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terça-feira, 16 de maio de 2023

Campos, o Óbvio - Gilberto Simões Pires



CAMPOS, O ÓBVIO

Toda a vez que ouço ou leio as razões apontadas pelo presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, no tocante ao patamar da Taxa Selic, não raro me vem à cabeça o conteúdo do excelente livro -ADAMS ÓBVIO-, biografia ficcional de Osborne Adams, que trabalhava para a Oswald Advertising Agency, em New York. [O governo argentino - a 'menina dos olhos' do apedeuta que comanda no Brasil o desastre que chamam de governo - decidiu aumentar a taxa de juros para CONTER A INFLAÇÃO = copiando medida adotada pelo Banco Central brasileiro e que leva o PresiMENTE a vociferar contra tal política; 
- agora o que fazer: FORÇA e CORAGEM, políticas, para demitir Campos Neto, ou mudar na marra a política de juros, o petista boquirroto não tem. Só lhe resta uma saída: cancelar o compromisso de dar dólares para os hermanos.]

 FAZER O ÓBVIO

Para quem não leu, (sugiro a leitura), todas as PARÁBOLAS da história de ADAMS ÓBVIO acabam demonstrando a razão do seu sucesso, qual seja -FAZER O ÓBVIO-. Mas não aquele óbvio que salta aos olhos, que frequentemente é a razão do insucesso de quem não analisa suficientemente suas questões. Adams sabia que o óbvio nem sempre é evidente, e ia até o cerne, não se deixando desviar dos fatos, nem cedendo à tentação de analisar apenas a parte mais interessante da amostra.

 DOSE DE MUITA OBVIEDADE

Pois, ontem, ao assistir, na CNN, a entrevista que Roberto Campos Neto concedeu ao empresário Abilio Diniz, no programa -CAMINHOS-, me veio imediatamente à lembrança a obra ADAMS ÓBVIO quando Campos Neto afirmou que a taxa de juros estar em um patamar alto não é culpa do Banco Central, mas sim da DÍVIDA DO GOVERNO. Foi, certamente, uma dose e tanto de muita OBVIEDADE.

O GRANDE CULPADO

Para ser mais claro, Campos Neto praticamente -desenhou- quando disse: - “A gente tem que tomar cuidado para não ter uma inversão de valores. Se você, empresário, está tentando pegar um dinheiro e está caro, a culpa não é do BC, porque é malvado, a culpa é do governo, que deve muito. Porque o governo está competindo com você pelo dinheiro que tem disponível para aplicar em projetos. Então, assim, o GRANDE CULPADO pelos juros estarem altos é que tem alguém competindo pelos mesmos recursos e pagando mais”. 
De acordo com Campos Neto, se a dívida do governo fosse baixa, “o custo do dinheiro seria mais barato para todo mundo”. “Quando a gente pensa que o governo faz uma emissão hoje, longa, e paga uma taxa de juro real acima de 6%, isso não tem a ver com o Banco Central, isso é uma percepção de longo prazo e existe um risco que justifique que a taxa de juro real seja 6%”, explicou o presidente da autoridade monetária.

FALÁCIA

Sobre a questão da inflação não estar associada à demanda, Campos Neto considerou como “falácia”. “Acho que tem duas falácias. Primeiro, que a inflação não é de demanda (…). Os componentes de oferta existiram em algum momento, principalmente durante a invasão da Ucrânia, mas eles diminuíram. Hoje, a gente tem claro os componentes de demanda e a gente consegue quantificar, olhando, dependendo do índice ou o que está acontecendo na economia, o que é a demanda e onde que está vindo essa demanda. Essa é a primeira falácia”, rebate Campos Neto.

Em seguida, ele rebate o argumento de que, se fosse uma inflação de oferta, o Banco Central não deveria atuar. “Segundo é que não existe também alguma coisa que diga ‘quando é inflação de oferta, você não faz nada’. Porque o BC tem que combater a inflação de demanda e tem que combater o que chamamos de efeitos secundários de um possível choque de oferta”. Veja aqui a entrevista completa.


Ponto Critico -  Gilberto Simões Pires


domingo, 22 de agosto de 2021

O divórcio - Carlos Alberto Sardenberg

Primeiro, foram empresários da chamada economia real. Depois, a eles se juntaram banqueiros e economistas do primeiro time. E agora, o mercado financeiro também entrou no processo de divórcio com o governo Bolsonaro e, muito especialmente, com o ministro Paulo Guedes.

As previsões para aos números macroeconômicos já vinham piorando há semanas: perspectiva de inflação, juros e dólar em alta, expectativa de PIB cada vez menor para este e o próximo ano. Mas isso era percepção. “Só” percepção, se dizia, que poderia mudar assim que o governo e o Congresso se entendessem sobre um orçamento minimamente equilibrado para 2022 e, com sorte, sobre algumas reformas (tributária?) e privatizações.

Aliás, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, procurou acalmar os mercados justamente com essa tese: tudo isso passa quando o governo mostrar de onde vem o dinheiro para os diversos gastos. Mas na semana passada aconteceu algo real no mercado financeiro, que não acontecia há mais de ano: nos contratos de futuros, os títulos do governo foram negociados a juros de quase 11% anuais.

Isso revela enorme desconfiança em relação à capacidade do governo entregar qualquer coisa que ao menos pareça controle de contas públicos – ou seja, gastos abaixo do teto – ou reformas. Aliás, ontem o ministro Guedes praticamente sepultou a reforma do Imposto de rendano que foi um raro momento de bom senso. Ele disse que se for para piorar o sistema, então é melhor deixar como está – que é muito ruim.

Sempre pensamos que era impossível complicar e pesar ainda mais o sistema tributário brasileiro. Pois as últimas discussões sobre a reforma do IR mostram que estávamos todos errados. E reparem: há bons projetos de reforma tributária já longamente discutidos e que até alcançaram um bom nível de apoio. Mas uma mudança dessas exige um presidente que lidere não apenas sua gente, mas todo o país, incluindo governadores, prefeitos, empresários e as pessoas, enfim todo mundo que sofre os efeitos positivos ou negativos do sistema de pagamento de impostos. E mais um ministro da Economia que também saiba ligar o mundo econômico com o político.

Não é o caso, nem de um nem de outro. Tudo somando e subtraído, temos: o ritmo de recuperação deste ano cai em relação ao previsto no início do ano, quando se achava que a vacinação permitiria a abertura plena da economia; o crescimento em 2022 está apontando para menos de 2%, que é o – baixo – nível de expansão natural do Brasil; desemprego permanecendo elevado; inflação e juros em alta.[se deixar por conta dos desejos do ilustre articulista, o Brasil já está pior do que o Haiti. 
Lula já está eleito, com um estoque de votos que serão utilizados nas eleições 2026 para eleger a 'engarrafadora de vento'.
Aquela mistura de evangélica com ambientalista e pró aborto, a candidata escalada para perder, será a líder da terceira via e irá para o segundo turno em 2022.
O incrível é que na ótica da matéria NADA, absolutamente NADA de BOM aconteceu no Brasil = é o NEGACIONISMO de tudo de BOM que aconteceu, está e vai continuar acontecendo no Brasil.
Felizmente,  para o Brasil e os brasileiros, são apenas desejos, meros devaneios.]

O dólar deveria cair, não é mesmo? Se os juros estão altos, se a renda fixa e os títulos do Tesouro voltaram a ser atraentes, era de se esperar que investidores externos viessem com  muitos dólares para aproveitar desses rendimentos. Ainda mais que os juros continuam a zero lá no mundo desenvolvido. Mas o dólar continua alto por aqui, bem acima do 5 reais. É outro claro sinal de desconforto. É seguro investir num país em que o presidente é ameaça às instituições e o governo tem duas políticas econômicas? Sim, duas: uma, a supostamente liberal do ministro Guedes e a outra, do orçamento paralelo, ou secreto, comandado pelo Centrão.

Assim nos encaminhamos para um ano de eleições gerais. Bolsonaro está confinado a seu núcleo duro e nada indica que possa sair dali. Sua popularidade desmancha semana a semana. Isso abre uma enorme avenida para Lula, que já está jogando em todo o país. Mas também abre espaço para a terceira via, um candidato de centro – que ainda não está em campo. Mas toda aquela gente que está em processo de divórcio com Bolsonaro procura justamente essa terceira via. Seria ridículo ter votado em Bolsonaro para tirar Lula e depois votar em Lula para tirar Bolsonaro.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

 Coluna publicada em O Globo - Economia 21 de agosto de 2021

 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Desviar recursos de combate à pandemia é crime hediondo - Vozes

Gazeta do Povo 

Absurdo

PF deflagrou operação Campanile após investigar desvio de recursos do combate à pandemia

Desviar recursos de combate à pandemia é crime hediondo
A Operação Campanile apura fraudes em contratos sem licitações na Secretaria Estadual de Saúde do Piauí. O dinheiro da pandemia está sendo desviado, e o governador estava fazendo campanha para a aquisição de vacinas. Ele se dizia preocupado.
 
Eu acho que desviar recursos de combate à pandemia é crime hediondo. Esses se aproveitam do medo da população. É terrível.
 
A eficácia da Coronavac
Saiu os resultados de eficácia da Coronavac. O Instituto Butantan atestou que o imunizante tem 50,38% de eficácia. Ou seja, meio a meio.  

A porcentagem mínima aceita pela OMS e pela Anvisa é de 50%, portanto, a CoronaVac passou nos testes. Em entrevista à CNN, o ex-diretor do Instituto Butantan Jorge Kalil afirmou que é preciso saber quantos idosos participaram dos testes, porque isso é essencial.

A Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa dos filhos do ex-ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, Márcio Lobão e Edison Lobão Filho. A PF investiga qual o envolvimento dos filhos e do pai no esquema. Além disso, foram cumpridos mandados no Rio de Janeiro, em Brasília, em São Luís, Angra dos Reis e em São Paulo. A operação apura um esquema de fraude no “caráter competitivo“ da Transpetro, uma das subsidiárias da Petrobras.

Há indícios de que, enquanto Lobão era ministro entre 2008 e 2014, alguns contratos da subsidiária teriam arrecadado R$ 12 milhões de pagamentos em propinas. Eu acredito que esse valor é maior. Isso porque foram apreendidos um helicóptero, carros de luxo e 100 obras de arte. Aliás, era desse modo que o dinheiro era lavado, com aquisições de obras de arte. Por isso o nome da operação é Vernissage, um encontro cultural que expõe pintores, escultores e fotógrafos.

Veja Também: Twitter excluiu Trump: censura é comum em regimes totalitários

Eu não acredito muito nessas previsões da inflação
A inflação de 2020 foi de 4,5%. Eu, que vivi em uma época em que a inflação estava a 5.000% ao ano, acho isso extraordinário. O índice ficou acima [do centro] da meta, de 4%, mas, foi quase.

Além disso, estávamos em um ano de pandemia. Empresas foram fechadas e empregos perdidos. A inflação resistiu. Uma prova é o prêmio de banqueiro central do ano, da revista The Banker, concedido a Roberto Campos Neto.

A previsão de inflação para 2021 é de 3,31%
– eu não acredito muito nessas previsões. Não sei porque tentam ser tão precisos, seria mais razoável estimar uma média de 3%.

Alexandre Garcia, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Insegurança inflacionária – O Estado de S. Paulo

Opinião

A inflação estimada para o ano subiu pela 15.ª semana consecutiva, segundo a pesquisa 'Focus'. É uma má notícia para os consumidores.

Pesadelo da maior parte das famílias, a inflação estimada para o ano subiu pela 15.ª semana consecutiva, segundo a pesquisa Focus, uma consulta feita pelo Banco Central (BC) junto a cerca de cem instituições do mercado financeiro. Em um mês a mediana das projeções para 2020 subiu de 2,99% para 3,45%. No mesmo intervalo a alta de preços calculada para o próximo ano passou de 3,10% para 3,40%. São más notícias para os consumidores, especialmente num período de pouco emprego, renda baixa e muita insegurança. Mas o quadro inclui pelo menos um aspecto positivo, ou menos sombrio. Se as expectativas se confirmarem, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), continuará abaixo da meta, de 4% neste ano e de 3,75% em 2021.

Com a inflação abaixo da meta, a taxa básica de juros, a Selic, deve ficar em 2% até o fim do ano, segundo a pesquisa Focus divulgada ontem. O superendividado Tesouro Nacional encerrará 2020 carregando juros excepcionalmente baixos. Para o fim de 2021 a projeção indica, no entanto, uma taxa de 3%, 0,25 ponto superior àquela estimada quatro semanas antes.

Essa projeção pode parecer estranha, à primeira vista. No Brasil, como na maior parte do mundo, os dirigentes dos bancos centrais têm-se mostrado dispostos a manter a política de juros baixos e crédito fácil por muito tempo, para dar espaço à recuperação dos negócios e do emprego.  No caso brasileiro, a orientação será mantida, segundo a autoridade monetária, enquanto duas condições forem observadas: 1) a expectativa de inflação deve permanecer compatível com a meta; 2) o Executivo deve manter o compromisso de condução responsável das contas públicas. Deste compromisso dependerá a evolução da dívida bruta.

Dúvidas sobre o compromisso com a responsabilidade fiscal continuam marcando o dia a dia do mercado. As preocupações aparecem na oscilação dos juros e, de modo mais sensível, na instabilidade cambial. O dólar tem estado mais barato do que até recentemente, mas sem sinal de acomodação. A cotação da moeda americana caiu, na manhã de ontem, mas em seguida subiu, depois de uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes. A fala, segundo fontes do setor financeiro, decepcionou quem esperava alguma indicação positiva sobre as condições fiscais em 2021.

A cobrança de sinais mais claros sobre a condução das finanças públicas tem sido feita, de modo muito diplomático, também pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Executivos do mercado financeiro também têm mostrado inquietação diante do cenário fiscal obscuro. O Orçamento federal do próximo ano continuava indefinido ontem. Não se sabia se a programação financeira do poder central para 2021 estará mais clara no fim de novembro.

A incerteza sobre as contas públicas pode afetar perigosamente as expectativas de inflação. A instabilidade cambial é uma das formas de transmissão da insegurança para os preços. O efeito inflacionário da alta do dólar tem sido facilmente observado. Mas o desajuste das contas fiscais pode afetar os preços de forma ainda mais desastrosa. Um amplo desarranjo das finanças oficiais pode produzir, nos casos mais graves, a chamada dominância fiscal. Quando isso ocorre, o aperto da política monetária pelo BC deixa de funcionar como remédio para a inflação. Pior que isso: produz o efeito contrário.

Uma elevação de juros pode normalmente gerar duas consequências, a contenção de preços e o encarecimento da dívida pública. Em situações de dominância fiscal, a desconfiança crescente em relação à dívida afeta o fluxo de recursos, mexe no câmbio e realimenta a inflação. O aperto monetário deixa de funcionar como instrumento de ajuste e se converte em fator inflacionário, gerando uma situação descrita por alguns economistas como o pior dos mundos. Não há, até agora, dominância fiscal no Brasil. Mas sobram razões para o governo se comprometer claramente com a seriedade fiscal e com o controle da dívida, deixando em segundo plano os objetivos pessoais do presidente da República.

 Opinião - O Estado de S. Paulo

 

sábado, 31 de outubro de 2020

Incompetência e a barreira dos 100% - O Estado de S. Paulo

 Adriana Fernandes

Com a perspectiva de recorde negativo, País pode enfrentar em 2021 uma crise da dívida

Em dezembro de 2017, o governo anunciava que um dos principais indicadores da sustentabilidade das contas públicas estava perto de atingir um limite perigoso. O Banco Central tinha acabado de projetar que a dívida bruta do País fecharia em valor bem perto de 80% do PIB no ano seguinte. Chegar a 80% era considerado na época uma espécie de barreira a ser evitada a qualquer custo, a partir da qual, se rompida, a leitura seria imediata: um aumento considerável dos riscos para a execução das políticas monetária e fiscal diante da percepção de uma trajetória explosiva do endividamento público. Agências de classificação de risco entendiam que esse patamar indicava um quadro de descontrole da dívida para economias emergentes com o perfil como o do Brasil

[Até não peritos em economia - nosso caso - percebem que a matéria manipula dados, de forma a  que o já péssimo, pareça pior.
A dívida pública estar próxima a  80% do PIB, em 2017, e agora ultrapassar os 90% tem como razão a pandemia. Em 2017, o PIB usado como referência não era um PIB chinês, mas era bem mais encorpado do que o de agora - afinal,  a causa de todos os males, a engarrafadora de vento, seria expelida e as perspectivas eram boas.
Agora temos a maldita peste que reduziu o PIB e aumentou os gastos - aqui, os bilhões que os governadores tem para gastar como e no que quiserem -  óbvio que a referência diminuindo e os gastos aumentando, o percentual sobe.
Outros pontos da matéria, deixam claro que a articulista torce evidentemente pelo fracasso do governo Bolsonaro = fracasso do Brasil]. 

Pois nessa sexta-feira, o BC anunciou oficialmente que a dívida bruta ultrapassou a barreira de 90% do PIB. E o Ministério da Economia reconheceu, pela primeira vez, que o indicador vai ultrapassar os 100% do PIB nos próximos anos. Pelas novas projeções, o Brasil fecha 2020 numa combinação perversa: as dívidas bruta e líquida  (que desconta as reservas internacionais) chegam ao final do ano em patamares recordes. O pico anterior da dívida líquida, que por muitos anos cumpriu o papel de principal indicador de solvência do Brasil, tinha sido na crise econômica brasileira de 2002.

Naquela época, a dívida líquida havia subido por conta da alta do dólar provocada pelo temor de que Lula, caso eleito presidente da República, daria um calote. Com o compromisso assumido pelo ex-presidente de manter o tripé macroeconômico, o dólar caiu e a dívida líquida também.
Agora, como Brasil tem hoje mais ativos do que passivos em dólar, a queda da moeda norte-americana não reduz o endividamento como aconteceu em 2002. Pelo contrário, pode até piorar se o câmbio recuar. O problema, portanto, passa a ser estrutural.

A perspectiva de duplo recorde negativo da dívida do País reforça a percepção de que o governo flerta com a falta de planejamento e pode enfrentar em 2021 uma crise da dívida. Além do fantasma da segunda onda do coronavírus, que já é realidade na Europa, enquanto o Brasil ainda nem saiu da primeira. Se o governo precisar injetar mais recursos na economia, como fazem agora os países europeus, a demora e a desorganização para a arrumação da casa trará custos ainda maiores.
Pela fotografia de hoje dos números projetados pelo próprio governo, Bolsonaro entrega para o seu sucessor, mesmo que seja ele próprio no caso de uma reeleição, um quadro muito pior daquele que foi entregue ao ex-presidente Lula.

Impossível não deixar de registrar que, enquanto a espiral negativa cresce, a semana passou com o presidente da República concentrado em reduzir tributo para videogames, renovar incentivos para a indústria automobilística, e acirrar disputas políticas sobre vacinas. O ministro Paulo Guedes renovou mais uma vez a guerra santa com seu desafeto e colega de Ministério, Rogério Marinho, e de quebra subiu o tom dos ataques à poderosa Febraban, a associação dos grande bancos.

O articulador político do governo, o ministro Luiz Eduardo Ramos, que deveria estar em campo para encaminhar os problemas, se envolveu numa briga de tuítes com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Se não bastasse esse cenário de desgoverno, a ciranda chegou até o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e foi parar no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Tudo isso numa única semana.

Líderes governistas dizem que tudo estará encaminhado até o final de 2020 e que há uma tentativa de pintar o caos. Talvez seja isso que eles queiram. Deixar passar no Congresso tudo bem rapidinho com aquelas votações relâmpagos de fim de ano - chamadas de fim do mundo - que só se descobre o estrago tempos depois. O caos são eles!

 Adriana Fernandes, colunista - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Maia ofende Campos Neto, presidente do Banco Central, nas redes sociais, mas depois recua

Presidente da Câmara havia se queixado do presidente do BC por suposto vazamento de conversa telefônica. Mas em seguida alegou que a ação teria sido de terceiros e afirmou ter confiança no chefe da instituição financeira. Impasse na votação da LDO causa atrito entre o Legislativo e o Executivo. As críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), agora chegaram ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Maia acusou Campos Neto de ter vazado à imprensa uma conversa dos dois sobre o impacto da crise política no andamento das pautas econômicas. E atacou: "Atitude não está à altura de um presidente de Banco de um país sério". 
"A atitude do presidente do Banco Central de ter vazado para a imprensa uma conversa particular que tivemos ontem não está à altura de um presidente de Banco de um país sério", reclamou Rodrigo Maia, nas redes sociais, na manhã desta quinta-feira (29/10).

O parlamentar se referia a uma conversa com o presidente do BC que veio à tona na noite de quarta-feira (28/10), após Campos Neto telefonar para Maia para manifestar preocupação em relação ao impacto da crise política no andamento das pautas econômicas. Depois da crítica, contudo, Maia voltou ao Twitter para informar que recebeu uma ligação de Campos Neto, que negou ter divulgado o conteúdo dessa conversa à imprensa. "Diante da palavra do presidente, o vazamento certamente foi provocado por terceiros. Deixo aqui registrado a ligação e a confiança que tenho nele", escreveu o deputado.

A Câmara está com as votações suspensas por conta de obstrução do Centrão de Arthur Lira (PP-AL), que quer emplacar a deputada Flávia Arruda (PL-DF) na presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO), apesar do acordo que havia sido realizado no início do ano para que o cargo ficasse com Elmar Nascimento (DEM-BA), aliado de Maia. [Maia se acostumou a se considerar, e ser considerado por alguns,  o 'dono' da Câmara - condição que acumulava com a de autonomeado primeiro-ministro;  - agora, encontra resistência e não se conforma com  o inicio do fim do poder que pensava ter.] quando encontra resistência nO atraso na instalação da CMO também tem preocupado o Tesouro Nacional, que não sabe como vai executar o Orçamento no início do próximo se a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não for aprovada. Outras pautas importantes para a equipe econômica, como as reformas e as privatizações, também não têm avançado no Legislativo.

O presidente do Banco Central teria mostrado preocupação especialmente em relação às reformas, pois a autoridade monetária entende que o andamento dessa agenda é fundamental para afastar as incertezas sobre o ajuste fiscal e, assim, garantir a manutenção dos juros baixos e da inflação baixa. Nessa quarta-feira, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros (Selic) em 2% ao ano, mas avisou que "questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia".

Como já havia feito ao ser questionado sobre esse impasse pela imprensa nesta semana, Maia teria dito a Campos Neto que a obstrução parte da própria base do governo, que agora inclui o Centrão. "Não sou eu que estou obstruindo, é a base do governo", reclamou à imprensa. Na ocasião, o deputado ainda disse esperar que "o governo tenha mais interesse e a própria base tire a obstrução da pauta da Câmara" quando chegar a hora de votar a PEC Emergencial e a reforma tributária.

Impasses
Rodrigo Maia também já se desentendeu, diversas vezes ao longo da pandemia de covid-19, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a agenda econômica. O parlamentar não concorda, por exemplo, com a proposta de Guedes de recriar a CPMF. E o ministro já acusou o deputado de ter feito um acordo com a esquerda para emperrar as privatizações. Recentemente, contudo, os dois fizeram as pazes, em um jantar simbólico com deputados e ministros do Tribunal de Contas da União.

A união entre Maia e Guedes visa garantir a manutenção do ajuste fiscal e do teto de gastos, bem como o andamento das reformas. Afinal, o governo vem sofrendo pressão para aumentar os gastos em 2021 e parte do mercado já acredita que o teto de gastos será rompido por conta de discussões como a do Renda Cidadã. Maia e Guedes vêm dizendo, portanto, que qualquer novo programa ficará dentro do teto e que o Orçamento de Guerra não será prolongado para 2021. Recentemente, portanto, as críticas de Maia ao governo estavam centradas no ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Política  - Correio Braziliense




quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Não faltou aviso - William Waack

O Estado de S. Paulo

Banco Central adverte: Caso o governo abandone o rigor fiscal, ficará provado que, no Brasil, a História pouco serve de lição e se repete como farsa cada vez mais trágica

Jamais terá sido por falta de aviso. Caso o governo brasileiro abandone o rigor fiscal em troca de popularidade – possibilidade que mercados passaram a considerar real –, ficará provado que, no Brasil, não só a História pouco serve de lição. Ainda por cima se repete como farsa cada vez mais trágica.

Parece até mesmo um ciclo maldito. Sarney se encantou com a popularidade trazida pelo Cruzado e prorrogou medidas “temporárias” até cair na hiperinflação. Lula abandonou os superávits primários depois da vitória de 2006, derrotando as consequências do mensalão. Na doce conversa das medidas contracíclicas para combater a crise de 2008, e atrás de dividendos políticos, Dilma expandiu o intervencionismo fiscal até cair nas pedaladas.

“A história se repete agora” foi uma frase muito usada entre agentes de mercado nos últimos dias, chegou aos andares de comando em grandes corporações e esfriou consideravelmente ânimos de investidores. Esse estado de espírito se consolidou no alerta feito na terça à noite pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que foi contundente (para os padrões convencionais de um “central banker”) ao admitir que a credibilidade da política econômica do governo está arranhada, que a fragilidade fiscal contribui para a desvalorização da moeda brasileira e que o País já perde fluxo de capitais por conta das políticas ambientais.

A questão para quem toma decisões na economia, prosseguiu Campos Neto, não são tanto os prazos de reformas e o calendário eleitoral, mas qual a trajetória que se pretende seguir além do fim do ano. É um ponto de interrogação respondido até aqui com a reiteração de um conjunto de intenções (“privatizar”, “desburocratizar”, “avançar nas reformas”), no momento dependentes das eleições municipais e da sucessão das duas Casas Legislativas. Ou seja, “mañana”.

Nos círculos bem dentro do governo o aviso estridente do presidente do Banco Central foi entendido como um recado ao próprio Bolsonaro. Teme-se no Ministério da Economia que o presidente se sinta em prazo não muito distante na contingência de ter de ligar para Campos Neto e pedir para ele não subir os juros. Pois é o “sentir” de Bolsonaro em relação à política – nada fazer que arrisque perda de popularidade – a principal causa da apenas aparente dificuldade de se aprovar matérias relevantes: “até as eleições vamos para uma agenda de baixo custo político”, resume um dos homens mais próximos ao presidente.

Custo político é fácil de definir: qualquer decisão em qualquer das áreas que tem impacto direto na questão fiscal (tributária, administrativa e do pacto federativo) causará prejuízos a grupos organizados (econômicos, políticos, corporativos), a entes como municípios e Estados e a agrupamentos como igrejas. Não tomá-las também, com o agravante de que a conta fiscal não está esperando que o peculiar mundo do poder em Brasília se mova em qualquer direção.

A única direção clara é Bolsonaro ter subordinado tudo ao projeto de reeleição. Alguns de seus ministros mais próximos admitem em conversas particulares que as agendas de reformas e transformação poderiam ter sido tocadas de forma mais rápida, que esperar pelas eleições municipais era desnecessário para tratar de renda básica, que o presidente, ao “dar uma virada na política” e conseguir “domar o establishment” (qualquer que seja o significado disso), entregou a chave do cofre para o Centrão e que agora ele precisa de mais um mandato para realizar o que prometeu antes de ser eleito em 2018.

Autoengano, indicam episódios da nossa História, é coisa contagiante e, às vezes, vira fenômeno coletivo.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 8 de outubro de 2019

Reduzir a burocracia no câmbio é passo na direção certa - Míriam Leitão

CBN - O Globo

Na era do dinheiro digital, o Brasil ainda é um país fechado demais na área cambial. Não faz sentido. São regras demais, muitas regulações. O BC divulgou uma série de iniciativas para desburocratizar o mercado de câmbio no Brasil e enviou o projeto para o Congresso na segunda-feira. O país criou uma série de barreiras à saída de dólares nos anos 1960 e 1970. A economia enfrentava uma crise cambial porque havia poucas reservas, uma dificuldade para o balanço de pagamentos. As barreiras são tão sem sentido que elas acabam barrando a entrada de dólares. Um acadêmico, por exemplo, que publicou um artigo em revista internacional vai penar para cumprir todas as regras para internalizar os recursos. Tem que haver sim um controle para combater os crimes financeiros. Mas essa é a era do trânsito intenso de moeda entre países, e o Brasil está atrasado.

Outra característica ultrapassada do nosso mercado é a concentração das operações. Elas só podem ser feitas por bancos e corretoras. A proposta do BC é que as fintechs também possam realizar determinadas operações cambiais.  

O BC informou que há 400 artigos regulando o mercado de câmbio atualmente. Diversas dessas regras envelheceram. Foram pensadas para o dinheiro físico, algumas são dos anos 1930. O Brasil hoje tem inflação em torno de 3%, o que era a taxa diária há algumas décadas. As condições mudaram muito.  O BC dá passos na direção correta, mas que não garantem o câmbio livre e a moeda amplamente conversível. O projeto será discutido no Congresso, que pode até aperfeiçoar a proposta original. Ainda não está contemplada, por exemplo, a possibilidade de pessoas físicas terem conta em dólar aqui no Brasil. Pelo projeto, isso seria possível para empresas.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, me disse que essas agendas não têm tanto apelo. São pequenas mudanças em várias regulações. Mas são necessárias. A limpeza dessa regulamentação velha e a derrubada de barreiras são mais importantes para a economia do que podem parecer no primeiro momento. 

