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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Eduardo Cunha não pode tudo, mas ainda pode muito



Presidente da Câmara sofreu duplo revés em votação da reforma política, porém, ainda tem cartas na manga
Foi um dia como há muito o governo Dilma não vivia. Primeiro, conseguiu aprovar a principal medida do ajuste fiscal, importante não somente pela economia que representa, mas principalmente como um sinal para o mercado de que ainda tem alguma força para arrumar a casa. Depois, ajudou a derrotar o seu principal algoz, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), na votação da reforma política. Duplo revés, aliás: os deputados rejeitaram a formalização das doações privadas de campanha e o chamado “distritão”, este o mais sentido por Cunha, que não conseguiu disfarçar a decepção ao ver a derrota acachapante no placar do plenário (267 votos contra e 210 a favor).

Embora o embaixador do “distritão” seja o vice-presidente Michel Temer, não há dúvida de que foi uma derrota pessoal do presidente da Câmara. Cunha fez de tudo nas últimas 48 horas para emplacar o sistema usado no Afeganistão e na ilha de Vanuatu, pelo qual são eleitos os candidatos mais votados e ignorados os votos nos partidos. Até atropelar colegas de partido ao jogar no lixo o relatório da comissão especial para votar a reforma da maneira que desejava.

A truculência de Cunha, representada nos 13 votos contrários de peemedebistas, ajuda a explicar o resultado. Mas não só. Pesou, segundo relatos colhidos na hora da votação, o receio de muitos deputados em abandonar o sistema proporcional, que, afinal de contas, os elegeu. Os pequenos partidos, que Cunha tentou cooptar prometendo impedir o avanço da cláusula de desempenho, também lhe faltaram.

Por tudo isso, o dia começou com a impressão de que o presidente da Câmara já não é tão poderoso quanto se imaginava. Mas isso será suficiente para inaugurar uma nova etapa na relação entre ele e o governo Dilma? O histórico recente indica que não.

Cunha tem nas mãos o comando de comissões-chave, incluindo a CPI da Petrobras. Controla a pauta de votações e já deu demonstrações de que pode fazer avançar projetos capazes de desidratar o ajuste fiscal. Mais: as maiorias formadas nos últimos meses são muito fluídas, cada batalha é uma batalha, algo próprio de um governo muito fraco. 
Nunca é demais lembrar que o marco zero da atual crise política é a aventura desastrada do governo numa campanha para tentar vencer Cunha na disputa pela presidência da Câmara, uma eleição que, como se sabe, estava perdida.

Em outras palavras, Eduardo Cunha não pode tudo, mas ainda pode muito. [não deve ser esquecido que permanece entre os poderes do Eduardo Cunha o de acolher e mandar processar pedidos de impeachment apresentados contra a ‘cérebro baldio’ Dilma Rousseff, ainda presidente do Brasil.
Hoje mesmo, Eduardo Cunha pode se assim desejar mostrar força e tirar o sono da petralhada. Para tanto, basta receber e dar seguimento ao pedido de impeachment apresentado pelo Movimento Brasil Livre contra a ‘neurônio solitário’.
Um pedido de impeachment em tramitação na Câmara dos Deputados pode apresentar qualquer resultado, até mesmo dar em nada.
Mas, as chances de um impeachment ocorrer quando o pedido começa a tramitar são bem maiores do que quando por decisão do presidente da Câmara é arquivado sumariamente.
A via para o fim do governo petista não sabemos, mas uma esperança nos anima: o fim do desgoverno Dilma e, por extensão, da petralhada, ocorrerá mais cedo que o esperado.]

Fonte:  Alan Gripp é editor de País- O Globo