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domingo, 22 de novembro de 2020

Um assassino premiado com a Bolsa Ditadura - Revista Oeste

Augusto Nunes

Se estivesse vivo, o assassino que encerrou sem remorsos sua torpe passagem pelo planeta estaria assinando manifestos em defesa da democracia

Márcio Leite de Toledo, paulista de Bauru, tinha 18 anos quando se engajou na Aliança Libertadora Nacional, organização de extrema esquerda fundada pelo terrorista Carlos Marighela. Tinha 19 quando foi enviado a Cuba para diplomar-se num curso intensivo de guerrilha. De volta ao Brasil em 1970, tinha 20 quando se tornou um dos cinco integrantes da Coordenação Nacional da ALN. Então com 19 anos, fazia parte do quinteto Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o “Clemente”. Da mesma forma que o Paz da certidão de nascimento, o codinome Clemente contrastava com a alma perversa de um devoto da violência.

Em outubro de 1970, numa tensa reunião secreta, os componentes da Coordenação Nacional debateram o que fazer diante do assassinato de Joaquim Câmara Ferreira, o Velho, que 11 meses antes substituíra o chefe supremo Marighela, fuzilado numa rua de São Paulo por um grupo de policiais liderado pelo delegado Sérgio Fleury. Convencido de que a ALN avançava com celeridade para a extinção, Márcio propôs aos parceiros do alto-comando uma pausa na guerra desigual. E pediu permissão para deixar o Brasil por alguns meses.

Clemente demorou dois segundos para concluir que Márcio era um desertor prestes a traí-los. Demorou duas horas para decidir que o companheiro pretendia entregar-se à polícia da ditadura e contar o muito que sabia. Demorou dois dias para convencer o restante da cúpula a avalizar seu parecer. Demorou um pouco mais para, com o endosso dos parceiros, montar um tribunal revolucionário, propor a pena capital e aprovar a sentença que, aos 20 anos, ajudou a executar numa rua de São Paulo.

Convocado para o que lhe parecia uma reunião de rotina, Márcio foi para o encontro com a morte no fim da tarde de 23 de março de 1971. Antes de sair do apartamento que lhe servia de esconderijo, o condenado que não tivera o direito de defender-se, e nem de longe suspeitava da tocaia, deixou um registro manuscrito: “Nada me impedirá de continuar combatendo”, prometeu-se. Não imaginava que fora proibido de continuar vivendo. Assim que chegou ao ponto combinado na região dos Jardins, foi abatido a tiros. Alguns foram disparados por Clemente, admitiu muitos anos mais tarde, numa entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, o terrorista em recesso.

O vídeo abaixo reproduz o trecho da conversa que transforma Clemente em assassino confesso. “Então nós fomos lá e cumprimos a tarefa”, diz o carrasco depois de resumir a decisão do tribunal revolucionário composto de três juízes com pouco mais de 20 anos de idade. “Você participou diretamente da execução, então?”, pergunta Geneton. Clemente assume a autoria do crime com a placidez de quem recita uma receita de bolo: “Essa é uma informação que até hoje eu não dei e, na verdade verdadeira, eu não dei também porque ninguém teve essa atitude de chegar e me perguntar diretamente”, divaga no preâmbulo com a expressão de coroinha que nunca roubou o vinho da missa. E então vai ao que interessa: “Participei, sim, da ação. A tiros… a tiros…”

Formada para vasculhar as catacumbas da guerra fria ocorrida durante o regime militar, a Comissão da [In]Verdade dividiu os personagens do universo que lhe cumpria devassar em torturadores a serviço da ditadura e heróis da resistência. Uns merecem o fogo do inferno. Outros, a gratidão do país (e uma Bolsa Ditadura de bom tamanho). 

Em qual dessas categorias deveriam ser enquadrados Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz e Márcio Leite de Toledo? 
O algoz pode alegar que a execução de um dissidente que também combatia a ditadura militar foi um acidente de percurso? 
Essa espécie de homicídio também foi anistiada? 
A família da vítima de um crime que o Estado não cometeu pode figurar na relação dos indenizados?
 


