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domingo, 9 de julho de 2017

Delação ostentação: a Justiça é leniente com os criminosos?

A delação premiada é mais branda que o modelo do plea bargain americano, que a inspirou. Isso é necessariamente ruim? 

 A doleira Nelma Kodama em seu apartamento onde cumpre prisão domiciliar
 
O lobista Fernando Baiano ficou dez meses preso até decidir contar tudo o que sabia aos procuradores da Lava-Jato. Principal intermediador de propinas entre ex-diretores da Petrobras e integrantes do PMDB, teve seu acordo de delação premiada firmado em setembro de 2015. Dois meses depois, deixou a cela rumo a uma cobertura de 14 milhões de reais na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em 16 meses, mudou-se e se estabeleceu em uma ampla casa de cerca de 10 milhões de reais no mesmo bairro carioca. Apesar de ter sido condenado a 16 anos de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro, não precisará passar mais um dia sequer atrás das grades.

Beneficiado com prisão domiciliar, usa tornozeleira eletrônica e, de vez em quando, ensaia driblar o controle (em fevereiro, escapou de casa para um banho de mar, foi delatado pelo equipamento de geolocalização e recebeu uma advertência do juiz Sérgio Moro). Para passar o tempo, usufruir da companhia e ainda ganhar uns trocados, montou em casa uma academia de ginástica, onde dá treinos de crossfit para oito alunos, dos quais cobra 600 reais mensais. Tirando a proibição de ir para a rua, portanto, a rotina do lobista pouco difere da de um indivíduo que não precisa trabalhar para viver ou não possui qualquer débito na Justiça – e nem na praça. Os benefícios que recebe e a vida boa que leva volta e meia provocam a pergunta: a Justiça, afinal, tem sido leniente demais para com criminosos confessos?

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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Nelma Kodama: ‘A tornozeleira eletrônica me dá alergia’



Doleira relembra a vida na prisão e, com dívida de 15 milhões de reais, afirma: 'Sou devedora, mas vou pagar tudo. Prometo'

Em entrevista a VEJA, a doleira Nelma Kodama – a quem o juiz Sergio Moro atribuiu uma “personalidade voltada para o crime” — afirma que a sua desgraça começou quando se apaixonou desconcertantemente por Alberto Youssef, mas não o culpa por isso. Diz ter alergia à tornozeleira e, com uma dívida de 15 milhões de reais, jura que nunca mais vai cometer crimes.
A doleira Nelma Kodama em seu apartamento (Jefferson Coppola/VEJA)

A senhora imaginou que um dia seria presa? Sim. Sempre pensava que podia sair de casa e não voltar mais, pelo risco de ser presa ou assassinada. Vivia na sombra. Quando conhecia alguém, não podia dizer o que eu fazia. Por isso, acabava me relacionando só com quem era do ramo. Usava pseudônimos: era Maria Eugênia, Greta Garbo, Angelina Jolie, Cameron Diaz… Saí de casa para pegar um avião rumo à Itália há dois anos, fui presa em flagrante e só voltei para casa há três semanas.

A senhora namorou três doleiros. Foi o amor que a arrastou para o crime? Não. O amor é uma coisa boa. Não posso dizer que algo tão bonito leve alguém para trás das grades. Fui presa porque sou uma criminosa.

Logo que começou a namorar o doleiro Alberto Youssef, a senhora intensificou suas atividades. Ele tem responsabilidade pela sua situação atual? De fato, quando o conheci, prosperei no crime, mas já estava nele. A minha paixão era uma coisa à parte e me fez perder a noção. De fato, quando me envolvi com ele, prosperei no crime. Mas não posso por a culpa só nele porque eu não agia com uma arma apontada para a minha cabeça.

Na sua sentença, o juiz Sergio Moro escreveu que a senhora tem a personalidade voltada para o crime. Isso é verdade? Sim. Mas um desembargador disse em outro despacho que ninguém pode ser condenado pela personalidade.

Por que a senhora diz que chega a ter saudade da cadeia? Porque lá dentro todo mundo é igual. Não importa se você é empresário, empreiteiro, deputado, tesoureiro, homicida, lobista, traficante. Por isso usamos uniforme. Aqui fora somos diferentes.

A Justiça deve tomar tudo o que é seu. Tem medo da queda no padrão de vida? Que padrão? Na cadeia, eu dormia numa cama de alvenaria em uma cela menor do que o meu closet. Vou recomeçar minha vida do zero.

Se conseguisse voltar no tempo, o que faria de diferente? Não me envolveria com o Alberto Youssef. Fui cega de paixão por ele.

O Ministério Público sugeriu que a senhora fosse condenada a 47 anos de cadeia, mas a Justiça lhe deu uma sentença só de 12 anos. Acha a sua pena justa? Eu acho que foi justa sim, porque eu cometi crimes e estou pagando por eles. Fiquei mais de dois anos no regime fechado e agora estou presa em casa sem nada. Estou pagando por tudo o que eu fiz. Nada mais justo.

Apesar disso, ainda responde a 15 inquéritos. Tem medo de voltar para a cadeia? Eu só teria medo de voltar para a cadeia se cometesse um novo crime. Como eu não vou fazer isso, não tenho esse receio. Vou reestabelecer a minha vida com a ajuda de Deus.

A tornozeleira incomoda? Incomoda porque eu não posso tirar. Também me deu alergia e fico com a perna coçando. Mas não posso reclamar. Melhor estar com ela aqui em casa do que sem ela e na prisão.

Vai voltar a cometer crimes? Não. Vou recomeçar a minha vida de outra forma. Só não sei como porque tudo é muito recente. Acabei de sair da cadeia. A ficha ainda não caiu. Vivo um dia de cada vez. Só sei que não vou voltar ao crime porque não quero prejudicar ninguém, nem magoar ainda mais a minha família.

Qual a maior lição que tirou da cadeia? Saí da cadeia uma pessoa melhor do que entrei. Todo dia eu aprendia coisas novas, como limpar um chão, um banheiro. Hoje, faço uma faxina como ninguém.

Com encara a sua condenação do ponto de vista espiritual? Deus me deu o livre arbítrio e eu me desviei para o mundo do crime. Ele viu tudo lá do alto e disse: “Para, Nelma!”. Mas eu não parei. Aí Ele disse: “Ah é? Vou te guardar dentro da cadeia para você ficar sem contato com a vida aqui fora”. Foi o que aconteceu. Na cadeia, eu morava dentro de um banheiro, numa cela de três por dois metros quadrados. O vaso sanitário fica ao lado da cama.

Logo que chegou à cadeia, a senhora reclamou da comida. Conseguiu se adaptar ao bife com arroz e feijão? Demorei a me adaptar não à comida, mas ao fato de não poder mais escolher o que comer. Com o tempo, passei a aceitar. Na cadeia, se o preso não comer o que é servido, ele morre de fome.

Assim que saiu da cadeia, qual foi a primeira coisa que a senhora fez? Na prisão, quando eu tomava banho de sol, tentava olhar o céu pela grade do teto. Mas a imagem era sempre quadrada. Quando eu saí, a primeira coisa que fiz foi olhar para o alto para ver o firmamento completo, com sol e horizonte. À noite, vi a lua e as estrelas pela primeira vez em dois anos.

A senhora está fora da cadeia, mas tem uma dívida de 15 milhões de reais. Está conseguindo dormir? Estou desesperada. Nem sei como vou pagar as minhas dívidas. É muito ruim dever, seja 15 milhões ou 5 reais. Se eu tivesse essa dívida na época que mexia com dólar, pagaria rápido. Mas não posso mais operar com câmbio.

Em sua delação, a senhora entrega gente criminosa envolvida até com tráfico de drogas. Não tem medo de ser assassinada? Se eu morrer assassinada, não terei tempo para ter medo. Aliás, a gente pode morrer a qualquer momento. Basta estar vivo para isso. Posso morrer atravessando a rua ou de ataque cardíaco.

Um médico de Curitiba diz que senhora deve 60 000 reais a ele. O seu ex-advogado lhe cobra 1 milhão em honorários. Como vai pagar? Não tenho dinheiro nem para comprar um pão na padaria. Mas, se eu devo, vou ter de pagar. Basta provar que tenho a dívida. Queria que as pessoas entendessem que minha vida financeira está zerada, ou melhor, negativa. Sou devedora, mas vou pagar tudo. Prometo.

Como a senhora conseguiu esconder 200 000 euros na calcinha? Não sei de onde inventaram isso. Acho que foi algum jornalista criativo. Duzentos mil euros divididos em dois pacotinhos fazem um volume bem pequeno. Eles estavam guardados nos bolsos de trás da minha calça. Sem falar que por dinheiro nas partes íntimas não é legal. É anti-higiênico e nada sensual.

Fonte: Revista VEJA