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domingo, 8 de janeiro de 2023

E agora, o que fazer? - Percival Puggina

O grande Carlos Drummond de Andrade abre o inesgotável poema “E agora José?” com estes versos que parecem dirigidos a nós:

E agora, José?
A festa acabou
A luz apagou
O povo sumiu
A noite esfriou
E agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome
Que zomba dos outros
Você que faz versos
Que ama, protesta?
E agora, José?

É assim que estamos, no desconsolo dos que se sentem abandonados. Contudo, não. Tenho pensado muito nestes primeiros dias de 2023 sobre a pergunta do poeta. Algumas respostas já tenho.

O PT conta com nossa resignação. Alguns de nós cometem o grave erro de propagar narrativas enganosas que postergam e tornam ainda mais difícil a adoção das atitudes adequadas ao momento político. É urgente restaurar nossas liberdades, o estado de direito e a democracia. É preciso acabar com a censura. Instituir o voto impresso é indispensável à legitimidade dos mandatos.

Prestei muita atenção à fala de Lula quando se reuniu com o polifônico e despreparado primeiro escalão de seu governo. Lula montou um governo tecnicamente frágil porque precisava contar votos no Congresso Nacional. Ele sabe que ali está exposto o tendão de aquiles de seu governo. Então, ele falou em prestigiar, atender, ouvir, agradar, servir água e cafezinho, “mesmo que o parlamentar seja um adversário ideológico”.

Ficou clara a preocupação do malfeitor? Ele tem plena consciência sobre onde residirão suas dificuldades. Ele falou aos que se tornaram ministros como parte de acordos políticos (ou seja, “de vocês, eu espero votos no Congresso”), deixando implícito que se não representarem votos, esses ministros dançam.

Diante desse discurso eu me deparo com o imenso erro cometido por aqueles que por pessimismo habitual ou analogias precipitadas, equiparam o futuro Congresso com o atual. Erro terrível! Tiro no pé!  
O futuro Congresso está no foco das nossas esperanças. 
Ali está a maioria que nós elegemos, ali está a vitória que tivemos. Desconhecê-la, ou fazê-la equivaler a esse pano de chão sujo e inservível que foi a legislatura que findou em 31 de dezembro, é atirar nossos congressistas aos braços de nossos adversários. Rematada tolice!
 
Temos que mostrar a eles o caminho talvez difícil, mas necessário, da volta ao estado de direito, à democracia, às liberdades. Lula afirmou aos seus ministros a obviedade duramente aprendida por Bolsonaro: o governo só fará o que o Congresso deixar. Então é aí que vamos trabalhar no sentido oposto àquele que Lula deseja.

Ao petismo servem os abusos do STF. O petismo vibra com os atos de censura. O petismo se sente protegido com nossa desproteção. E os congressistas que elegemos, a maioria que formamos, deve ser motivada, inflamada a cumprir seu papel com determinação.

Se errarmos, se nos omitirmos, se pensarmos que os girassóis secaram ao sol destes primeiros dias, se desprezarmos aqueles de quem necessitaremos para o jogo da democracia, ficaremos como José do poema de Drummond, com a chave não mão, querendo abrir a porta, mas a porta, por precipitação e incompetência, não mais existirá.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


terça-feira, 2 de agosto de 2022

Investigado, Bolsonaro volta a atacar STF e questionar sistema eleitoral - O Globo

O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar nesta terça-feira ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a questionar o sistema eleitoral brasileiro.  
Bolsonaro afirmou que o presidente do STF, Luiz Fux, está "equivocado" e que deveria ser investigado no chamado inquérito das fake news por ter defendido as urnas eletrônicas. O presidente também atacou outros dois ministros da Corte, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Bolsonaro é alvo de cinco inquéritos: quatro no STF e um no TSE. Três deles estão relacionados a ataques ao sistema eleitoral.

Na segunda-feira, na volta dos trabalhos após o recesso de julho, Fux afirmou que o sistema eleitoral brasileiro é um dos "mais eficientes, confiáveis e modernos de todo o mundo".

Em entrevista à Rádio Guaíba, na manhã desta terça, Bolsonaro rebateu as declarações. Apesar de fazer seguidos ataques ao STF, o presidente não costuma criticar diretamente Fux.— Com todo respeito ao Fux, de vez em quando nós trocamos algumas palavras aqui, ele é chefe de Poder. Mas, no mínimo, para ser educado, (foi) equivocado. Ou fake news. Que deveria estar o Fux, respondendo processo no inquérito do Alexandre de Moraes, se fosse um inquérito sério. E não essa mentira, essa enganação, que são esses inquéritos do Alexandre de Moraes.

Em outro momento da entrevista, Bolsonaro afirmou que o ministro Barroso é um "criminoso" por ter articulado no ano passado contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que instituía o voto impresso.— Interferência direta do Barroso dentro do Congresso Nacional para não aprovar o voto impresso. Interferência política, isso é crime previsto na Constituição. O Barroso é um criminoso.

O presidente também comentou a crítica que a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo fez à atuação de Alexandre de Moraes em um inquérito que apura suspeitas de vazamento cometido por Bolsonaro. Para o presidente, as investigações de Moraes são "ilegais" e "imorais". Os inquéritos do Alexandre de Moraes, (são) completamente ilegais, imorais. É uma perseguição implacável por parte dele.

Política - O Globo 

 

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Urna eletrônica: quem mudou? - Rodrigo Constntino

Gazeta do Povo - VOZES

Ignorando que foi o ministro Fachin quem se reuniu primeiro com embaixadores para espalhar a narrativa golpista de que Bolsonaro pretende dar um golpe, e também ignorando que Bolsonaro é autor de um projeto antigo para aprimorar o processo eleitoral, a imprensa insiste na tese de que o presidente prepara um discurso derrotista e golpista ao demonstrar desconfiança com nosso sistema eleitoral.

Mas se Bolsonaro apenas mantém a coerência, e suas várias vitórias eleitorais concedem mais legitimidade às suas críticas atuais, os seus opositores, por outro lado, deveriam explicar o que mudou tanto em pouco tempo para, agora, eles tratarem coisas absolutamente normais até ontem como "golpismo". É preciso questionar: quem mudou? E o que mudou?

Rodrigo Maia, por exemplo, negou que tivesse mudado de lado sobre o voto democrático, alegando que Bolsonaro mentiu ao acusa-lo disso. Mas Maia já disse, com orgulho, que teve a oportunidade de relatar a reforma política e conseguiu incluir a questão do voto impresso, "por ideia, proposta e trabalho do deputado Jair Bolsonaro, que no início desse debate talvez tenha sido um dos poucos deputados que acreditava (sic) que nós pudéssemos incluir na emenda constitucional e depois no projeto de lei que tive a oportunidade de também relatar. Então quero agradecer ao deputado Bolsonaro, agradecer ao plenário, a decisão de derrubar o veto do voto impresso, é uma vitória da sociedade brasileira que pode ter o direito a partir das eleições de 2018 de recontar qualquer uma das urnas".

Roberto Requião já foi autor de projeto de lei sobre o assunto, e elogiou outro que permitia abrir certa quantidade de urnas para contar os votos impressos (selinhos) e verificar se batiam com o boletim eletrônico. Se batiam era uma consolidação por contagem, era sinal de "consistência". Mas agora "aparece aí os adoradores da urna eletrônica, a urna é sagrada; sagrada porra nenhuma, minha gente!"
 
Ciro Gomes era bastante enfático na defesa do voto impresso: "Deixa eu explicar. O PDT tem essa questão do voto auditável, que não é nenhuma ficha, nenhum voto impresso, nem a volta da cédula com o xis, ninguém vai poder ver nem pegar em papel nenhum; é uma urna eletrônica de quarta geração igualzinha a nossa, só que ela tem uma urnazinha do lado; quando você aperta 12 aparece a fotografia do Ciro e o nome Ciro, ali sem você poder pegar, por trás de um visor de vidro ou de plástico indevassável, ninguém toca nisso, aí você confirma, o voto eletrônico é computado e é picotado esse votinho de papel e ele cai numa urna escondida, ninguém vai mexer naquilo, ninguém vai tocar naquilo; se amanhã houver uma dúvida, alguém entra na Justiça, o juiz então manda abrir a urna e conta os votos manualmente como uma redundância".

Simone Tebet, do MDB e pré-candidata do autointitulado "centro democrático", disse, toda orgulhosa: "Será que o meu voto depositado lá, depois de processado, se concretiza? Então para que a gente tire essa dúvida e dê tranquilidade ao eleitor, de que ele possa saber que a partir de agora, 2016 e 2018, ele vai votar e ele vai ter a comprovação saindo ali, o nome dos candidatos que ele escolheu, nós optamos por derrubar o veto da presidente Dilma".

João Amoedo, do Partido Novo, respondeu assim sobre o assunto: "Tudo que puder dar transparência ao processo eleitoral eu sou favorável, e o voto impresso cai nessa categoria. Tem muitas pessoas que têm uma certa desconfiança das urnas eletrônicas, o que é natural, então eu sou totalmente favorável a que a gente possa ter o voto impresso nas eleições".

Os próprios ministros do TSE trataram com naturalidade a aprovação do voto impresso pelo Congresso, e o site oficial do TSE chegou a publicar um vídeo didático em que rebatia a falácia de que voto impresso era sinônimo de volta do voto em cédula de papel.  
O próprio Barroso chegou a deixar clara a diferença, mas depois andou espalhando Fake News de que os bolsonaristas desejavam a volta do voto em papel, um "retrocesso" inaceitável.

O jornalista Guga Chacra, da Globo, chegou a comentar num tweet de 2016: "O risco de urnas eletrônicas serem alvo de hackers existe. O Brasil deveria rever isso e talvez voltar ao voto de papel". Parece que ele apagou a postagem, talvez porque a emissora onde trabalha tem sido uma das mais ativistas ao tratar a legítima e natural desconfiança de Bolsonaro como uma armação golpista. O Partido Novo, aliás, comentou em cima da mensagem de Guga: "Voto eletrônico com comprovante impresso permite a rapidez atual com a possibilidade da recontagem física, se necessário".

São vários outros exemplos, mas o leitor já entendeu o ponto: Bolsonaro está na mesma página de sempre, mantendo sua coerência, clamando por mais transparência no processo eleitoral brasileiro, muito centralizado e opaco, e comandado por militantes disfarçados de ministros supremos.

Já aqueles que tratavam a evolução da urna para incluir um voto impresso como algo bastante natural e desejável há alguns anos, hoje alimentam a narrativa esdrúxula de que simplesmente suspeitar do processo eleitoral já é crime, e que compartilhar com o mundo esse ceticismo é uma espécie de golpe contra a democracia.

Diante de tanta hipocrisia e inversão, o senador Eduardo Girão perdeu a paciência: "Fachin solta réu - líder do ParTido que já elogiou e o indicou ao STF - condenado em 3 instâncias, destrói a Lava Jato, rejeita convite do Senado para diálogo para democracia, mas faz política no exterior profetizando FAKE NEWS DO CAOS. Quem vem golpeando o Brasil mesmo? Acorda,Senado!"

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo 


sábado, 2 de julho de 2022

Eles não querem cumprir a lei - Revista Oeste

Luís Roberto Barroso | Foto: SCO/STF
Luís Roberto Barroso | Foto: SCO/STF

Será que o STF não tem mais nenhum processo a resolver — e está sobrando tempo para os ministros viajarem pelo mundo afora? 
Prepare-se para continuar com as suas dúvidas, porque ninguém vai responder pergunta nenhuma e é melhor não insistir, para não ser indiciado criminalmente por “ataques” à suprema corte, “atos antidemocráticos” e outros horrores.[com risco de ser lançado na vala comum do 'inquérito do fim do mundo']
 
O curioso, nas palestras de Barroso no exterior, é que ele não fica em temas ligados à ciência do Direito vira e mexe o ministro se lança a comentários esquisitos sobre a política interna do Brasil.  
Ele já disse, nos Estados Unidos, que o presidente Jair Bolsonaro é o “inimigo”, e que uma de suas missões é “empurrar a história para a frente”. Em outra ocasião, também lá, participou de um seminário cujo tema era “como se livrar de um presidente” e já chamou o regime hoje vigente no Brasil dedictatorship”. 
 
Agora, num discurso que fez em sua própria homenagem em Londres, discorreu sobre os feitos extraordinários que teria realizado durante a pandemia; um deles, segundo disse, foi vencer “o abominável retrocesso” do voto impresso com “contagem manual”. Como assim? Nunca houve nenhum projeto de lei, ato do governo ou qualquer coisa parecida propondo o voto impresso no Brasil, e muito menos a apuração manual. 
Pode ser, até, que tenham falado nisso no debate sobre o sistema eleitoral, mas ficou-se por aí, na conversa. 
O que houve foi um movimento em favor do recibo impresso para o voto eletrônico — o que é claramente outra coisa. Alguns dos presentes chegaram a protestar. Ficou por isso mesmo.

Não há notícia de que juízes da Suprema Corte americana, o modelo universal de excelência quando se fala em fornecer justiça de alta qualidade, venham ao Brasil discutir questões políticas internas dos Estados Unidos. 
Também não fazem esse tipo de coisa os magistrados de primeira grandeza da França, Itália, Alemanha e outras democracias que se respeitam. 
O Brasil já foi assim um dia — mas hoje é outra coisa. 
Por decisão da maioria dos ministros do STF, tomada pouco a pouco ao longo do tempo, não existe mais no Brasil uma corte suprema de justiça. Em seu lugar, em vez de um tribunal dedicado a decidir sobre questões que envolvam a aplicação correta da Constituição, há um Comitê Central, ou uma espécie de Politburo, de militantes políticos que fazem exatamente o contrário do seu dever: desrespeitam abertamente as normas constitucionais para governar o Brasil através de despachos. Ficou assim porque os ministros deram a si próprios o direito e o dever de construir um país e uma sociedade que resultem não da vontade da maioria, expressa nas eleições para o Congresso Nacional e o Poder Executivo, mas num modelo de virtudes que têm dentro das suas próprias cabeças.

A maioria erra, acham os ministros. Elegem governos que o STF considera direitistas, populistas, autoritários e conservadores nas questões ligadas a Deus, pátria, família e costumes em geral algo intolerável para o seu entendimento do mundo e da vida. 
Estão convencidos de que é sua obrigação corrigir isso, mesmo porque, em seu credo, há eleições e eleições: quando perdem, não é porque o adversário teve mais votos, mas porque “usou” as eleições para subir ao governo e, uma vez ali, agir contra a democracia. É o que eles acham que aconteceu com o Brasil em 2018. É o que não querem que aconteça de novo em 2022.

O problema para esta doutrina é simples e insolúvel: não existe em nenhuma lei brasileira, e nem nos artigos 101, 102 e 103 da Constituição Federal, onde são descritas, uma a uma, as 21 tarefas que o STF está autorizado e obrigado a executar, o mais remoto vestígio de permissão para que os ministros façam o que estão fazendo.     Não é permitido a eles, ali, o exercício de nenhuma outra função pública que não seja a de magistrado não se prevê que governem nada, nem que abram inquéritos criminais para apurar “notícias falsas” ou “atos antidemocráticos” e nem que sejam “empurradores” da história.  

Não estão autorizados a criar crimes que não existem no Código Penal, como a “homofobia”, nem a proibir a polícia de subir nos morros do Rio de Janeiro e nem a manter na cadeia por nove meses, e depois condenar a quase nove anos de prisão, um deputado federal no pleno exercício de seu mandato, que não cometeu crime inafiançável e nem foi preso em flagrante. 
Não podem criar a figura jurídica do “flagrante perpétuo”. 
Não têm licença legal para salvar “a democracia”.

Os ministros do STF vêm fazendo há pelo menos três anos e meio tudo o que lhes dá na telha e ninguém age contra isso

Os ministros do STF sabem ler a Constituição tão bem quanto qualquer brasileiro alfabetizado.  
Se não cumprem o que está escrito ali, é porque não querem cumprir e não querem cumprir porque vêm fazendo há pelo menos três anos e meio tudo o que lhes dá na telha e ninguém age contra isso, a começar pelo Congresso Nacional
Ao contrário: embora tenham um índice de aprovação popular de 24%, algo francamente miserável, são apoiados com paixão pela esquerda, as elites, os empresários socialistas, os empreiteiros de obras públicas, os criminalistas que defendem corruptos, a mídia, as classes culturais, o movimento LGBT+ e por aí afora. É quem tem voz; é quem aparece. 
 
Todos têm mais ou menos a mesma visão do STF sobre o Brasil ideal. 
São a favor do aborto; do princípio segundo o qual o criminoso deve ser, acima de tudo, protegido pela lei, e que o policial é o inimigo da sociedade; da pregação nas escolas da noção de que todes são do mesmo sexo até se tornarem adultes, e que menines e menines não se diferenciam por gênero; da crença em que o agronegócio brasileiro destrói a natureza, envenena os alimentos com “agrotóxicos” e mata os índios;  
do controle sobre a liberdade de expressão nas redes sociais; 
das prisões políticas de militantes da direita e por aí se vai, na direção geral que todo mundo sabe.
 
O que a maioria dos ministros faz nesse momento é desrespeitar a Constituição. 
Têm um candidato aberto ao cargo de presidente da República. Perseguem os adversários políticos. 
Eliminam direitos individuais e liberdades públicas. 
Impedem o trabalho de advogados na defesa dos clientes que foram indiciados em seus inquéritos policiais. 
Dão ordens ao Congresso. 
Bloqueiam a ação do Poder Executivo sempre que podem, e interferem o tempo todo em suas decisões administrativas. 
São os únicos cidadãos brasileiros que não prestam contas a ninguém. 
Estão governando o Brasil num regime de exceção.

Leia também “Um projeto para destruir o Brasil”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 13 de maio de 2022

TSE teme ataque de “lobos solitários” contra ministros - O Globo

Rafael Moraes Moura

Crise [sic] em Brasília

Na mira do Palácio do Planalto e da militância bolsonarista por conta das urnas eletrônicas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu reforçar a segurança de todos os seus integrantes, inclusive dos ministros substitutos. 

Nomes polêmicos: Escolha de novo ministro do TSE pode abrir nova crise com Bolsonaro

A menos de cinco meses da realização das próximas eleições, um dos maiores temores da área de segurança do tribunal é com possíveis ataques inesperados dos chamados “lobos solitários” em um ambiente marcado pela forte radicalização política. Essa possibilidade foi mapeada por equipes a que os ministros do tribunal se referem como "espiões do bem", que monitoram as discussões da deep web sobre possíveis ataques cibernéticos, oferta de dados eleitorais – e ataques contra os magistrados. 

Em agosto do ano passado, essa equipe detectou, por exemplo, que o então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, foi alvo de ameaças durante as articulações para derrubar a PEC do Voto Impresso, uma das principais bandeiras do presidente Jair Bolsonaro.

Mas o temor não se resume à esfera digital. No início deste ano, a residência de um integrante do TSE foi alvo de invasão, o que acendeu o alerta. O episódio, no entanto, não teve conotação política – e não houve feridos. Mesmo assim, a segurança foi reforçada. “É uma cautela – e é natural que fiquemos sempre em alerta. Somos alvos. Somos somente sete, com uma responsabilidade muito grande”, comentou um ministro. “É natural que ocorra essa preocupação com segurança, principalmente quando se avizinha o pleito, mas isso não significa que haja um ambiente de tensão com isso. Estamos apenas nos preparando para trabalhar com tranquilidade.”

Um dos receios da segurança do TSE é com os deslocamentos de ministros pelo país. Com o arrefecimento da pandemia, os magistrados voltaram a participar presencialmente de congressos, eventos – e alguns, como Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, pegam voos comerciais para dar aulas em São Paulo.

A segurança dos ministros do TSE é comandada pelo delegado Disney Rossetti, da Polícia Federal, assessor especial de segurança e inteligência. Atualmente, quase todos os ministros titulares do TSE contam com equipe de segurança. O Poder Judiciário tem um quadro próprio de segurança institucional (a Polícia Judicial) para fazer esse tipo de trabalho. Quando os magistrados participam de eventos, a segurança é reforçada por membros da Polícia Militar e das forças de segurança locais, por exemplo.

No segundo semestre do ano passado, ainda durante a presidência de Barroso, Rossetti se reuniu por videoconferência com os magistrados para apresentar o plano de atuação da segurança do tribunal, explicar compras que foram feitas para a área e falar sobre o monitoramento da deep web.O TSE é um tribunal híbrido, formado por sete ministros titulares – três são oriundos do Supremo Tribunal Federal (STF), dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e outros dois juristas. Pela maior exposição pública, os ministros do STF que fazem jornada dupla com o TSE costumam ser mais conhecidos e visados e, portanto, contam com segurança especial.[da leitura da matéria se conclui que são apontadas apenas suspeitas, baseadas em meras suposições, tudo fake news - está havendo um exagero na valorização da importância dos ministros do TSE.

Cuidassem as suspeitas de um possível ataque contra Bolsonaro e fossem divulgadas por apoiadores do presidente, os divulgadores já estariam presos por difusão de notícias falsas e conspiração contra a democracia.]

Malu Gaspar, jornalista - O Globo 


quarta-feira, 4 de maio de 2022

Militares fazem 88 questionamentos ao TSE e repetem discurso de Bolsonaro - O Estado de S. Paulo

General que representa Forças Armadas em comissão do tribunal levanta dúvidas sobre votação e apuração; em resposta, Corte diz que já garantiu segurança do sistema eleitoral

As Forças Armadas enviaram 88 questionamentos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos últimos oito meses sobre supostos riscos e fragilidades que, na visão dos militares, podem expor a vulnerabilidade do processo eleitoral. A maioria das perguntas reproduz o discurso eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, que tem colocado em dúvida a segurança das urnas eletrônicas e mantido a própria atuação da Corte sob suspeita.

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Os militares enviaram uma sequência de cinco ofícios sigilosos assinados pelo general de Divisão do Exército Heber Garcia Portella, que participa da Comissão de Transparência do TSE. Foto: Wilton Junior/Estadão

As desconfianças foram levantadas apesar de os órgãos de investigação nunca terem detectado fraudes no sistema eletrônico de votação. Ao contrário. No ano passado, a Polícia Federal vasculhou inquéritos abertos desde que as urnas eletrônicas passaram a ser usadas, na década de 1990, e não encontrou sinais de vulnerabilidade do equipamento. Os registros de irregularidades ocorreram, na realidade, quando a votação ainda era em cédula de papel. Depois da adoção das urnas eletrônicas, o TSE passou a submeter o equipamento a teste por hackers e não houve constatação de riscos. 

Os militares enviaram uma sequência de cinco ofícios sigilosos assinados pelo general de Divisão do Exército Heber Garcia Portella, que participa da Comissão de Transparência do TSE. Quatro deles já receberam respostas, e um ainda aguarda pela manifestação da Corte. Portella foi indicado para a missão pelo então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, hoje cotado para vice na chapa de Bolsonaro. Procurado, o Ministério da Defesa não se manifestou.

Na escalada dos embates com o Judiciário, o presidente expôs um dos temas remetidos pelos militares ao TSE, cujo conteúdo ainda não foi divulgado: a montagem de uma sala de apuração paralela que pudesse ser monitorada pelas Forças Armadas. Hoje, existe um espaço no tribunal onde fica o centro nervoso da totalização dos votos. No dia 27, Bolsonaro defendeu a instalação de “um computador das Forças Armadas, para contar os votos no Brasil”. 

A lista de inquirições apresentadas pelos militares nos últimos meses pode ser dividida em cinco grupos
questionamentos sobre o teste de integridade das urnas eletrônicas; perguntas sobre o nível de confiança nos sistemas de votação e apuração dos votos; 
solicitação de documentos, listagens, relatórios e outras informações sobre as políticas do tribunal; 
indagações gerais sobre o funcionamento das urnas; 
e propostas de aperfeiçoamento da transparência da Corte.

Por meio do general, as Forças Armadas chegaram a questionar o TSE sobre os procedimentos que a área de tecnologia da informação do tribunal usa em caso de invasão aos sistemas. Outra pergunta sensível tratou da frequência com que a Corte verifica se há programas de “invasores” no sistema operacional das urnas. 

Os militares ainda levantaram a hipótese de a eleição ser decidida por um número de votos menor do que o eventualmente registrado em urnas que viessem a entrar em pane. Eles questionaram até mesmo o fato de o novo modelo da urna eletrônica, fabricado em 2020, ter uma porta de acesso para pen drive. 

Entre as questões está a cobrança para que a Corte adote medidas para prever e divulgar antecipadamente “as consequências para o processo eleitoral, caso seja identificada alguma irregularidade”. O TSE respondeu a cada um dos questionamentos com o detalhamento das soluções previstas na legislação eleitoral e apontou haver soluções até mesmo nos cenários mais remotos.

O papel mais ativo dos militares no processo eleitoral vem sendo defendido pelo presidente desde o ano passado. Em julho de 2021, o Estadão mostrou que Braga Netto, ainda como superior hierárquico do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, enviou recado para a cúpula do Congresso de que não haveria eleição sem o voto impresso.

Sem obter sucesso nessa investida, Bolsonaro passou a atribuir aos militares a função de garantidores da lisura das eleições, missão que vem sendo contestada no TSE e também no Congresso. Partiu da Corte eleitoral, no entanto, a iniciativa de convidar os militares para participar de uma comissão com a possibilidade de contribuir com sugestões para dar ainda mais transparência ao processo eleitoral.

Diante da pressão de Bolsonaro por maior protagonismo dos militares, o ex-presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso expôs seu descontentamento em uma palestra a estudantes na Alemanha. Ele afirmou que havia tentativa de usar as Forças Armadas para pressionar o processo eleitoral. Em resposta, Bolsonaro subiu o tom contra o Judiciário e passou a defender a apuração paralela.

Das 88 indagações, 81 constavam de um documento sigiloso elaborado pelas Forças Armadas, mas que foi vazado em fevereiro deste ano. A Corte, então, decidiu divulgar os questionamentos e chegou a emitir uma nota com esclarecimentos. O vazamento foi usado politicamente por Bolsonaro, que acusou o tribunal de ignorar as recomendações dos militares, o que foi desmentido pela Corte.

Outras sete manifestações dos militares ainda não foram formalmente divulgadas. Segundo o TSE, isso ocorreu porque chegaram após a conclusão do “Plano de Ação Para Ampliação da Transparência Eleitoral” – que prevê melhorias nos processos da instância superior da Justiça Eleitoral. Em nota encaminhada ao Estadão, a Corte afirmou que “tais questionamentos ainda estão em análise e serão incorporados ao relatório e divulgados em breve”.

Procurado, o Ministério da Defesa não se manifestou.

Política - O Estado de S. Paulo


sábado, 26 de março de 2022

Derrotada no Congresso, Bolsonaro volta a ladainha do voto impresso

Bolsonaro volta a defender o retorno das cédulas de votação, proposta derrotada no Congresso, e ironiza ministros do TSE: "Queridos"

Em aceno à base ideológica, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a defender o voto impresso projeto derrotado no Congresso — e ironizou ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao chamá-los de "queridos". Ele voltou a colocar em dúvida a lisura das urnas eletrônicas.
 "O voto tem de ser contado. Não podemos disputar uma eleição com a mínima suspeição de que algo esteja errado. E podem ter certeza: eu acredito que as eleições sejam limpas no corrente ano, porque só podemos concorrer às eleições dessa maneira. Muitos me acusaram de ser ditador, de querer dar golpe. A gente está fazendo justamente o contrário do que nos acusaram", alegou, durante a cerimônia de lançamento de novas medidas do Programa Renda e Oportunidade, no Palácio do Planalto.[nos parece que o presidente não quer a volta das cédulas e sim o registro impresso do voto.
Só o cotejo entre o número de votos para um determinado candidato  registrado no  sistema digital com o número de votos para o mesmo candidato obtido com a contagem do registro de votos provará a existência, ou não, de fraudes. 
Se uma das contagens diverge da outra, indiscutivelmente, ocorreu desvio de votos = fraude no sistema de votação. Batendo os dois totais, não ocorreu desvio de votos = não houve fraude. SIMPLES, FÁCIL, PRÁTICO.]

Bolsonaro enfatizou que "vai perder ou ganhar dentro das quatro linhas (da Constituição)''. "Nós queremos eleições limpas, e tenho certeza de que temos como colaborar com nosso prezado TSE, com nosso querido Alexandre de Moraes, com nossos queridos (Luís Roberto) Barroso e (Edson) Fachin, para que isso aconteça. Eu tenho certeza de que, do fundo do coração deles, eles querem isso", ironizou. "Isso é o que quer, no meu entender, grande parte da população brasileira. Aqui, não é uma disputa de campeonato de futebol, em que já vimos uma grande torcida falar: 'Olha, foi gol de mão, mas gol de mão é mais gostoso'. Para eleições, não vale isso, não. Vale é seriedade, transparência. Vamos perder ou ganhar dentro das quatro linhas", acrescentou. Fachin e Moraes são presidente e vice, respectivamente, da Corte eleitoral. Barroso comandou o tribunal até 22 de fevereiro último.

O chefe do Executivo também sustentou que, caso o PT retorne ao poder, "vai ser f*" recuperar a liberdade. "Só se dá valor à liberdade depois que se perde. Mas para recuperá-la, pessoal, desculpa o palavrão, vai ser f*. Vão passar 50, 60, 70 anos para recuperá-la. Não percam a oportunidade de garantir a sua liberdade agora", afirmou. "Se você não quer lutar pela sua liberdade, tudo bem. Lute pela do seu filho, do seu neto. Não esmoreça. A responsabilidade é de todos nós.", concluiu.

O presidente também reclamou do que chamou de ditadura nas redes sociais, numa crítica velada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que tem combatido, assim como o TSE, a disseminação de notícias falsas. "Quem são os censores? Escolhidos por qual critério? Estão a serviço de quem? Querem prejudicar quem? Imagine se tivesse o cara do PT no meu lugar. Vocês não estariam aqui. E ainda tem gente que acha que esse tipo de governo pode voltar para cá", protestou. [saiba mais]

[quer saber mais, aqui.]

Política - Correio Braziliense
 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Barroso volta a criticar proposta de voto impresso auditável - Revista Oeste

Afonso Marangoni

Ministro disse que o texto era a 'solução inadequada para um problema inexistente'

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, voltou a criticar a proposta de voto impresso auditável, que foi derrotada na Câmara dos Deputados.  No ano passado, o ministro articulou para que a proposta não fosse aprovada. Nesta quinta-feira, 17, ele disse que o texto era a “solução inadequada para um problema inexistente”.

“Boa parte do ano de 2021 foi gasto com uma discussão desnecessária, que significaria um retrocesso: a volta do voto impresso com contagem pública manual”, disse, ao fazer um balanço da sua gestão no TSE.

Barroso afirmou que o sistema de votação eletrônica brasileiro é seguro, transparente e auditável. “O sistema foi implantado em 1996, há mais de 25 anos, sem que jamais se tenha documentado qualquer caso de fraude.” “Alguém poderia supor em boa fé, e esse é um ponto para o qual eu gostaria de chamar a atenção, que não haveria problema em se ter a impressão do voto simultaneamente ao voto eletrônico para eventual conferência em caso de diferença mínima entre os candidatos, deve-se observar que não é isso que constou da proposta”.

Ministro do Supremo Tribunal Federal desde 2013, Barroso passou a integrar o TSE no ano seguinte, chegando à Presidência em 2020. E, nesta quinta-feira, 17, fez seu discurso de despedida.

Liberdade de expressão
Barroso afirmou que a liberdade de expressão é importante e precisa ser protegida daqueles que a utilizam para destruir a democracia.O ministro disse que “nos últimos tempos” a democracia e as instituições “passaram por ameaças das quais acreditávamos já haver nos livrado”. 
 
[apresentando todas as vênias, indagamos do ministro Barroso sobre a conveniência de determinar ao ministro Fachin para que compareça a uma delegacia da PF e esclareça as razões de considerar provável que a Justiça Eleitoral  esteja sob ataque hacker; convém lembrar que a postura do futuro presidente do TSE, pode representar risco à democracia e à 'instituição' urnas eletrônicas.
Também é indiscutível que uma manifestação de um ministro do STF, TSE e futuro presidente da Corte máxima da Justiça Eleitoral, tem credibilidade e com isso fortalecer o entendimento desfavorável  ao voto eletrônico não auditável, reiteradamente expresso pelo presidente Bolsonaro.]

Sem citar diretamente a plataforma, voltou a defender que o Telegram seja suspenso do Brasil se não se adequar às leis brasileiras. O aplicativo de mensagens tem ignorado as tentativas de contato do TSE para cooperar no combate à desinformação. Barroso afirmou que tentativas de desacreditar o processo eleitoral configuram “repetição mambembe” do que fez Donald Trump nos Estados Unidos após ter pedido as eleições de 2020.

Afonso Marangoni, jornalista - Revista Oeste

domingo, 14 de novembro de 2021

Das máquinas de votar ao blockchain – Parte 1

O mestre em Direito Constitucional André Silveira faz um arrazoado voto na história do ordenamento jurídico brasileiro 

A discussão sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 135-A, de 2019, que previa o retorno do voto impresso no Brasil, sofreu três derrotas sequenciais na Câmara dos Deputados, sendo rejeitada pelo Plenário da Casa Legislativa em agosto deste ano. Todo esse debate ampliou a noção de outras perspectivas acerca dos processos eleitorais no Brasil, incluindo expectativas e estudos para um modelo de votação online, cuja ideia vem ganhando força e aderência ao redor do mundo, pelas mesmas justificativas daqueles que defendem o voto em papel: transparência e confiabilidade. 

Para compreender o histórico eleitoral brasileiro, vale revisitar, rapidamente, a década transcorrida entre os anos 2010 e 2020, marcada pela falta de consensualidade quanto à forma de exercício do direito ao voto. Nesse período, o Supremo Tribunal Federal teve de se manifestar duas vezes quanto à possibilidade de retorno ao voto impresso, circunstância afastada do ordenamento jurídico brasileiro desde a promulgação da Lei nº 10.470, de 1º de outubro de 2003, que implantou o registro digital de voto. 

Apesar de não encontrar indicações proibitivas à alteração na maneira de votar junto às normas constitucional e infraconstitucional, pesquisas demonstram que as dificuldades para as mudanças, na verdade, se verificam nos limites sociopolíticos, derivados da percepção do brasileiro acerca das práticas de corrupção no país e a consequente falta de confiança

institucional. A partir desses estudos, é possível entender que o desconfiar do brasileiro, diante dos processos corruptivos aos quais foi exposto, integra o inconsciente coletivo da população.

 Em meio a esse conturbado cenário, para evitar desvios de energia das autoridades, o Poder Legislativo brasileiro deveria estar atento ao futuro e não ao passado (voto impresso). Com efeito, a eclosão da pandemia causada pelo coronavírus suscitou nova questão ao exercício do voto. Diante da necessidade de distanciamento social, indicada por profissionais de saúde, a possibilidade de se votar à distância passou a integrar a pauta de diversas jurisdições ao redor do mundo. 

Assim, nesta série de artigos, e consciente das agruras do período em que se insere, procuramos, em três partes, responder, ainda que com aspirações iniciais, à seguinte questão: “seria possível a adoção de modelo online de votação no Brasil?”.

Nesta primeira parte do trabalho, vamos estabelecer os “Limites sociopolíticos à adoção do voto online”. No ano de 2020, o Brasil passou a ocupar a 94ª (nonagésima quarta) posição no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) – indicador considerado o de maior relevo mundial para avaliação da percepção quanto a práticas de corrupção em seus países. A posição ocupada pelo Brasil é bastante inferior, por exemplo, à ocupada por países vizinhos, da América Latina, que ocupam a posição 41ª (quadragésima primeira), em média.

 

A partir da análise desse indicador, observamos que a corrupção é percebida pelo brasileiro como uma das questões mais conflitantes quanto à confiança nas instituições democráticas. Exemplo disso é que, no ano de 2015, em pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha, a corrupção foi, pela primeira vez, entendida como o maior problema do país. 

Em sentido semelhante, em uma pesquisa realizada pelo Instituto Latinobarómetro, que teve como recorte temporal de 1995 a 2006, concluiu-se que a média de apoio do brasileiro à democracia era de, no máximo, 50%. Em outras palavras, a cada dois brasileiros entrevistados, um não considerava a democracia o sistema de governo adequado (disponível no portal Latinobarómetro – Opinión Publica). 

A relação entre este dado e o fenômeno da corrupção pode ser observada no trabalho “Marcos teóricos da corrupção” no qual o cientista político Leonardo Avritzer aponta que, para o brasileiro, a corrupção é um fenômeno concentrado especificamente no campo da atividade estatal. 

Ainda quanto a essa relação, José Álvaro Moisés, em “Democracia e confiança: por que os cidadãos desconfiam das instituições públicas”, analisando o “Intelligence Unit Democracy Index”, atesta que, quanto maior a observância do nacional quanto à corrupção, proporcionalmente é menor a sua percepção de liberdades civis e políticas. 

Todas essas pesquisas importam ao que se quer questionar neste artigo, e nos subsequentes, em uma mesma medida: a da (des)confiança do brasileiro nas instituições democráticas, que pode ser observada por meio de dois conceitos fundantes: (i) o de confiança institucional; e (ii) o de complexo cultural.

(............) Parte 1

Parte 2.............

Matheus Leitão - Blog em VEJA


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Lira terá que acatar pedido de impeachment contra Bolsonaro a qualquer momento - Merval Pereira

O Globo

Sete de Setembro - Remédio amargo

Nem todos foram tão contundentes e certeiros com as palavras como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. Mas todos os que se pronunciaram com críticas à retórica belicista do presidente Bolsonaro na terça-feira o fizeram como se avisassem ao presidente que está chegando o momento da verdade.

A fala do procurador-geral da República, Augusto Aras, foi acadêmica e clara na defesa da tese de que a democracia não existe sem o respeito entre os três Poderes. Não cometeu o erro do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, de igualar na responsabilidade pela crise o Judiciário e o Executivo, quando claramente qual ciência exata está sendo utilizada para medir qual ato, de qual poder, é o último que estica a corda e quer submeter o primeiro a seus interesses familiares e políticos. Colocando-se em posição proativa, Aras reafirma uma nova postura independente.

Lira colocou o Legislativo no centro da Praça dos Três Poderes, como se fosse a ponte entre os outros dois, na concepção que atribuiu a Niemeyer e Lucio Costa. A mesma tentativa de explicar a praça foi feita no documento que Febraban e Fiesp organizaram, e acabou não dando certo pela tibieza de seus termos.
 
[a narrativa muda um texto legal? uma interpretação criativa pode até mudar, mas uma narrativa NADA MUDA e já nasce desacreditada. 
 
O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira,  tendo em conta que o Brasil vive em um 'estado democrático de direito', que pressupõe que TODOS respeitam as leis, tem o poder  de submeter aos integrantes daquela Casa Legislativa pedido, ou pedidos, de impeachment - não pode ser obrigado a tomar, ou não, tal providência = ainda dentro do estado democrático de direito, podem até retirá-lo da Presidência da Câmara dos Deputados, visto que quando querem, os motivos são encontrados ou criados, mas obrigá-lo jamais.

Optando o deputado Arthur Lira por submeter um pedido ao escrutínio  dos parlamentares serão necessários que 342 deputados - 2/3 - votem favoráveis a que o pedido seja aceito quando então será aberto no Senado Federal um processo de impeachment e seguido o devido processo legal.
Gostem ou não gostem é isso que está na Constituição, na legislação e todos, incluindo sem limitar, os 'inimigos do Brasil' estão obrigados a aceitar. 
 
Ainda que se desesperem, em português claro:
- 172 deputados votando contra a admissão da acusação contra o presidente da República = votando contra o impeachment = o pedido será arquivado.
- a presença de apenas 341 deputados já impede a apreciação do pedido de impeachment.
- o presidente da Câmara apenas recebe o pedido de impeachment e decide se submete ao exame de quem realmente decide.
 
Sair desse regramento constitucional é sair da lei, da ordem, do estado democrático de direito e  partir para o VALE TUDO. Os BRASILEIROS DO BEM, entre os quais nos incluímos, NÃO QUEREM que no Brasil passe a vigorar a LEI DO VALE TUDO.] 

Na carta, dizia-se que o espaço da praça “foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos Poderes. Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais”. Os dois, o discurso de Lira e o manifesto da Fiesp, com essa metáfora arquitetônica, queriam não criticar diretamente o presidente da República, fingindo que a culpa pela crise que vivemos é dos dois outros Poderes, quando, na verdade, somente o Executivo está em pé de guerra com o Judiciário e também com o Legislativo, quando Bolsonaro se recusa a aceitar a derrota do voto impresso.

O presidente da Câmara, que tem a chave [sic] do pedido de impeachment, não poderia ter se referido, como fez o ministro Luiz Fux, a crime de responsabilidade de Bolsonaro ao anunciar que não acataria mais decisões emanadas do ministro Alexandre de Moraes. Como cabe somente a ele abrir o processo de impeachment, uma palavra nesse sentido seria terminativa. Fux acusou o presidente de ter agido fora das quatro linhas a que tanto alude, mas lembrou que a investigação cabe ao Legislativo. O fato é que todas as autoridades se pronunciaram ainda impactadas pelas multidões que foram às ruas aderir ao discurso golpista de Bolsonaro.

Muitos continuavam ontem em Brasília fazendo arruaças. Tanto Fux quanto Lira aplaudiram quem foi à rua em manifestação pacífica, afirmando que assim funciona a democracia. Mas coube ao presidente do Supremo ressaltar que a forma era boa, mas o conteúdo não. Defender a extinção do STF ou a substituição de ministros, sem utilizar os meios legais para isso, é fora das quatro linhas. Assim como Bolsonaro não aceita a decisão do Congresso sobre o voto impresso, também não acata a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de arquivar o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes.

Mesmo que Arthur Lira alegue não ver razão para acatar um dentre as dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, terá de fazê-lo a qualquer momento, pois ninguém, nem mesmo ele, acredita em acordos com Bolsonaro para que se modere. Ontem mesmo, na reunião do Conselho de Governo que improvisou depois de ter dito que convocaria o Conselho da República como ameaça, mostrou fotos das manifestações do dia 7 de setembro para garantir que o povo está com ele.

O ministro que pula de ministério em ministério de acordo com a conveniência de Bolsonaro teve a petulância de sugerir ao ministro da Justiça que proíba a Polícia Federal de acatar ordens emanadas do ministro Alexandre de Moraes. Como se a PF não fosse polícia judiciária e autônoma — e pudesse ser manipulada pelo governo. Ou como se isso não representasse mais um crime de responsabilidade.

A fala absurda de Bolsonaro, assim como estimulou Lorenzoni a propor besteiras, fará com que militantes bolsonaristas, como blogueiros e caminhoneiros a soldo, se sintam estimulados a resistir a um mandado de prisão, o que poderá ter sérias consequências. A crise mal começou e, como depende apenas de Bolsonaro, não será contida a não ser com o remédio amargo do impeachment.

Merval Pereira, colunista - O Globo 

 


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Bolsonaro faz nova ameaça e diz que 7/9 é ultimato a ministros do STF - Bolsonaro diz que manifestações serão ultimato a ministros do STF

O presidente Jair Bolsonaro repetiu nesta sexta-feira (3) ameaças golpistas e afirmou que as manifestações do próximo dia 7 de setembro serão um "ultimato" para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Sem citar nomes, o líder brasileiro falou em "renovação no Supremo e ressaltou que não critica instituições ou Poderes, mas sim pessoas pontuais. Os ataques são destinados aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tendo em vista que as últimas críticas foram concentradas a ambos. "Nós não criticamos instituições ou Poderes. Somos pontuais. Não podemos admitir que uma ou duas pessoas que usando da força do poder queiram dar novo rumo ao nosso país", disse Bolsonaro.

Segundo ele, "essas uma ou duas pessoas tem que entender o seu lugar" e o recado do "povo brasileiro, nas ruas, na próxima terça-feira(7), será um ultimato para essas duas pessoas". "Curvem-se à Constituição, respeitem a nossa liberdade, entendam que vocês dois estão no caminho errado porque sempre dá tempo para se redimir", alertou.

© Ansa Brasil Bolsonaristas planejam manifestação no próximo dia 7 de setembro 

A nova ameaça golpista foi deita durante discurso para apoiadores em cerimônia em Tanhaçu (BA) para a assinatura de um contrato de concessão da Ferrovia Integração Oeste Leste (Fiol). Os ultimatos de Bolsonaro, porém, não dependem da sua vontade ou das manifestações, já que a única forma dos ministros do sofrerem um impeachment é por meio de uma decisão do Senado.

Recentemente, o presidente chegou até a apresentar um pedido para destituir Moraes, mas a solicitação foi rejeitada pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Inicialmente, o protesto marcado para a próxima semana tinha como bandeira a defesa do voto impresso, ideia defendida por Bolsonaro em meio a alegações infundadas. Porém, nas últimas semanas, ele passou a falar sobre os atos como uma defesa da liberdade. "Nós não precisamos sair da quatro linhas da Constituição, ali tem tudo que precisamos. Mas se alguém quiser jogar fora destas quatro linhas, nós mostraremos que poderemos fazer também", disse Bolsonaro, que prometeu comparecer na mobilização.

Por fim, o presidente ressaltou que quem dá o ultimato sempre é o povo. "Após o 7 de Setembro, que ficará para todos nós com essa demonstração gigante de patriotismo visto em todos os cantos do nosso Brasil, duvido que aqueles um ou dois que ousam nos desafiar, desafiar a Constituição, desrespeitar povo brasileiro, saberá voltar para o seu lugar, Quem dá o ultimato não sou eu, é o povo brasileiro", concluiu. 

ANSA - Brasil

Em nova ameaça, Bolsonaro diz que manifestações serão ultimato a ministros do STF

Em referência indireta aos ministros, presidente citou que "um ou dois" saberiam voltar "ao seu lugar" após atos
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira que as manifestações previstas para o dia 7 de setembro serão um ultimato para "um ou dois" ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao falar sobre a renovação da Corte por meio de suas indicações, Bolsonaro disse que o país não poderia admitir que "uma ou duas pessoas" usando da força do poder dessem outro rumo para o Brasil. O presidente, investigado no STF, não citou nomes especificamente, mas já afirmou em outras ocasiões que sua irritação é direcionada a Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso.

Durante discurso realizado durante evento na Bahia, o presidente disse que, embora possa jogar dentro das "quatro linhas da Constituição", também poderia fazer valer "a vontade do povo" se alguém não a obedecesse.

— Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar. E o recado de vocês povo brasileiro na próxima terça-feira será um ultimato para essas duas pessoas. Curvem-se à Constituição. Respeitem a nossa liberdade. Entendam que vocês dois estão no caminho errado. Porque sempre dá tempo para se redimir — afirmou o presidente.

No mesmo discurso, Bolsonaro afirmou que não precisa "sair das quatro linhas da Constituição Federal", mas fez a ressalva de que poderia tomar outra medida se "alguém quiser jogar fora dessas quatro linhas".

Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição. Ali temos tudo que precisamos. Mas se alguém quiser jogar fora dessas quatro linhas nós mostraremos que poderemos fazer também valer a vontade e a força do seu povo — disse Bolsonaro.

Posteriormente, o presidente disse acreditar que, após os atos de 7 de setembro, "aqueles um ou dois" saberão voltar para o seu lugar.

—  Quem dá esse ultimato não sou eu, é o povo brasileiro, povo esse no qual nós todos políticos devemos lealdade —  afirmou.

Política - O Globo


quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Depois de Barroso, ministro Alexandre de Moraes entra na mira das Forças Armadas - Bela Megale

O Globo

Forças Armadas

[quem procura, acha.]

Principal foco de críticas de militares alinhados a Bolsonaro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, ganhou um companheiro. Seu colega no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes entrou na mira de membros da cúpula das Forças Armadas aliados do presidente.

As respostas de Moraes aos arroubos autoritários de Bolsonaro, que levaram o ministro a transformá-lo em investigado em três inquéritos e determinar a prisão de seu aliado, o ex-deputado Roberto Jefferson, são apontadas por militares como medidas que “tensionam” ainda mais a crise. Membros da alta cúpula das Forças Armadas afirmaram à coluna que Moraes está perdendo a mãoe que não deveria “entrar no ringue” com o presidente.

