A maior vítima da violência do PT será o cidadão, que não terá como melhorar de vida
O
profeta Lula estava particularmente inspirado quando foi votar para
prefeito em São Bernardo do Campo, onde mora. “O PT vai surpreender
nesta eleição”, previu com precisão instantânea. Pois seu partido
surpreendeu mesmo, ao cair de terceiro em número de prefeituras em 2012
para décimo lugar neste pleito. “Quanto mais ódio se estimula, mais amor
se cria a favor”, disse, em forma de oração. “Só há um jeito de eles
tentarem me parar: evitar que eu ande pelo Brasil”, ameaçou o santo
guerreiro contra o dragão da maldade da burguesia infame. O loroteiro
está de volta, olê, olê, olá!
Não tardou para as urnas o
estarrecerem. Nem precisou sair de casa: Orlando Morando (PSDB) e Alex
Manente (PPS) disputam o segundo turno em São Bernardo. O companheiro
Tarcísio Secoli, favorito do prefeito Luiz Marinho, seu sucessor no
Sindicato dos Metalúrgicos, do qual Lula ascendeu para a glória
política, ficou em terceiro, com menos de um quarto dos votos válidos:
22,6%. Em termos proporcionais, superou o poste que ele elegeu em São
Paulo em 2012: Fernando Haddad protagonizou o maior vexame da história
do partido ao ser massacrado pelo tucano João Doria, que o derrotou no
primeiro turno por 53,3% a 16,7%. Em gíria de turfe, Haddad nem pagou
placê.
E no dia em que constatou que as eleições “consolidam a
democracia no Brasil”, Lula deu uma desculpa esfarrapada para o fiasco
histórico: “A imprensa está em guerra com o PT há sete anos”. Para ele,
“as pessoas se enganam quando (pensam que) uma TV, um jornal, pode tudo.
Não pode. O povo é que pode tudo”. No caso, não lhe falta razão: numa
democracia, como reza a Constituição da República, todo o poder emana do
povo e para ele é exercido. As urnas não falam, mas o povo fala nelas. E
a lorota de Lula tornou-se senha para a violência: mais tarde,
constatada a derrota de Haddad, militantes petistas impediram que a
repórter Andréia Sadi, da GloboNews, concluísse um boletim ao vivo na
sede do PT, no centro de São Paulo.
Um tsunami de votos soterrou o
partido que se diz da classe operária, mas passou 13 anos, 4 meses e 12
dias usando o poder federal para atuar como despachante de empreiteiros
e amigos empresários emergentes que, em troca de contratos
superfaturados, engordaram os cofres dos petistas e do PT em proporções
nunca ousadas antes. Até recentemente, ingênuos, como o autor destas
linhas, imaginavam que havia apenas uma corrente de escândalos de
corrupção – Santo André, mensalão, petrolão, etc. –, conectados e
consequentes um do outro. Agora é possível perceber que não é só isso.
Trata-se, sim, de um assalto planejado, organizado e realizado para
esvaziar todos os cofres públicos ao alcance de suas mãos.
A 53.ª
(Arquivo X) e a 54.ª (Ormetà) fases da Operação Lava Jato trouxeram à
tona revelações impressionantes sobre a gestão dos desgovernos Lula e
Dilma. Nunca antes na História deste país um chefe da Casa Civil
respondera por violações do Código Penal. José Dirceu, “capitão” do time
de Lula em seu primeiro governo, está preso em Curitiba, acusado de
haver delinquido quando cumpria pena na Papuda, em Brasília, condenado
por corrupção e outros crimes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no
caso mensalão. Antônio Palocci Filho, primeira eminência parda de Dilma,
após ter sobrevivido a 19 processos criminais no mesmo STF e ter
violado o sigilo bancário de um pobre trabalhador, o caseiro Francenildo
dos Santos Costa, foi recolhido ao xadrez, acusado de ter pago dívidas
de campanha da chefe com dinheiro sujo.
Gleisi Hoffmann, ex-chefa
da Casa Civil e senadora (PT-PR), é acusada de ter recebido R$ 1 milhão
de propina da Petrobrás para comprar votos. Acusação igual é feita ao
marido dela, Paulo Bernardo, suspeito de haver furtado R$ 7 milhões em
prestações mensais de funcionários do Ministério do Planejamento que
requeriam empréstimos consignados.
Guido Mantega, preso e solto
pelo juiz Sergio Moro, foi outro ex-ministro do Planejamento a
protagonizar processo criminal, em que foi delatado por Eike Batista,
“bom burguês” escalado por Lula entre “campeões mundiais” do socialismo
de compadrio, de havê-lo achacado no gabinete do Ministério da Fazenda.
Palocci também foi ministro da Fazenda de Lula, que se diz o mais
“honesto dos seres humanos”. Enquanto Dilma se põe acima de suspeitas
por não ter contas bancárias no exterior.
No palanque, a esquerda
insistiu que Dilma foi usurpada por Michel Temer, o vice duas vezes
eleito com ela, no impeachment, cujo rito legal foi cumprido à exaustão.
Em São Paulo, Luiza Erundina, do PSOL, e, no Rio, Jandira Feghali, do
PCdoB, pediram votos repetindo essa patranha de consolar devoto. A
ex-prefeita teve 3,2% dos votos e a carioca, 3,3%.
Fernando
Haddad, contrariando o comportamento belicoso de seus apoiadores,
cumprimentou João Doria pela vitória. No entanto, a agressão à repórter
de televisão não foi, como devia ter sido, evitada por seu candidato a
vice, Gabriel Chalita, nem por seu antigo colega de Ministério de Lula,
Alexandre Padilha, que, conforme depoimento do colunista do Globo Jorge
Bastos Moreno, se mantiveram impassíveis diante do lamentável fato.
Assim, deram o sinal de que a oposição do PT e aliados de esquerda não
se limitará à irresponsável tentativa de impedir que sejam feitos os
ajustes sem os quais o Brasil não conseguirá recuperar-se da crise
provocada pela longa duração do próprio reinado na República.
O
governo de Temer, também cúmplice no desmantelamento do Estado
brasileiro nas gestões petistas, sofrerá boicote impiedoso. Mas a maior
vítima será, como sempre, o cidadão, que amarga desemprego, inflação e
quebradeira. E se verá às voltas com vândalos nas ruas queimando carros e
quebrando vidraças. O PT não é cachorro morto e seu chefão, Lula, ainda
será o leão rouco que ruge mesmo tendo perdido dentes e garras.
Fonte: José Nêumanne - Jornalista, poeta e escritor
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quarta-feira, 5 de outubro de 2016
Lula, um leão rouco, sem dentes nem garras
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