Esbaldaram-se com a fala as novas vivandeiras de quartéis
[a fala do general serve aos BRASILEIROS DO BEM, aos HONESTOS e ao COMBATE À IMPUNIDADE.]
Cuidadosamente mal redigida para disfarçar o que diz, alvejar o
alvo certo, porém oculto, e ameaçar como se apenas advertisse, a nota
assinada pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, e
postada em sua conta pessoal no twitter, porque é de nota que se trata,
foi uma clara, descabida e perigosa interferência na vida institucional
do país.
O chefe das Forças Armadas, segundo a Constituição, é o presidente
da República. É ele, e somente ele, portanto, quem em nome delas pode
falar sobre temas políticos de repercussão geral. Aos comandantes das
três armas – Exército, Marinha e Aeronáutica -, cabe falar sobre
assuntos administrativos e aqueles diretamente afeitos aos cargos que
ocupam.
Militar não é igual a civil. O que os distingue não é só a farda
que um veste e o outro não. Militar tem acesso a armas pesadas, pilota
brucutu, maneja tanques e é treinado para matar. [o militar pode desempenhar várias atividades diferentes das executadas por um civil e o oposto também é verdade; mas, o militar também é um CIDADÃO, é um CIDADÃO BRASILEIRO que veste farda, o que não o torna um cidadão de segunda classe.] Se um deles fala
qualquer coisa, soa diferente do civil que diga o mesmo. Porque um tem a
força capaz de pulverizar literalmente quem quer que seja. O outro, só a
força da palavra. [só que ultimamente integrantes de algumas instituições tem usado a força da palavra de forma tão prejudicial quanto uma arma, favorecendo inclusive a impunidade de bandidos condenados.]
A fala do general Villas Boas não foi a de um chefe que se dirige
aos seus subordinados. Foi um pronunciamento à Nação em nome do
“Exército brasileiro” e a propósito da situação que vive o país. Com o
objetivo de assegurar que o Exército compartilha “o anseio de todos os
cidadãos de bem de repúdio à impunidade” e de respeito às leis e à paz
social. Não faltou na fala do general a provocação travestida de pergunta
que ele dirige diretamente “ao povo” e a instituições não nomeadas:
“Quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e
quem está preocupado apenas com interesses pessoais?” Para, por fim,
afirmar que o Exército “se mantém atento às suas missões
institucionais”. [é DEVER de qualquer instituição se manter atenta aos cumprimento dos seus encargos e de suas missões institucionais.
Sendo comandante do Exército Brasileiro o general pode, e até deve, falar em nome da instituição, no caso para assegurar o repúdio a criminalidade (ou por ser militar deve repudiar a criminalidade às escondidas?) e tranquilizar as pessoas de BEM.
Preocupação só para bandidos condenados que correm sério risco de serem engaiolados já na segunda instância.]
O momento escolhido por Villas Bôas para dizer o que disse não se
deveu ao acaso. O que ele disse tampouco guarda qualquer grau de
parentesco com o apelo à serenidade feito na véspera pela presidente do
Supremo. As ruas estavam repletas de manifestantes. E o Supremo, a menos
de 24 horas de retomar um julgamento que galvaniza o país e pode
incendiá-lo. A reação do presidente da República à fala do general foi nenhuma.
Os políticos a engoliram a seco. Uns poucos ousaram comentá-la na
tentativa de ajustá-la às suas próprias conveniências. Em compensação,
esbaldaram-se com a fala as novas vivandeiras de quartéis que em nome da
ordem pregam a desordem e o colapso da democracia entre nós.
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