LEIA MAIS NO GLOBO
BC propõe desburocratizar mercado de câmbio

Blog da Míriam Leitão 

 

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

A ameaça externa - Nas entrelinhas

A China é o maior parceiro comercial do Brasil; os Estados Unidos, o segundo. O choque entre ambos transforma a economia brasileira numa espécie de marisco

 A primeira fala séria de uma autoridade de primeiro escalão do atual governo sobre a situação internacional não veio do Itamaraty, veio do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem, no debate Como fazer os juros caírem no Brasil, promovido pelo Correio. Segundo ele, no momento, a maior ameaça à economia brasileira é a guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China, o México e parte da Europa. A escalada da guerra comercial, que agora virou uma guerra cambial, continua, e seus efeitos negativos estão se espalhando pelo mundo.

Quando os Estados Unidos começaram a sobressaltar importações, especialmente da China, se imaginava que o efeito seria um pouco mais de inflação e, consequentemente, a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos e na Europa. Segundo Campos Neto, o que houve foi outra coisa: queda da inflação, em razão da baixa atividade econômica. Como já estava muito baixa ou negativa na maioria dos países desenvolvidos, nesse cenário, a taxa de juros deixou de ser um instrumento para aumentar a atividade econômica.Além da guerra comercial, segundo Campos Neto, dois problemas afetam a economia global, inclusive a brasileira: o envelhecimento da população europeia, a exemplo do que aconteceu no Japão, e a escalada de tensões políticas em decorrência das atitudes de Trump. É o caso da crise dos EUA e da Inglaterra com o Irã e seu impacto no Estreito de Ormuz, na rota do petróleo que abastece o Ocidente. Na política mundial, as ações intempestivas de Trump são um fator de instabilidade econômica, pois inibem a tomada de decisões quanto aos investimentos.

Campos Neto não disse, mas a realidade escancara: o alinhamento automático do presidente Jair Bolsonaro com Trump — cujo lance mais polêmico é a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o estratégico posto de embaixador do Brasil em Washington — está em contradição com essa realidade do cenário internacional. Corrobora e segue a reboque de uma política internacional danosa à nossa inserção na economia global. A China é o maior parceiro comercial do Brasil; os Estados Unidos, o segundo. O choque entre ambos transforma a economia brasileira numa espécie de marisco. Agarrar-se ao rochedo não impede o impacto da onda.

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Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Um ano de crescimento fraco - Míriam Leitão



A atividade finalmente cresceu em maio, após quatro meses de quedas. A alta do IBC-Br, um indicador do Banco Central, foi de 0,54% na comparação com abril. O dado positivo corrige um pouco a queda dos últimos meses nesse indicador. O IBC-Br tem fórmula diferente do cálculo do PIB, feito pelo IBGE. Mas o que já se sabe é que esse é um ano de crescimento mais fraco que em 2018 ou 2017.

Estacionamento de shopping vazio

A economia não está em recessão, mas não sai do ponto-morto. Infelizmente, a alta do IBC-Br não é o reinício da retomada. Os dados estão oscilantes, às vezes negativos, outras vezes positivos. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, me disse semana passada que no segundo semestre haverá um ponto de inflexão.

A economia deve crescer mais, mas não será suficiente para garantir um crescimento robusto em 2019. O governo, também na semana passada, cortou sua projeção para o PIB de alta de 1,6% para 0,81%, em 2019. É o mesmo nível da mediana das projeções no relatório Focus, com expectativas de especialistas. Há 20 semanas seguidas essa estimativa sofre quedas. Os novos números do segundo semestre poderão confirmar se a expectativa de Campos Neto.

O Globo - Coluna da Miriam Leitão


sexta-feira, 12 de julho de 2019

BC acha que país cresce em 2020

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, define a aprovação do texto base da reforma da previdência como “uma vitória dos brasileiros”, admite que isso aproxima mais o tempo da queda dos juros e acredita que no segundo semestre o país inverte acurva para voltar acrescer. Ele está debruçado em questões microeconômica sequer a redução do custo do dinheiro também para os tomadores finais, principalmente os do crédito emergencial. “Por um estudo que fizemos, 50% das pessoas que usam o cheque especial ganham até dois salários mínimos, 67% têm educação básica, e o comprometimento da renda é muito alto para um taxa de juros de 325%”.

Roberto Campos Neto fica com um olho nas questões macro e outro nas mudanças micro que o Banco Central quer estimular para o mercado de crédito funcionar melhor. Ele é contra vender reservas para fazer investimento. Conta que apresentou para o ministro da Economia, Paulo Guedes, o plano de reduzir o recolhimento obrigatório dos bancos para liberar mais recursos para a economia. Guedes chegou a falar em R$ 100 bilhões. No macro, ele disse que a reforma aprovada esta semana em primeiro turno na Câmara foi um grande passo: —Foi uma vitória dos brasileiros, do Congresso, de todos os deputados que votaram. Não é todo dia que agente vê multidões nas ruas pedindo reforma da Previdência. É muito importante para a economia, é um problema fiscal nunca resolvido. É um primeiro passo, mas há outros como os juros da dívida, a reformado Estado para melhorara percepção do Brasil pelo investidor estrangeiro, que vai estimular o investimento local e privado. Estamos no caminho certo.

Eu o entrevistei ontem na Globonews. Ele vinha dizendo em seus comunicados que a queda da Selic depende do clima externo, do hiato do produto e das reformas. O clima externo melhorou, o país não está crescendo, e as reformas avançam. As condições estão dadas para os juros caírem? Ele responde admitindo que recebeu uma boa herança da administração anterior. Depois, afirma que o cenário externo está mais “benigno” e houve uma “interrupção” do crescimento: — Nessa linha, um avanço nas reformas faz com que o cenário fique mais benigno.

A inflação em 12 meses caiu para 3,3%, com a divulgação da taxa de junho. Mas a previsão de crescimento está caindo há 19 semanas. Perguntei o que o BC pode fazer pelo crescimento: — O Banco Central é muito preocupado com o crescimento. Mas a melhor forma de atingir um crescimento sustentável de longo prazo é exatamente ter credibilidade na política, o que nós nunca vamos fazer é trocar o crescimento de curto prazo por inflação. Essa troca foi feita no passado, foi um experimento que não deu certo.

A sua expectativa é a de que o país já no segundo semestre tenha uma melhora do ritmo de crescimento: — Acho que depois da reforma da previdência vamos para outras reformas. Aqui nós temos uma agenda microeconômica, que não é tão sexy quanto a agenda macro, mas cria estímulos, impulsiona. No segundo semestre haverá um ponto de inflexão e no ano que vem vamos crescer.

A redução do custo do crédito está nos estudos do BC. No caso do cheque especial, uma ideia é cobrar tarifa de todo mundo que tem limite para baratear o produto para os juros promete usar a regulação caso os bancos cobrem tarifas e não reduzam os juros. Campos Neto estuda inovar nas modalidades de crédito criando condições para que, como em outros países, uma pessoa dona de imóvel que se valorizou possa transformar parte da operação de crédito. Lembrei a ele que assim começou a crise do sub prime: Exatamente, e isso se evita com regulação. No Brasil a alavancagem é próxima de zero, nos Estados Unidos chegou a 40%,50%. Outra coisa é inibira estrutura de derivativos.

Perguntei sobre venda de reservas para ajudar as contas públicas, e ele explicou que as reservas têm dado lucro. De R$60 a R$ 70 bilhões nos últimos dez anos:Mas a história de vender reservas para fazer investimento eu acho totalmente incoerente com o que nós estamos pregando. Sobre os compulsórios, que teoricamente liberaria mais recursos para que os bancos emprestem aos tomadores, ele disse que o Banco Central trabalha hoje com um volume de R$ 500 bi. Acha que talvez seja possível trabalhar com um volume menor de compulsório.
 
Publicado em O Globo - Coluna da Míriam Leitão
 
 
 

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Flávio Bolsonaro: a bola está com Roberto Campos Neto

O Ministério Público do Rio ingressou com a medida cautelar no caso Flávio Bolsonaro.

O Tribunal de Justiça deferiu e quebrou os sigilos fiscal e bancário do senador e de mais 85 pessoas, além de nove empresas.

Agora, cabe ao Banco Central atender à determinação judicial. Será que vai demorar?


Ancelmo.com - O Globo
[o que se espera é que o Banco Central dê ao assunto o mesmo tratamento, a mesma prioridade que dedica a qualquer pedido idêntico. Por se tratar de um senador da República e filho do presidente da República, não merece ser retardado nem apressado.
A propósito: os vazamentos continuam. 
E quando o Coaf vai revelar quem vazou o caso Fabricio Queiroz.] 

 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Preservar o BC que deu certo

Manter a vitoriosa política seguida no BC, sob a liderança de Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três diretores aprovados no Senado

Manter a vitoriosa política seguida no Banco Central (BC) por quase três anos, sob a liderança do presidente Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três novos diretores aprovados ontem pelo Senado. Transparência, cautela, serenidade e perseverança formaram a base da política monetária nesse período, disse o economista Roberto Campos Neto, indicado para a presidência da instituição. Será preciso, acrescentou, preservar esses valores e, se for possível, aprimorar a política. Ao citar aqueles valores, ele repetiu, com acréscimo da palavra transparência, o lema contido na ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), a última conduzida sob a chefia de Goldfajn. 

Igualmente significativa foi a referência, no começo da exposição, à dupla missão legalmente atribuída ao BC: assegurar o poder de compra da moeda, conduzindo a inflação à meta oficial, e garantir a solidez e a eficiência do sistema financeiro. A referência a essa dupla função, definida em lei, está longe de ser mera redundância. É a reafirmação de uma política sensata e bem-sucedida, com a rejeição implícita da inovação defendida, há muitos anos, por políticos autointitulados desenvolvimentistas.

Segundo esses políticos, o mandato do BC brasileiro deveria ser igual ao do americano Federal Reserve (Fed) e incluir entre os objetivos a preservação do emprego. Os defensores dessa proposta geralmente esquecem um detalhe: as decisões do Fed sempre têm como referência uma taxa de inflação moderada e compatível com a melhora sustentável da condição do emprego.Também tem sido essa a orientação da política monetária no Brasil, embora seus objetivos sejam formalmente mais limitados. A redução da taxa básica de juros de 14,25% para 6,50% expressa com clareza uma tentativa de criar, com a necessária prudência, condições favoráveis à expansão dos negócios e do emprego. 

A ampliação oficial do mandato, é fácil prever, abriria espaço à cobrança política de maior tolerância à inflação. É preciso, disse Campos Neto, resistir à falácia “do estímulo inflacionário”. Como comprova a experiência, acrescentou, “o controle da inflação é condição necessária para o crescimento de longo prazo”. Indicado para a diretoria de Política Monetária, o economista Bruno Serra Fernandes também defendeu, basicamente, o prosseguimento da orientação seguida a partir de 2016. Isso inclui a continuação da política de juros e a manutenção do câmbio flutuante como primeira linha de defesa contra choques externos. A ideia de continuidade também caracterizou a apresentação do indicado para a Diretoria de Organização do Sistema Financeiro, João Manoel Pinho de Mello. 

Mas continuidade inclui também o prosseguimento das inovações trazidas pelo programa BC+, criado na gestão do presidente Ilan Goldfajn. Essa política estimulou, nos últimos anos, o avanço das fintechs e a criação de um sistema de pagamentos mais eficiente. O incentivo a mudanças tecnológicas levará a maior eficiência na prestação de serviços e menor custo. Mais segurança e mais competição darão espaço, disse Pinho Neto, a juros menores para o tomador do crédito.  Os três indicados deram ênfase à pauta de mudanças iniciada pelo programa BC+. A eficiência e a confiabilidade das políticas serão reforçadas, concordaram, se consagrada em lei a autonomia do BC. 

