Diplomacia brasileira acha que o grupo de países funciona como a ‘base do PT’ e vai apoiar o governo em sua ‘agenda mundial’; não é nada disso
Chegaram, e já passaram, os 15 minutos de fama que esses Brics têm
direito de tempos em tempos na mídia brasileira.
Como sempre, não
acontece nada de útil para o público pagante.
Os governantes dos cinco
países se reúnem em algum lugar (desta vez, o da Rússia nem quis ir),
fazem o que os assessores lhes dizem para fazer e deixam o mundo
exatamente onde estava antes de se reunirem.
Quando se vai ver, o único
efeito prático disso tudo, no fundo, é dar mais uma oportunidade para os
especialistas em geopolítica falarem em mesas redondas depois do
horário nobre, escreverem artigos na imprensa e encherem a paciência
geral.
Desta vez, ao que parece, até os professores em altos estudos
internacionais, que vivem de falar dessas coisas, estão achando que os
Brics foram mal. Saíram da sua reunião menores do que eram antes de se
reunir.
A
principal decisão, pelo que deu para entender, foi aumentar o número de
membros do grupo – na suposição de que isso deixa o conjunto mais
forte, como um clube que faz campanha para ter mais sócios.
O problema é
quem está entrando. Como uma organização internacional, de qualquer
tipo ou finalidade, pode ficar mais forte com a entrada da Argentina, por exemplo, ou do Irã?
A Argentina está em processo de recuperação judicial, não se sabendo se
vai haver a recuperação – o que se sabe é que o país continua na fila
do pronto socorro financeiro do FMI,
a inflação dos últimos doze meses passou dos 115% e os níveis de
pobreza estão em 40% da população.
Nenhum dos problemas da Argentina
pode ser resolvido pelos Brics; imagine-se, então, se existe algum
problema dos Brics que pode ser resolvido pela Argentina.
De mais a
mais, não está claro nem se os próprios argentinos querem entrar no
grupo.
O Irã é um caso mais perdido ainda: a sua “Guarda Revolucionária”
foi oficialmente declarada como organização terrorista pela Europa e Estados Unidos.
O que os Brics podem ganhar com isso?
O problema da organização, na verdade, vai muito além do novo quadro social.
O Brasil do chanceler-chefe Celso Amorim acha que os Brics são uma coligação de partidos, como a “base do PT”, que está unida para derrotar os Estados Unidos, a Europa e o capitalismo – e que vão apoiar o presidente Lula em sua “agenda mundial”, como ele é apoiado pelo tráfico de emendas parlamentares no Congresso Nacional.
Não é nada disso, é claro. China, Rússia e Índia estão cuidando, cada
um, dos seus interesses próprios, e têm prioridades muito mais práticas
do que os Brics. Vão deixar o Brasil e Lula falando sozinhos em todas as
vezes, sem exceção, que estiverem ocupados em tratar de coisas
importantes.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo