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sábado, 7 de agosto de 2021

AS 250 “PERSONALIDADES” E A CONFIANÇA CEGA NAS URNAS OPACAS - Percival Puggina

Ganhou destaque nos principais jornais do país, o manifesto assinado por 250 “personalidades” conhecidas no mundo político, cultural, empresarial  em favor das urnas eletrônicas exatamente como são e estão. Não importa a essas pessoas que nenhuma democracia de respeito utilize esses artefatos para colher os sufrágios em suas eleições com extensão nacional.  
Essas democracias avançadas não as recusam por serem caras ou sofisticadas, com excesso de tecnologia embutida ou exageradamente seguras.  
Ao contrário, recusam-nas por não permitirem a contagem individual dos votos.

A urna brasileira, portanto, é uma exceção, confirmada como tal, por todas as regras eleitorais sérias.

Para a mídia brasileira, porém, 250 “personalidades” com viés político e partidário conhecido referendam sua perfeição malgrado a desconfiança que sobre elas recai no mundo todo.

O fato de milhões de brasileiros terem ido às ruas, em família, pedir que impressoras dos votos sejam acopladas às urnas eletrônicas não mereceu o mínimo respeito e consideração das instituições da República. Nem das 250 “personalidades” erguidas, pela mídia militante, ao panteão do civismo nacional.

Os próprios empresários que se apresentam para afirmar sua fé na invencível perfeição do sistema de coleta e apuração de votos no Brasil gastam bilhões ao ano para segurança de seus próprios sistemas! Por isso, o que dizem vira piada nacional.

Quando observo esses movimentos, examino quem os produz, me pergunto se resta dúvida sobre suas motivações.

1 - O relatório favorável ao voto impresso, apresentado pelo deputado Felipe Barros, foi derrotado ontem por partidos políticos que, em dois anos e meio, não deram maioria para aprovar a PEC que permite a prisão após condenação em segunda instância; 
aprovaram leis que inibem a ação de quem combate o crime; 
tentaram abocanhar quase R$ 6 bilhões para financiar com recursos da sociedade suas campanhas eleitorais;

2 – Nossa Suprema Corte, anulando condenações, processos e provas, mudando de posição sobre prisão após condenação em segunda instância,  fez ouvidos surdos ao clamor nacional e realizou a proeza de deixar Lula inocente como era quando, pela primeira vez, viu o pôr do sol desde o Alto do Magano em Garanhuns.

3 – Os grandes grupos de comunicação do país parecem haver perdido seus arquivos e sua memória. Silenciam sobre todos os partidos e congressistas que mudaram de opinião sobre voto impresso. Acusam o presidente de começar uma briga, como se ele não tivesse, desde os primeiros dias de gestão, sido alvo da Suprema Corte, onde ministros adversários sempre o trataram como tal.

É um imenso desafio à boa vontade não ver em tudo um ânimo que não condiz com o que se espera das instituições num regime democrático.

Haverá quem não perceba, na súbita resistência de tantos ao voto impresso, um alinhamento político automático, que fica muito aquém do bem de uma democracia tão desatenta ao eleitor, à voz das ruas e à vontade manifesta nas urnas?

Não é diferente o que se percebe ao examinar a lista das 250 “personalidades” que proclamaram sua confiança cega nas urnas opacas. Poucos ali não se contam entre os insatisfeitos com o resultado eleitoral de 2018. Seu objetivo presumível é o mesmo que desde 1º de janeiro de 2019 se percebe no Congresso e no topo do Poder Judiciário nacional.

Por fim, será adequada a uma democracia a sensação de que ao emitir estas opiniões entro em território onde tal liberdade e tais opiniões não são toleradas? 
[um pequeno registro: quando ocorreu a opção por denominar o VOTO AUDITÁVEL de voto impresso, os inimigos da transparência se aproveitaram da escolha e passaram a transmitir a imagem de ser o voto impresso = à volta das mal-afamadas cédulas eleitorais. 

UMA COISA NADA TEM A VER COM A OUTRA. 

Apesar da associação efetuada no item 5 da Nota assinada pelo ministro Barroso, ministros do STF e vários ex-presidentes do TSE, o VOTO AUDITÁVEL, nada tem a ver com as antigas cédulas eleitorais. Fato que é apontado quando, com brilhantismo  o articulista registra:  "O fato de milhões de brasileiros terem ido às ruas, em família, pedir que impressoras dos votos sejam acopladas às urnas eletrônicas"  mostra que não se cogita do descarte das urnas eletrônicas. 
Como acoplar impressoras em urnas descartadas?] 

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.