As exposições de Bruno Serra Fernandes e João Manoel Pinho de Mello foram quase estritamente técnicas. A de Roberto Campos Neto incluiu uma profissão de fé liberal e desestatizante e referências elogiosas à orientação econômica do novo governo. Ele chegou a declarar-se “perfeitamente alinhado” a essa orientação, voltada para a “ampliação de espaços para a atividade privada em vários aspectos de nosso cotidiano”. Mas esse alinhamento, espera-se, jamais deverá atrapalhar o cumprimento das funções próprias do BC – como um aperto monetário, se as finanças públicas ou fatores externos prenunciarem pressões inflacionárias. Fazer o necessário garantiu o sucesso do BC nos últimos anos. Manter esse padrão já será um grande feito dos novos diretores.

Editorial - O Estado de S. Paulo


 

 

sábado, 17 de novembro de 2018

A equipe começa a ser formada

Mansueto fica e Campos Neto é indicado para comandar um projeto de BC independente como defende Ilan, que está de saída


Ilan Goldfajn ficou fechado, em total silêncio, enquanto se especulava se ele permaneceria ou não. Havia interesse em que ele ficasse até pela convergência natural entre a defesa do Banco Central independente pelo futuro ministro da área econômica, Paulo Guedes, e por Ilan, que ontem prometeu em nota continuar a apoiar o projeto nesse sentido em tramitação no Congresso. Mas um dos critérios para seguir no cargo era demonstrar interesse em ficar, o que não foi o caso do atual presidente do BC. O secretário do Tesouro Mansueto Almeida fica e mantém toda a sua equipe. Ana Paula Vescovi tem dito a todos que a procuram que quer ir para o exterior estudar.

Com a escolha de Roberto Campos Neto para presidir o BC, a equipe econômica começa a tomar forma. A ideia de Paulo Guedes sempre foi aprovar o Banco Central independente, o que é um passo adiante na autonomia que tem havido no órgão em alguns momentos. Ilan Goldfajn teve total autonomia e entregou o excelente resultado, reconhecido na área econômica do futuro governo, e comprovado pelo menos em dois indicadores. A inflação que estava perto de dois dígitos caiu abaixo do piso da meta e, com toda a turbulência do processo eleitoral, chega ao fim do ano no centro da meta. O segundo é a queda da taxa de juros para o menor nível da história do real, uma redução consistente, que atravessou estável esse período tenso. Ilan foi também ágil e firme nos momentos de maior tensão no mercado cambial. Avisou que só os efeitos secundários da mudança do patamar do câmbio seriam combatidos, ou seja, não subiria juros na vã tentativa de criar um patamar para o dólar.

Dentro da equipe que prepara o governo Bolsonaro há dois critérios para os convites, segundo um desses integrantes. “É preciso ter feito um bom trabalho”, o que é o caso de Ilan e estar com vontade de permanecer no novo governo. Ontem no fim do dia, o presidente do BC explicou que “seu afastamento do cargo se dá por motivos pessoais” e que ficará no BC até que a indicação de seu sucessor s
eja aprovada pelo Senado.
Roberto Campos Neto é definido com uma palavra na equipe de transição: “excelente”. Atualmente no Santander, ele tem bastante experiência no mercado financeiro e já vinha colaborando com a equipe do novo governo. Foi escolha pessoal de Paulo Guedes, como tinha que ser. Chega com o desafio de manter a política monetária, mas ao mesmo tempo criar as condições para o aumento da competição no mercado bancário. Paulo Guedes vem dizendo desde a campanha que tem interesse em reduzir o custo da dívida pública e a própria dívida. Chegou a falar, depois da eleição, em vender parte das reservas cambiais com esse objetivo. Esta não é uma operação trivial.

O nome foi bem aceito pelos investidores. O fundo que acompanha os principais papéis de empresas brasileiras em Nova York acelerou a alta durante o dia, com as notícias sobre a indicação de Campos Neto. O EWZ subia mais de 2% à tarde. Isso indica que a bolsa por aqui deve abrir a sexta-feira em alta.  A permanência de Mansueto no Tesouro é importante por inúmeras razões. É um grande economista, com sólido conhecimento da máquina pública, e está tocando assuntos complexos como o quadro fiscal nos estados. Ele acompanha com o cuidado devido as bombas fiscais que estão armadas no Congresso e sabe como lidar com temas espinhosos que normalmente suscitam reações políticas. 

Depois dos grandes erros cometidos pelo governo Dilma na Secretaria do Tesouro, Mansueto, e antes dele, a economista Ana Paula Vescovi, tiveram que resolver problemas de muitos anos antes. Não haverá solução fácil para o rombo fiscal do governo federal e dos governos estaduais, mas a atual equipe melhorou a qualidade das políticas públicas, dos indicadores e está fazendo uma correta transição administrativa, só comparável à que foi feita entre os governos Fernando Henrique e Lula. No caso dos estados, a convicção na equipe do governo Temer é que sem a reforma da Previdência não haverá melhora duradoura. Mas há formas de atenuar, como se pôde ver no Rio de Janeiro.

O governador Luiz Fernando Pezão conta que reduziu os gastos de pessoal como
 proporção da Receita Corrente Líquida de 70% em 2017 para 46% em outubro de 2018. E garante ter cumprido 12 das vinte metas. No governo federal a expectativa não é assim tão boa, mas os técnicos estão convencidos de que o estado se enquadrará abaixo do limite de 60%. O caso do Rio é importante porque é o único estado que entrou no Regime de Recuperação Fiscal. O Rio Grande do Sul não conseguiu e Minas nem foi conversar, preferindo tentar as liminares na Justiça. A melhora no Rio é em parte pela alta do petróleo — que a propósito voltou a cair —, mas também porque a partir do enquadramento no RRF houve mais disciplina. Não são poucos os desafios que esperam a nova equipe econômica que está sendo formada.