Em meio à discussão sobre auxílio-moradia, representantes de
associações do Judiciário e do Ministério Público entregaram nesta
quinta-feira, 1º, uma carta à presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), ministra Cármen Lúcia, para defender a “valorização” da carreira e
reajuste salarial. Segundo o documento, a revisão do subsídio de acordo
com a inflação está atrasada desde 2015 e representa perda acumulada de
40%. A carta também foi entregue à procuradora-geral da República,
Raquel Dodge.
Com apoio de 17 mil assinaturas, o texto
afirma que o Judiciário e o MP foram “as únicas carreiras do Estado não
contempladas recentemente com qualquer reajuste em seus subsídios”. Para
entidades como a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB),
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e Associação
dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), a “defasagem acumulada do poder
aquisitivo” dos membros do Judiciário e do MP representa “um atentado à
garantia da irredutibilidade” e seria uma “injustiça”.
Os grupos consideram que a defasagem
salarial nos últimos anos é uma resposta às investigações contra
políticos. “Não pode a Suprema Corte, em especial, fechar os olhos para o
ignóbil uso da política de remuneração como estratégia de retaliação ao
desempenho autônomo, independente e altivo das funções do Poder
Judiciário e do Ministério Público”, diz o documento.
As entidades também pedem apoio do STF e da PGR pela
aprovação da PEC 63/2013, que estipula pagamento adicional por tempo de
serviço para membros do Judiciário e MP. Além disso, os grupos se
manifestaram contra a reforma da Previdência e contra projetos do
Legislativo que, segundo eles, tentam intimidar e atrapalhar o trabalho
de juízes e procuradores. Entre eles, citaram a proposta que atualiza a
lei de abuso de autoridade.
Após a entrega da carta, juízes e
procuradores se dirigiram para o auditório Nereu Ramos, na Câmara dos
Deputados, onde realizaram o evento “contra a reforma da Previdência e
pela valorização da Magistratura e do Ministério Público”. Alguns
parlamentares participaram do encontro, como o vice-presidente da Casa,
Fábio Ramalho (PMDB-MG), Paulo Paim (PT-RS) e Rogério Rosso (PSD-DF).
Apesar de não ter sido tratado abertamente
no documento, o auxílio-moradia foi um dos principais assuntos nas rodas
de magistrados e procuradores que participaram da manifestação. Muitos
deles questionavam se o STF manterá ou não o benefício, que deverá ser
votado definitivamente pela Corte em breve.
Evento
No evento realizado na Câmara, nesta tarde, o
presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (Anamatra), Luiz Guilherme Feliciano, afirmou que a
irredutibilidade é uma garantia do cidadão. “Sentimos na pele o
endividamento que dia a dia aumenta entre magistrados e membros do MP”,
afirmou. Ele avaliou que a perda de 40% nos subsídios por causa da
inflação, desde 2015, é “praticamente um escárnio”. “Quem tem por dever
lutar pelos direitos alheios, tem o dever de lutar para ter os próprios
direitos”, declarou ao finalizar seu discurso.
Já a procuradora do Trabalho e
vice-presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho
(ANPT), Ana Cláudia Bandeira Monteiro, disse que os direitos não são
para os magistrados e procuradores, e sim “para os cargos que ocupam
para o bem de todos”. A presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público
(CONAMP), Norma Cavalcanti, disse que é uma “falácia” do governo tentar
atingir magistrados e procuradores ao chamá-los de privilegiados. “Como
somos privilegiados, se fomos os únicos servidores públicos que não
tiveram seus subsídios corrigidos. É punição por que combatemos a
corrupção?”, questionou. “Eu tenho obrigação de combater a corrupção,
mas o Estado tem obrigação de corrigir meu subsídio.”
O Estado de S. Paulo
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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
Em carta ao STF e PGR, entidades do Judiciário e MP pedem aumento salarial
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