforço da vacina da covid-19. 
Muitas dessas doses irão para pessoas na casa dos 40 anos, saudáveis, que já tomaram duas doses.
 
O NHS pode realmente ter dificuldade com toda essa demanda não ligada à covid-19. Neste momento, quase 6 milhões de pessoas na Inglaterra estão na lista de espera para procedimentos de rotina, o número mais alto já registrado. 
O tempo de espera por ambulâncias também está batendo recorde. Pacientes de ataque cardíaco esperam em média 53 minutos até que o atendimento chegue — minutos vitais que podem significar a diferença entre a vida e a morte.

E as coisas não estão melhorando. Os hospitais cancelaram mais de 13 mil cirurgias só nos últimos dois meses. As consequências devastadoras de dizer para as pessoas “ficarem em casa” para “proteger o NHS”, e então transformar o Serviço Nacional de Saúde em um Serviço Nacional de Covid, devem nos acompanhar por anos no futuro.

Os danos do lockdown vão além da saúde. Supostamente, existem entre 90 mil e 135 mil “crianças fantasmas” que podem não ter voltado para a escola neste ano. Algumas sem dúvida estão sendo bem cuidadas e escolarizadas em casa. Mas muitas outras simplesmente desistiram de estudar. O triste fato é que ninguém parece saber. Descobrir o porquê não tem sido uma prioridade.

Sem diversão ou ritos de passagem
Até mesmo crianças que estão na escola sofreram uma enorme adversidade, não apenas pelos repetidos lockdowns, mas também por causa de uma política de reagrupar os estudantes em bolhas e mandar turmas inteiras para casa quando apenas uma ou duas crianças têm resultado positivo no exame para a covid-19.

Nas partes do Reino Unido mais afetadas pela pandemia, períodos sucessivos de quarentena levaram a déficits ainda maiores no aprendizado. As crianças no norte da Inglaterra, por exemplo, passaram mais tempo fora da escola do que em qualquer outra parte do país, reforçando as desigualdades existentes e intensificando ainda mais a cisão entre norte e sul.

No entanto, a interrupção na educação permanece. Continua havendo incerteza em relação ao formato dos exames do próximo verão — e dúvidas envolvendo a avaliação, formal ou não. Bailes escolares, festas de turmas, reuniões, espetáculos de fim de ano, reuniões de pais e mestres e atividades de boas-vindas para novos alunos deixaram de ocorrer como antes era o normal. A maior parte das crianças está fisicamente presente na escola, mas a experiência foi privada da diversão e dos ritos de passagem. Para alunos do ensino médio britânico, as máscaras foram reintroduzidas em todas as áreas comuns. A continuidade da incerteza sem dúvida contribuiu para o aumento no número de crianças enfrentando questões de saúde mental.

Política imoral
Para as crianças mais vulneráveis, o lockdown tem sido desastroso. O número de menores enviados para a assistência social por questões relacionadas à sua segurança teve uma queda considerável durante o primeiro ano das restrições ligadas à covid-19. Foi doloroso descobrir que os familiares de Arthur Labinjo-Hughes, que foi assassinado, foram ameaçados de prisão caso não respeitassem o lockdown para averiguar suas preocupações com seu bem-estar. Também foi relatado que a violência doméstica aumentou nos últimos 12 meses.

Os impactos prejudiciais do lockdown não eram apenas evitáveis, como também totalmente previsíveis

Nada disso era inevitável: nem o alto número de mortalidade não relacionada à covid-19, nem as muitas vidas arruinadas por doenças não tratadas. A educação de nenhuma criança precisava ser prejudicada. Essas consequências lamentáveis não se devem a um vírus: elas são o resultado avassalador da decisão de confinar a sociedade. São a decorrência não da covid-19, mas das restrições impostas por causa da covid-19 por ministros do governo e defendidas por membros da oposição, jornalistas e cientistas.

Os impactos prejudiciais do lockdown não eram apenas evitáveis, como também totalmente previsíveis. E era igualmente óbvio, desde o primeiro dia em que as restrições da covid-19 foram anunciadas, que as pessoas com empregos seguros e bem remunerados e casas confortáveis teriam uma situação muito mais fácil do que todas as demais. Aqueles que sabiam disso, mas, mesmo assim, continuaram exigindo o lockdown, precisam baixar a cabeça e se envergonhar.

O lockdown foi uma política profundamente imoral. No entanto, em vez de aprender as lições, novas restrições estão sendo implementadas. 
É apenas uma máscara, dizem eles. É só trabalhar de casa. É só ver seu filho brincar on-line, e não pessoalmente. É só adiar o checkup.
 Mas não há nada minimamente banal nas restrições da covid-19 — elas arruinaram muitas vidas.
 

Joanna Williams é colunista da Spiked e diretora da Cieo

Revista Oeste


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Julgamento de homem de 100 anos acusado de crimes nazistas começa na Alemanha

O julgamento acontece em Brandenburg an der Havel, no leste da Alemanha, com a presença do acusado, que utiliza um andador e está em liberdade

Um ex-guarda de um campo de concentração de 100 anos começou a ser julgado nesta quinta-feira (7), na Alemanha, e se tornou a pessoa de mais idade a ter de responder em um tribunal por supostos crimes nazistas.
Josef S., ex-cabo da divisão "Totenkopf" das SS, é acusado de "cumplicidade na morte" de 3.518 prisioneiros no campo de concentração de Sachsenhausen, perto de Berlim, entre 1942 e 1945.

O julgamento acontece em Brandenburg an der Havel, no leste da Alemanha, com a presença do acusado, que utiliza um andador e está em liberdade.  O advogado Stefan Waterkamp anunciou que o cliente não vai falar sobre as acusações. "O acusado não falará. Apenas dará informações sobre sua situação pessoal", disse.

Josef S. tinha 21 anos quando começaram os atos, pelos quais é julgado. Ele é suspeito de fuzilar prisioneiros soviéticos e "de ajuda e cumplicidade em mortes por gás".  De sua abertura, em 1936, até a libertação, por parte dos soviéticos, em 22 de abril de 1945, o campo Sachsenhausen recebeu quase 200.000 prisioneiros. A maioria era composta de opositores políticos, judeus e homossexuais. Dezenas de milhares morreram de exaustão, devido aos trabalhos forçados e às cruéis condições de detenção.

[qual o sentido de submeter a julgamento um homem de 100 anos  pela suposta prática de crimes ocorridos, no mínimo, há mais de 75 anos?
Além do mais que na época da suposta prática dos crimes o acusado era cabo das SS, graduação que não lhe permitir influir em nada - ainda que integrante de uma divisão da SS, era apenas um cabo obrigado a cumprir ordens.
Caso condenado a pena será em torno de 2 a 3 anos com cumprimento em liberdade.]

Severidade tardia
Christoffel Heijer, de 84 anos, está presente no julgamento. Seu pai integrou a resistência holandesa e foi detido em 1941 pela Gestapo. Em maio de 1942, ele foi fuzilado no campo. "Minha mãe recebeu uma carta dele de 3 de maio de 1942. Quando soube, dias depois, que ele estava morto, chorou muito, e todo seu cabelo ficou grisalhos de repente", lembra. O julgamento acontece uma semana depois da audiência frustrada de Irmgard Furchner, de 96 anos, uma ex-secretária de outro campo de concentração nazista. A primeira audiência do julgamento de Furchner foi adiada para 19 de outubro, depois que a idosa tentou fugir e passou algumas horas foragida, no dia do início do processo.

Nos últimos dez anos, a Alemanha julgou e condenou quatro ex-membros das SS, ao ampliar para os guardas dos campos e para outros executores das ordens nazistas a acusação de cumplicidade por assassinato. O objetivo com isso é demonstrar a severidade da justiça, considerada, no entanto, tardia pelas vítimas.   Josef S. "não é acusado de atirar contra alguém em particular, e sim de ter contribuído para estes atos por seu trabalho como guarda e por ter conhecimento de que os assassinatos aconteciam nos campos", explicou a porta-voz do Ministério Público de Neuruppin, Iris le Claire. 

Memória
O acusado pode ser condenado ao mínimo de três anos de prisão, mas a sentença seria simbólica por sua idade avançada.  Em agosto, um médico declarou o réu apto para comparecer ao julgamento, com a condição de limitar as 22 audiências previstas até janeiro ao máximo de duas horas.  "Ele está bem e não mostra nenhum sinal de demência incipiente. Pode-se afirmar que ele está mental e espiritualmente muito saudável", disse à AFP Thomas Walther, advogado de 11 das 16 partes civis neste processo, incluindo sete sobreviventes.

Para Stephanie Bohra, pesquisadora do museu berlinense Topografia do Terror, dedicado aos crimes nazistas, "estes processos são particularmente importantes para os sobreviventes e seus descendentes. Eles desejam justiça e que os crimes sejam solucionados". Outros historiadores e analistas ressaltam que são julgamentos em que o essencial é resgatar a memória. "Trata-se de confirmar que a Alemanha unificada está decidida a chegar ao fundo do passado nazista, em um contexto em que, desde o início dos anos 2000, a recordação do genocídio dos judeus passou para o centro da identidade nacional", disse.

Em julho de 2020, um tribunal condenou a dois anos de prisão com suspensão condicional da pena um ex-guarda do campo de Stutthof, Bruno Dey, de 93 anos. Outros oito casos de ex-membros das SS são examinados por diferentes tribunais do país.

