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segunda-feira, 26 de março de 2018

Direitos humanos são coisa séria - não podemos, jamais, preterir os HUMANOS DIREITOS do exercício dos DIREITOS HUMANOS priorizando os 'direitos dos manos'

Querem executar os direitos humanos

Em 1964 no condado de Neshoba, no Missisipi, três jovens militantes do direitos civis, um negro e dois judeus, atuavam ajudando a registrar eleitores negros, numa campanha de aumentar a participação de negros nas eleições. Foram perseguidos, emboscados e executados. O governo da União dos EUA interviu no caso, e como houve resistência das autoridades locais, colocou quase duzentos agentes federais na cidade.

Quarenta e um anos depois, Edgar Ray Killen, um pastor Batista, então com 80 anos, foi condenado a 60 anos por ter planejado o assassinato e ter recrutado uma multidão para perseguir os jovens. Ele faleceu na prisão em janeiro de 2018 aos 92 anos. Apesar das críticas a atuação do FBI no caso, o recado do governos americano foi claro: quem atentar contra o estado democrático de direito dos EUA, não importa quem seja, não importa o tempo que leve, nós iremos atrás de você com tudo. Esse crime gerou uma onda de indignação geral e acabou por contribuir para a criação da Lei dos Direitos Civis, que pôs fim aos diversos sistemas estaduais de segregação racial nos Estados Unidos.

Em 1975 Vladimir Herzog, o Vlado, foi assassinado numa sessão de tortura no DOI-CODI de São Paulo. Militante do PCB, Vlado se apresentou voluntariamente pra prestar esclarecimentos e acabou torturado e morto, a versão oficial foi a de que havia se suicidado. Vlado era judeu, e como suicida deveria ser enterrado do lado de fora do cemitério israelita, porém o rabino Henry Sobel se recusou a tal indignidade e seu enterro se tornou num ato político contra a ditadura que juntou vários líderes de outras religiões como Dom Evaristo Arns, e apesar do bloqueio policial, a multidão compareceu em peso. A morte de Vlado impulsionou a mobilização contra a ditadura.

14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco, militante dos direitos humanos, negra, assumidamente bissexual, é executada em uma ação extremamente complexa, que entre outros fatores contou com disparos agrupados em ângulo preciso apesar do carro que ela ocupava ter vidros escurecidos, o ataque foi realizado em um local sem câmeras de vigilância, um carro clonado foi utilizado na ação, munição desviada da polícia federal, do mesmo lote de chacinas policiais em SP foi utilizada, a característica de execução não foi sequer disfarçada, como é comum em atentados contra a vida de pessoas com mandato ou que possam causar repercussão na sociedade.

Em todos os três casos a luta entre a defesa dos direitos humanos, do estado democrático de direito entrou em choque direto com grupos reacionários, incrustados nas estruturas de poder, com cumplicidade do estado e apoio social, interessados em manter velhas e anacrônicas instituições antidemocráticas, mas apesar de seu anacronismo, ainda reverberam dentro da sociedade e teimam em morrer. Apesar da tragédia, quando uma mãe e um pai foram arrancados de sua existência, pulularam nas redes e na imprensa ataques a Marielle, desde dúvidas sobre suposto envolvimento com traficantes, pois uma mulher negra de favela só poderia ser eleita com apoio do tráfico, desfeita essa falácia com a objetividade do mapa de votação dela, se partiu para ataques pessoais mais graves, seu suposto envolvimento quando adolescente com um dos maiores líderes do tráfico carioca, traição a uma determinada facção criminosa, defensora de traficantes e bandidos até o mais terrível de todos os ataques, a relativização de sua tragédia, por ser mais uma dentre as milhares de vítimas anuais, a desconstrução de sua subjetividade, rejeitando sua condição de mulher, negra, favelada, afinal não foi por isso que fora morta, mas questionando como a sociedade se comoveu tanto por apenas mais uma assassinada, e os milhares de pais de família e as centenas de policiais mortos? [o questionamento continua válido, não devido a condição pessoal e política da vítima, e sim por ser apenas mais um cadáver,  cujo valor é rigorosamente igual ao do próprio Anderson, ao de qualquer policial morto e também ao do garoto Benjamin.
 Que motivo existe para o cadáver da vereadora causar mais comoção do que o cadáver de milhares de brasileiros que são assassinados a cada ano?]
 