O pupilo de Marighella aprendeu com o mentor “a beleza que há em matar com naturalidade”
“O que quer o jornalista Augusto Nunes quando publica um artigo como este?”, quis saber o homicida aposentado em novembro de 2008, quando tornei a exumar o episódio infame. Muito simples: queria deixar claro que não há nenhuma diferença entre o torturador que matou Vladimir Herzog e o terrorista que executou Márcio Leite de Toledo. Ambos são assassinos. A Comissão da Verdade discordou. Márcio ficou fora da lista de mortos e desaparecidos divulgada no relatório final. Clemente ficou fora da relação dos responsabilizados por violências contra inimigos do regime. O assassino foi absolvido. A condenação ao esquecimento perpétuo consumou o segundo assassinato da mesma vítima. Os sherloques do passado, diplomados na escola do cinismo, decidiram que um terrorista podia tudo. Até matar o companheiro de luta armada. Haja canalhice.
Em 2010, candidato a deputado federal pelo PSB do Rio, Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz juntou o prenome de batismo ao codinome “Clemente”, adotado pelo antigo militante da ALN, expropriou o título de “Combatente da Guerra e da Paz” e foi à luta no horário eleitoral da TV. 
Como o tempo era curto, Carlos Eugênio Clemente espalhou pela internet um perfil resumido: Um dos mais valentes e temidos líderes da Ação Libertadora Nacional, homem de confiança de Carlos Marighella, o líder daquela organização. Temidíssimo pela repressão por sua coragem, furou mais de cem cercos à bala, matou pelo menos seis militares em seus confrontos nas ruas e um empresário que colaborava financeiramente com a tortura. Hoje é professor de música da UFRJ.

Faltou dizer que o professor de música já não precisava trabalhar. Graças à indenização concedida pela Comissão de Anistia, sobraram horas ociosas para a campanha. O que faltou foi voto: conseguiu apenas 567. “Eu só tive alguns segundos na televisão”, balbuciou o náufrago das urnas. A campanha serviu ao menos para mostrar que o pupilo de Marighella aprendeu com o mentor “a beleza que há em matar com naturalidade”. O serial killer dos anos 70 sempre acreditou que “ser terrorista é motivo de orgulho”. Ao morrer, em junho de 2019, o alagoano nascido em 1950 desfrutava em Ribeirão Preto da vida mansa que lhe garantira a decisão anunciada na portaria número 34 de 3 de fevereiro de 2010:

Declarar CARLOS EUGENIO SARMENTO COELHO DA PAZ, portador do CPF nº 022.477.858-75, anistiado político, reconhecer o direito as promoções à graduação de Terceiro-Sargento com os proventos da graduação de Segundo-Sargento e as respectivas vantagens, conceder reparação econômica em prestação mensal, permanente e continuada no valor de R$ 4.037,88 (quatro mil, trinta e sete reais e oitenta e oito centavos), com efeitos financeiros retroativos da data do julgamento em 13.08.2009 a 14.08.1998, perfazendo um total de R$ 577.416,84 (quinhentos e setenta e sete mil, quatrocentos e dezesseis reais e oitenta e quatro centavos), nos termos do artigo 1º, incisos I e II, Parágrafo Único da Lei nº 10.559 de 13 de novembro de 2002.

Se estivesse vivo, o assassino que encerrou sem arrependimentos nem remorsos sua torpe passagem pelo planeta estaria assinando manifestos em defesa da democracia. Mas não haverá outro Clemente. Assim como os Buendía de Cem Anos de Solidão, também um crápula condenado a 50 anos de abjeção não terá uma segunda chance sobre a terra.

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Augusto Nunes, jornalista - coluna na Revista Oeste

 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Corte interamericana de Direitos Humanos condena Brasil por assassinato de Vladimir Herzog


[Condenação política, sem provas; portanto, inútil, sem valor nenhum.
Valor da condenação: ZERO; apenas mostra o quanto aquela Corte tem interesse em condenar - mesmo sem provas e sem competência para se imiscuir nos assuntos de uma Nação Soberana.]

