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sábado, 20 de julho de 2019

Lula Livre, os (seus) impostos e as imposturas - Editoral, Revista Isto É

Não importa qual decisão você tenha tomado no valhacouto da urna o refúgio mais íntimo e pessoal da democracia. Se você avançou sobre as teclas para cravar no 17 de Bolsonaro, no 45 de Alckmin, no 18 de Marina Silva ou no 13 de Fernando Haddad e congêneres. Igualmente não interessa seu pendor ideológico: você sustenta o Lula Livre, queira ele em liberdade ou não. A revelação feita por ISTOÉ em matéria de capa da última edição expõe uma excrescência do Fundo Partidário o uso indiscriminado do recurso a bel prazer e ao sabor das conveniências dos partidos. Como é notório, o fundo é público, bancado pelo meu, seu, nosso dinheiro. No avanço à verba custeada pelo contribuinte, o PT dispensa pudores. De acordo com a reportagem, prestações de contas da Executiva Nacional petista ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) comprovam que “o PT usou dinheiro da União na compra de passagens aéreas, diárias de hotéis e alimentação para os petistas irem a Curitiba pedir a soltura do ex-presidente, no pagamento de locação de veículos, no aluguel de salas para reuniões e, até mesmo, no custeio do trabalho de seguranças privados em atos registrados em favor do Lula Livre”.

Os valores podem alcançar a casa do milhão, mas os petistas sequer coram a face ao tentar justificá-los. Em nota enviada à redação, o partido alega que ISTOÉ carregou nas tintas do sensacionalismo, porque não haveria nada a esconder, uma vez que tudo estaria registrado nos documentos oficiais. Argumenta ainda que “as atividades partidárias por ela citadas, como as despesas com reuniões de órgãos de direção do PT, se enquadram perfeitamente na Lei dos Partidos Políticos (9.096/95)”.

As justificativas do PT, para variar, não param em pé. Primeiro porque o partido não informa ao TSE, como quer fazer crer, que o Fundo Partidário tem sido usado para bancar os atos em favor da libertação de Lula. Vale-se de um artifício recorrentemente utilizado para tentar engabelar o incauto leitor. Um sofisma, portanto, cujo propósito não é outro senão o de encantar convertidos. Ao contrário do que alardeia o PT, foi necessário que a reportagem de ISTOÉ cruzasse as informações disponibilizadas pelo partido com as datas dos eventos pró-Lula para, aí sim, descobrir qual era a real finalidade dos pagamentos realizados com dinheiro do fundo público. Assim, a resposta da direção da legenda é, antes de tudo, uma confissão de culpa. Outro argumento falacioso é de que os gastos estariam em consonância com o que reza a norma. Classificar pagamentos com hospedagem, comida, segurança, transporte para expoentes do movimento Lula Livre como “atividade partidária” passível de ser sustentada por recursos da União é puro cambalacho retórico — não bastasse contrariar frontalmente o espírito da verba partidária, que veda a promoção de filiados.

Mesmo fora do poder, o PT segue em sua confusão do público com o privado. E é óbvio que outros partidos se assanham. No afã de ir mais fundo à bolsa da Viúva, querem ampliar o quinhão a que cada agremiação tem direito. “A farra com dinheiro alheio mostra que já é hora de acabar com esse tal fundo partidário. Quem vai para a política deve estar disposto a servir e não dela se servir”, afirmou a deputada estadual Janaína Paschoal, ao comentar o escândalo revelado por ISTOÉ. Uma espécie de fada sensata do PSL, Janaína pertence à escola de outra virtuose da política: Margareth Thatcher que, em memorável discurso durante conferência em 1983, transcendeu o seu tempo ao versar sobre um debate atual. Disse ela: “a verdade fundamental é que o Estado não tem outra fonte de recursos além do dinheiro que as pessoas ganham por si próprias”. Concluiu a Dama de Ferro: “Se o Estado deseja gastar mais, ele só pode fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou cobrando mais tributos, e não adianta pensar que alguém irá pagar. Esse ‘alguém’ é você. Não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos”. Ou seja, imposto é o que você paga. Imposturas é o que fazem com ele.

 Editorial - Sérgio Pardellas - IstoÉ