Marco Antônio Teixeira
A principal dúvida sobre o efeito da liberdade de Lula refere-se ao impacto no governo
O retorno físico do ex-presidente Lula à cena política terá
inevitavelmente impactos no atual cenário político brasileiro. Vai
afetar diretamente o comportamento de Ciro Gomes, que terá um rival
altamente credenciado para falar como voz contrária ao governo
Bolsonaro, o que certamente fará com que o ex-governador do Ceará
repense o tiroteio verbal que antes dirigia contra o PT na busca de se
consolidar como líder da oposição e alternativa ao centro. [o Ciro se posiciona igual biruta = sempre no sentido do vento.]
Liberado da narrativa da campanha Lula Livre, o PT poderá qualificar
melhor a sua atuação enquanto oposição no Legislativo, algo que não
conseguia fazer e cujo espaço era ocupado por parlamentares de partidos
menores como PSOL e Rede. Também pode se planejar, aproveitando
justamente da presença física da sua principal liderança, para a disputa
das eleições municipais de 2020. Todavia, a principal dúvida acerca do efeito da liberdade de Lula
refere-se ao impacto que a mesma terá sobre o governo Bolsonaro.
Numa perspectiva mais otimista para os bolsonaristas, Lula solto pode
diminuir a cisão e a guerra interna no PSL, bem como conter a fuga de
apoiadores do governo pelo simples ressurgimento do perigoso “inimigo
comum”. Talvez isso explique em parte o silêncio do governo e de aliados
antes ferozes em torno da possibilidade da liberdade de Lula. [uma explicação bem mais simples para o silêncio do governo Bolsonaro e seus aliados em relação a soltura, temporária, de um condenado preso em julgamento não anulado, é que a libertação, temporária - devido a frouxa legislação penal brasileira - poderia ter ocorrido já em setembro.
Houve tempo para adaptação a conviver com mais uma serpente no serpentário.
Tem espaço para outra consideração:
A suprema decisão se aplicou à esfera penal, a Lei de Ficha Limpa não foi modificada e Lula teve sua condenação confirmada por órgão colegiado.]
Numa perspectiva menos otimista para o governo, Lula Livre pode
organizar a oposição de rua e dar mais coordenação à oposição
parlamentar e polarizará com o bolsonarismo. Talvez seja isso o que Jair
Bolsonaro queira e isso que o PT também deseje. Parece que existe um
sentimento comum a ambos: o triunfo de um depende da presença do outro. [o PT só pode ser eliminado se presente.]
Entretanto, é preciso ver se a sociedade vai novamente se dividir entre
esses dois polos ou se será possível apostar numa saída ao centro, que
sequer deu sinal de vida.