Polícia vai aprofundar investigação sobre envolvimento de Paulo Rabello
A Polícia
Federal vai rastrear a movimentação financeira da Mudar Master II Participações
para aprofundar as investigações sobre o suposto envolvimento do presidente do
BNDES, Paulo Rabello de Castro, e de outros sócios da agência SR Rating em
fraudes na compra de títulos, que resultaram em prejuízo de R$ 109 milhões para
o Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios.
Com base em recomendações da SR Rating,
o Postalis investiu R$ 109 milhões em cédulas de crédito imobiliário emitidas
pela Mudar Master II entre 2010 e 2011. As transações resultaram em perda total
para o fundo. As análises formais da SR Rating, que deram base à compra dos
títulos, incluem o nome de Paulo Rabello como presidente do comitê executivo de
classificação e diretor-presidente da agência. “O total fracasso dos investimentos é o principal indicativo da ocorrência de
fraude na avaliação dos papéis, motivo pelo qual deve ser aprofundada a
apuração do envolvimento de Paulo Rabello de Castro (chairman), Sheila Sirota
Von O. Gaul, José Valter Martins de Almeida e Robson Makoto Sato, membros do
comitê executivo de classificação da SR Rating, no esquema criminoso que tomou
de assalto os cofres do Postalis”, diz relatório da PF e do Ministério Público
Federal obtido pelo GLOBO.
RELATÓRIO
SEM ‘REAIS GARANTIAS’
Segundo o
documento, em todos os relatórios endereçados ao Postalis, a SR Rating
encorajava o fundo de pensão a investir nos títulos da Mudar Master. As
operações contariam “com adequados elementos garantidores, dentre os quais a
amarração de garantias reais e de direitos creditórios oriundos do negócio
imobiliário”.
A SR
teria se omitido, no entanto, de indicar quais seriam essas “reais garantias”.
A falha deixaria aberta a brecha para as transações temerárias, que resultaram
em prejuízo de mais de R$ 100 milhões para um dos maiores fundos de pensão do
país. Paulo
Rabello e dirigentes do Postalis foram interrogados na semana passada, depois
da deflagração da Operação Pausare. No depoimento, ele teria dito que apenas
fez uma análise do caso. A responsabilidade final pela transação seria
exclusiva do Postalis. Os dirigentes do fundo teriam afirmado que fizeram o
negócio a partir da recomendação de uma agência devidamente credenciada para a
função.
O
presidente do BNDES teria demonstrado segurança nas explicações de caráter
técnico, mas não eliminou todas as suspeitas sobre as transações. A estratégia
dos investigadores agora é rastrear a movimentação dos R$ 109 milhões recebidos
pela Mudar Master. Entre os investigadores, a ordem é “seguir o caminho do
dinheiro” que teria sido desviado do fundo de pensão.
“A grande
quantidade de investimentos fracassados realizados pelos administradores do
Postalis torna patente que não estaríamos lidando apenas com investidores de má
sorte ou mesmo descuidados, mas, sim, com uma verdadeira organização criminosa,
que buscou desviar recursos do Postalis”, diz o relatório.
A partir
das informações do documento, a 10ª Vara da Justiça Federal determinou a quebra
do sigilo bancário e fiscal do presidente do BNDES. O delegado Luiz Flávio
Zampronha e o procurador Ivan Marx, responsáveis pela Pausare, chegaram a pedir
a condução coercitiva de Paulo Rabello, mas o pedido não foi acolhido.
Procurado,
Paulo Rabello disse que vai se manifestar oportunamente.