As informações e a transcrição da suposta correspondência estão em um livro que Duran está escrevendo e que pretende lançar até outubro. A Folha teve acesso à íntegra do texto, que foi publicado na Internet e depois retirado
Pois é, caros… Algumas das investigações
originadas de delações da Lava Jato não estão dando em nada. Não
obstante, os respectivos nomes dos investigados já foram parar na boca
do sapo, certo? Ou vocês nunca viram Deltan Dallagnol a pedir cadeia, no
Twitter e no Facebook, para pessoas que ainda não eram nem mesmo
investigadas? Numa palestra, no sábado, ele afirmou que o ministro
Gilmar Mendes está contra o “espírito” da Lava Jato… Onde já se viu, né?
Acontece que, agora, um advogado faz uma
acusação que pega o coração de um amigo do peito do juiz Sérgio Moro…
Trata-se de um homem que foi seu padrinho de casamento, é seu amigo
pessoal e já foi sócio de sua mulher. A coisa é grave.
A Folha publicou
no domingo reportagem de Mônica Bergamo a respeito. Leiam o que vai
abaixo. No próximo post, a resposta de Moro, que não deixa de ser
surpreendente.
* O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Operação Lava Jato.
* O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Operação Lava Jato.
A mulher
de Moro, Rosangela, já foi sócia do escritório de Zucolotto. O advogado é
também defensor do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em ação
trabalhista que corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
As
conversas de Zucolotto com Tacla Duran envolveriam abrandamento de pena e
diminuição da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um
acordo de delação premiada.
Em troca,
segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois. O dinheiro
serviria para “cuidar” das pessoas que o ajudariam na negociação,
segundo correspondência entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht diz
ter em seus arquivos.
As
informações e a transcrição da suposta correspondência estão em um livro
que Duran está escrevendo e que pretende lançar até outubro. A Folha
teve acesso à íntegra do texto, que foi publicado e depois retirado da
internet.
A
assessoria de Tacla Duran confirma que a obra é dele. Diz que o texto
foi postado na rede por engano mas que será republicado em breve e sem
alterações substanciais em seu conteúdo.
Zucolotto nega as acusações. Os procuradores citados por Tacla Duran afirmam que nem sequer conhecem o advogado amigo de Moro.
O juiz diz
que Zucolotto é “sério e competente” e afirma ser “lamentável que a
palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira [Tacla Duran] seja
utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da
Justiça”.
Tacla
Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e de formação de organização
criminosa pelo Ministério Público Federal. O advogado tentou fazer
delação premiada, mas as negociações fracassaram.
Ele teve a
prisão decretada por Moro. Chegou a ser detido na Espanha em novembro
de 2016. Em janeiro, foi libertado. O Brasil pediu a sua extradição, mas
a Espanha negou –Tacla Duran tem dupla cidadania.
Desde
então, ele vem dando entrevistas com acusações à Lava Jato e à
Odebrecht. Conforme a Folha publicou, ele diz que a empreiteira fraudou
documentos apresentados em seu acordo de delação premiada.
Na paralela
No texto publicado na internet, ele
afirma que, entre março e abril de 2016, tratou das investigações da
Lava Jato com Zucolotto. O escritório do advogado atuava havia dois anos
como correspondente da banca Tacla Duran Advogados Associados, no
acompanhamento de audiências trabalhistas e execuções fiscais.
“Carlos
Zucolotto então iniciou uma negociação paralela entrando por um caminho
que jamais imaginei que seguiria e que não apenas colocou o juiz Sergio
Moro na incômoda situação de ficar impedido de julgar e deliberar sobre o
meu caso, como também expôs os procuradores da força-tarefa de
Curitiba”, escreveu Duran.
Ele diz
que estava nos EUA e que, por isso, a correspondência entre os dois
ocorria através do aplicativo de mensagens Wickr, que criptografa e pode
ser programado para destruir conversas.
“Ao se
prontificar a me ajudar”, segue, “Zucolotto explicou que a condição era
não aparecer na linha de frente. Revelou ter bons contatos na
força-tarefa e poderia trabalhar nos bastidores”.
Antes que
Zucolotto entrasse no circuito, segundo ainda o texto de Duran, o
procurador Roberson Pozzobon teria proposto que ele pagasse uma multa de
US$ 15 milhões à Justiça. Duran diz que não aceitava a proposta.
“Depois de fazer suas sondagens, Zucolotto conversou comigo pelo Wickr”, afirma o ex-advogado da Odebrecht.
Na suposta
correspondência, Zucolotto afirma ter “como melhorar” a proposta de
Pozzobon. Diz também que seu “contato” conseguiria “que DD [Deltan
Dallagnol]” entrasse na negociação.
Ainda
segundo Duran, a ideia de Zucolotto era alterar o regime de prisão de
fechado para domiciliar e diminuir a multa para um terço do valor, ou
seja, US$ 5 milhões.
“E você
paga mais um terço de honorários para poder resolver isso, me entende?”,
teria escrito Zucolotto, segundo a suposta transcrição da
correspondência entre eles. “Mas por fora porque tenho de resolver o
pessoal que vai ajudar nisso.”
Duran diz
então que, “de fato, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon
enviaram por e-mail uma minuta de acordo de colaboração com as condições
alteradas conforme o que Zucolotto havia indicado em suas mensagens”.
Recusa
Ele teria recebido a proposta no dia 27
de maio de 2016, uma sexta-feira. Teria que voltar ao Brasil três dias
depois, para assinar o acordo. “Sozinho
na minha casa na Flórida, pensei muito sobre isso e decidi que não
assinaria nem voltaria ao Brasil”, afirma Duran. Ele diz ter enviado um
advogado para representá-lo na reunião.
“Ao serem
informados da minha recusa em admitir crimes que não cometera, os
procuradores de Curitiba não quiseram mais conversa e encerraram a
negociação”, diz. “Foi nosso último contato”, afirma Duran na última
linha de seu texto.
(…)