É a primeira vez que a comissão reconhece um crime da ditadura no Brasil como ato contra humanidade

A Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou nesta quarta-feira o estado brasileiro pela morte do jornalista Vladimir Herzog durante a ditadura militar no Brasil. É a primeira vez que a CIDH reconhece crimes da ditadura como crimes contra humanidade no Brasil.
 O tribunal concluiu ainda que "o Estado não pode invocar a existência da figura da prescrição (...), a lei de anistia ou qualquer outra disposição semelhante ou excludente de responsabilidade para escusar-se de seu dever de investigar e punir os responsáveis".
- Há 43 anos atrás eu perdi meu pai. Assassinato violentamente. Uma pessoa de paz, que gostava de pescar, fotografar a família, de astronomia. Eu tinha 9 anos, meu irmão 7 e minha mãe 34. Ele morreu por desejar que todos tivessem o direito à livre manifestação em um Estado democrático - escreveu Ivo Herzog, em sua página no Facebook. - Ficaram 43 anos de luta para que provássemos que ele foi barbaramente torturado e assassinado. Ficou a luta, capitaneada por Clarice Herzog, pela Verdade e pela Justiça.
Não encontramos esta resposta no país que meu pai adotou como pátria. Tivemos que buscar nas Cortes Internacionais.

Finalmente, hoje, saiu a sentença tão aguardada. Resultado de um processo doloroso que consumiu nossa família.

O Brasil tem que investigar os crimes da Ditadura -
completou, ele.

Em 25 de outubro de 1975, Herzog foi preso, torturado e assassinado no DOI-CODI de São Paulo. À época do crime, a morte de Herzog foi oficialmente explicada como um suicídio, supostamente praticado com um cinto amarrado ao pescoço dele e preso a uma janela da cela do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), de São Paulo, em que o jornalista estava encarcerado.
Para tentar comprovar sua versão, o governo militar divulgou uma foto do corpo pendurado de Herzog, em que se vê os pés do jornalista apoiados no chão, condição em que é praticamente impossível se matar. Além disso, o estado não foi capaz de explicar como Herzog obteve o cinto com o qual teria se enforcado, já que uniforme do prisioneiro não tinha cinto e seus sapatos não tinham cadarços. Em 2012, a Justiça de São Paulo determinou a retificação do atestado de óbito do jornalista. Com a decisão, o motivo da morte de Herzog foi modificado de "asfixia mecânica" para “morte que decorreu de lesões e maus-tratos sofridos na dependência do II Exército de São Paulo (DOI-CODI)”. [Até a mudança da causa da morte imposta pela Justiça no atestado de óbito 'retificado'  é contraditória.

Maus tratos jamais podem  ser causa de uma morte; maus tratos podem causar lesões, danos a um ser humano e em decorrência das tais lesões pode ocorrer a morte.
Em hipótese,  os alegados maus tratos poderiam ter causado lesões que produziram a morte do jornalista. Mas, a asfixia mecânica constante do laudo original (causada pelo ato de suicídio) continua sendo a causa da morte.

A causa da asfixia é que pode ser decorrente dos maus tratos ou do ato de suicídio.
O novo laudo teria o deveria apresentar a real causa da morte -  "asfixia mecânica"  - podendo se estender sobre a causa da 'asfixia'.

Um exemplo esclarecendo o óbvio: alguém leva um tiro e sofre hemorragia intensa e em decorrência da perda de sangue 'anemia profunda' que produz sua morte, sendo portanto a causa mortis; 

o atestado de óbito pode se estender e apontar como causa da anemia (não podemos esquecer que a anemia é a real causa da morte) hemorragia grave, por sua vez causada por ferimento  produzido por objeto  traumático perfuro contundente.
Mas, o atestado de óbito apresentado analisou a causa da morte, deduzindo que foi maus tratos e se deu ao preciosismo de indicar o local dos maus tratos.

Na realidade o  atestado de óbito 'retificador' está mais para um libelo acusatório.
Uma obra prima típica da extinta Comissão Nacional da INverdade, da MENTIRA.]

A mudança foi feita após pedido da Comissão da Verdade, por solicitação da família do jornalista.
Ninguém foi responsabilizado criminalmente pelo crime.

Quer saber mais, clique aqui



segunda-feira, 26 de março de 2018

Direitos humanos são coisa séria - não podemos, jamais, preterir os HUMANOS DIREITOS do exercício dos DIREITOS HUMANOS priorizando os 'direitos dos manos'

Querem executar os direitos humanos

Em 1964 no condado de Neshoba, no Missisipi, três jovens militantes do direitos civis, um negro e dois judeus, atuavam ajudando a registrar eleitores negros, numa campanha de aumentar a participação de negros nas eleições. Foram perseguidos, emboscados e executados. O governo da União dos EUA interviu no caso, e como houve resistência das autoridades locais, colocou quase duzentos agentes federais na cidade.

Quarenta e um anos depois, Edgar Ray Killen, um pastor Batista, então com 80 anos, foi condenado a 60 anos por ter planejado o assassinato e ter recrutado uma multidão para perseguir os jovens. Ele faleceu na prisão em janeiro de 2018 aos 92 anos. Apesar das críticas a atuação do FBI no caso, o recado do governos americano foi claro: quem atentar contra o estado democrático de direito dos EUA, não importa quem seja, não importa o tempo que leve, nós iremos atrás de você com tudo. Esse crime gerou uma onda de indignação geral e acabou por contribuir para a criação da Lei dos Direitos Civis, que pôs fim aos diversos sistemas estaduais de segregação racial nos Estados Unidos.

Em 1975 Vladimir Herzog, o Vlado, foi assassinado numa sessão de tortura no DOI-CODI de São Paulo. Militante do PCB, Vlado se apresentou voluntariamente pra prestar esclarecimentos e acabou torturado e morto, a versão oficial foi a de que havia se suicidado. Vlado era judeu, e como suicida deveria ser enterrado do lado de fora do cemitério israelita, porém o rabino Henry Sobel se recusou a tal indignidade e seu enterro se tornou num ato político contra a ditadura que juntou vários líderes de outras religiões como Dom Evaristo Arns, e apesar do bloqueio policial, a multidão compareceu em peso. A morte de Vlado impulsionou a mobilização contra a ditadura.

14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco, militante dos direitos humanos, negra, assumidamente bissexual, é executada em uma ação extremamente complexa, que entre outros fatores contou com disparos agrupados em ângulo preciso apesar do carro que ela ocupava ter vidros escurecidos, o ataque foi realizado em um local sem câmeras de vigilância, um carro clonado foi utilizado na ação, munição desviada da polícia federal, do mesmo lote de chacinas policiais em SP foi utilizada, a característica de execução não foi sequer disfarçada, como é comum em atentados contra a vida de pessoas com mandato ou que possam causar repercussão na sociedade.

Em todos os três casos a luta entre a defesa dos direitos humanos, do estado democrático de direito entrou em choque direto com grupos reacionários, incrustados nas estruturas de poder, com cumplicidade do estado e apoio social, interessados em manter velhas e anacrônicas instituições antidemocráticas, mas apesar de seu anacronismo, ainda reverberam dentro da sociedade e teimam em morrer. Apesar da tragédia, quando uma mãe e um pai foram arrancados de sua existência, pulularam nas redes e na imprensa ataques a Marielle, desde dúvidas sobre suposto envolvimento com traficantes, pois uma mulher negra de favela só poderia ser eleita com apoio do tráfico, desfeita essa falácia com a objetividade do mapa de votação dela, se partiu para ataques pessoais mais graves, seu suposto envolvimento quando adolescente com um dos maiores líderes do tráfico carioca, traição a uma determinada facção criminosa, defensora de traficantes e bandidos até o mais terrível de todos os ataques, a relativização de sua tragédia, por ser mais uma dentre as milhares de vítimas anuais, a desconstrução de sua subjetividade, rejeitando sua condição de mulher, negra, favelada, afinal não foi por isso que fora morta, mas questionando como a sociedade se comoveu tanto por apenas mais uma assassinada, e os milhares de pais de família e as centenas de policiais mortos? [o questionamento continua válido, não devido a condição pessoal e política da vítima, e sim por ser apenas mais um cadáver,  cujo valor é rigorosamente igual ao do próprio Anderson, ao de qualquer policial morto e também ao do garoto Benjamin.
 Que motivo existe para o cadáver da vereadora causar mais comoção do que o cadáver de milhares de brasileiros que são assassinados a cada ano?]
 
