"A verdade
vos libertará" (Jo 8:32).
Será preciso dizer mais sobre o valor da
verdade para o ser humano? A sabedoria desta esplêndida frase repousa,
muito especialmente, em evidenciar que assim como a bússola só funciona
perante o norte magnético, a liberdade é uma conquista da verdade. Só
frente a ela, que a precede, pode ser exercida. A liberdade de quem
desconhece a verdade, ou a despreza, é perdição por desorientação,
bússola sem ponteiro. Isto posto, não creio que qualquer consciência bem
formada recuse-se à busca da verdade ou opte por viver na mentira.
"Como o
senhor pode ser contra a busca da verdade?". Tal pergunta já veio parar
na "Caixa de entrada" do meu correio eletrônico. Eu? Mas eu amo a
verdade, moço! Amo-a com amor zeloso e sem ciúmes! Eu a quero universal e
para todos. Mas porque a amo, repugna-me a possibilidade de vê-la
submetida a lúbricas manipulações. E não tenho a menor dúvida de que é
exatamente isso que vai acontecer quando os grandes bandos da política
nacional e aqueles "cientistas" das nossas ciências humanas, militantes
engravatados, intelectuais sutis e ardilosos, se debruçarem sobre o lixo
da história. Os achados de suas pinças ideológicas, dos interesses
políticos, dos ressentimentos e das vendetas serão tudo, menos a
verdade. Se já fazem isso, descaradamente, nas salas de aula, com a
história brasileira e universal, o que não farão com as controvérsias do
passado recente?
Vá lá que
manipulem a juventude (pois ao que parece quase ninguém se importa).
Vá
lá que subestimem, não raro com ganhos, a inteligência do povo.
Vá lá
que apresentem suas maracutaias como maracutaias do bem.
Vá lá que vivam
afundados em incoerências e contradições. Mas, por favor, não esperem
contar com a complacência de quem ainda não perdeu o senso crítico e a
capacidade de analisar o que vê.
A verdade,
leitor amigo, é um bem imenso. Sabemos todos. No entanto, é preciso
reconhecer que a verdade sobre certos fatos históricos sempre terá pelo
menos dois lados. Conto um episódio recente para exemplificar a
impossibilidade de se chegar a ela em determinadas circunstâncias
políticas e através de interessados de insuspeita suspeição.
Uma senhora
foi a Cuba. Senhora de esquerda, do tipo que usa brinco com estrela,
pingente com estrela e tem estrela no carrinho do bebê. Foi cheia de
entusiasmo para conhecer a imagem viva dos seus afetos ideológicos. O
refúgio do companheiro Zé Dirceu. O paraíso caribenho de Lula. A terra
do socialismo real. Quando retornou, a família caiu-lhe em cima com suas
curiosidades. Longos silêncios, muxoxos e frases desconexas eclodiram,
depois de alguns dias, neste desabafo restrito ao circuito mais íntimo:
"Tá, aquilo é uma droga. Mas eu não posso ficar dizendo, tá?". Tá,
madame. Yo la entiendo. A verdade sobre Cuba fica entre quatro paredes.
Agora, vamos cuidar da verdade sobre o Brasil, é isso? Se uma simples
militante age assim, o que farão os patrões e patronos da pretendida
investigação histórica?
Na
perspectiva da verdade, a questão que eu levanto às pessoas de bom senso
é esta:
no dia em que estiverem interessados em tal ou qual verdade,
seja lá sobre o que for, vocês irão buscá-la com o José Genoíno?
Com o
José Dirceu?
Com o Franklin Martins?
Com a Manuela d’Ávila?
Com uma
comissão nomeada pela Dilma?
Não, claro que não.
Quem sabe com Marilena
Chauí, Rui Falcão, Emir Sader, Chico Buarque, Fernando Morais?
À Globo?
Difícil, não? Pois é, nem tente.
Eis por que
vejo com tão maus olhos os acontecimentos do Brasil num momento em que,
a sociedade vive dividida nesse “pluralismo” da água com o azeite e a
verdade vem sendo escandalosamente ocultada e manipulada por aqueles que
a deveriam divulgar.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de
Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site
Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e
sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
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