Mundo - Correio Braziliense


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Plano de vacinação é coisa para a ciência decidir e não o STF - J.R. Guzzo

Vozes - Gazeta do Povo

Em condições normais ninguém acreditaria no que está vendo ou, no mínimo, as chamadas “forças vivas” da nação estariam em pé de guerra contra o que se vê. Mas o Brasil não está em condições normais. Na verdade, há muito tempo que não vive em condições tão anormais como as de hoje – e as perspectivas são de anormalidade cada vez mais radical, diante da passividade quase absoluta com que se aceita qualquer aberração de feira livre medieval, como a Mulher-Gorila ou o Gato-Que-Fuma, desde que ela venha de uma dessas “instituições” democráticas das quais se ouve falar dia e noite.

O último feito desta marcha nacional da insensatez é que o STF, acredite se quiser, exigiu que o governo lhe mandasse, para exame e aprovação, o plano nacional de vacinação contra Covid-19 que está em preparação. Mais: o governo aceitou a ordem, e mandou para o Supremo a papelada que lhe foi exigida.

Para completar o desvario, o ministro incumbido de anunciar o que o país tem de fazer em questões de vacina anticovid deu um prazo de “24 horas” para serem anunciadas as datas oficiais da vacinação – ordem 100% sem pé, sem cabeça e sem cabimento, dado o fato elementar de que simplesmente não existe até agora nenhuma vacina aprovada pela Anvisa, como exige a lei para a aplicação de qualquer medicamento no território nacional. [o mais cômico, ridículo, sem noção, ou legislar sobre a tabuada (como bem diz J.R. Guzzo) é que alguns dos que as proferem, prolatam, seja o que for, é que acreditam mesmo que possuem competência institucional e conhecimentos para emitirem tais absurdos; 

grave é que são decisões que não se sustentam, mas quase sempre são cumpridas ou tentam cumprir - só que são tão sem noção, incabíveis, insustentáveis  (do ponto de vista científico, jurídico, político, etc) que chegará um momento em que o destinatário de tal ordem, simplesmente dirá: NÃO VOU CUMPRIR.

E como fica? Especialmente se for impossível obrigar o 'desobediente' a cumprir?]

Onde já se viu um negócio desses? A única pergunta que vale a pena fazer, no caso, é a seguinte: 
qual é o grau de conhecimento científico ou médico, por mínimo que seja, que os 11 ministros do STF têm para dar qualquer palpite sobre o assunto? 
A única resposta possível é: “nenhum”. Suas excelências não seriam capazes de dizer de qual lado se deve colocar um esparadrapo; mas tornaram-se a última palavra em matéria de medicina neste país.

Mas e daí? É isso o “Estado de Direito” à brasileira, modelo 2020, uma anomalia permanente em que o STF decide sobre vacina, nomeação do diretor da Polícia Federal ou a fórmula química da goiabada – na verdade, nossos magistrados “top de linha” tomaram para si a tarefa de baixar decretos, sem apelação, sobre qualquer tema que faça parte da atividade humana. É uma piada ou, mais exatamente, a negação da lógica.

Quanto mais histérico o STF se torna nessa sua busca obcecada pela verdade universal, mais as elites – políticas, intelectuais, sociais e de quaisquer outras espécies – acham que não há nada de mais. Está na cara, diante deste estado de anestesia geral, que as coisas vão continuar exatamente do jeito que estão.

A progressiva descida do Supremo rumo a esse abismo incentiva, é claro, todo o tipo de demência legalóide. Uma das mais agressivas, ultimamente, foi a de um senador de Minas Gerais que não apenas apresentou um projeto de lei, mas teve esse projeto aprovado pelo Senado Federal, dando “72 horas” para o governo aprovar uma vacina contra a Covid – a mesma linha do STF.

Ninguém viu nada de errado com esse despropósito: a primeira lei do mundo, possivelmente, que fixa prazos para a ciência chegar à conclusão definitiva sobre alguma coisa. Os cientistas ainda não têm certezas sobre o tema; por que o governo deveria ter?

A comprovação objetiva do disparate ficou por conta do respeitado Instituto Butantan, de São Paulo, que já começou a envasar a “vacina do Doria – o imunizante que o governador paulista comprou da China e que vem sendo usado por ele para dar a si próprio o título de campeão brasileiro e mundial da vacinação contra a Covid-19. Doria, até cinco minutos atrás, falava em pedir que “a Justiça” mandasse o governo autorizar imediatamente a aplicação da “vachina”, como a coisa está sendo chamada.

Mas o próprio Butantan decidiu adiar a entrega dos dados de seus testes à Anvisa, pois chegou à conclusão de que os resultados não são os que deveriam estar sendo. E agora? Onde foram parar a pressa e os prazos de “48” ou de “72 horas”? É o que dá, em todos esses casos, assinar decretos, liminares ou qualquer outro tipo de papel exigindo que a ciência se comporte no ritmo imposto por ministros, senadores ou governadores de estado. É como legislar sobre a tabuada. Não chega nem sequer a ser um erro – é apenas uma estupidez.

J.R. Guzzo, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes