Se o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze milhões deles em Cuba.
Em 1960, os bispos cubanos, declararam que "o catolicismo e comunismo respondem a dois conceitos totalmente diferentes do homem e do mundo que nunca será possível conciliar." O Papa Francisco, no entanto, afirma que comunismo é na realidade cristianismo. "Os comunistas têm roubado a nossa bandeira", disse ele.
Os
bispos cubanos condenaram o comunismo como "um sistema que brutalmente
nega os direitos mais fundamentais do ser humano." As críticas do Papa
Francisco ao regime de Castro foram limitadas a oblíquas referências, um
apelo por liberdade religiosa para os católicos e críticas gerais que
poderiam ser aplicadas a Cuba ou a qualquer um de inúmeros outros
lugares. Ele não conseguiu sequer reiterar suas velhas críticas ao
regime.
Dissidentes
cubanos foram impedidos de encontrar o Papa Francisco e até mesmo o
"trajeto de boas vindas" que havia sido planejado foi fechado quando as
autoridades comunistas detiveram dissidentes políticos. Quando os
manifestantes arriscaram sua liberdade para chegar perto dele, foram
presos sem receber qualquer reconhecimento do papa. Os Castros
conseguiram suas reuniões e sua publicidade.
Os
oprimidos, para quem o Papa Francisco alegou que se pronunciaria
durante a sua visita e durante suas viagens internacionais, foram
deixados de fora no frio. Eles foram tratados com outra referência
indireta, quando o Papa Francisco expressou seu desejo de "abraçar
especialmente todos aqueles com os quais, por vários motivos, eu não
pude me encontrar."
"Simplesmente
não nos parece estar certo ou mesmo que o papa não tenha um pouco de
tempo para se encontrar com os cubanos que estão defendendo os direitos
humanos", disse o chefe da maior organização dissidente do país.
Papa
Francisco falou do acordo de Obama com Castro como um "processo de
normalização das relações entre os dois povos, após anos de
afastamento." Mas ele sabe muito bem que não é nada desse tipo. Os
cubanos não são estranhos aos refugiados cubanos na América por falta de
relações diplomáticas, mas pela supressão brutal de liberdade política e
religiosa pelo regime de Castro.
O
acordo de Obama não reúne os "dois povos"; ele põe dinheiro nos bolsos
de um regime que o Papa Francisco tinha chamado de corrupto e
autoritário. Ele permite que os esquerdistas americanos visitem Cuba
para o comércio de prostitutas menores de idade, o que se tornou
notório. Esta não é reconciliação. É exploração.
O
sinal mais claro do que está por trás do verdadeiro "estranhamento" em
Cuba pode ser encontrada na declaração de 1960, que sustentou que "a
maioria absoluta do povo cubano, que é formada por católicos... só por
engano ou coerção pode ter sida levada a um regime comunista."
Hoje, o inverso é verdadeiro, pois, engano e coerção cobraram seu preço.
Os
bispos cubanos desafiaram o regime de Castro como uma questão de
consciência. E eles pagaram o preço. A repressão de Castro sobre a
Igreja Católica nos anos 60 tem sido amplamente ignorada por uma mídia
que está ansiosa para contar uma história muito diferente. Mas ela
parece ter sido tão tragicamente esquecida pelo Papa Francisco.
Francisco
poderia ter lembrado do bispo Eduardo Boza Masvidal que foi preso
várias vezes e cuja igreja foi bombardeada depois de exortar os cubanos a
lembrarem de "todos aqueles que lutam e sofrem perseguição sob regimes
comunistas." E o papa poderia ter lembrado de suas palavras que o regime
comunista de Cuba é "baseado em ódio e luta de classes em vez de
amor... é uma coisa terrível ensinar um povo a odiar. É uma das coisas
mais anticristãs, que podem ser feitas."
Quando
o papa Francisco tenta fazer causa comum com os marxistas em torno da
luta de classes, ele está fazendo causa comum com o ódio, em vez de
amor, no ressentimento de divisão, em vez da reconciliação. É um plano
que não só está fadado ao fracasso, mas está fadado a sair pela culatra,
espalhando mais ódio em vez de amor.
Como
Che Guevara tinha insistido, "o ódio é o elemento central de nossa
luta... O ódio que é intransigente... O ódio tão violento que impulsiona
o ser humano além de suas limitações naturais, tornando-o violento e
uma fria máquina de matar sanguinária... Para estabelecer o socialismo,
rios de sangue devem correr."
Este é o terrível objetivo final de espalhar a luta de classes. O ódio se enraíza e cria monstros. Padre
José Conrado, que realmente vive em Cuba, fornece um modelo muito
diferente que desafia a autoridade do regime de Fidel Castro, ao invés
de tentar encontrar um terreno comum com ele. Conrado tinha desafiado o
ditador de Cuba sobre a existência de "prisioneiros de consciência" e
restrições sobre "as liberdades mais básicas: de expressão, de
informação, de imprensa e de opinião, e sérias restrições à liberdade de
religião"
Ele
não fez isso em 1960, mas apenas alguns anos atrás. Antes da visita do
papa, ele disse, "Eu não posso ignorar o sofrimento do meu povo, as
injustiças que eu acredito que são evitáveis. Dante disse que o nono
círculo do inferno, o pior de todos os círculos, é reservado para
aqueles que em tempos de crise cruzam os braços e fecham suas bocas".
A
mudança política não acontece sem coragem política. E autoridade moral
não é exercida tolerando a imoralidade. A autoridade moral de um regime
totalitário não repousa sobre o amor, mas no medo. A timidez em face da
tirania defende aquela autoridade moral de terror político. Ela cede ao
medo. "O
medo gerado por um regime totalitário não está definido. É um medo que
provoca uma angústia paralisante porque não se pode até mesmo definir
exatamente o que é que se teme. O que eles podem nos fazer? Eles podem
tirar nossas vidas? Eles podem tirar a nossa honra, por falarem mal de
nós, com campanhas de difamação? Eles fazem isso o tempo todo", disse o
padre José Conrado.
A
religião pode dar às pessoas a coragem de desafiar esse medo. Ela pode
mostrar a um povo oprimido as mesquinhas limitações de tiranos que
dependem de intimidação para sua autoridade. Pode dotar o desafiante com
autoridade moral. É um grave erro sacrificar essa autoridade moral em
troca de conciliação com tiranos.
Em
1960, o clero de Cuba entendeu que não poderia haver uma base comum com
o comunismo, que tinha de ser desafiado, mesmo que o desafio fosse
condenado, porque a cumplicidade com o mal iria corrompê-los. Poucos
servem como melhor exemplo do que Javier Arzuaga, o ex-padre de
esquerda que tinham apoiado Castro, apenas para fugir chocado e
horrorizado com a carnificina. "No
dia em que saí, Che disse-me que nós dois tínhamos tentado trazer um ao
outro para o seu lado e tínhamos falhado”. Suas últimas palavras foram:
"Quando jogarmos fora nossas máscaras, seremos inimigos", lembrou
Arzuaga.
Os
Castros colocaram suas máscaras de novo, mas por baixo há um regime
totalitário baseado na brutalidade e no ódio. Debaixo de suas máscaras,
eles são o inimigo. Ajudá-los é arriscar-se a tornar-se cúmplice de seus
crimes.
Se
o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze
milhões deles em Cuba. Eles não são oprimidos pelo capitalismo nem pelo
aquecimento global. Eles são oprimidos por esse medo, a angústia
paralisante que ele traz e a apatia que vem com ele. Eles precisavam de
armas contra esse medo.
A visita do papa deu aos Castros o que eles queriam, mas não conseguiu dar ao povo cubano o que eles precisavam.
A visita do papa deu aos Castros o que eles queriam, mas não conseguiu dar ao povo cubano o que eles precisavam.
Publicado no The FrontPage Magazine.
Tradução: William Uchoa