Congresso afronta o Orçamento com proposta de destinar R$ 3,8 bi a campanhas
Beira o achincalhe a proposta gestada no Congresso para dotar o fundo
eleitoral com R$ 3,8 bilhões em 2020, ou R$ 1,8 bilhão além do que antes
se previa. Do PSL ao PT, passando pelo famigerado centrão, 13 partidos
se mancomunaram para impor ao país uma despesa que só interessa a
políticos.
Parlamentares agem como se o Brasil não padecesse sob um draconiano
arrocho orçamentário, imposto pela escalada da dívida pública —que levou
à adoção do teto constitucional de gastos durante o governo Michel
Temer (MDB).
Falta dinheiro para tudo, do custeio ao investimento, e eles se dispõem a
abusar do escasso crédito que ainda têm com a população. Com a vigência do teto, o dispêndio terá de ser compensado com cortes
noutros setores e serviços. Aqui a liga da injustiça formada na Comissão
Mista do Orçamento se esmerou para comprovar o descaso com a opinião
pública. A ideia inicial parecia talhada para deflagrar revolta: R$ 500 milhões
seriam tirados da saúde pública, R$ 380 milhões da infraestrutura
(leia-se: saneamento e habitação), R$ 280 milhões da educação. [talvez seja conveniente se considerar a grande possibilidade do 'seriam' ser trocado pelo SERÃO e na sequência pelo FORAM.]
O próprio presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
avisou a seus pares que precisam explicar melhor à sociedade de quais
fontes sairão os recursos. Por outro lado, como se já encaminhando
contra a ideia infeliz, alertou que o eleitorado jamais se dará por
satisfeito com os valores do financiamento público. [lembrando que o presidente da Câmara não é obrigado a votar; sua opinião seria mais conclusiva não pautando a matéria.]
Com efeito, destinar R$ 2 bilhões para o fundo já soava como provocação,
em tempo de garrote orçamentário, dado que aí já se embutira aumento de
R$ 300 milhões sobre o R$ 1,7 bilhão despendidos no pleito de 2018.
Mais que duplicar esse montante, chegando aos R$ 3,8 bilhões, equivale a
cumular imprudência com indecência. Como se não bastasse, o controle social sobre o gasto dos recursos
bilionários é nulo. Caciques partidários controlarão essas verbas para
financiar seus milhares de cabos eleitorais e apadrinhados nos 5.570
municípios do país.
Alega-se que eleições para prefeitos e vereadores são mais caras que
pleitos nacionais, como o de 2018, porque há mais candidatos envolvidos.
Ora, se hospitais, escolas e outras serviços têm de se virar com menos
dinheiro, por que não podem fazer o mesmo todos os que almejam um cargo
público? A fim de arrancar da sociedade recursos para sustentar a corporação,
desaparecem as diferenças ideológicas entre as siglas signatárias da
proposta. Não há polarização. Elas representam 430 dos 513 deputados e
62 dos 81 senadores. Senadores e deputados deveriam convencer-se, enquanto é tempo, de que estão sozinhos e isolados nessa empreitada doidivanas.
Editorial - Folha de S. Paulo