Sem avançar nas reformas estruturais, principalmente a da Previdência e a tributária, este governo legará ao próximo algo como uma moldura bonita, porém vazia
Michel
Temer perdeu uma preciosa chance política na última segunda-feira, durante
encontro com líderes da base parlamentar governista, o primeiro desde que a
Câmara dos Deputados reafirmou a validade do seu mandato presidencial pelos
próximos 14 meses. A reunião foi sobre a agenda de mudanças essenciais à
retomada da rota do desenvolvimento. Tinha o
presidente a oportunidade de demonstrar liderança no processo de negociações no
Congresso. No entanto, acabou passando à sociedade uma mensagem ambígua, nada
entusiasmadora, em relação às possibilidades de aprovação das reformas da
Previdência Social e do sistema tributário. [Temer foi sincero e a sinceridade na maior parte das vezes desagrada;
não tinha o menor sentido Temer tentar passar uma mensagem que as reformas seriam facilmente aprovadas - é pacífico que o governo Temer sofreu nos últimos meses cerrado ataque representado pelas denúncias sem provas apresentadas pelo ex-acusador-geral da República, Rodrigo 'enganot' e com isso não encontrou condições que permitissem o andamento normal das reformas.
Alopra, praticamente no final do ano e às vésperas de um ano eleitoral, aprovar reformas ficou bem mais dificil e, acertadamente,Temer insistiu na necessidade das reformas serem aprovadas e deixou bem claro que vai fazer sua parte - tentar aprovar - e não logrando êxito a responsabilidade será da sociedade o que inclui, sem limitar, o Legislativo.
Ao processo de sabotagem conduzido pelo ex-procurador-geral se soma a sistemática política de críticas negativas formuladas por parte da mídia ao atual presidente da República]
Em
resumo, disse que vai tentar, ressalvando que “se a sociedade” não quiser,
“paciência”. Em contraste, foi mais claro e objetivo na “gratidão” aos que no
Legislativo empenharam o próprio prestígio com o eleitorado para formar a
maioria que o preservou na Presidência da República. “Quero deixar uma palavra
de gratidão por tudo o que vocês fizeram, não pelo governo, mas pelo Brasil”,
disse. “O Legislativo não é um apêndice do Executivo. É um órgão que trabalha
junto com o Executivo e governa junto. Estamos fazendo um governo conjugado,
dando um exemplo da força das nossas instituições. ”
Temer, de
fato, não tem motivos para se queixar do Congresso. Hábil em negociações nos
bastidores, recebeu tudo o que pediu aos parlamentares desde o afastamento de
Dilma Rousseff, em maio do ano passado — inclusive uma inédita retificação do
próprio mandato, por duas vezes nos últimos cinco meses. Seria
lícito supor que, na última etapa do mandato no Palácio do Planalto, Temer se
dedicasse integralmente ao acabamento de seu legado reformista, emoldurado na
aprovação de limites aos gastos públicos, a reforma do ensino médio, as
mudanças na legislação trabalhista e a renegociação da dívida dos municípios.
Sem avançar na agenda de reformas estruturais na economia, principalmente na
Previdência e no sistema tributário, sabem o presidente e todos os
parlamentares governistas, este governo legará ao próximo algo similar a uma
moldura bonita, porém vazia, na parede.
Isso
porque, sem reformas, restará a realidade impositiva do aumento de tributos
durante o próximo calendário eleitoral, com consequências diretas, objetivas,
sobre a taxa de juros referencial (Selic). O efeito
previsível disso tende a ser um novo adiamento na retomada das atividades
econômicas, depois de um ciclo de recessão sem precedentes, no qual o Produto
Interno Bruto recuou 8,6% durante 11 trimestres até 2016. É dever do presidente
agir, rápido e com máxima firmeza, para liderar o Congresso na aprovação dessas
medidas vitais ao país. É sua responsabilidade com a História.
Editorial - O Globo