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terça-feira, 6 de março de 2018

O candidato oficial

O Palácio do Planalto pressiona a cúpula do MDB para que a legenda assuma compromisso com uma candidatura própria. Esse é o desejo do presidente Michel Temer, que pretende mesmo ser candidato à reeleição se o ambiente econômico, social e político for minimamente favorável a que possa chegar ao segundo turno das eleições. A primeira condição está dada, com a queda dos juros e a inflação baixa. A segunda dependerá do nível de emprego e dos resultados da atuação do governo na área de segurança. A terceira está relacionada às outras duas e à operação em curso para montagem do novo ministério, cuja composição está sendo condicionada ao apoio a uma “candidatura oficial” do governo.

Temer não precisa se desincompatibilizar do cargo para ser candidato. E tem até o dia 15 de agosto para se decidir ou lançar outro candidato. Desse ponto de vista, leva vantagem em relação ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que precisa se desincompatibilizar do cargo e entregar o Palácio dos Bandeirantes ao vice-governador Márcio França, sem nenhuma garantia de que será apoiado pelo PSB (uma hipótese cada dia mais improvável). No cronograma tucano, Alckmin será lançado no domingo, mas o governador paulista tem até o dia 7 de abril para se desincompatibilizar do cargo.

Para embaralhar as cartas da eleição, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lançará sua candidatura a presidente da República na quinta-feira, quando o prefeito de Salvador, ACM Neto, assumirá o comando da legenda, no lugar do senador Agripino Maia (DEM-RN). As relações entre Temer e Maia andam muito agastadas por causa de sua movimentação agressiva. Além de se lançar candidato, ampliou a bancada na Câmara de 21 deputados para quase 40 parlamentares. A próxima adesão anunciada por Maia é do relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), que estaria de malas prontas para trocar de legenda (a conferir). O presidente da Câmara também não precisa se desincompatibilizar do cargo para ser candidato.

A chave da estratégia de Temer é a montagem da nova equipe ministerial. O que acontece normalmente, quando os governos se aproximam das eleições, é as pastas serem ocupadas por secretários executivos, com o antigo titular mantendo forte influência nas decisões administrativas. É tudo o que Temer não pretende fazer. A permanência de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) no Ministério das Relações Exteriores, de Blairo Maggi (PP) na Agricultura e de Raul Jungmann na Segurança Pública é comemorada no Palácio do Planalto como uma sinalização nessa direção. Temer abandonou a reforma da Previdência para evitar uma derrota que sinalizaria o fim do governo. A agenda da segurança pública deu nova vida ao que lhe resta de mandato, e pode ajudar a melhorar os índices de aprovação.

Hoje, a 135ª Pesquisa CNT/MDA será divulgada no final da manhã, com cenários de primeiro e segundo turnos de votação para as eleições de 2018. O levantamento também aborda a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo TRF-4 e a opinião dos entrevistados sobre a sua participação nas próximas eleições. Além disso, traz avaliações do governo federal e do desempenho pessoal do presidente Michel Temer; avaliações dos governos estaduais e municipais, bem como a opinião dos entrevistados sobre emprego e renda, saúde, educação, segurança e imigrantes venezuelanos. O cenário político entrou em movimento. Mas isso não significa vida fácil para o presidente da República. Ontem, o ministro Luís Roberto Barroso autorizou a quebra de seu sigilo bancário num inquérito que investiga o esquema de propina da Odebrecht.

Animal ferido
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos, sentiu o cheiro de animal ferido. Filiou-se ontem ao PSol para ser candidato a presidente da República. Principal aliado do PT em São Paulo, incensado pelo líder petista como liderança emergente dos novos movimentos sociais, a candidatura de Boulos deve ser oficializada sábado, tendo como vice a líder indígena Sônia Guajajara.

Luiz Carlos Azedo
 

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Relator da Previdência reconhece: ‘Não há votos’



Num instante em que o Planalto se mexe para tentar votar na próxima quarta-feira (6) a reforma da Previdência no plenário da Câmara, o deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da proposta, admite: “Não tem ainda os votos.” Repete: “Não tem votos para aprovar hoje, não.” Enfatiza: “Não tem não.” Lamenta: “Temos que fazer um exercício político grande para tentar aprovar.”

Arthur Maia respondeu a questionamentos de internautas no site da Câmara (veja o vídeo). A certa altura, expressando-se em timbre de desabafo, ele insinuou que faltam votos para aprovar as mexidas na Previdência porque seus colegas optaram por enganar os eleitores. “Tenho dificuldade de compreender a posição de alguns”, disse.

O deputado relatou o que acabara de ouvir do ministro da Fazenda: “O Henrique Meirelles, me disse há pouco que um parlamentar virou para ele e falou: ‘Olha, ministro, eu concordo integralmente com a reforma, sou 100% a favor. Até acho que deveria ser mais dura. Mas eu não vou votar porque é um ano eleitoral.” [o ex-acusador-geral da República fracassou na tentativa de golpe contra Temer - perdeu feio - mas teve êxito total na esforço para prejudicar o Brasil e os trabalhadores que no futuro não terão aposentadoria.
As reformas são necessárias mas a atuação traiçoeira do Janot contra o Brasil  retardou o processo e conduziu a decisão para um ano eleitoral - tudo poderia ser aprovado, desde que concluído em 2017.
Iniciar 2018 trabalhando para o povo esquecer eventuais prejuízos com a aprovação das reformas (cujos benefícios superam em muito os prejuízos  da rejeição) seria tarefa bem mais fácil do que iniciar o próximo ano tentando explicar supostos prejuízos para o povo e ao mesmo tempo mostrar os prejuízos para o Brasil - vale dizer para o povo.
Janot conseguiu ferrar o Brasil e a classe trabalhadora mais jovem, que talvez não consiga se aposentar.] 

O relator da Previdência interpretou as palavras do interlocutor de Meirelles: “Esse cidadão quer ir para a eleição no ano que vem dizendo que é contra a reforma, fazer um discurso para a galera. Depois, vai chegar aqui, em 2019, para tentar desdizer tudo o que ele disse e votar a favor da reforma.”

Arthur Maia prosseguiu: “Eu não sei fazer isso. Talvez eu seja minoria, talvez aqui não seja o meu lugar. […] Não tenho coragem de chegar aqui, dizer que sou contra, e depois votar a favor. Não sei fazer isso. Mas tem muita gente como esse [parlamentar] a que se referiu o Henrique Meirelles. Eu ouço isso todo dia, toda hora aqui na Câmara… […] Essa questão da Previdência, no Brasil, é um escárnio. Tem que ser enfrentado, tem que ser confrontado.”

No próximo domingo, Michel Temer participará de jantar com líderes partidários, na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia DEM-RJ). Durante o repasto, os aliados do governo fornecerão estimativas sobre a quantidade de votos disponíveis nas respectivas bancadas. É improvável que os 308 votos de que o governo precisa caiam do céu em tão pouco tempo.

Blog do Josias de Souza