Depois que o voto impresso foi derrotado na Câmara, o tom das críticas a Barroso baixaram nos grupos de WhatsApp de militares, mas cederam espaço para Alexandre de Moraes. Nesta segunda-feira, uma ligação do ministro da Defesa, Braga Netto, para Barroso foi "vazada" durante a sessão do STF. Ele atendeu o general e um trecho da conversa pôde ser ouvido por quem acompanhou o julgamento. A ligação mostrou que, após o voto impresso ser derrotado, militares estão em contato com o presidente do TSE.

Bela Megale, colunista - O Globo  

 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Derrota do voto impresso: Câmara, Senado, STF e TSE, a confraria de “rabos presos” - Sérgio Alves de Oliveira

A rejeição da PEC do voto impresso   e auditável (PEC 135/2019), tanto pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, por 23 votos contra 11, quanto pelo seu “Plenário”, por 218 votos contrários, e  229 favoráveis, [229 = garantia de que os inimigos do presidente = inimigos do Brasil não possuem, nem possuirão os votos necessários para pleitear que a Câmara dos Deputados inicie um processo de impeachment, contra o capitão. Isso com um quórum reduzido. Com os 513, esse número seria maior, talvez até aprovando a PEC, que seria travada no Senado, já que seu presidente, senador Pacheco, sentaria em cima.] atingindo, por conseguinte, o quórum mínimo necessário para aprovação da referida proposta de emenda constitucional, que seria o total de 308 votos, traz à tona com clareza solar os reais motivos desse rejeição.

Em primeiro lugar a mudança do sistema eleitoral das urnas eletrônicas de 1º Geração, assim como está, desde o seu início, em 1996,certamente não favoreceria em nada os parlamentares que não votaram pela sua aprovação, mesmo porque,deles próprios,jamais se ouviu uma só queixa de algum prejuízo eleitoral.  Nenhum  inter esse maior os moveria para aprová-la.

Mas também não pode ser desprezada a circunstância de que os Tribunais Superiores de Brasilia, especialmente o STF e TSE, não só jamais demonstraram qualquer simpatia pela mudança do sistema eleitoral eletrônico vigente, quanto, muito mais que isso, mostraram-se radicalmente contrários a essa proposta.

E “pressionaram” os parlamentares para rejeitá-la, especialmente o Ministro do STF Luis Roberto Barroso,- também Presidente do TSE, que não poucas vezes fez “chacrinhas” com deputados e senadores, dando a entender, para “Suas Excelências”,  nas “entrelinhas”, que o Judiciário mantinha em “banho maria” inúmeros processos contra grande parte deles, e que, eventualmente, se fosse o caso, poderiam ser desengavetados e “disparados”, atingindo  em cheio os que teriam votado a favor da “odiada” PEC.

Mas a “recíproca” também é verdadeira. Vários ministros de Tribunais Superiores estão com processos de impeachment “engavetados” na Câmara, tendo o Poder Legislativo integral autonomia de processá-los e julgá-los, independentemente do Poder Judiciário, porquanto seria um julgamento mais “político” do que “jurídico” propriamente dito. [Tem também o pedido da CPI Lava Toga.] 

Portanto, tanto o Poder Judiciário tem o destino político e jurídico de integrantes do Poder Legislativo na “mão”, como também o inverso é verdadeiro, ou seja,o Parlamento mantém como “reféns”,por pedidos de impeachment,integrantes dos Tribunais Superiores. Resumidamente ,isso chama-se reciprocidade de “rabos presos”.

Mas sem dúvida essa “vitória” da rejeição da PEC 135/19, coincide exatamente com uma derrota para a democracia, para o povo brasileiro ,e para a certeza na lisura das eleições periódicas. Se de fato as eleições são “honestas”, não haveria nenhum motivo para negar um pequeno investimento em urnas eletrônicas que imprimissem o voto e os colocasse numa urna em separado,tão somente para fins de mais segurança e conferência,se necessário.

Ninguém me tira da cabeça que as eleições presidenciais de segundo turno em 2014 não foram fraudadas,favorecendo Dilma Rousseff,em detrimento de Aécio Neves. Nisso dou inteira razão ao Presidente Jair Bolsonaro. Não tenho e ninguém tem “provas” convencionais  dessa fraude. Mas se pegassem o Bonner, da Globo, por exemplo,que na ocasião era o divulgador oficial dos resultados dessa eleição,numa eventual “colaboração (ou delação) premiada”,certamente iria sair “cobras e lagartos” das suas informações.

Ora, não é possível que durante cerca de 90% da apuração e divulgação dos votos dessa eleição Aécio Neves estivesse bem à frente de Dilma para, após uma estranha “pane” de alguns minutos nos computadores centralizados do TSE, começasse uma rápida reação de Dilma, ultrapassando Aécio,e vencendo a eleição.

A grande prova dessa fraude chama-se EVIDÊNCIA. E a evidência não surge de “coisas”, porém da inteligência ,na observação dos fatos. Portanto é preciso ter alguma inteligência e honestidade para enxergar a evidência. Infelizmente nem todos possuem essas qualidades. Por essa razão,”fecho” com o filósofo francês René Descartes,quando ele garante,no “Discurso Sobre o Método”,”que não devemos aceitar nada como verdadeiro se não se apresentar EVIDENTEMENTE como tal”. E a evidência prova a fraude nas eleições de segundo turno de 2014. E também que ela poderá se repetir em qualquer outra eleição.

Mas isso não significa uma programação prévia, antes da eleição, das urnas ou dos computadores, para que apresentem em resultado previamente definido,”x”,ou “y”. Pode ser que o computador não seja “necessário”, não seja “convidado” a fraudar o resultado,dependendo do andamento das “coisas”, enquanto o vitorioso desejado estiver na frente. Por isso a fraude eleitoral nos computadores do TSE  é meramente “circunstancial”, não sendo  acionada enquanto o “desejado” estiver na frente.Tudo é uma questão de mera “programação”. E não me venha o TSE com essa história da segurança absoluta da votação eletrônica, quando se sabe que invasores não convidados penetram nos computadores dos grandes bancos do mundo e até na NASA.

Portanto está muito claro que até o momento da interrupção da apuração e divulgação dos resultados das eleições de segundo turno em 2014 não havia nenhuma fraude “acionada”. O computador foi chamado para atender naquele momento a situação de “emergência” que se instalava,ou seja,”trancar” a vitória de Aécio Neves,”manipulando” informações virtuais. E foi “competente”,sem dúvida !!!

O que diria Ruy Babosa numa situação dessas? Será que ele não mudaria a sua opinião de que “a força do direito deve sempre  prevalecer sobre o direito da força”?  
E quando o direito, a democracia ,e a decência política,“entortam”? 
Não é preciso nessas situações extremas que a força restabeleça o direito,desde que amparada na moral e na verdade? 
Que se substitua o “estado de (anti)direito”, pelo verdadeiro “estado de direito”?

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo