Convidei o
empresário Josué Alencar (PR) para ser meu vice no programa “O É da
Coisa”. Se Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) acham
que ele pode ser um bom nome, né?, dadas as divergências que há entre
esses três políticos, então Josué deve ter um “je ne sais quoi” que o
qualifica para qualquer cargo. Convenham: não dá para levar essa
conversa muito a sério. Quando o “Centrão”, formado por DEM, PP, PR, PRB
e SD, anunciou a adesão à candidatura de Alckmin, o tucano já havia
atraído PSD, PPS, PTB e PV. A única legenda aí que não integrou um
governo petista foi o DEM. No caso do governo Temer, não se exclui
ninguém. Valer dizer: quase todo mundo serviu ao petismo e àqueles que
os petistas dizem ser golpistas. “Ah, o Centrão sempre foi assim: dá
piscadelas tanto para o peixe como para o gato”. Sim, é verdade! Mas
confusão como a armada, de graça, para o presidenciável tucano, nunca se
viu.
Notem:
tudo o mais constante, Alckmin reúne a mesma gigantesca base de apoio
que serviu a Lula, Dilma e Temer — só o MDB está fora desta feita,
optando, e não parece que vá mudar, pela candidatura de Henrique
Meirelles. Mas, vamos ser claros, caso o ex-ministro da Fazenda não
emplaque, ninguém espera que o partido vá ficar fora do futuro governo.
Alguém se lembrará se evocar a importância de uma maioria expressiva no
Congresso para apoiar as reformas. E, como todos sabemos, o MDB, desde
já, exibe terminais ligadores que podem conectá-lo com o PSDB, PT, PDT,
qualquer um. Mas voltemos ao ponto.
Como é que
um candidato que reúne um tal arco de alianças se torna refém, por
algum tempo ao menos, da indecisão — que já deveria valer por um “não” —
de um pré-candidato a vice? Trata-se de algo inexplicável. Pior: a
articulação do nome de Josué Alencar passa pela intermediação de
Valdemar Costa Neto, chefão do PR. Trata-se do patriota que admitiu ter,
sim, recebido uma mala de dinheiro do PT; que foi condenado no processo
do mensalão por corrupção passiva e lavagem; que já conheceu por dentro
a cela de uma cadeia. Não há dúvida de que os nove partidos hoje
alinhados com Alckmin, além do próprio PSDB, conferem musculatura ao
tucano porque lhe faculta 40% do horário eleitoral, capilaridade e
recurso de campanha. Falta agora atrair os eleitores, o que o tucano
aposta que acontecerá só depois do início da propaganda no rádio e na
TV. A ver.
O fato é
que Alckmin não deveria estar, agora, na dependência dos quereres de
Josué, que é sabidamente ligado ao PT, uma condição que herdou do pai,
José Alencar, vice de Lula por oito anos, mas também por ações próprias.
Os laços entre a família Alencar e Lula se mantiveram firmes ao longo
do tempo, mesmo depois que o ex-presidente caiu em desgraça. Parece
restar claro que o tal “Centrão” vendeu a Alckmin o que não estava
pronto para entrega. A pressão sobre Josué é grande. No ritmo em que
andam as coisas, ele até pode decidir assumir o ponto de vice de Alckmin
nesta quarta. Até esta terça, mantinha firme a sua recusa.
Mendonça
Filho (DEM-PE) e Aldo Rebelo (SD-SP) apareceram no mercado de apostas.
Mas, claro!, tudo dependerá da palavra final de Josué… Convenham: o
candidato tucano poderia passar sem essa confusão. No fim das contas,
qual o busílis? É crescente o número de pessoas a estimar que, dada a
fragmentação, é considerável a chance de Alckmin disputar um segundo
turno com “Senhor X”, o candidato de Lula. Como até o Centrão anda a
fazer esse cálculo — e isso pesou na rasteira dada em Ciro Gomes —,
Josué não gostaria de ser peça importante do outro lado de um confronto
com o líder petista encarcerado.
Em lugar
de Alckmin, eu botaria um ponto final na “hipótese Josué’. Parece
visível que ele não quer ser o vice na chapa. Se forçado a tanto, a
pequena crise de agora pode virar uma grande mais adiante. De resto, o
tucano não precisa de um “vice empresário” para tentar amaciar a sua
imagem. Josué, diga-se, é muitas vezes mais rico do que o ex-governador
de São Paulo, mas se alinha, do ponto de vista ideológico, à sua
esquerda. É uma bobagem fazer essa novela se arrastar além do capítulo
desta quarta. Até porque resta evidente, a esta altura, que Josué,
apontado como uma solução, já virou um problema.
Blog do Reinaldo Azevedo