O PT, Luiz Inácio da Silva à
frente, resolveu reeditar o discurso da vítima de perseguição política para tentar se precaver do que vier
adiante em decorrência da Operação Lava Jato. Pura falta de melhor argumento no
momento. Quem esteve com o ex-presidente nesta semana no Instituto Lula – precisamente no dia em que o tesoureiro João
Vaccari Neto foi levado a depor na Polícia Federal – pode aquilatar que ele tem perfeita noção da gravidade da
situação. A luz amarela acendeu no
Instituto Lula.
Ao
contrário do Palácio do Planalto, onde a presidente Dilma Rousseff não perde a
oportunidade de repetir – e agradece a
quem puder fazê-lo por ela em público – que
não “tem nada a ver” com Vaccari, no escritório do ex-presidente sabe-se
perfeitamente que todo mundo no PT “tem a ver” de
alguma forma com o tesoureiro do partido.
Na
sexta-feira, dia seguinte ao depoimento de Vaccari, ressurgiram os antigos bordões sobre “golpes”, urdiduras para
“criminalizar” o PT, alertas para a possibilidade de “julgamentos políticos e não jurídicos” e
as inevitáveis comparações com o mensalão, aquele caso que só existiu na mente
dos conspiradores.
Soaram especialmente
estapafúrdias as suspeitas levantadas a respeito da conduta da PF ao conduzir o tesoureiro
de maneira coercitiva para depor,
porque contrastam com o esforço feito pela presidente Dilma Rousseff para
convencer o País de que o escândalo da Petrobrás só existe porque o governo
dela não dá trégua à corrupção.
Ao
saber que a polícia queria do tesoureiro informações
sobre doações legais e ilegais feitas por empresas que tinham contratos
com a Petrobrás, o presidente Rui Falcão foi dos
primeiros a atestar que no PT não tem caixa 2, só recursos devidamente contabilizados. Isso agora que o pessoal dos recursos não contabilizados já
está condenado e não precisa mais da tese do
crime eleitoral para negar corrupção. Nessa altura pouco importa a
coerência ou verossimilhança das alegações.
Nem os petistas acreditam de fato na narrativa do “golpismo” tantos são os
fatos que deixam o partido atarantado diante de um
governo que comete um erro atrás do outro e, além disso, não se comunica para
dentro nem para fora.
O
PT simplesmente não tem o que dizer no momento além de atribuir culpas a
inimigos difusos. Fosse falar a verdade do que se diz
internamente, os responsáveis pelas agruras seriam outros: a presidente e os ministros “da casa”, Aloizio
Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas.
A
presidente da República nada diz que guarde relação com a realidade. Sobre as
questões importantes Dilma se cala
e, com isso, dissemina inquietação no PT. O ex-presidente Lula tem ouvido de
correligionários apelos para que comande algum tipo de reação. Na política. As declarações dele na reunião do
diretório nacional do partido em Belo Horizonte obedeceram ao modelo antigo, mas não traduzem o real estado de espírito de Lula sobre os
rumos do governo, a administração (ou
falta de) das crises e os desdobramentos da Lava
Jato. O blazer, a calça e a
camisa pretos refletiram melhor.
As
bravatas ditas em público sobre a necessidade de o partido “reagir aos ataques” são
apenas bravatas. Na realidade nua e crua há noção da gravidade e da
imprevisibilidade da situação. Os
petistas falam em defender Vaccari como se o alvo fosse a pessoa física. Lula
disse que “na dúvida” ficava com o “companheiro”, Rui Falcão externou
confiança de que ele “nunca pôs dinheiro
no bolso”.
Não é disso que se trata. O que se
investiga é o repasse de uma parte de dinheiro de contratos da Petrobrás para partidos políticos.
Entre eles o PT do qual
Vaccari seria, segundo os
delatores, o encarregado de intermediar
as operações. Não é ele quem está sendo acusado de
receber propina, é o partido.
Fonte: Estadão - *Dora Kramer, colunista