O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, define a aprovação
do texto base da reforma da previdência como “uma vitória dos
brasileiros”, admite que isso aproxima mais o tempo da queda dos juros e
acredita que no segundo semestre o país inverte acurva para voltar
acrescer. Ele está debruçado em questões microeconômica sequer a redução
do custo do dinheiro também para os tomadores finais, principalmente os
do crédito emergencial. “Por um estudo que fizemos, 50% das pessoas que
usam o cheque especial ganham até dois salários mínimos, 67% têm
educação básica, e o comprometimento da renda é muito alto para um taxa
de juros de 325%”.
Roberto Campos Neto fica com um olho nas questões macro e outro nas
mudanças micro que o Banco Central quer estimular para o mercado de
crédito funcionar melhor. Ele é contra vender reservas para fazer
investimento. Conta que apresentou para o ministro da Economia, Paulo
Guedes, o plano de reduzir o recolhimento obrigatório dos bancos para
liberar mais recursos para a economia. Guedes chegou a falar em R$ 100
bilhões. No macro, ele disse que a reforma aprovada esta semana em primeiro turno na Câmara foi um grande passo: —Foi uma vitória dos brasileiros, do Congresso, de todos os deputados
que votaram. Não é todo dia que agente vê multidões nas ruas pedindo
reforma da Previdência. É muito importante para a economia, é um
problema fiscal nunca resolvido. É um primeiro passo, mas há outros como
os juros da dívida, a reformado Estado para melhorara percepção do
Brasil pelo investidor estrangeiro, que vai estimular o investimento
local e privado. Estamos no caminho certo.
Eu o entrevistei ontem na Globonews. Ele vinha dizendo em seus
comunicados que a queda da Selic depende do clima externo, do hiato do
produto e das reformas. O clima externo melhorou, o país não está
crescendo, e as reformas avançam. As condições estão dadas para os juros
caírem? Ele responde admitindo que recebeu uma boa herança da
administração anterior. Depois, afirma que o cenário externo está mais
“benigno” e houve uma “interrupção” do crescimento: — Nessa linha, um avanço nas reformas faz com que o cenário fique mais benigno.
A inflação em 12 meses caiu para 3,3%, com a divulgação da taxa de
junho. Mas a previsão de crescimento está caindo há 19 semanas.
Perguntei o que o BC pode fazer pelo crescimento: — O Banco Central é muito preocupado com o crescimento. Mas a melhor
forma de atingir um crescimento sustentável de longo prazo é exatamente
ter credibilidade na política, o que nós nunca vamos fazer é trocar o
crescimento de curto prazo por inflação. Essa troca foi feita no
passado, foi um experimento que não deu certo.
A sua expectativa é a de que o país já no segundo semestre tenha uma melhora do ritmo de crescimento: — Acho que depois da reforma da previdência vamos para outras reformas.
Aqui nós temos uma agenda microeconômica, que não é tão sexy quanto a
agenda macro, mas cria estímulos, impulsiona. No segundo semestre haverá
um ponto de inflexão e no ano que vem vamos crescer.
A redução do custo do crédito está nos estudos do BC. No caso do cheque
especial, uma ideia é cobrar tarifa de todo mundo que tem limite para
baratear o produto para os juros promete usar a regulação caso os bancos cobrem
tarifas e não reduzam os juros. Campos Neto estuda inovar nas modalidades de crédito criando condições
para que, como em outros países, uma pessoa dona de imóvel que se
valorizou possa transformar parte da operação de crédito. Lembrei a ele
que assim começou a crise do sub prime: —Exatamente, e isso se evita com regulação. No Brasil a alavancagem é
próxima de zero, nos Estados Unidos chegou a 40%,50%. Outra coisa é
inibira estrutura de derivativos.
Perguntei sobre venda de reservas para ajudar as contas públicas, e ele
explicou que as reservas têm dado lucro. De R$60 a R$ 70 bilhões nos
últimos dez anos:—Mas a história de vender reservas para fazer investimento eu acho totalmente incoerente com o que nós estamos pregando. Sobre os compulsórios, que teoricamente liberaria mais recursos para que
os bancos emprestem aos tomadores, ele disse que o Banco Central
trabalha hoje com um volume de R$ 500 bi. Acha que talvez seja possível
trabalhar com um volume menor de compulsório.
Publicado em O Globo - Coluna da Míriam Leitão