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quarta-feira, 4 de abril de 2018

A fala do general e a quem ela serve

Esbaldaram-se com a fala as novas vivandeiras de quartéis

[a fala do general serve aos BRASILEIROS DO BEM, aos HONESTOS e ao COMBATE À IMPUNIDADE.]

Cuidadosamente mal redigida para disfarçar o que diz, alvejar o alvo certo, porém oculto, e ameaçar como se apenas advertisse, a nota assinada pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, e postada em sua conta pessoal no twitter, porque é de nota que se trata, foi uma clara, descabida e perigosa interferência na vida institucional do país.
 
O chefe das Forças Armadas, segundo a Constituição, é o presidente da República. É ele, e somente ele, portanto, quem em nome delas pode falar sobre temas políticos de repercussão geral. Aos comandantes das três armasExército, Marinha e Aeronáutica -, cabe falar sobre assuntos administrativos e aqueles diretamente afeitos aos cargos que ocupam.
 
Militar não é igual a civil. O que os distingue não é só a farda que um veste e o outro não. Militar tem acesso a armas pesadas, pilota brucutu, maneja tanques e é treinado para matar. [o militar pode desempenhar várias atividades diferentes das executadas por um civil e o oposto também é verdade; mas, o militar também é um CIDADÃO, é um CIDADÃO BRASILEIRO  que veste farda, o que não o torna um cidadão de segunda classe.] Se um deles fala qualquer coisa, soa diferente do civil que diga o mesmo. Porque um tem a força capaz de pulverizar literalmente quem quer que seja. O outro, só a força da palavra. [só que ultimamente integrantes de algumas instituições tem usado a força da palavra de forma tão prejudicial quanto uma arma, favorecendo inclusive a impunidade de bandidos condenados.] 
 
A fala do general Villas Boas não foi a de um chefe que se dirige aos seus subordinados. Foi um pronunciamento à Nação em nome do “Exército brasileiro” e a propósito da situação que vive o país. Com o objetivo de assegurar que o Exército compartilha “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade” e de respeito às leis e à paz social. Não faltou na fala do general a provocação travestida de pergunta que ele dirige diretamente “ao povo” e a instituições não nomeadas: “Quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?” Para, por fim, afirmar que o Exército “se mantém atento às suas missões institucionais”. [é DEVER de qualquer instituição se manter atenta aos cumprimento dos seus encargos e de suas missões institucionais.
Sendo comandante do Exército Brasileiro o general pode, e até deve, falar em nome da instituição, no caso para assegurar o repúdio a criminalidade (ou por ser militar deve repudiar a criminalidade às escondidas?) e tranquilizar as pessoas de BEM.
Preocupação só para bandidos condenados que correm sério risco de serem engaiolados já na segunda instância.]
 
O momento escolhido por Villas Bôas para dizer o que disse não se deveu ao acaso. O que ele disse tampouco guarda qualquer grau de parentesco com o apelo à serenidade feito na véspera pela presidente do Supremo. As ruas estavam repletas de manifestantes. E o Supremo, a menos de 24 horas de retomar um julgamento que galvaniza o país e pode incendiá-lo. A reação do presidente da República à fala do general foi nenhuma. Os políticos a engoliram a seco. Uns poucos ousaram comentá-la na tentativa de ajustá-la às suas próprias conveniências. Em compensação, esbaldaram-se com a fala as novas vivandeiras de quartéis que em nome da ordem pregam a desordem e o colapso da democracia entre nós.