Nem existe um plano maligno para destruir Lula nem existe uma urdidura diabólica para pôr fim à Lava Jato
Minha coluna na
Folha desta sexta trata do embate entre duas teorias conspiratórias: de
um lado, haveria um complô para destruir o PT e impedir a candidatura
de Lula; de outro, estaria uma armação para destruir a Lava Jato. O mais
curioso é que os que quereriam solapar a operação não seriam os mesmos
que gostariam de proteger Lula e o PT.
O que isso
significa? Que estão em curso duas mistificações, duas tolices, duas
armações, duas mentiras. Nem existem os que querem destruir Lula nem
existem os que querem destruir a Lava Jato. A verdade é que o chefão
petista ambiciona a inimputabilidade e a impunidade, e alguns membros da
Lava Jato ambicionam o poder absoluto.
Se você é
absolutista de um lado ou de outro, escolha a teoria que o faz feliz.
Eu, como sou um liberal, nego as duas coisas por uma simples razão: são
duas mentiras. Naquele
evento de nome exótico —“Por um Brasil justo para todos e para Lula” —,
que faz dele um verdadeiro Deus (o que está acima de todos), o chefão
petista acusou a existência de um pacto diabólico para destruí-lo:
juntaria imprensa, procuradores, juízes, sei lá quem. Entendi: como todo
discurso que remete à conspiração, este também é redondo: Lula é Deus;
logo, seu inimigo é o diabo.
Rodrigo
Janot respondeu num café da manhã com jornalistas. Disse que todo mundo é
livre para externar a sua opinião e que não é religioso. Resolveu, em
suma, ser irônico com Lula. É possível que, de fato, a assertiva não
peça muito mais do que isso. Mas Janot
também resolveu vender a sua barata teoria da conspiração: estaria em
curso uma tramoia para acabar com a Lava Jato. Evidências disso? Ora, o
projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade e o relatório do
deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS) sobre as medidas contra a corrupção.
Janot
insistiu que um procurador ou um juiz estariam ameaçados apenas porque a
sua interpretação não prevaleceu numa instância superior. Bem, como
respondo a isso? Simples! Trata-se de uma mentira. Mais uma
vez, o procurador fala fora dos autos e faz política. É por isso que
acho que ele deve aceitar o convite que lhe fez Renan Calheiros e
debater o assunto no Congresso. Até agora, nenhum dos críticos do
projeto de abuso de autoridade disse qual trecho do texto ameaçaria a
Lava Jato. E sei por que não fazem isso: porque não há trecho nenhum.
O projeto
pune, sim, juízes e procuradores, mas só os que faltarem com seus
deveres funcionais. Há legislação parecida em todo o mundo democrático. Quando um e
outro falam, formam-se imediatamente as duas correntes: a do “Lula está
inteiramente certo” e a do “Janot está inteiramente certo”. Pois eu digo
que os dois estão inteiramente errados. E essa questão nada tem a ver,
na essência, com a Lava Jato.
Nem Lula
pode se achar inimputável, considerando conspiração a atuação da Justiça
e do Ministério Público, nem os membros do MP e da Justiça podem achar
que tudo aquilo que não atende a seus anseios é só uma forma de
desmoralizar a Lava Jato. Daqui a pouco vai ter gente ressuscitando “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, “O Plano Cohen” e o “Caso Dreyfus”
Saber mais: Coluna do Reinaldo, na Folha
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA