Presidente
da Câmara sofreu duplo revés em votação da reforma política, porém, ainda tem
cartas na manga
Foi um dia como há muito o governo Dilma não vivia.
Primeiro, conseguiu aprovar a principal medida do ajuste fiscal,
importante não somente pela economia que representa, mas principalmente como um
sinal para o mercado de que ainda tem alguma força para arrumar a casa. Depois, ajudou
a derrotar o seu principal algoz, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB), na votação da reforma política. Duplo
revés, aliás: os deputados rejeitaram a
formalização das doações privadas de campanha e o chamado “distritão”, este
o mais sentido por Cunha, que não conseguiu disfarçar a decepção ao ver a
derrota acachapante no placar do plenário (267 votos contra e 210 a favor).
Embora
o embaixador do “distritão” seja o
vice-presidente Michel Temer, não há dúvida de que foi uma
derrota pessoal do presidente da Câmara. Cunha fez
de tudo nas últimas 48 horas para emplacar
o sistema usado no Afeganistão e na ilha de Vanuatu, pelo qual são eleitos os
candidatos mais votados e ignorados os votos nos partidos. Até
atropelar colegas de partido ao jogar no lixo o relatório da comissão especial para
votar a reforma da maneira que desejava.
A
truculência de Cunha, representada nos 13 votos contrários de peemedebistas,
ajuda a explicar o resultado. Mas não só. Pesou,
segundo relatos colhidos na hora da votação, o receio de muitos deputados em abandonar o sistema proporcional, que,
afinal de contas, os elegeu. Os pequenos partidos, que Cunha tentou cooptar
prometendo impedir o avanço da cláusula de desempenho, também lhe faltaram.
Por tudo
isso, o dia começou com a impressão de que o presidente
da Câmara já não é tão poderoso quanto se imaginava. Mas isso será suficiente para inaugurar uma
nova etapa na relação entre ele e o governo Dilma? O
histórico recente indica que não.
Cunha tem nas mãos o comando de
comissões-chave, incluindo a CPI da Petrobras. Controla
a pauta de votações e já deu demonstrações de que pode fazer avançar projetos
capazes de desidratar o ajuste fiscal. Mais: as maiorias formadas
nos últimos meses são muito fluídas, cada batalha é
uma batalha, algo próprio de um
governo muito fraco.
Nunca é demais lembrar que o
marco zero da atual crise política é a aventura desastrada do governo numa campanha para tentar vencer
Cunha na disputa pela presidência da Câmara, uma eleição que, como se sabe, estava perdida.
Em
outras palavras, Eduardo Cunha não pode tudo, mas ainda pode muito. [não deve ser esquecido que permanece entre os poderes do Eduardo Cunha
o de acolher e mandar processar pedidos de impeachment apresentados contra a
‘cérebro baldio’ Dilma Rousseff, ainda presidente do Brasil.
Hoje mesmo, Eduardo Cunha pode se
assim desejar mostrar força e tirar o sono da petralhada. Para tanto, basta receber e dar seguimento ao pedido de impeachment apresentado pelo Movimento Brasil Livre contra a ‘neurônio solitário’.
Um pedido de impeachment em
tramitação na Câmara dos Deputados pode apresentar qualquer resultado, até
mesmo dar em nada.
Mas, as chances de um impeachment
ocorrer quando o pedido começa a tramitar são bem maiores do que quando por
decisão do presidente da Câmara é arquivado sumariamente.
A via para o fim do governo petista
não sabemos, mas uma esperança nos anima: o fim do desgoverno Dilma e, por
extensão, da petralhada, ocorrerá mais cedo que o esperado.]
Fonte:
Alan Gripp é
editor de País- O Globo