Realmente é raro a morte de um negro, em especial, uma mulher negra, favelada, causar tanta comoção. Como é raro uma mulher negra, favelada ser eleita. Sua morte provavelmente foi pelo incômodo que causou a determinado grupo, e a comoção por sua morte ainda causa incômodo, seja por sua posição política à esquerda, num momento histórico em que as esquerdas se desmontam no mundo, e em especial no Brasil, pagam o preço da corrupção e do desastre econômico, seja por ser ela uma defensora dos direitos humanos, os quais causam repulsa no brasileiro médio que busca em nomes como o de Bolsonaro o escape tanto para a esquerda, quanto para a agenda dos direitos humanos e da democracia, em crise também, demonstrada pela aversão aos políticos, aos partidos e às instituições democráticas, tendo em contraposição, as forças armadas, instituição de força, hierarquia, nacionalismo, seriedade e austeridade quase messiânica na visão desse mesmo brasileiro, herdeiro do português cruzado, milenarista, do bandeirante, do positivista, do estado novista e do nacional-desenvolvimentista, projetos nacionais de visão macro, moldados na ordem e progresso, onde o indivíduo e o drama humano não têm lugar.

Uma história de escravidão e exclusão
Lembremos que ao longo do século XIX, o processo civilizatório brasileiro teve importantes avanços, os castigos públicos foram resguardados devido à forte resistência popular, até a extinção do suplício, a extinção da pena de morte, também devido a forte comoção, mas em especial, após uma luta de décadas, a abolição da escravidão, que permitiu ao estado e à sociedade entender aquelas pessoas não mais como propriedades, animais de cargas, mas seres humanos, com suas subjetividades, seus sonhos e portadores de direitos, como o de decidir sobre seus destinos e poderem lutar por suas felicidades. Embora ainda fosse um processo em germinação, e na vida real, essa multidão de libertos foi jogada à própria sorte, para serem esquecidos, como em certa medida foram, e mergulharam na invisibilidade necessária.


(...)



Uma guerra cotidiana
Ódios se acirram e esses grupos de extermínio oscilam entre a corrupção e a promiscuidade com o tráfico e a política da eliminação física do que consideram “o inimigo” que hoje paga, amanhã deve ser morto. A sociedade apoia essa política de extermínio e reclama dos direitos humanos como obstáculo para a polícia poder fazer seu trabalho e acabar com o crime no Brasil. O argumento é o de que homens armados com fuzis devem ser abatidos. A diferença se dá em que realmente um elemento armado, ainda mais com um fuzil é uma ameaça e somente o policial no local da operação pode decidir se o alveja ou tenta negociar sua rendição, decisão que deve ser tomada em frações de segundo, outra totalmente diferente é executar uma pessoa rendida e jogar seu corpo numa vala. Nenhum policial tem esse direito. Contra isso se levantava a voz de Marielle. 

(...)
 

Não quiseram somente calá-la, quiseram passar um recado claro, alto e em bom som de que não devemos atacar os interesses do crime organizado, dos grupos de extermínio e dos agente do estado envolvidos.
Gritaram alto para todos os negros e negras do país para que se calem e fiquem em seu lugar.
Gritaram alto contra os defensores dos direitos humanos para que se calem e não saiam de casa.
Gritaram alto contra a intervenção federal para que não mexa com eles
Foi um tapa na cara de todos nós.

Paulo Siqueira - LER MATÉRIA COMPLETA, clique aqui

 

domingo, 17 de julho de 2016

De Ramon.Mercader@edu para J.Vaccari@pol

Companheiro Vaccari,
Você não é Ramon Mercader. Como eu, houve poucos no mundo. Matei o Leon Trotsky em 1940, passei 20 anos na cadeia e não contei o que todos sabiam: acabei com o velhote a mando do Stalin. Quando saí da prisão, você tinha 2 anos, e quando morri, em 1978, você tinha acabado de se filiar ao sindicato dos bancários de São Paulo. Eu era um velho de 65 anos, e você, um garoto de 20. Não vou tomar seu tempo contando minha história porque, se você não leu “O homem que amava cachorros”, do cubano Leonardo Padura, peça-o a sua família. O final do livro não presta, mas de resto é coisa fina, sobretudo para quem está preso.

Vaccari, eu era do aparelho de segurança soviético, você era do braço do sindicalismo bancário petista, coisas inteiramente diversas. Daqui, já percebi que você, o José Dirceu e dois diretores da Petrobras (Duque e Zelada) estão em silêncio. No seu caso, a condenação está em 15 anos e deve aumentar. Se você tiver que pagar cinco anos em regime fechado, sairá da cela em 2020, aos 62 anos. Admiro sua resistência e seu vigor ideológico, mas escrevo-lhe para dizer que são fúteis.

Na cadeia, eu sabia que tinha sido condecorado com a Ordem de Lenin. Ao sair, fui proclamado “Herói da União Soviética”. Vivi bem em Moscou e em Cuba. Você nunca será um “Herói do PT”. Sua família sofre com sua prisão, enquanto minha mãe estimulava meu silêncio. Tudo o que o PT pode lhe oferecer são algumas visitas discretas de parlamentares. Não ouvi ninguém louvar publicamente seu silêncio. Durante os 20 anos que ralei, eu sabia que no dia 1º de maio a União Soviética desfilava seus foguetes na Praça Vermelha. Graças a artes do PT (e suas), o presidente do Brasil chama-se Michel Temer, e Dilma Rousseff vai morar em Porto Alegre.

Os empreiteiros que atendiam teus pedidos disseram coisas horríveis a teu respeito. Estão no conforto de suas tornozeleiras eletrônicas, e posso supor que as solícitas OAS e Odebrecht colocarão mais cadeados nas tuas grades. Todos viverão com patrimônios superiores ao teu. Eu morri com saudades de Barcelona, a cidade onde nasci, mas, quando os comunistas espanhóis ofereceram-me ajuda para visitá-la, queriam que eu contasse minha história. Morri em Cuba sem rever a Catalunha, e minhas cinzas foram para Moscou.

Valeu a pena? Não sei, mas garanto que, no teu lugar, eu chamaria o Ministério Público para uma conversa exploratória.
Saudações socialistas
Ramon Mercader

Temer ligou e não ligou, mas ligaria
Só o tempo dirá o tamanho do estrago imposto a Dilma Rousseff pela sua relação agreste com a verdade. Ela tinha doutorado pela Unicamp e fora presa por “delito de opinião”. Falso.  Temer chegou à cadeira de Dilma com dois episódios esquisitos na caminhada. Em dezembro passado, escreveu uma carta à presidente, e seu conteúdo foi para a imprensa em poucas horas. Temer garante que o texto foi distribuído pelo comissariado do Planalto. Em abril, foi ao ar um áudio do vice-presidente oferecendo um governo de “salvação nacional”. A distribuição dessa plataforma de governo teria acontecido por engano. A verificação do episódio desmente essa versão.

Há poucos dias, saiu do Planalto a informação segundo a qual a professora Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, concordara em retornar ao cargo depois de receber um telefonema do presidente. Falso. A professora não recebeu telefonema nenhum e só reassumiu o cargo atendendo a um apelo do conselho da SBPC.

Como Helena Nader desmentiu a patranha, o Palácio corrigiu-se: Temer queria telefonar, mas desistiu.
Fica combinado assim.

A Oi no STF
A ex-SuperTele Oi convive com uma estranha estatística. Lidera a lista das empresas que vão até o Supremo Tribunal Federal em litígios que envolvem os consumidores. Batalha em 6.271 processos. Em segundo lugar, vem o banco Santander, com 2.847 casos. Tamanha diligência judicial pode explicar o fato de a Oi gastar cerca de R$ 500 milhões anuais com advogados.

Entende-se uma das razões pelas quais a Oi foi para o buraco quando se vê que desde 2011 a taxa média de sucesso em recursos apresentados ao Supremo está em 3,04%. A dos grandes litigantes contra consumidores é de 0,21%. A taxa de sucesso da Oi ficou em 0,07%.

Gula sindical
Com o afastamento do comissariado, centrais sindicais e sindicatos perderam algumas de suas generosas fontes de financiamento, e há entidades que não conseguem fechar as contas. Hoje todo brasileiro dá um dia de seu trabalho para o aparelho sindical. Milhões de trabalhadores pagam também mensalidades para sindicatos. Há anos arma-se a cobrança compulsória de uma “taxa negocial”. Com as caixas vazias, o aparelho está com pressa para aprovar mais essa tunga.

Se o governo quer fazer uma reforma trabalhista, poderia começar pela estrutura do imposto sindical e pelas contribuições que engordam sindicatos patronais e de trabalhadores.

Erro
Estava errada a informação segundo a qual a Odebrecht atrasou o pagamento de R$ 936 milhões pela outorga (leia-se aluguel) do aeroporto do Galeão.  Luiz Rocha, presidente da concessionária, esclarece que a cifra correta é R$ 286 milhões.

Dá e toma
A pedido do Ministério Público, a Marinha cassou as medalhas do Mérito Naval que deu aos comissários José Dirceu, José Genoino e João Paulo CunhaUm decreto de 2000 determina a cassação dos crachás concedidos a pessoas condenadas pela Justiça, e em 2015 o Exército expurgara da Ordem do Mérito Militar todos os mensaleiros.  Os comissários haviam sido condenados em 2012, e em muitos casos as condecorações são concedidas em função dos cargos ocupados pelo homenageado.

O dá e toma poderia ser evitado se fossem usados critérios mais duros na concessão das medalhas. Nunca é demais lembrar que em 1977 o general Silvio Frota deu a Medalha do Pacificador ao legista Harry Shibata, dois anos depois de ele ter assinado o laudo fraudulento do suicídio de Vladimir Herzog.

Tudo ficaria mais claro se o ato da cassação viesse acompanhado pelo nome do comandante militar que concedeu a honraria.

Socialismo real
No dia do aniversário da queda da Bastilha, antes do atentado de Nice, o mundo soube que o presidente socialista francês François Hollande paga (com dinheiro da Viúva) um salário equivalente a R$ 36.210 ao seu barbeiro particular. Na cabeça de Hollande há poucas ideias e pouco cabelo. É provável que o companheiro pague mais pelo seu corte que as conservadoras Angela Merkel e Theresa May. (O da Merkel era castanho-escuro e medonho.)

As duas senhoras têm penteados discretos. Já o americano Donald Trump veste uma instalação, e o novo chanceler inglês Boris Johnson tem como marca uma cabeleira de roqueiro, retocada no salão.
Fonte: Elio Gaspari - O Globo

sábado, 7 de novembro de 2015

Inverdades da Omissão Nacional da Verdade

A Omissão Nacional da Verdade, composta por 7 membros da escolha da presidentA da República, e terminando seus trabalhos com 6 membros devido à renúncia de um deles, relacionou os nomes de 434 pessoas mortas ou desaparecidas, no período de 1964 a 1985 (embora na Lei que a criou seus trabalhos devessem abarcar o período e 1946 a 1988), que teriam sido mortas ou desaparecidas por culpa de uma relação de 377 militares e civis, “responsáveis pelos crimes da ditadura”, como escreveu a Omissão.

Ocorre que ao divulgar a relação das 434 pessoas mortas ou desaparecidas pelos militares e civis, a Omissão mais uma vez MENTIU!
Consultando a referida lista constata-se que pelo menos 12 pessoas relacionadas NÃO FORAM MORTAS OU DESAPARECERAM POR CULPA DE MILITARES OU CIVIS BRASILEIROS, o que significa que a Omissão Nacional da Verdade MENTIU à PresidentA e ao povo brasileiro.  E  ficou tudo por isso mesmo. Simples, assim... Essas pessoas são as seguintes:
JUAREZ GUIMARÃES DE BRITO, do comando da Vanguarda Popular Revolucionária, que cometeu o suicídio em 18 de abril de 1970, no Rio de Janeiro, ao ver-se cercado pela chamada repressão.
EIRALDO PALHA FREIRE, faleceu no Hospital de Aeronáutica do Galeão em 4 de julho de 1970, após ser baleado, em 1 de julho, quando tomava parte na tentativa de seqüestro do Caravelle PP-PDX, da Cruzeiro do Sul, no Aeroporto do Galeão.
JAMES ALLEN LUZ, militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, morto em acidente de automóvel por ele dirigido, no RS, em 16/11/1977.
ROSALINO CRUZ SOUZA (“Mundico”), militante do PC do B na Guerrilha do Araguaia, cujo nome foi grafado incorretamente no relatório da Omissão Nacional da Verdade, como ROSALINDO SOUZA. Sua morte não foi da responsabilidade de nenhum dos 377 militares ou civis “responsáveis por crimes da ditadura”, como assinala mentirosamente o relatório da Omissão da Verdade. Ele foi “justiçado” por sua companheira de armas DINALVA CONCEIÇÃO TEIXEIRA (“Dina), como amplamente divulgado em livros e artigos.
JANE VANINI, militante do Movimento de Libertação Popular, morta no Chile em 6/12/74, como militante do MIR-Movimiento de Izquierda Revolucionária.
TULIO ROBERTO CARDOSO QUINTILIANO, militante no Brasil do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, dado como desaparecido no Chile em outubro de 1973.
ZULEIKA ANGEL JONES, morta em acidente automóvel por ela dirigido, no Rio de Janeiro, em 14 de abril de 1976.
VÂNIO JOSÉ DE MATOS, morto no Chile em 16/10/1973, após ser preso e levado para o Estádio Nacional.
TITO DE ALENCAR LIMA, integrante de uma relação de banidos do Brasil, trocado pela vida de um embaixador seqüestrado, cometeu o suicídio na França em 10/8/1974.
NILTON ROSA DA SILVA, morto no Chile em 15/6/1973, como militante do MIR-Movimiento de Izquierda Revolucionária.
NELSON E SOUZA KHOL desaparecido no Chile em 15/9/1973.
LUIZ CARLOS DE ALMEIDA desaparecido no Chile em 14/9/1973. 

FRANCISCO TENÓRIO CERQUEIRA JUNIOR, músico brasileiro desaparecido em Buenos Aires.

MARIA AUXILIADORA LARA BARCELOS, cometeu suicídio na Europa.

GUSTAVO BUARQUE SCHILER, cometeu suicídio no Rio, atirando-se do alto de um edifício em Copacabana.

Como se observa, e como já assinalei em alguns e-mails, o relatório da Omissão Nacional da Verdade é MENTIROSO! Está eivado de inverdades e presunções, apontando como criminosos patriotas militares e civis que evitaram que o Brasil fosse transformado em um Cubão.

Como exemplo, o tal relatório apontou como torturador o Marechal do Ar Eduardo Gomes, patrono da Força Aérea Brasileira, além dos presidentes da República no período 1964/1985, diversos chefes militares, e vários outros, pelo simples fato de terem sido designados para servir em Órgãos de Inteligência. Infelizmente constato que nunca os atuais chamados comandantes militares se pronunciaram para defender seus antecessores e seus subordinados da Marinha, Exército e Aeronáutica, o que será cobrado pelas futuras gerações!

Segundo noticiado pelo UOL, ao receber o relatório da Omissão da Verdade, a Dilminha Bang Bang chorou ao recordar a morte de alguns de seus antigos companheiros que mataram, assaltaram, seqüestraram e justiçaram companheiros. Mas quando a sua Organização mandou o Soldado MARIO KOSEL FILHO pelos ares, quando assassinou o Cap CHANDLER na frente  da sua mulher e de seus filhos, e quando assassinou o Ten MENDES, da PMSP, a coronhadas, em Registro, ela seguramente não chorou...

Continuar lendo..........................