Giulia Vidale
Em entrevista ao GLOBO, a microbiologista fala do futuro das vacinas e da pandemia de Covid-19
A microbiologista Natalia Pasternak, colunista do GLOBO e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC) se tornou uma das principais vozes da comunicação científica durante a pandemia.
Fizemos grandes avanços no desenvolvimento de vacinas. Temos a primeiras vacinas bivalentes, que já incluem alguma cepa Ômicron ou derivada para tentar diminuir um pouco o escape vacinal da Ômicron. Elas já devem contribuir bastante para diminuir os casos de reinfecção que estamos vendo com mais frequência agora. E as vacinas nasais. É importante não as confundir com o spray nasal de Israel. Vacina nasal é uma vacina e não um antiviral. A única diferença é que ela vai pelo nariz em vez de ser injetável. A grande vantagem disso é que ela estimula a imunidade de mucosa, que é uma imunidade mais local. Então a porta de entrada do vírus já fica mais preparada com essa vacina do que com uma vacina injetável. Com isso, provavelmente vamos conseguir diminuir a circulação do vírus, que é o que a gente precisa. Com as vacinas que temos hoje, conseguimos diminuir muito o número de doenças graves, hospitalização e óbito, mas a doença continua circulando. As vacinas nasais podem ser uma boa estratégia para diminuir realmente a circulação do vírus e a incidência da doença. Elas poderiam ser usadas como reforço e entrar no regime vacinal.
A vacinação contra Covid-19 continuará com reforços contínuos ou será mais parecida com a da gripe, com apenas uma vacina anual?
Sabemos que as pessoas estão ansiosas. Mas é difícil responder isso agora. Sabemos que não podemos ficar recebendo dose de reforço para sempre e temos algumas estratégias para isso. Primeiro, precisamos alcançar uma vacinação global porque enquanto não tivermos uma vacinação mais equitativa, a chance de surgirem novas variantes que escapam à proteção das vacinas continua e vamos ficar fazendo o que?
Quando a pandemia vai acabar?
Só saberemos que a pandemia acabou, olhando para trás. Não é possível definir isso quando ainda estamos no meio da pandemia. Em algum momento no futuro, talvez daqui um ou dois anos, vamos olhar para trás, olhar as curvas de incidência, hospitalização e óbito e dizer “nesse momento aqui, a pandemia acabou”. Não dá para prever que a pandemia irá acabar no mês tal. Até lá, vamos acompanhando e fazendo estimativas. Mas dizer quando terminou, só é possível olhando para trás. Eu sei que é frustrante porque gostaríamos de ter uma bola de cristal, mas precisamos ter a humildade de comunicar o que não sabemos. Não sabemos quando vai terminar. Mas sabemos que já melhorou muito e isso é muito legal.
Primeiro, tivemos a pandemia de Covid. Em seguida, veio a hepatite misteriosa e agora, a varíola dos macacos. Há algo em comum que está motivando esses surtos de doenças incomuns?
(...)
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