Realmente é raro a morte de um negro, em especial, uma mulher negra, favelada, causar tanta comoção. Como é raro uma mulher negra, favelada ser eleita. Sua morte provavelmente foi pelo incômodo que causou a determinado grupo, e a comoção por sua morte ainda causa incômodo, seja por sua posição política à esquerda, num momento histórico em que as esquerdas se desmontam no mundo, e em especial no Brasil, pagam o preço da corrupção e do desastre econômico, seja por ser ela uma defensora dos direitos humanos, os quais causam repulsa no brasileiro médio que busca em nomes como o de Bolsonaro o escape tanto para a esquerda, quanto para a agenda dos direitos humanos e da democracia, em crise também, demonstrada pela aversão aos políticos, aos partidos e às instituições democráticas, tendo em contraposição, as forças armadas, instituição de força, hierarquia, nacionalismo, seriedade e austeridade quase messiânica na visão desse mesmo brasileiro, herdeiro do português cruzado, milenarista, do bandeirante, do positivista, do estado novista e do nacional-desenvolvimentista, projetos nacionais de visão macro, moldados na ordem e progresso, onde o indivíduo e o drama humano não têm lugar.

Uma história de escravidão e exclusão
Lembremos que ao longo do século XIX, o processo civilizatório brasileiro teve importantes avanços, os castigos públicos foram resguardados devido à forte resistência popular, até a extinção do suplício, a extinção da pena de morte, também devido a forte comoção, mas em especial, após uma luta de décadas, a abolição da escravidão, que permitiu ao estado e à sociedade entender aquelas pessoas não mais como propriedades, animais de cargas, mas seres humanos, com suas subjetividades, seus sonhos e portadores de direitos, como o de decidir sobre seus destinos e poderem lutar por suas felicidades. Embora ainda fosse um processo em germinação, e na vida real, essa multidão de libertos foi jogada à própria sorte, para serem esquecidos, como em certa medida foram, e mergulharam na invisibilidade necessária.


(...)



Uma guerra cotidiana
Ódios se acirram e esses grupos de extermínio oscilam entre a corrupção e a promiscuidade com o tráfico e a política da eliminação física do que consideram “o inimigo” que hoje paga, amanhã deve ser morto. A sociedade apoia essa política de extermínio e reclama dos direitos humanos como obstáculo para a polícia poder fazer seu trabalho e acabar com o crime no Brasil. O argumento é o de que homens armados com fuzis devem ser abatidos. A diferença se dá em que realmente um elemento armado, ainda mais com um fuzil é uma ameaça e somente o policial no local da operação pode decidir se o alveja ou tenta negociar sua rendição, decisão que deve ser tomada em frações de segundo, outra totalmente diferente é executar uma pessoa rendida e jogar seu corpo numa vala. Nenhum policial tem esse direito. Contra isso se levantava a voz de Marielle. 

(...)
 

Não quiseram somente calá-la, quiseram passar um recado claro, alto e em bom som de que não devemos atacar os interesses do crime organizado, dos grupos de extermínio e dos agente do estado envolvidos.
Gritaram alto para todos os negros e negras do país para que se calem e fiquem em seu lugar.
Gritaram alto contra os defensores dos direitos humanos para que se calem e não saiam de casa.
Gritaram alto contra a intervenção federal para que não mexa com eles
Foi um tapa na cara de todos nós.

Paulo Siqueira - LER MATÉRIA COMPLETA, clique aqui