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domingo, 4 de abril de 2021

A MISTIFICAÇÃO DA VERDADE - Percival Puggina

Convidado pelo amigo, coronel aviador Jorge Schwertz, do canal O Bom Combate, participarei neste 1º de abril de uma live com ele sobre a Comissão da [In] Verdade. 
“Vamos falar sobre a Comissão da Verdade no dia da mentira?”, convidou-me ele. E eu topei. Lembrei-me, então, de um artigo que escrevi em março de 2011, quando o projeto de criação da Comissão tramitava no Congresso Nacional. O que segue é, quase na íntegra, aquele conteúdo, oportuníssimo a estes tempos inseguros.
 
"A verdade vos libertará" (Jo 8:32).  
Será preciso dizer mais sobre o valor da verdade para o ser humano? A sabedoria desta esplêndida frase repousa, muito especialmente, em evidenciar que assim como a bússola só funciona perante o norte magnético, a liberdade é uma conquista da verdade. Só frente a ela, que a precede, pode ser exercida. A liberdade de quem desconhece a verdade, ou a despreza, é perdição por desorientação, bússola sem ponteiro. Isto posto, não creio que qualquer consciência bem formada recuse-se à busca da verdade ou opte por viver na mentira.

"Como o senhor pode ser contra a busca da verdade?". Tal pergunta já veio parar na "Caixa de entrada" do meu correio eletrônico. Eu? Mas eu amo a verdade, moço! Amo-a com amor zeloso e sem ciúmes! Eu a quero universal e para todos. Mas porque a amo, repugna-me a possibilidade de vê-la submetida a lúbricas manipulações. E não tenho a menor dúvida de que é exatamente isso que vai acontecer quando os grandes bandos da política nacional e aqueles "cientistas" das nossas ciências humanas, militantes engravatados, intelectuais sutis e ardilosos, se debruçarem sobre o lixo da história. Os achados de suas pinças ideológicas, dos interesses políticos, dos ressentimentos e das vendetas serão tudo, menos a verdade. Se já fazem isso, descaradamente, nas salas de aula, com a história brasileira e universal, o que não farão com as controvérsias do passado recente?

Vá lá que manipulem a juventude (pois ao que parece quase ninguém se importa).  
Vá lá que subestimem, não raro com ganhos, a inteligência do povo. 
Vá lá que apresentem suas maracutaias como maracutaias do bem. 
Vá lá que vivam afundados em incoerências e contradições. Mas, por favor, não esperem contar com a complacência de quem ainda não perdeu o senso crítico e a capacidade de analisar o que vê.
 
A verdade, leitor amigo, é um bem imenso. Sabemos todos. No entanto, é preciso reconhecer que a verdade sobre certos fatos históricos sempre terá pelo menos dois lados. Conto um episódio recente para exemplificar a impossibilidade de se chegar a ela em determinadas circunstâncias políticas e através de interessados de insuspeita suspeição. 
 
Uma senhora foi a Cuba. Senhora de esquerda, do tipo que usa brinco com estrela, pingente com estrela e tem estrela no carrinho do bebê. Foi cheia de entusiasmo para conhecer a imagem viva dos seus afetos ideológicos. O refúgio do companheiro Zé Dirceu. O paraíso caribenho de Lula. A terra do socialismo real. Quando retornou, a família caiu-lhe em cima com suas curiosidades. Longos silêncios, muxoxos e frases desconexas eclodiram, depois de alguns dias, neste desabafo restrito ao circuito mais íntimo: "Tá, aquilo é uma droga. Mas eu não posso ficar dizendo, tá?". Tá, madame. Yo la entiendo. A verdade sobre Cuba fica entre quatro paredes. Agora, vamos cuidar da verdade sobre o Brasil, é isso? Se uma simples militante age assim, o que farão os patrões e patronos da pretendida investigação histórica?
 
Na perspectiva da verdade, a questão que eu levanto às pessoas de bom senso é esta: 
no dia em que estiverem interessados em tal ou qual verdade, seja lá sobre o que for, vocês irão buscá-la com o José Genoíno? 
Com o José Dirceu? 
Com o Franklin Martins? 
Com a Manuela d’Ávila? 
Com uma comissão nomeada pela Dilma? 
Não, claro que não. 
Quem sabe com Marilena Chauí, Rui Falcão, Emir Sader, Chico Buarque, Fernando Morais? 
À Globo? Difícil, não? Pois é, nem tente.

Eis por que vejo com tão maus olhos os acontecimentos do Brasil num momento em que, a sociedade vive dividida nesse “pluralismo” da água com o azeite e a verdade vem sendo escandalosamente ocultada e manipulada por aqueles que a deveriam divulgar.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.